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Defender a Revolução Cubana!

Esmagar o imperialismo ianque! 
Defender a Revolução Cubana!

[Originalmente publicado em 1917 No. 11, Terceiro Trimestre de 1992, pela então revolucionária Tendência Bolchevique Internacional. Esta tradução para o português foi realizada pelo Reagrupamento Revolucionário em março de 2013].

A derrubada do corrupto e brutal regime colonial de Fulgêncio Batista em janeiro de 1959 e a subsequente expropriação da burguesia cubana foram uma vitória para a população trabalhadora de todo o mundo. Com ajuda soviética, Cuba consolidou um sistema econômico funcional e relativamente igualitário, e por três décadas Fidel Castro pôde zombar da cara do colosso norte-americano. Depois do ignominioso colapso da URSS, os governantes do império norte-americano em declínio não estão mais dispostos a tolerar a continuação da existência de uma economia coletivizada a 90 milhas da Flórida. Os imperialistas nos EUA estão fabricando uma ofensiva de propaganda “democrática” enquanto simultaneamente apertam seu embargo econômico e contam com as suas neocolônias latino-americanas para isolar Cuba. A defesa da revolução cubana nunca foi posta de forma mais aguda do que hoje.

Cuba sob Batista era uma gigantesca plantação de açúcar e local de lazer para norte-americanos ricos. Ao destruir o poder social da burguesia cubana, o regime de Castro cortou a conexão com o imperialismo mundial e assim transformou drasticamente a vida da população trabalhadora comum. Nos primeiros cinco anos da revolução, o consumo de carne e têxteis dobrou, o novo regime reduziu os aluguéis, mansões desertas em Havana foram convertidas em residências para 80 mil estudantes de famílias camponesas, e automóveis de luxo abandonados foram cedidos a antigos criados para que eles pudessem começar a trabalhar como motoristas de taxi.

Hoje os padrões cubanos de saúde, educação e moradia estão muito acima daqueles de outros países latino-americanos. Aluguéis são subsidiados, atendimento médico é gratuito e educação é acessível a todos. O nível de alfabetização é 98 por cento. Todos tem emprego. Cuba permanece pobre pelos padrões do colosso imperialista do norte, mas não existe nada das doenças endêmicas e da pobreza desesperadora tão comum pelo resto da região.

Conexão soviética interrompida

A ajuda e o comércio com o bloco soviético permitiu a Cuba sobreviver às tentativas norte-americanas de estrangular a revolução através de um embargo econômico. Os burocratas do Kremlin mantiveram Cuba como uma barganha na sua busca por uma “coexistência pacífica” global com o imperialismo. A URSS comprava o açúcar cubano e outras exportações acima do preço mundial de mercado, enquanto vendia petróleo para Cuba abaixo da média de custo. Isso equivalia a um subsídio de bilhões de dólares por ano. No fim dos anos 1980, 85 por cento do comércio cubano era com os países da Comecon [a organização econômica liderada pela URSS].

Em 1990, conforme a perestroika desorganizou a economia soviética, déficits e atrasos nas entregas a Cuba tornaram necessários racionamentos apertados de alimentos básicos e de combustível. O consumo industrial de petróleo caiu 50 por cento. Em dezembro de 1990, os soviéticos cortaram pela metade o subsídio de açúcar, e impuseram preços de mercado mundial para os outros produtos.

A vitória contrarrevolucionária sobre o golpe de agosto de 1991 na URSS interrompeu a corda que mantinha a salvo a economia cubana. Os seguidores de Yeltsin não perderam tempo em anunciar o cancelamento do subsídio de açúcar e a retirada do pessoal militar soviético de Cuba. Por volta de outubro de 1991, Castro relatou que menos de 40 por cento das importações agendadas do antigo bloco soviético estavam chegando em portos cubanos. O diário cubano Granma notou amargamente que o abandono por Moscou da revolução cubana deu “sinal verde” para uma agressão dos EUA.

Os batistianos saudaram o anúncio da retirada soviética. A “Fundação Nacional Cubano-Americana” (CANF), uma organização de milionários da Flórida e veteranos do fiasco da CIA na invasão da Baía dos Porcos, estabeleceu uma comissão para planejar a contrarrevolução. Incluídos na comissão da CANF estão Jeane Kirkpatrick e Ronald Reagan (Guardian Weekly, 15 de setembro de 1991). Outra conexão da CANF é o filho de George Bush, Jeb, um especulador de propriedades milionário de Miami. Até agora a CANF afirma ter encontrado compradores para 60 por cento da terra e indústria cubanas (New York Times, 6 de setembro de 1991).

A ‘opção zero’ de Cuba

Com colheitas fracas de açúcar e pouca moeda forte para comprar petróleo e outras importações vitais, Havana lançou uma investida por autossuficiência em produção de alimentos. O governo está tentando direcionar trabalhadores desocupados pelos cortes drásticos na produção industrial para as fazendas estatais. Mas a campanha de autossuficiência está dificultada por uma escassez de ração animal e fertilizantes. Cuba ainda precisa comprar trigo no mercado internacional. A liderança cubana está tentando se preparar para uma interrupção completa de importações de petróleo. Nesse cenário de “opção zero”, bois, cavalos e milhares de bicicletas chinesas seriam a alternativa para carros e caminhões.

Castro se opôs firmemente às “reformas” de mercado de Gorbachev desde o começo. No fim dos anos 1980, o governo cubano baniu os jornais soviéticos por considera-los entusiastas demais sobre a perestroika. Ao invés de “socialismo de mercado”, o slogan da burocracia cubana é “Socialismo ou morte”. Entretanto, apesar da retórica socialista, o regime está agora desesperadamente buscando investimento estrangeiro para contrabalançar a pressão econômica do cerco imperialista e reduzir a dependência do país em açúcar. O governo cubano quer impulsionar o turismo e, para esse fim, está promovendo joint-ventures com capitalistas espanhóis e brasileiros.

O florescimento da indústria do turismo plantou uma economia do dólar lado a lado com a do peso. Os cubanos agora servem mesas e dirigem táxis para estrangeiros com moeda forte. O Independent britânico (2 de novembro de 1991) descreveu isso está corroendo o sentimento anti-imperialista que ajudava a sustentar o regime: “As melhores praias de Cuba, as suas comidas mais finas, seus escassos bens de consumo, estão disponíveis apenas para dólares – os quais os cubanos legalmente não podem possuir... Muitos cubanos comentam sobre o contraste entre a retórica de soberania nacional e a humilhação diária do poder de compra do peso”. Conforme o turismo cresceu, a prostituição, a corrupção burocrática e o mercado negro aumentaram todos de ritmo. As medidas de austeridade adotadas pelo regime levam cubanos comuns a buscarem seus sócios (conexões no mercado negro) por muitos itens de consumo. O Guardian Weekly (17 de março de 1991) relatou que uma amarga paródia do slogan oficial “Socialismo ou Morte” ganhou difundida popularidade.

Os mecanismos do poder stalinista

Por 30 anos Castro não tem tolerado nenhuma oposição política organizada. Em 1976 o regime emitiu uma nova constituição que formalizou o monopólio político do Partido Comunista Cubano e proclamou-o “a mais alta força de liderança da sociedade e do Estado”. A nova constituição estabeleceu “Assembleias de Poder Popular” locais, regionais e nacionais. Esses organismos só existem para fornecer uma aparência de legitimidade popular para as decisões tomadas pelo PCC.

Indicações para as assembleias municipais em reuniões públicas são sujeitas a aprovação das comissões do PC cubano, enquanto o próprio partido faz as indicações das assembleias mais altas. A Assembleia Nacional normalmente só se reúne duas vezes por ano, em julho e em dezembro, geralmente dois dias por vez. Metade dos membros da Assembleia Nacional é indicada pelo partido dentre os delegados dos organismos inferiores. A outra metade é indicada diretamente do PC cubano ou de burocracias governamentais. Mais de 90 por cento dos delegados à Assembleia Nacional de 1981-86 eram membros plenos ou aspirantes do partido.

Como todos os outros partidos stalinistas, não existe democracia interna dentro do próprio Partido Comunista Cubano. O partido realizou o seu primeiro congresso no fim de 1975 – dezessete anos depois que o “Movimento 26 de Julho” chegou ao poder! Castro não viu nenhum problema com isso, e alegremente comentou: “Nós temos sorte de estar realizando-o agora. Sorte mesmo! Dessa forma a qualidade do Congresso é ratificada por 17 anos de experiência”. (Granma, 25 de janeiro de 1976, citado em Workers Vanguard, 12 de março de 1976). O Congresso em si foi um negócio cuidadosamente armado que terminou, como congressos stalinistas normalmente terminam, com uma aprovação unânime da liderança.

Stalinismo cubano: ‘pró-família’ e anti-gay

As crianças cubanas aprendem bem cedo que as mulheres são responsáveis pelo seu cuidado, pela cozinha e pela limpeza. Ao contrário dos Bolcheviques dirigidos por Lenin e Trotsky, que abertamente declararam sua intenção de libertar as mulheres através da socialização do trabalho doméstico, a burocracia cubana, como todos os outros regimes stalinistas, celebra a “família socialista”. A casta dominante castrista promove a família nuclear e todo o atraso social associado como um ponto de apoio para o seu próprio domínio burocrático sobre o proletariado. As mulheres permanecem concentradas em trabalhos tradicionalmente femininos. Quanto mais alta a hierarquia administrativa do partido e da burocracia de Estado, menor a proporção de mulheres.

O encorajamento da família corre paralelamente à perseguição aos homossexuais. Em 1965, o regime estabeleceu “Unidades Militares de Auxílio à Produção”, que eram na realidade campos prisionais, principalmente para homossexuais. A primeira Conferência Nacional de Cultura e Educação em 1971 denunciou virulentamente o “caráter patológico” da homossexualidade, e decidiu que “todas as manifestações de desvios homossexuais devem ser firmemente rejeitados e impedidos de se espalhar”. Das 100 mil pessoas que deixaram Cuba através do porto de Mariel em 1980, cerca de 10 mil eram lésbicas e gays. Essas pessoas foram forçadas ao exílio através de uma campanha de homofobia com financiamento estatal dirigida pelos Comitês de Defesa da Revolução. Na era da pandemia de AIDS e do crescimento da homofobia, Cuba tem a pouco gloriosa distinção de ser o único país no mundo que forçosamente confina pessoas soropositivas do HIV.

Castrismo e democracia operária

O Movimento 26 de Julho, que tomou o poder no dia 1º de Janeiro de 1959, era um movimento insurrecional de guerrilha com base rural. Ele se baseava nas montanhas da Serra Maestra e estava comprometido com um programa de liberalismo radical. Depois de dois anos de guerras de guerrilha, o apodrecido e corrupto aparato de Estado de Batista entrou em colapso, com o grosso da casta de oficiais fugindo para Miami. O Movimento 26 de Julho preencheu o vácuo de poder formando uma coalizão de vida curta com alguns poucos políticos liberais.

Quando um setor da burguesia, apoiada pelo governo americano, se opôs a algumas medidas de nacionalização mais radicais dos castristas, o Movimento 26 de Julho rachou. Uma maioria, dirigida por Fidel Castro e seu irmão Raul, optou pela expropriação dos capitalistas cubanos. Em julho de 1961 os castristas fundiram com o Partido Socialista Popular, uma tradicional formação stalinista pró-Moscou que anteriormente tinha um ministro no governo de Batista. A organização resultante da fusão formou o Partido Comunista Cubano.

Nas cabeças dos membros da Nova Esquerda dos anos 60, os castristas estavam a anos-luz de distância dos burocratas sem cor da Europa Oriental. No entanto, o domínio de partido único stalinista deformou a revolução cubana desde o seu nascimento. Como em todos os outros Estados operários deformados, a classe trabalhadora não desempenhou nenhum papel político independente. Esse era o resultado inevitável da vitória de uma guerrilha insurreta de base camponesa na qual a classe trabalhadora urbana permaneceu secundária. Em 1961, nos primeiros inebriantes dias, Fidel proclamou que a revolução deveria ser uma “escola de pensamento sem restrições”. Mas logo os “barbudos” (como eram conhecidos os combatentes de guerrilha) estavam respondendo a todas as críticas com repressão policial.

A perseguição contra Partido Obrero Revolucionario (POR) de orientação trotskista nos primeiros anos da revolução é um caso emblemático. Os membros do POR defenderam incondicionalmente a revolução contra o imperialismo, mas eles também criticaram o burocratismo do novo regime. A polícia política de Castro respondeu destruindo a sua imprensa escrita, proibindo uma edição em espanhol da Revolução Permanente de Trotsky e jogando cinco membros do POR na prisão.

O fator subjetivo na história

Para um “homem de ação” do Movimento 26 de Julho, a crítica marxista e a democracia dentro da esquerda sempre foram apenas obstáculos à “unidade”. Em outubro de 1960, quando nacionalizações em larga escala estavam em andamento, Che Guevara, um líder de esquerda dentro do Movimento 26 de Julho expressou o desprezo pela teoria marxista que animava os jovens pragmatistas:

“A revolução cubana é única, o que algumas pessoas dizem contradiz um dos mais ortodoxos princípios do movimento revolucionário, expresso por Lenin: ‘Sem teoria revolucionária não existe movimento revolucionário’...”
“Os principais atores dessa revolução não tinham nenhum critério coerente...”
“Começando com o revolucionário Marx, um grupo político com ideias concretas se estabelece. Se baseando nos gigantes, Marx e Engels, e se desenvolvendo através de passos sucessivos com personalidades como Lenin, Stalin e Mao Tse-tung, e os novos governantes soviéticos e chineses, ele estabelece um corpo de doutrina em deixe-nos dizer, exemplos a se seguir.”
“A revolução cubana toma Marx no ponto em que ele próprio abandonou a ciência para segurar seu rifle revolucionário... Nós, revolucionários práticos, começando nossa própria luta, simplesmente realizamos leis previstas por Marx, o cientista... as leis do marxismo estão presentes nos eventos da revolução cubana, independentemente do que os seus líderes professam ou conhecem dessas leis de um ponto de vista teórico.”
— “Nós somos revolucionários práticos”, 8 de outubro de 1960, reimpresso em Venceremos!, J. Gerassi (Ed.)

Apesar da sua coragem pessoal e dedicação à causa dos oprimidos, a tendência dos castristas a denegrir o papel do fator subjetivo da história constituiu um obstáculo político à vitória final da revolução. As “leis do marxismo” só podem triunfar através de seres humanos vivos e politicamente conscientes que as aplicam na luta para transformar o mundo. Elas não operam autonomamente ou automaticamente.

A luta pela revolução socialista é uma luta para ganhar as massas da população trabalhadora e oprimida para o programa político do marxismo revolucionário. A história dos próprios revolucionários cubanos, ousados e radicais como eram, confirma que a estrada para a libertação humana está através da consciência. Era isso que Marx queria dizer quando ele disse que a classe trabalhadora deve emancipar a si mesma – ela não pode ser libertada por um grupo de líderes, por mais bem intencionados e sinceros que sejam. O papel da vanguarda leninista é desenvolver e lutar pelo programa revolucionário contra as variadas formas de falsa consciência pseudosocialista (incluindo o stalinismo castrista). A vitória do socialismo requer que o programa marxista, encarnado em um partido leninista, seja adotado pelas massas de oprimidos e explorados.

A liderança cubana permanece muito mais popular em casa do que os burocratas cinzentos do antigo bloco soviético jamais foram. Ao longo dos anos tem havido uma significativa participação em várias mobilizações conduzidas pelo regime. Mas o apoio popular para as iniciativas da camada dominante não é um substituto para o exercício do poder político. A habilidade de fazer sugestões ou de ter voz sobre como as campanhas serão implementadas é fundamentalmente diferente do poder de decidir e estabelecer as prioridades desde o começo. Em um Estado operário saudável, a população deve ser de fato, assim como no papel, a tomadora de decisões políticas.

A política externa ‘revolucionária’ de Cuba

O regime de Castro reteve certo brilho para a maior parte da esquerda pequeno-burguesa que há muito abandonou os outrora populares governantes stalinistas do Vietnã. Os ex-trotskistas do “Secretariado Unificado” de Ernest Mandel, que certa vez adularam os castristas por sua “evolução rumo ao marxismo revolucionário”, estão um tanto mais reservados hoje em dia. Mesmo assim, eles ainda rejeitam “qualquer atitude sectária com relação à liderança cubana” e consideram que, apesar de alguns defeitos, os castristas permanecem “revolucionários”. Os antigos companheiros de Mandel no “Secretariado Unificado”, os sicofantas de Castro no Socialist Workers Party (SWP) estadunidense de Jack Barnes, nem sentem necessidade que qualquer álibi crítico. Os seguidores de Barnes falam da política externa de Cuba como prova de que Castro está realizando as tradições revolucionárias internacionalistas de Marx e Lenin. Porém, a política externa de Castro ao longo dos anos tem sido em geral orientada pelas exigências da burocracia antirrevolucionária do Kremlin.

Em maio-junho de 1968, quando dez milhões de trabalhadores e estudantes levaram a França à beira de revolução, Castro encobriu a traição da greve pelo Partido Comunista Francês. Poucos meses depois, Havana apoiou os tanques soviéticos que rolaram sobre Praga para derrubar os reformadores stalinistas de Alexander Dubcek e instalar uma fração mais ao gosto de Leonid Brezhnev. Em junho de 1989, a burocracia cubana ofereceu desculpas para o massacre realizado pelos stalinistas chineses contra trabalhadores e estudantes que protestavam na Praça Tiananmen em Pequim.

O histórico de Cuba na América Latina é igualmente infeliz. No começo dos anos 1970, Castro apoiou a frente popular “Unidade Popular” de Salvado Allende, uma coalizão de governo com seções da burguesia chilena. Essa política de colaboração de classes desarmou a classe trabalhadora chilena politicamente, e armou o palco para o massacre de dezenas de milhares de militantes e trabalhadores de esquerda posteriormente com o golpe pinochetista de setembro de 1973. Ao longo dos anos 1980, os cubanos orientaram os sandinistas nicaraguenses a não expropriarem a burguesia, e ao invés disso defenderam uma frente nacional patriótica com os capitalistas. Os sandinistas buscaram em vão por uma mística “terceira via” entre o capitalismo e o socialismo por cerca de uma década, até que uma população quase faminta votou pela sua saída a favor da ala parlamentar do movimento dos contra de Reagan e Bush.

Os apologistas de Castro frequentemente apontam para o apoio cubano ao governo nacionalista do MPLA em Angola contra a África do Sul como uma evidência de internacionalismo marxista. Enquanto os revolucionários apoiaram militarmente as forças do MPLA (com apoio soviético) e de Cuba contra o regime do Apartheid e seus aliados angolanos, essa não era uma luta pelo poder da classe trabalhadora. Os cubanos em Angola eram fantoches soviéticos. Quando Gorbachev fez um acordo com a Casa Branca em 1988, as tropas cubanas começaram a se retirar.

Em outro lado da África, soldados cubanos ajudaram a sustentar o sanguinário regime etíope de Mengitsu (outro cliente soviético) durante sua longa, brutal e derrotada guerra contra a legítima luta do povo da Eritreia por autodeterminação.

Quando os imperialistas começaram suas preparações diplomáticas para a guerra neocolonial contra o regime iraquiano em 1990, os stalinistas cubanos se juntaram ao coro de vozes hipócritas que condenava a invasão do Kuwait. Cuba nem sequer se opôs às sanções comerciais contra o Iraque nas Nações Unidas. Falando para a Assembleia Geral da ONU em 25 de agosto de 1990, o delegado de Cuba, Ricardo Alarcon, anunciou que “o meu governo tomou medidas relevantes para garantir que nosso país também cumpra” com as sanções. A participação no embargo imperialista contra o Iraque só poderia ser qualificada como um exemplo de “internacionalismo leninista” por aqueles, como Jack Barnes e cia., que são cegos que não querem ver.

O futuro do Castrismo

O regime de Castro ainda possui um reservatório de apoio entre a população trabalhadora de Cuba. Tendo eliminado quaisquer competidores na esquerda, Castro pode apresentar seu poder como a única alternativa a uma vida sob o tacão dos EUA. Porém, conforme a economia cubana se move progressivamente para mais perto da “opção zero”, poderosas contradições ameaçam abalar a estabilidade do regime. Conforme cubanos comuns ficam em filas a noite inteira por produtos básicos, o contraste entre a retórica igualitarista da casta dominante e os seus privilégios burocráticos se torna mais aparente e mais irritante. O Independent britânico reportou que: “O slogan da União dos Jovens Comunistas, por exemplo, é ‘Siga-me!’. Os jovens gritam-no, com uma mistura de ironia e raiva, contra Roberto Robaina, o líder dos Jovens Comunistas, quando ele passa no seu carro de chofer pelas longas e irritantes filas de pessoas que esperam interminavelmente pelos ônibus lotados de Havana”. Os castristas responderam ao descontentamento crescente com denúncias de “subversão” e “membros da quinta coluna”. Eles também estabeleceram “esquadrões de reação rápida” nos bairros, que fazem até os leais seguidores de Fidel no SWP enjoarem (Militant, 18 de outubro de 1991).

Nenhuma personalidade dentro ou fora da burocracia personifica as forças da contrarrevolução em Cuba como Yeltsin na URSS. Entretanto, o colapso do stalinismo na Europa Oriental e na URSS teve repercussões poderosas. Em uma tentativa de apertar o controle central e eliminar dissidentes em potencial, o PC cubano anunciou em outubro de 1990 a abolição de metade dos cargos nacionais e regionais do partido.

Esse movimento veio logo depois da execução do General Arnaldo Ochoa Sanchez, um popular herói da guerra angolana, por tráfico de drogas. Ochoa se declarou culpado por uma série de acusações implausíveis depois de um clássico julgamento armado ao estilo stalinista. Depois da eliminação desse potencial rival de Fidel, outros chefes burocratas também foram presos. O mais proeminente foi José Abrantes Fernandez, Ministro do Interior, que foi considerado o terceiro na linha de sucessão depois de Fidel e seu irmão Raul.

O regime de Castro tem pouco a oferecer aos trabalhadores e camponeses de Cuba além de exortações morais para trabalhar mais duro e consumir menos. Mas a “coexistência pacífica” com os piratas de Wall Street não é uma opção. Não há espaço para a “Cuba socialista” na Nova Ordem Mundial de George Bush.

Por 30 anos os chefes do imperialismo dos EUA tem estado obcecados para fazer derrubar a revolução cubana. Bush e o Pentágono sabem que uma intervenção militar contra Cuba não seria um passeio como os ataques de 1983 a Granada e de 1989 ao Panamá.

Defender e estender a revolução cubana! Por uma revolução política proletária!

Hoje, diante do colapso do stalinismo, o internacionalismo proletário de Lenin e Trotsky ganha uma importância imediata para os trabalhadores cubanos. Num sentido histórico, a sobrevivência da revolução cubana sempre dependeu da sua extensão. Mesmo com a ajuda soviética, a viabilidade em longo prazo da revolução dependia da integração da economia cubana em uma federação regional de Estados socialistas. Essa perspectiva, a da revolução permanente, é contraposta pelo chavão sem saída “Pátria ou Morte!” do regime de Havana.

A atual depressão global capitalista é um pesadelo para as massas trabalhadoras na América Latina, assim como é para milhões ao norte do Rio Grande. Dezenas de milhões de pessoas nas Américas, consignadas a uma vida de incerteza, pobreza e fome, estão agudamente cientes da profunda irracionalidade da ordem mundial capitalista.

É dever de todo trabalhador com consciência de classe defender Cuba contra a contrarrevolução “democrática” planejada pela classe dominante norte-americana. Em primeiro lugar, é necessário lutar para romper o embargo contra Cuba. O movimento dos trabalhadores na América Latina, Canadá e nos Estados Unidos tem o poder para frear o ataque imperialista desde já. Uma forma de popularizar a noção de greves políticas contra uma agressão militar dos EUA é educando a população trabalhadora sobre os benefícios práticos que a revolução trouxe às massas cubanas em termos de moradia, saúde e educação. Essas são questões de importância imediata para milhões de trabalhadores nos EUA e na América Latina.

O passo a frente para a classe trabalhadora cubana não é através de um aperto de cintos sem fim e de conciliação com o imperialismo e seus vassalos regionais. Para sobreviver, a revolução cubana deve encontrar aliados através de vitórias bem sucedidas contra o capitalismo em toda a região. Isso vai a desacordo do “pragmatismo” nacionalista do regime bonapartista de Castro e de seus esquemas autárquicos para um “socialismo” em uma só ilha movido a tração animal.

A defesa de revolução cubana está diretamente ligada à necessidade de que os trabalhadores retirem o poder político das mãos do PC cubano através de uma revolução política proletária. Tal revolução que requer a criação de um partido leninista-trotskista para ser bem sucedida, iria alterar instantaneamente a presente correlação de forças. A criação de órgãos genuínos de democracia revolucionária direta iria revigorar a revolução cubana e funcionar como um poderoso ímpeto para as lutas operárias por toda a América Latina. Também não deixaria de encontrar eco no crescente componente hispânico da classe trabalhadora norte-americana.