31.12.70

"Pequenos rachas" na Arte e na Política

“Pequenos rachas” na Arte e na Política 


Leon Trotsky

Trecho de ‘Arte e Política em Nossa Época’, publicado originalmente em Partisan Review em junho de 1938 e depois na Fourth International de maio-junho de 1950. Esse trecho foi traduzido ao português pelo Reagrupamento Revolucionário em 2013 a partir da versão disponível em inglês em http://www.marxists.org/archive/trotsky/1938/06/artpol.htm.

“Na edição de junho da sua revista, eu encontrei uma curiosa carta de um editor de uma publicação de Chicago, a qual eu desconheço. Expressando (por erro, eu espero) a simpatia dele pela sua revista, ele escreve: ‘Eu não vejo nenhuma esperança, porém [?], nos trotskistas e outros pequenos rachas anêmicos que não tem base de massas’. Essas palavras arrogantes dizem mais sobre o autor do que ele talvez quisesse dizer. Elas mostram, acima de tudo, que as leis do desenvolvimento da sociedade permaneceram para ele como um livro selado a sete chaves. Nem sequer uma ideia progressiva começou com uma ‘base de massas’, do contrário não teria sido uma ideia progressiva. É apenas no seu último estágio que a ideia encontra suas massas – isso se, é claro, ela responder às necessidades do progresso. Todos os grandes movimentos começaram como ‘pequenos rachas’ de movimentos antigos. No começo, o cristianismo era apenas um ‘pequeno racha’ do judaísmo; o protestantismo um ‘pequeno racha’ do catolicismo, quer dizer, do cristianismo em decadência. O grupo de Marx e Engels surgiu como um ‘pequeno racha’ da esquerda hegeliana. A Internacional Comunista germinou durante a guerra a partir de ‘pequenos rachas’ da Internacional Socialdemocrata. Se esses pioneiros foram capazes de criar uma base de massas, foi precisamente porque eles não temiam o isolamento. Eles sabiam de antemão que a qualidade de suas ideias se transformaria em quantidade. Esses ‘pequenos rachas’ não sofriam de nenhuma anemia; pelo contrário, eles traziam consigo os germes dos grandes movimentos históricos do amanhã.”  

“É exatamente da mesma forma, para repetir, que um movimento progressivo ocorre na arte. Quando uma tendência artística exauriu suas capacidades criativas, ‘pequenos rachas’ criativos capazes de olhar o mundo com novos olhos se separam dela. Quanto mais ousadamente os pioneiros expressam suas ideias e ações, quanto mais severamente eles se opõem à autoridade estabelecida que se apoia em uma conservadora ‘base de massas’, mais as almas convencionais, os céticos e esnobes se inclinam a ver nesses pioneiros meros excêntricos impotentes ou ‘pequenos rachas anêmicos’. Mas, em última análise, são as almas convencionais, céticos e esnobes que estão errados – e a vida passa por cima deles.”

[...]

“Toda nova tendência artística ou literária (naturalismo, simbolismo, futurismo, cubismo, expressionismo e assim por diante) começou como um ‘escândalo’, quebrando com a velha e respeitável tradição, ferindo muitas autoridades estabelecidas. Isso de forma alguma flui apenas da busca por atenção (embora não haja falta disso). Não, essas pessoas – artistas, assim como críticos literários – tinham algo a dizer. Eles tinham amigos, tinham inimigos, eles lutaram, e exatamente fazendo isso, eles demonstraram o seu direito de existir.”