A
Frente Comunista dos Trabalhadores: um ótimo exemplo de como NÃO se
deve construir um partido
Pedro
Abreu, setembro de 2015
Recentemente,
diversas pequenas correntes pretensamente revolucionárias da
esquerda brasileira se uniram, depois de formar um “Comitê
Paritário”, numa organização chamada Frente Comunista dos
Trabalhadores (FCT). São elas a Liga Comunista, o blog Espaço
Marxista, a Tendência Revolucionária (corrente interna do PSOL), o
Coletivo Socialistas Livres [*]
e os nossos velhos conhecidos do Coletivo Lenin [1].
A base política dessa unidade é expressa por seus membros mais ou
menos da seguinte forma:
1) No segundo turno das eleições presidenciais defendemos o voto em Dilma para derrotar Aécio e a direita golpista, manipulados pelo imperialismo, e fizemos a crítica ao voto nulo sectário da esquerda (PSTU, PCO, PSOL, PCB, etc.). O voto na candidatura de Dilma no segundo turno não implicou em qualquer acordo com o programa burguês desta candidatura, nem qualquer apaziguamento de nosso combate contra seu governo neoliberal. O giro à direita no governo Dilma, produto da pressão golpista, já havia sido previsto por nós ainda durante a campanha. Nossa defesa heterodoxa do voto em Dilma segue a nossa política geral de combate ao golpismo pró-imperialista e se inspira na política dos bolcheviques de “apoiar a burguesia contra o tzarismo (na segunda fase das eleições ou nos empates eleitorais, por exemplo) e sem interromper a luta ideológica e política mais intransigente contra o partido camponês revolucionário burguês, os ‘socialistas revolucionários’, que eram denunciados como democratas pequeno-burgueses que falsamente se apresentavam como socialistas.” (Lenin, “Nenhum Compromisso?” em Esquerdismo: Doença Infantil do Comunismo, 1920).
2) A atual articulação golpista no Brasil é movida diretamente pelo imperialismo, no Brasil, como na Venezuela e Argentina, a exemplo dos golpes já impostos em outros países da América Latina, como Honduras e Paraguai). As experiências recentes “bem-sucedidas” ou parciais na Líbia, Síria, Ucrânia, demonstram que o imperialismo não se furta de recorrer ao armamento de mercenários, bandos fascistas e massacres sangrentos para impor seus objetivos. Trata-se de um contra-ataque para recuperar o terreno perdido após a crise de 2008 para o bloco capitalista Eurásico, nucleado a partir da expansão comercial da China e da Rússia. Trata-se de uma nova guerra fria que atravessa todos os atuais conflitos de envergaduras mundiais, como a reorientação da tática dos EUA em relação a Cuba, tentando simultaneamente cooptar a burocracia dirigente do Estado operário com o fim do bloqueio e acelerar a restauração capitalista.
3) Mesmo que a primeiro momento o Golpe de Estado não se apresente na forma de um golpe militar, mas como um “golpe parlamentar”, um impeachment articulado entre o Legislativo e o Judiciário para estrangular uma Dilma cada vez mais isolada, qualquer que seja sua forma inicial, o resultado do processo será de maior repressão militar e policial contra a esquerda em geral e a população trabalhadora e oprimida nacional, para derrotar qualquer foco de resistência à recolonização imperialista do Brasil.
Socialistas Livres ingressam no CP, 22 de março de 2015.
http://lcligacomunista.blogspot.com.br/2015/03/socialistas-livres-ingressam-no-cp.html
A
FCT adotou o jornal que até então era da Liga Comunista – a Folha
do Trabalhador. No entanto, os grupos mantiveram suas páginas na
internet e publicações próprias. Nós do Reagrupamento
Revolucionário não concordamos nem com a plataforma de união dessa
nova organização e tampouco com o método usado para impulsionar
tal unidade. Ambos oferecem um exemplo de como não proceder na luta
pela construção de um partido revolucionário.
Uma
“unidade” enganosa
Não
é preciso ser nenhum grande observador para perceber que a esquerda
mundial, em especial a que se reivindica revolucionária, está
atomizada e isolada, com diversas pequenas organizações envoltas em
polêmicas intermináveis, muitas com desonestidade e burocratismo.
Nós do RR também reconhecemos esse cenário (e a necessidade de
sair dele). Mas de qual forma? Para contribuir com o ressurgimento de
uma organização revolucionária internacional em meio a muitas
variantes oportunistas e centristas, é necessário defender
intransigentemente um programa revolucionário coerente. Estamos de
acordo com a tradição política do marxismo revolucionário que
luta para construir o partido através da hegemonia do programa
revolucionário na vanguarda, disputando-a politicamente com o
revisionismo. Não desejamos uma “unidade” que esconda diferenças
programáticas importantes, acordos que isentam de críticas os
“aliados” reais ou desejados. O isolamento não é nenhuma
virtude, mas tampouco o é uma “unidade” artificial, que é só o
que esses métodos podem produzir.
O
método empregado na construção da FCT não é novo. Já existiram
inúmeros casos de organizações que se agruparam em torno de
programas de “menor denominador comum”
e invariavelmente esses blocos terminaram em fracasso [2].
Existem diversas táticas para a construção do partido, mas elas
não devem nunca envolver negociações de programa ou se basear em
alguns poucos pontos de conjuntura, que nada revelam do método e das
perspectivas dos distintos grupos. Todas as organizações que
compõem a FCT apresentam uma série de divergências. Vamos
mencionar apenas algumas mais aparentes e graves, que mostram que não
foi feito qualquer esforço de chegar a um acordo político mais
profundo sobre importantes questões políticas.
A
Tendência Revolucionária/PSOL foi (com razão) contrária ao voto
em Dilma Rousseff no segundo turno [3], posição oposta à
dos demais grupos da FCT. Isso não configuraria um “voto nulo
sectário da esquerda” (conforme afirmou o Coletivo Socialistas
Livres)? O Coletivo Socialistas Livres, diferentemente dos outros
grupos da FCT, não defende o centralismo democrático [4].
Portanto, sequer existe um acordo sobre qual deve ser o formato da
“organização”. O blog Espaço Marxista fala dos “esforços
(antigos!) dos EUA no sentido de fazer soçobrar a Revolução
Bolivariana” [5], mas
essa “revolução” não é reconhecida pela Folha do Trabalhador
e rejeitada pelos companheiros do Coletivo Lenin. Por meio
dessa posição, seria possível deduzir que a FCT aposta tanto em
uma revolução socialista contra o Estado burguês quanto
na possibilidade de uma estratégia “bolivariana”. O
Coletivo Lenin afirma ser contra a reivindicação de “melhores
condições” para os policiais militares e civis, mas o Coletivo
Socialistas Livres defende melhorias para os agentes armados do
Estado burguês [6].
Como
uma organização construída com base em tantas diferenças pode
intervir com coesão nas lutas de classes? Por enquanto, o método da
FCT tem sido o de colocar as divergências para debaixo do tapete. A
FCT se reivindica enquanto uma “organização com tendências”.
Mas obviamente não se tratam de tendências temporárias surgidas de
divergências conjunturais. As “tendências” da FCT são a
continuidade dos seus grupos formadores, cada um com sua coleção de
posições políticas distintas entre si. Que diferença existe entre
uma “unidade” aonde cada grupo possui posições próprias e a
não-existência da unidade? De fato, a FCT é muito mais um
“guarda-chuva” de organizações que mantém sua existência
separada (algumas na mesma cidade!) para parecer um bloco de maior
tamanho. A sua “unidade” baseada em alguns pontos não é
suficiente para sustentar uma organização
séria. Um documento interno publicado recentemente por alguns
companheiros do Coletivo Lenin confirma esse diagnóstico:
“A FCT está hoje presente em São Paulo, Rio de Janeiro, Minas Gerais e Ceará. É uma organização com tendências.” Esperamos ter deixado claro que a FCT não é uma organização. A mera existência desse documento prova que não pode haver organização enquanto as divergências não forem devidamente discutidas. E também sobre como funcionaria tal organização visto que as divergências não serão sanadas na base do convencimento.
“A FCT possui mais de seis meses de existência. Internacionalmente, a FCT é seção do Comitê de Ligação pela IV Internacional, tendência internacional composta também pelo Socialist Fight britânico e pela Tendência Militante Bolchevique argentina com que as tendências da FCT passam a estabelecer relações fraternais.” Há algo de “longe demais” neste trecho. A FCT, além de organização, é agora uma seção nacional de um Comitê que nunca tivemos qualquer contato antes da FCT. Relação de seção é algo muito sério que não pode ser simplesmente estabelecido com uma frente. A frente está aberta para qualquer militante ou organização que tenha acordo com os seus princípios mínimos, mas não está aberta para se tornar seção de outra organização. Além disso, o Coletivo Lenin não passou a estabelecer relações fraternais com quaisquer dessas organizações. Essa discussão não foi levantada dentro do CL. Relações fraternais, apesar do nome legal, exigem de fato, relações fraternais e não somente reconhecimento público. Pouco conhecemos do programa e atuação de tais organizações. E do que conhecemos, temos sérias discordâncias.
O que é e para onde vai a FCT?, 14 de agosto de 2015.
http://coletivolenin.blogspot.com.br/2015/08/o-que-e-e-pra-onde-vai-frente-comunista_14.html
Nós,
enquanto revolucionários, defendemos a fusão com outras
organizações sempre sobre marcos de programa bem claros e
amplamente discutidos. Organizações devem se fundir quando as
diferenças existentes entre elas não justificam que continuem
existindo separadamente, podendo ser resolvidas ao longo do trabalho
político conjunto. Esse claramente não é o caso do que acontece
com a FCT, aonde o desejo de se agrupar, impulsionado por marcos
programáticos insuficientes (e errados, como explicaremos a seguir),
se sobrepõe à defesa coerente do programa marxista, ou de qualquer
programa coerente, por sinal.
Um
“programa” enganoso
Agora
que já explicamos nossas diferenças com o método de construção
de partido empregado pela FCT, vamos criticar os pontos de unidade
desse agrupamento. Começaremos pelo voto crítico em Dilma Rousseff
no 2º turno das eleições presidenciais de
2014. A
premissa desse apoio é que a vitória eleitoral do PT/PMDB viria a
conter profundos ataques à classe trabalhadora e aos setores
oprimidos da população em geral. Será que é isso que verificamos
desde então? Em um momento em que presenciamos a mais brutal onda de
ataques aos direitos trabalhistas desde o golpe de 1964, acompanhada
de profundos cortes nas políticas
sociais (educação, saúde, transporte, moradia) nem a própria FCT
é capaz de sustentar tal absurdo. Porém, mais uma vez utilizam o
argumento do “golpismo” para explicar tal realidade, negando
assim o inteiro comprometimento do PT (que tem protagonizado
muitos desses ataques) com a agenda
burguesa: “o giro à direita no governo Dilma, produto da pressão
golpista, já havia sido previsto por nós ainda durante a campanha”.
Mesmo que esse argumento de “causa externa” para os ataques do PT
aos trabalhadores fosse válido, a reeleição de Dilma alterou
alguma coisa, seja em termos dos ataques em si ou do fortalecimento
dos direitistas? Valeu a pena orientar o proletariado a escolher essa
candidatura? É impossível que se dê resposta afirmativa a essas
perguntas.
Os
imperialistas podem hipoteticamente preferir a direita no
poder, mas não tem tido nenhum atrito significativo com o governo
petista nos últimos 12 anos, e este tem cumprido bem os planos da
burguesia. O que a FCT nunca explica é como o seu voto em Dilma
impediu o fortalecimento dos direitistas. Desde sua eleição, tudo
que o governo fez lançar ataques reacionários contra a classe
trabalhadora e levar adiante um “ajuste” draconiano. Nada faz
para evitar o crescimento desses setores, ao contrário: se aliou a
boa parte deles (a começar pelo PMDB) para garantir a sua
“governabilidade”. É senso comum achar que o “voto no PT” é
derrotar a direita, mas os marxistas, que veem o conteúdo de classe
de ambos os projetos sabem que isso nada mais é que um mito.
Para
tentar justificar essa capitulação induzida
pelo medo do crescimento da direita, a FCT faz um falso uso da
literatura marxista. Cita Lenin quando ele lembrava aos
“esquerdistas” alemães que os bolcheviques já haviam feito
alguns blocos de colaboração prática com partidos camponeses,
partidos oportunistas da classe trabalhadora e mesmo apoiado o
partido da burguesia liberal (Cadetes) contra o czarismo no segundo
turno eleitoral (em 1905!).
Esquecem
que nesse período os bolcheviques e a maioria dos socialdemocratas
de esquerda não tinham clareza sobre o caráter da revolução russa
e previam uma revolução democrático-burguesa. Lembramos também
que o marxismo apoiou condicionalmente a burguesia nas
revoluções democráticas contra a reação monárquica ou feudal
no
século XIX. Essa é precisamente a diferença.
Onde, no Brasil de 2014 (!), estava a reação feudal ou monárquica?
Ambos o bloco PT/PMDB e a oposição PSDB/DEM eram burgueses. A
Quarta Internacional foi construída em cima da clareza de que não
há mais revoluções democrático-burguesas na época imperialista e
que as tarefas históricas “não resolvidas” (ou resolvidas de
forma incompleta) tem de ser solucionadas pela revolução
proletária. Por isso mesmo, Trotsky sempre denunciou o “apoio
tático” a frentes populares ou quaisquer blocos burgueses
como uma forma de encobrir capitulações [7].
Tudo isso é esquecido pela FCT.
Intimamente
relacionada com essa posição está a estimativa de que se aproxima
um golpe de Estado contra o governo do PT. É inegável que a
oposição de direita tem se fortalecido há mais de um ano. A
sordidez das suas táticas e sua infiltração no Poder Judiciário e
no Parlamento (ajudadas pelos “aliados” direitistas do PT) tornam
possível uma tática de impeachment. Nesse momento, porém, a
oposição está dividida entre pressionar o governo pelas medidas de
“ajuste” que a burguesia brasileira precisa, e o “plano B” de
forçar a saída da presidente. É evidente que essa seria uma jogada
reacionária para o caso de o PT não conseguir cumprir bem o papel
que a burguesia lhe confiou.
Porém,
um impeachment é
diferente de um golpe militar armado. Para este não existe
conjuntura, uma vez que as cúpulas militares permanecem inativas e
majoritariamente indiferentes a essa disputa [8].
A própria FCT muda a todo tempo sua caracterização: falava de
“golpe de Estado” na época das eleições para depois falar de
“golpe parlamentar” ou simplesmente de impeachment.
Evidentemente,
não fez um balanço público, que seria a atitude honesta. Isso
demonstra que o essencial para a FCT não é uma análise acertada da
conjuntura, mas sim justificar a sua política de frente com o PT em
todos os casos. Inclusive nas eleições (que não são nem golpe,
nem impeachment),
o voto em Dilma “segue a nossa política geral de combate ao
golpismo pró-imperialista” (como?). Nessa mesma linha, a FCT
propõe uma “frente única anti-imperialista” mundial:
A presença de um núcleo burguês em contrapeso aos EUA [China e Rússia] potencializa lacunas em todo o sistema mundial, e objetivamente cria contradições que podem ser vantajosamente exploradas para a causa do proletariado internacional e todos os povos oprimidos sem por isso deixarmos de fazer a defesa intransigente da independência de classe e não depositarmos expectativas que qualquer fração da burguesia mundial possa realizar as tarefas históricas progressivas a serviço do progresso da humanidade. A FCT luta por uma frente única anti-imperialista unindo os BRICS, os bolivarianos, Estados operários remanescentes, o nacionalismo islâmico, o Irã, africanos e terceiro mundistas sempre que estiverem sob o ataque ou em contradição com o imperialismo.
Frente Comunista dos Trabalhadores: quem somos e pelo que lutamos, 16 de agosto de 2015
http://coletivolenin.blogspot.com.br/2015/08/frente-comunista-dos-trabalhadores-quem.html
Essa
“frente única” (as aspas não são acidentais) é uma falácia.
Primeiro porque a FCT é um pequeno grupo com alguns militantes. Não
acontecerá nenhum acordo para fins práticos (frente única) entre
qualquer dessas forças mundiais e a FCT. Isso não é impedimento, é
claro, para tomar a defesa das nações oprimidas sob intervenção
imperialista, por exemplo, ou combater um golpe de Estado na mesma
fileira que forças burguesas que eventualmente também se oponham (e
delas se delimitando politicamente).
Mas
a proposta de “frente única” da FCT não aponta nenhum objetivo
concreto, nem uma situação específica. Ela seria uma frente sem
data, sem local, sem objetivo imediato, para “lutar contra o
imperialismo” em geral, “unindo” uma série de governos
burgueses. Apesar de dizer que não deposita expectativas, essa
proposta ampla implica que a FCT espera que essas forças burguesas
(BRICS, bolivarianos, nacionalismo islâmico, Irã,
terceiro-mundistas etc. etc.) podem conduzir lutas
“anti-imperialistas”. O blog Espaço Marxista chega a afirmar
explicitamente que governos como o de Assad, na Síria, são
“anti-imperialistas” [9].
A FCT como um todo espera se apoiar no “bloco capitalista
Eurásico”, o qual imagina que irá se confrontar com o
imperialismo americano, como uma oportunidade para avançar “a
causa do proletariado e dos povos oprimidos”.
Qual
postura a FCT indicaria para os revolucionários no Irã, na Síria,
na Venezuela, na Rússia? Aparentemente que busquem formar frentes
com as lideranças burguesas “sempre que estiverem sob o ataque ou
em contradição com o imperialismo”. Mas e durante a maior parte
do tempo (de fato 99% do tempo, ou talvez todo) em que essas forças
estiverem conduzindo a política imperialista (e não resistindo a
aspectos secundários da mesma)? O principal na declaração não é
construir o partido, consolidar as forças proletárias, temperá-las
na independência contra qualquer setor da burguesia. O elemento
principal é formar a suposta “frente única anti-imperialista”
unindo governos capitalistas. E para qual tarefa específica (além
da suposição de que esses governos vão se enfrentar com o
imperialismo)? Nunca somos informados de forma concreta. Porém, no
caso brasileiro, já vimos como tal “frente única” se expressou
em, por exemplo, dar apoio eleitoral ao PT.
A
proposta da FCT transforma posições táticas circunstanciais, como
a de eventualmente tomar o mesmo lado militar que essas forças para
defender uma nação atacada pelo imperialismo ou lutar contra um
golpe antidemocrático, em uma orientação
estratégica de fazer bloco com
setores burgueses. Algumas vezes, FCT revela sua capitulação na
forma mais crua, como quando o seu Comitê de Ligação pela Quarta
Internacional (CLQI) embelezou o exército pró-Rússia dos
separatistas do leste da Ucrânia:
A grande base trabalhadora dos exércitos de Donbass deseja o socialismo e as relações de propriedade nacionalizada que existiam nos dias da URSS, quando as condições de vida dos trabalhadores eram muito melhores e os oligarcas capitalistas não haviam tomado toda a riqueza coletiva do país, com o apoio de Yeltsin e dos EUA.
Ucrânia: O império contra-ataca, 21 de março de 2015.
http://lcligacomunista.blogspot.com.br/2015/03/ucrania-o-acordo-de-minsk-e-queda-de.html
Não
temos informações diretas do fronte para fazer uma avaliação tão
precisa do que a base do exército deseja (e duvidamos que a FCT
tenha). Porém, sabemos que há uma poderosa influência pró-Rússia,
assim como um enorme saudosismo nacionalista/stalinista nesse
exército. Defendemos o direito da população de fala russa do leste
da Ucrânia se separar, especialmente diante da poderosa russofobia
desencadeada com a chegada de setores protofascistas ao poder depois
do “EuroMaidan”. Esse é um direito democrático básico. Porém,
não temos nenhuma ilusão em algum caráter “socialista” dos
exércitos dessas Repúblicas, que estão politicamente alinhadas com
o governo russo.
No
quadro geral, todo o conteúdo político do
“programa” da FCT é chamar uma “frente única” (recorrente e
sem objetivos concretos) com setores da burguesia nacional e
internacional (neles gerando expectativas). Seu objetivo político
utópico é a consolidação de um bloco burguês “alternativo” a
nível mundial.
A nova encarnação de um cadáver político
Todos que acompanham nossas publicações sabem da nossa origem. O Reagrupamento Revolucionário no Brasil surgiu de um racha do Coletivo Lenin em 2011. Vale a pena recontar essa história, especialmente quando fica claro o quanto nossos grupos se distanciaram desde então. O Coletivo Lenin surgiu em 2009 e adotou um programa baseado na tradição da Tendência Bolchevique Internacional (TBI), que ele considerava a melhor atualização do programa trotskista. Após uma longa e frustrante discussão com a TBI, que culminou com essa se revelando uma seita desonesta [10], o CL passou por um processo de disputa interna. A ala majoritária defendeu o abandono do programa original da organização e rejeitava elementos fundamentais do trotskismo. Uma tendência minoritária foi contra tal mudança.
Essa
minoria acabou rompendo com o Coletivo Lenin e fundindo com o RR
estadunidense no mesmo ano, com o qual o CL havia antes estabelecido
relações fraternais com base no seu programa. Assim teve origem
nosso grupo no Brasil: somos aqueles que, reconhecendo a degeneração
da TBI, continuamos a defender suas contribuições para o marxismo e
seu programa revolucionário original, apesar do apodrecimento moral
e político de sua liderança, que se tornou inútil para a
construção de um partido revolucionário.[11]
O líder da então maioria do Coletivo Lenin entendeu a falência da TBI como a falência do trotskismo. Abriu mão de princípios que iam desde o combate consistente à colaboração de classes até a oposição ao revisionismo que destruiu a Quarta Internacional [12]. Tudo isso foi chamado de “cascas de banana sectárias do programa da TBI”. O grupo acabou adotando uma perspectiva segundo a qual existem diversas “estratégias revolucionárias” diferentes, sendo todas igualmente válidas. Concluíram que são várias as tradições e organizações “revolucionárias”, ainda que inteiramente dispares umas das outras. Por conta disso, o CL se tornou uma organização amorfa disposta a se aproximar, em busca de unidade política, de grupos supostamente “revolucionários” com o qual tinha ele próprio muitas diferenças (como tentou durante meses com o Espaço Socialista após nosso racha, discussões essas que foram silenciosamente abandonadas) [13].
O líder da então maioria do Coletivo Lenin entendeu a falência da TBI como a falência do trotskismo. Abriu mão de princípios que iam desde o combate consistente à colaboração de classes até a oposição ao revisionismo que destruiu a Quarta Internacional [12]. Tudo isso foi chamado de “cascas de banana sectárias do programa da TBI”. O grupo acabou adotando uma perspectiva segundo a qual existem diversas “estratégias revolucionárias” diferentes, sendo todas igualmente válidas. Concluíram que são várias as tradições e organizações “revolucionárias”, ainda que inteiramente dispares umas das outras. Por conta disso, o CL se tornou uma organização amorfa disposta a se aproximar, em busca de unidade política, de grupos supostamente “revolucionários” com o qual tinha ele próprio muitas diferenças (como tentou durante meses com o Espaço Socialista após nosso racha, discussões essas que foram silenciosamente abandonadas) [13].
A
FCT nada mais é do que a última tentativa esdrúxula de “fusão”
baseada nessa falsa perspectiva. A dura verdade é que o CL abandonou
a construção de um partido revolucionário conforme o compreendiam
Lenin e Trotsky. O medo do isolamento, de ser chamado de “sectário”,
falou mais alto do que a consistência programática. Esse mesmo
impulso que antes gritou contra nós e nos acusava de “dogmáticos”
durante nossa luta fracional por clareza e coerência política,
acabou levando o CL a se afundar na lama de um bloco oportunista da
FCT.
Nem
todos os membros do CL estão satisfeitos com a absorção do grupo
pela FCT e percebem os efeitos liquidacionistas dessa ação, assim
como criticam os pontos programáticos oportunistas dessa “Frente”
[14].
Porém, esses companheiros seguem sustentando a presença do grupo na
FCT como uma perspectiva válida. É necessário compreender a
relação entre os rumos da organização após nosso racha em 2011 e
a decisão do CL de adentrar a FCT. Essa entrada
assinalou (mais uma vez) que o Coletivo Lenin já tinha esquecido o
que é centralismo democrático, o que é frente única, o que é um
partido de vanguarda… isto é, o que é leninismo!
Aos
militantes honestos que existem no CL, não existe outra saída além
daquela que nós do Reagrupamento Revolucionário já tomamos em
2011, que é sair desse barco afundando. Pode ser que o atual CL se
dissolva na FCT, ou talvez essa unidade fajuta venha a ruir e cada
organização vá para seu canto. Mas de um forma ou de outra, o
Coletivo Lenin que foi fundado por militantes que romperam com o
morenismo por ousar lutar pela construção de um partido
revolucionário baseado no programa trotskista atualizado para nossos
dias, este já deixou de existir há muito tempo.
NOTAS
[*]
Apesar de estar escrito na página principal do site do Coletivo
Socialistas Livres que este grupo é membro da FCT e o seu documento
de adesão ao “Comitê Paritário” ter sido reproduzido pelos
demais membros da Frente, o CSL não tem aparecido nas declarações
públicas mais recentes, o que nos leva a questionar se ele ainda é
membro. Porém, como o CSL já havia sido descrito na versão
original deste artigo e não pudemos encontrar nenhuma declaração
de qualquer dos lados informando ao público sua suposta retirada,
preferimos manter a afirmação de que ele faz parte da Frente. Caso
estejamos errados nessa suposição, a responsabilidade cabe à FCT
de informar se o CSL não é mais membro e porquê.
[1]
Para ler nossa carta de ruptura com o Coletivo Lenin: “Morre
um embrião para a reconstrução da Quarta Internacional”.
http://www.regroupment.org/main/page_rr_in_brazil.html
[2]
Nós recomendamos aos companheiros especialmente os artigos polêmicos
de Trotsky contra a brevíssima “Internacional de Londres”. Eis
um exemplo das suas contradições:
O “partido de unificação marxista” [espanhol] pertence à famosa associação de Londres dos “partidos socialistas revolucionários” (ex-IAG). A direção desta última encontra-se atualmente nas mãos de Fenner Brockway, secretário do Independent Labour Party [inglês]. Já dissemos que pese aos antiquados e previsivelmente incuráveis preconceitos pacifistas de Maxton e de outros, o ILP assumiu na questão da Sociedade das Nações e das sanções uma posição revolucionária honesta, e todos nós lemos com satisfação uma série de excelentes artigos a este respeito no New Leader. Nas últimas eleições parlamentares o Independent Labour Party recusou-se até mesmo a apoiar no plano eleitoral os trabalhistas justamente porque estes últimos sustentavam a Sociedade das Nações. Em si, esta recusa constituía um erro tático: ali onde o Independent Labour Party não tinha condições de apresentar seus próprios candidatos devia apoiar os trabalhistas contra os conservadores. Mas isto é, apesar de tudo, um pormenor. Em todo caso, não havia nenhuma possibilidade de um “programa comum” com os trabalhistas. Os internacionalistas deviam ligar o apoio eleitoral (aos trabalhistas) com a denúncia do modo como os social-patriotas britânicos rastejavam diante da Sociedade das Nações e das suas “sanções”. Nós nos permitimos formular a seguinte pergunta a Fenner Brockway: o que admite como correto a “internacional” da qual é secretário? A seção inglesa desta “Internacional” se recusa a dar um simples apoio eleitoral a candidatos operários, se eles são partidários da Sociedade das Nações. A seção espanhola conclui um bloco com partidos burgueses sobre um programa comum de apoio à Sociedade das Nações. Será possível ir mais longe no domínio das contradições, da confusão, da degeneração? Ainda não há guerra e as seções da “Internacional” de Londres tendem desde agora em direções diametralmente opostas. Até onde irão quando ocorrerem os acontecimentos decisivos?
A traição do “Partido Operário de Unificação Marxista”, 22 de janeiro de 1936.
https://www.marxists.org/portugues/trotsky/1936/01/22.htm
[3]
Na declaração inicial de adesão do Coletivo Socialistas Livres ao
então “Comitê Paritário”, publicado novamente pelo site da
Liga Comunista, aparece uma nota de rodapé afirmando que “A
RPR [nome anterior da TR] não chamou voto crítico em Dilma no
segundo turno das eleições presidenciais de 2014”. Não há mais
nenhuma indicação de como essa importante divergência seria
resolvida. Ver também a declaração da TR “Agora é voto nulo!”
[4]
Na mesma declaração do Coletivo Socialistas Livres, está escrito
que “A
principal diferença entre o CP e o CSL, reside na questão do
centralismo, o qual o CSL se opõe. Uma vez que o atual estágio de
construção do CP se caracteriza por ser um Comitê não
centralizado, esta diferença situa-se no campo teórico, ao qual
buscaremos superar a partir da experiência comum e da confiança
mútua.”
[5]
Esse comentário sutil foi feito numa introdução (sem quaisquer
críticas) à republicação de um texto da “Rede em defesa da
humanidade”, que “Reafirma
a solidariedade ao governo legitimamente eleito, o de Nicolas Maduro,
bem como exorta a oposição a respeitar a constituição do país.”
http://espacomarxista.blogspot.com.br/2015/02/intelectuais-e-artistas-contra.html
[6]
Num texto de 2014, o CSL afirma: “Na
segurança pública, o PSDB de Aécio Neves e Anastasia desconsiderou
as reivindicações dos policiais civis e militares, impondo apenas
metas e metas de mais produtividade, sem a contrapartida salarial aos
que trabalham (…)”
https://socialistalivre.wordpress.com/2014/10/28/psdb-foi-derrotado-em-minas-gerais-e-nao-entendeu-o-porque-entao-eu-re-explico/
[7]
Aqui estão alguns comentários de Trotsky sobre o “apoio tático”
a blocos de colaboração de classes e também sobre a orientação
eleitoral diante de uma “concorrência” entre partidos burgueses
tradicionais e a “Frente Popular”:
A questão das questões atualmente é a Frente Popular. Os centristas de esquerda procuram apresentar esta questão como tática ou mesmo como uma manobra técnica, a fim de poder vender as suas mercadorias na sombra da Frente Popular. Na realidade, a Frente Popular é a questão principal da estratégia da classe operária nesta época. Também confere o melhor critério para diferenciar o menchevismo do bolchevismo.
A seção holandesa e a Internacional, julho de 1936.
Como não se concebe a democracia parlamentar na França sem os radicais, façamos com que os socialistas os sustenham, ordenemos aos comunistas que não incomodem o bloco Blum-Herriot se possível, façamos com que entrem, eles mesmos, no bloco. Nem distúrbios nem ameaças! Esta é a orientação do Kremlin (…) Se o partido de Herriot-Daladier tem raízes nas massas pequeno-burguesas e, em certa medida, até nos meios operários, é unicamente com o objetivo de enganá-los em benefício do regime capitalista. Os radicais são o partido democrático do imperialismo francês: qualquer outra definição é uma mentira (…). As próximas eleições parlamentares, qualquer que seja o resultado, não trarão, por si mesmas, mudanças sérias na situação: definitivamente, os eleitores estão obrigados a escolher entre um árbitro do tipo de Laval e um árbitro do tipo de Herriot-Daladier Mas como Herriot colaborou tranquilamente com Laval e Daladier apoiou ambos, a diferença que os separa, se medida com a escala dos problemas históricos colocados, é insignificante.
A França na Encruzilhada, março de 1936.
https://www.marxists.org/portugues/trotsky/1936/03/28.htm
[8]
Nós escrevemos uma polêmica direcionada ao PCO sobre a sua
perspectiva alarmista de um golpe como forma de capitular ao PT. Ver
“As capitulações do PCO ao governismo”.
http://reagrupamento-rr.blogspot.com.br/2014/07/as-capitulacoes-do-pco-ao-governismo.html
[9]
“O
que
o imperialismo pretende é derrubar o regime anti-sionista e
anti-imperialista de Assad, e para isso tem fomentado o mesmo ISIS
que finge combater.”
http://espacomarxista.blogspot.com.br/2015/05/otan-treina-rebeldes-sirios.html
[10]
Ver
“Coletivo Lenin rompe relações com a Tendência Bolchevique
Internacional”
http://reagrupamento-rr.blogspot.com.br/2011/07/cl-rompe-relacoes-com-ibt-dezembro-de.html
[11]
Ver “A Tendência Bolchevique Internacional ‘explica’ sua
falência”
http://reagrupamento-rr.blogspot.com.br/2012/07/a-tendencia-bolchevique-internacional.html
[12]
Além da nossa carta de ruptura, na nota número 1, ver também
“Revisando a história do trotskismo”.
http://reagrupamento-rr.blogspot.com.br/2011/10/polemica-com-o-coletivo-lenin-sobre.html
[13]
Ver “Balanço das discussões do Coletivo Lenin com o Espaço
Socialista”
http://coletivolenin.blogspot.com.br/2012/04/balanco-das-discussoes-do-coletivo.html
[14]
Ver especialmente a “Declaração da maioria do Coletivo Lenin ao
Congresso da FCT”
http://coletivolenin.blogspot.com.br/2015/09/declaracao-da-maioria-do-cl-ao.html