28.10.03

Carta de Farrell Dobbs para Gerry Healy


Carta de Farrell Dobbs para G. Healy

25 de outubro de 1953

[Farrell Dobbs foi um dos dirigentes do Socialist Workers Party (Partido dos Trabalhadores Socialistas – SWP). A presente carta foi publicada originalmente no boletim do Comitê Internacional no contexto do rompimento do SWP com Pablo. A maior parte deste documento foi traduzida ao português pela Editora Tykhe, como uma citação de “A Herança que Nós Defendemos” disponível em http://www.tykhe.com.br/extras/mv/mv3_08.pdf. A parte restante da carta foi traduzida pelo Reagrupamento Revolucionário para publicação em outubro de 2013].


Caro Jerry [G. Healy],

Nós recebemos sua carta de 12 de outubro e o artigo de discussão de Tom, o qual nós estamos incluindo no boletim. Nós ainda estamos esperando sua opinião sobre o memorando a respeito da ‘Ascensão e Declínio do Stalinismo’. Parece melhor que esse documento não seja circulado para além das lideranças de seu próprio grupo até depois de nossa plenária.

Desde a chegada de Jim [James P. Cannon] a Nova Iorque,estivemos estudando o curso da luta internacional e avaliando os seus mais recentes desenvolvimentos. Lemos atentamente todas as suas cartas, que tiveram uma profunda influência no nosso pensamento sobre a questão internacional.

O mais sinistro de tudo é o ultimato de Pablo mostrando a intenção de promover e ajudar a minoria revisionista a derrubar e subjugar a maioria em seu partido. Observamos que, enquanto empreende esse violento ataque sobre vocês ele permanece muito mais cauteloso com sua atitude perante nós. Existe um motivo para isso. Ele quer manter-nos imobilizados na arena internacional e preocupados com a luta contra nossos próprios revisionistas, aos quais ele tem dado apoio clandestino, enquanto tenta fazer em pedaços, um por um, outros grupos trotskistas ortodoxos e o seu grupo.

Pensamos que o melhor serviço que podemos prestar ao movimento internacional é romper com toda a teia pablista de intrigas através de um desafio aberto à sua linha revisionista liquidacionista. Pensamos que chegou a hora de realizar um apelo aberto aos trotskistas ortodoxos do mundo para reagruparem-se em socorro à IV Internacional e derrubar a camarilha revisionista usurpadora. O movimento deve ser posto de sobreaviso contra a tática de Pablo de causar rachas e realizar expulsões, contra o abuso de poder administrativo na tentativa de repetir numa escala internacional o truque da França de subjugar uma maioria com uma minoria.

Na linha dessa decisão, de passar da defensiva à ofensiva, estamos alterando todo o caráter do esboço do apelo que mandamos a você. Aquele esboço limitava-se a uma descrição do revisionismo em nosso partido e do apoio de Pablo aos revisionistas, com um apeloaos trotskistas ortodoxos do mundo para a nossa batalha. Agora, nossa plenária pretende lançar um manifesto aberto para o movimento mundial com um chamado para nos armarmos contra os pablistas no campo internacional.

O manifesto terá como ponto de partida as políticas criminosas do pablismo com referência aos eventos revolucionários na Alemanha Oriental, França, Irã, e os novos desenvolvimentos na União Soviética. Demonstraremos que as linhas de clivagem política se tornaram tão profundas e os métodos organizativos pablistas tão estranhos ao nosso movimento que um modus vivendi não é mais possível. A conduta dos pablistas mostra seu desdém pelas reais relações de forças no movimento. Eles atuam como se Pablo e sua corja fossem donos da internacional. Os trotskistas ortodoxos devem expulsar Pablo e toda a camarilha ao seu redor, que não deixam qualquer espaço para um modus vivendidiferente da completa submissão à sua linha criminosa.

É necessário reconhecer que essa exposição não pode esperar até o próximo congresso, como muitos haviam pensado anteriormente. Os pablistas já mostraram através de seus atos na França e de suas manobras e ameaças contra você na Inglaterra que não permitirão um congresso democrático. Seu plano é livrarem-se dos trotskistas ortodoxos antes do congresso sequer começar. Devemos agir já e de maneira decisiva. Isso quer dizer que devemos iniciar o contra-ataque sem demora. Não podemos ter ilusões de que pode haver comprometimento ou acordo pacífico com esse bando.

Essa mudança na tática, que foi decidida por unanimidade por aqui, surgiu particularmente das nossas deliberaçõessobre como podemos melhor ajudá-lo na sua batalha. Atualmente, sabemosque você encontra-se preso numa teia de calúnias e falsos legalismos que o têm mantido na defensiva. Você é compelido a lutar no terreno pablista juntamente com camaradas inexperientes, que podem ser levados pelo germe de confusão política de Pablo e o uso que faz de intrigas organizacionais.

O desafio político direto e aberto de Pablo por nossa plenária faz a coisa mudar de figura, corta a sua estratégia de confundir e provém a todos com um excelente embasamento para passar da defensiva à ofensiva em apoio ao nosso manifesto. Você pode assim mobilizar e armar rapidamente para a batalha todos os trotskistas ortodoxos.

A luta em que entramos agora não é menos vital e decisiva para o futuro do que foram as grandes batalhas ocorridas 25 anos atrás, nas quais o grupo trotskista original estava reunido. Em face desses imperativos políticos, pequenos escândalos e manobras organizacionais perdem força. Através de um desafio político não comprometedor você irá rapidamente unir suas forças numa facção que se tornará o movimento futuro na Inglaterra.

Se deixarmos a luta ser conduzida muito mais adiante do nível em que se encontra, você corre o inevitável risco de ver a desmoralização e a confusão racharem seu movimento. E isso é o que mais tememos no momento atual.

Já tivemos um teste preliminar da efetividade dessa mudança de tática em um debate interno sobre a greve geral na França que aconteceu aqui em Nova Iorque, na última quinta-feira. Nessa discussão, pela primeira vez atacamos Pablo abertamente. Os cochranistas [aliados de Pablo no SWP] pareciam surpresos e chocados que ousássemos fazê-lo, enquanto nossas forças animaram-se com a abertura da guerra contra Pablo. A surpresa dos cochranistas diante de nosso ataque cortante a Pablo parece confirmar nossa desconfiança de que ele pensava que tínhamos medo de iniciar uma batalha aberta contra ele. Ele pensava que fazendo um engenhoso jogo duplo conosco poderia manter-nos imobilizados na batalha internacional até que terminasse o golpe à francesa no partido britânico.

O fator mais decisivo do debate foi a avidez com que nossas bases responderam ao sinal de que uma guerra aberta contra o revisionismo e liquidacionismo pablista iniciava-se no movimento mundial. Pensamos que essa reação saudável será duplicada por todo lado entre aqueles que não esqueceram o que lhes ensinou Trotsky e que esperam, como você mencionou diversas vezes, o SWP falar. Por toda a parte o nosso movimento se formou sobre os ensinamentos de Trotsky. Como disse Morris em nossa reunião de ontem, todos leram os mesmos livros que nós, e sabem tanto quanto nós sabemos. Como você indicou em sua recente carta, há múltiplos sinais de desconforto ao longo do movimento a respeito da linha revisionista de Pablo.

Por todas essas razões, nós estamos absolutamente confiantes que uma vez feito o desafio aberto, nós rapidamente mobilizaremos uma decisiva maioria do movimento mundial em defesa dos nossos princípios ortodoxos. Mas para fazê-lo, chegou a hora de chamar a as coisas por seus nomes corretos, de falar abertamente e sem atraso.

Ao adotar um manifesto aberto contra Pablo em nossa plenária, nós estaremos pondo uma arma na cabeça de seus apoiadores cochranistas em nosso partido. Isso significa que o verdadeiro quase-racha que tem existido em nosso partido nas últimas semanas vai rapidamente se transformar em um rompimento aberto. Da nossa parte, não temos absolutamente nada a perder com isso e tudo a ganhar. Nós não contemplamos nenhum tipo de reconciliação futura com essas pessoas.

Várias ações naturalmente irão fluir a partir dessa decisão básica que será tomada em nossa plenária. Nós trabalharemos nelas conforme avançarmos. A principal linha delas já está clara. O cerne disso é que nós não iremos cair na teia de quaisquer legalismos por parte dessa camarilha usurpadora. Nós teremos uma luta aberta pelo controle do movimento mundial.

Imediatamente após a plenária, nós devemos estabelecer íntimas relações organizativas e consultivas com os trotskistas ortodoxos de toda a parte, incluindo aqueles que foram injustamente expulsos. Nós achamos que um comitê de coordenação deve ser estabelecido sem atraso desnecessário. Nós enviaremos alguém logo depois da nossa plenária para discutir esse problema diretamente com você.

Saudações camaradas,

Farrell Dobbs

P.S.: Haverá umagrande quantidade de materiais em nosso jornal que serão bastante úteis para vocês em sua luta. Se você nos enviar uma lista de todas as suas pessoas que você deseja que recebam nossa imprensa – sejam cópias individuais ou pacotes – nós os colocaremos em nossa lista de entrega.