25 de
outubro de 1953
[Farrell
Dobbs foi um dos dirigentes do Socialist Workers Party (Partido dos
Trabalhadores Socialistas – SWP). A presente carta foi
publicada originalmente no boletim do Comitê Internacional no contexto do
rompimento do SWP com Pablo. A maior parte deste documento foi traduzida ao
português pela Editora Tykhe, como uma citação de “A Herança que Nós
Defendemos” disponível em http://www.tykhe.com.br/extras/mv/mv3_08.pdf. A parte restante da carta foi traduzida
pelo Reagrupamento Revolucionário para publicação em outubro de 2013].
Caro
Jerry [G. Healy],
Nós
recebemos sua carta de 12 de outubro e o artigo de discussão de Tom, o qual nós
estamos incluindo no boletim. Nós ainda estamos esperando sua opinião sobre o
memorando a respeito da ‘Ascensão e Declínio do Stalinismo’. Parece melhor que
esse documento não seja circulado para além das lideranças de seu próprio grupo
até depois de nossa plenária.
Desde
a chegada de Jim [James P. Cannon] a Nova Iorque,estivemos estudando o curso da
luta internacional e avaliando os seus mais recentes desenvolvimentos. Lemos
atentamente todas as suas cartas, que tiveram uma profunda influência no nosso
pensamento sobre a questão internacional.
O mais
sinistro de tudo é o ultimato de Pablo mostrando a intenção de promover e
ajudar a minoria revisionista a derrubar e subjugar a maioria em seu partido.
Observamos que, enquanto empreende esse violento ataque sobre vocês ele
permanece muito mais cauteloso com sua atitude perante nós. Existe um motivo
para isso. Ele quer manter-nos imobilizados na arena internacional e
preocupados com a luta contra nossos próprios revisionistas, aos quais ele tem
dado apoio clandestino, enquanto tenta fazer em pedaços, um por um, outros
grupos trotskistas ortodoxos e o seu grupo.
Pensamos
que o melhor serviço que podemos prestar ao movimento internacional é romper
com toda a teia pablista de intrigas através de um desafio aberto à sua linha
revisionista liquidacionista. Pensamos que chegou a hora de realizar um apelo
aberto aos trotskistas ortodoxos do mundo para reagruparem-se em socorro à IV Internacional
e derrubar a camarilha revisionista usurpadora. O movimento deve ser posto de
sobreaviso contra a tática de Pablo de causar rachas e realizar expulsões,
contra o abuso de poder administrativo na tentativa de repetir numa escala
internacional o truque da França de subjugar uma maioria com uma minoria.
Na
linha dessa decisão, de passar da defensiva à ofensiva, estamos alterando todo
o caráter do esboço do apelo que mandamos a você. Aquele esboço limitava-se a
uma descrição do revisionismo em nosso partido e do apoio de Pablo aos
revisionistas, com um apeloaos trotskistas ortodoxos do mundo para a nossa batalha. Agora, nossa plenária pretende lançar um manifesto aberto para
o movimento mundial com um chamado para nos armarmos contra os pablistas no
campo internacional.
O
manifesto terá como ponto de partida as políticas criminosas do pablismo com referência
aos eventos revolucionários na Alemanha Oriental, França, Irã, e os novos
desenvolvimentos na União Soviética. Demonstraremos que as linhas de clivagem
política se tornaram tão profundas e os métodos organizativos pablistas tão
estranhos ao nosso movimento que um modus vivendi não é mais possível. A
conduta dos pablistas mostra seu desdém pelas reais relações de forças no
movimento. Eles atuam como se Pablo e sua corja fossem donos da internacional.
Os trotskistas ortodoxos devem expulsar Pablo e toda a camarilha ao seu redor,
que não deixam qualquer espaço para um modus vivendidiferente da
completa submissão à sua linha criminosa.
É
necessário reconhecer que essa exposição não pode esperar até o próximo
congresso, como muitos haviam pensado anteriormente. Os pablistas já mostraram
através de seus atos na França e de suas manobras e ameaças contra você na Inglaterra
que não permitirão um congresso democrático. Seu plano é livrarem-se dos
trotskistas ortodoxos antes do congresso sequer começar. Devemos agir já e de
maneira decisiva. Isso quer dizer que devemos iniciar o contra-ataque sem
demora. Não podemos ter ilusões de que pode haver comprometimento ou acordo
pacífico com esse bando.
Essa
mudança na tática, que foi decidida por unanimidade por aqui, surgiu particularmente
das nossas deliberaçõessobre como podemos melhor ajudá-lo na sua batalha.
Atualmente, sabemosque você encontra-se preso numa teia de calúnias e falsos
legalismos que o têm mantido na defensiva. Você é compelido a lutar no terreno
pablista juntamente com camaradas inexperientes, que podem ser levados pelo
germe de confusão política de Pablo e o uso que faz de intrigas organizacionais.
O desafio
político direto e aberto de Pablo por nossa plenária faz a coisa mudar de
figura, corta a sua estratégia de confundir e provém a todos com um excelente
embasamento para passar da defensiva à ofensiva em apoio ao nosso manifesto.
Você pode assim mobilizar e armar rapidamente para a batalha todos os
trotskistas ortodoxos.
A luta
em que entramos agora não é menos vital e decisiva para o futuro do que foram
as grandes batalhas ocorridas 25 anos atrás, nas quais o grupo trotskista
original estava reunido. Em face desses imperativos políticos, pequenos escândalos
e manobras organizacionais perdem força. Através de um desafio político não
comprometedor você irá rapidamente unir suas forças numa facção que se tornará
o movimento futuro na Inglaterra.
Se
deixarmos a luta ser conduzida muito mais adiante do nível em que se encontra,
você corre o inevitável risco de ver a desmoralização e a confusão racharem seu
movimento. E isso é o que mais tememos no momento atual.
Já
tivemos um teste preliminar da efetividade dessa mudança de tática em um debate
interno sobre a greve geral na França que aconteceu aqui em Nova Iorque, na
última quinta-feira. Nessa discussão, pela primeira vez atacamos Pablo abertamente.
Os cochranistas [aliados de Pablo no SWP] pareciam surpresos e chocados que
ousássemos fazê-lo, enquanto nossas forças animaram-se com a abertura da guerra
contra Pablo. A surpresa dos cochranistas diante de nosso ataque cortante a
Pablo parece confirmar nossa desconfiança de que ele pensava que tínhamos medo
de iniciar uma batalha aberta contra ele. Ele pensava que fazendo um engenhoso jogo
duplo conosco poderia manter-nos imobilizados na batalha internacional até que
terminasse o golpe à francesa no partido britânico.
O fator
mais decisivo do debate foi a avidez com que nossas bases responderam ao sinal
de que uma guerra aberta contra o revisionismo e liquidacionismo pablista iniciava-se
no movimento mundial. Pensamos que essa reação saudável será duplicada por todo
lado entre aqueles que não esqueceram o que lhes ensinou Trotsky e que esperam,
como você mencionou diversas vezes, o SWP falar. Por toda a parte o nosso
movimento se formou sobre os ensinamentos de Trotsky. Como disse Morris em nossa
reunião de ontem, todos leram os mesmos livros que nós, e sabem tanto quanto
nós sabemos. Como você indicou em sua recente carta, há múltiplos sinais de
desconforto ao longo do movimento a respeito da linha revisionista de Pablo.
Por
todas essas razões, nós estamos absolutamente confiantes que uma vez feito o
desafio aberto, nós rapidamente mobilizaremos uma decisiva maioria do movimento
mundial em defesa dos nossos princípios ortodoxos. Mas para fazê-lo, chegou a
hora de chamar a as coisas por seus nomes corretos, de falar abertamente e sem
atraso.
Ao
adotar um manifesto aberto contra Pablo em nossa plenária, nós estaremos pondo
uma arma na cabeça de seus apoiadores cochranistas em nosso partido. Isso
significa que o verdadeiro quase-racha que tem existido em nosso partido nas
últimas semanas vai rapidamente se transformar em um rompimento aberto. Da
nossa parte, não temos absolutamente nada a perder com isso e tudo a ganhar.
Nós não contemplamos nenhum tipo de reconciliação futura com essas pessoas.
Várias
ações naturalmente irão fluir a partir dessa decisão básica que será tomada em
nossa plenária. Nós trabalharemos nelas conforme avançarmos. A principal linha
delas já está clara. O cerne disso é que nós não iremos cair na teia de quaisquer
legalismos por parte dessa camarilha usurpadora. Nós teremos uma luta aberta
pelo controle do movimento mundial.
Imediatamente
após a plenária, nós devemos estabelecer íntimas relações organizativas e
consultivas com os trotskistas ortodoxos de toda a parte, incluindo aqueles que
foram injustamente expulsos. Nós achamos que um comitê de coordenação deve ser
estabelecido sem atraso desnecessário. Nós enviaremos alguém logo depois da
nossa plenária para discutir esse problema diretamente com você.
Saudações
camaradas,
Farrell
Dobbs
P.S.:
Haverá umagrande quantidade de materiais em nosso jornal que serão bastante
úteis para vocês em sua luta. Se você nos enviar uma lista de todas as suas
pessoas que você deseja que recebam nossa imprensa – sejam cópias individuais
ou pacotes – nós os colocaremos em nossa lista de entrega.