Polêmica
com Membro do Secretariado Unificado
Programa
Revolucionário vs. “Processo Histórico”
Esta polêmica escrita pela Tendência Bolchevique foi originalmente impressa em 1917 número 5, no fim de 1988. Nós também incluímos como apêndice os comentários de Samuel Trachtenberg na conferência de 26 de julho de 2008 em Nova Iorque sobre “O Legado de Leon Trotsky e o Trotskismo dos Estados Unidos”. Sua tradução para o português foi realizada pelo Reagrupamento Revolucionário em janeiro de 2012.
Introdução
Nós estamos reproduzindo abaixo uma disputa polêmica com Roy R., apoiador da Tendência Quarta Internacional norte-americana (FIT) de Nova Iorque. A carta de Roy foi motivada pela “carta aberta” de Neil Henderson anunciando a sua saída doSocialist Challenge [Desafio Socialista], o grupo irmão da FIT no Canadá anglófono. O Socialist Challenge, como a FIT, considera Ernest Mandel, líder do “Secretariado Unificado da Quarta Internacional” (SU) centrado na Europa como seu mentor ideológico. A “carta aberta” de Henderson, que nós não incluímos aqui por razões de espaço, não é essencial para uma compreensão da discussão a seguir (ela foi reimpressa, junto com outros materiais documentando a sua luta por uma política trotskista dentro do SC, no Boletim Trotskista número 4).
Roy R. nem
sempre foi um apoiador de Mandel. Quando era estudante na Queens
College de Nova Iorque no fim dos anos 1970, ele era um conhecido
simpatizante da Liga Espartaquista (SL). Em 1982, ele foi brevemente
um membro aspirante da SL. Roy ficou politicamente inativo pelos
quatro anos seguintes. Ele voltou à política de
esquerda como um simpatizante da Tendência Bolchevique (TB) em
Nova Iorque no início de 1987.
Logo ficou
aparente, entretanto, que Roy tinha mais em comum politicamente com
Mandel e o SU do que com a Tendência Bolchevique. Ele
rapidamente girou para a órbita da FIT, um dos três
grupos norte-americanos associados com o SU. Roy atualmente escreve
para o Boletim em Defesa do Marxismo, a revista mensal da FIT.
Carta
para a Tendência Bolchevique
“Vocês
experimentaram por si próprios a oposição entre
o movimento de uma seita e o movimento de uma classe. A seita vê
a justificativa para a sua existência e o seu 'ponto de
distinção', não no que ela tem em comum com o
movimento da classe, mas no seu código de honra particular
que a distingue dele.”
Carta de
Karl Marx para J. B. Schweitzer, 13 de outubro de 1868,
Correspondência Selecionada de Karl Marx e Friedrich Engels
(ênfase no original).
Considerando
o movimento realizado por Neil Henderson, ele ainda não sentiu
por si próprio aquele de uma seita. No entanto, isso vai sem
dúvida mudar agora que lançou sua sorte junto com a da
Tendência Bolchevique (TB). Já que as políticas
da TB são baseadas naquelas da Liga Espartaquista (SL),
políticas diretamente enraizadas na própria natureza do
grupo como uma seita, que sob toda e qualquer condição
deve buscar justificar a sua existência separada como tal.
Dirigida por tal motivo, a sua perspectiva se torna inevitavelmente
separada de qualquer análise objetiva ou conexão com a
realidade e inteiramente subordinada à sua própria
auto-justificação. A degradação da
teoria para legitimar a existência da s eita; este é
o verdadeiro significado do conceito da SL de “defender e
aprofundar o programa do fator subjetivo”. Se o credo dos
reformistas é “o movimento é tudo, o objetivo não
é nada”, então aquele do sectário deveria ser
(e de fato é) “o movimento e o objetivo não são
nada, o 'programa' ou a 'organização' (ou seja, a
seita) é tudo”. Em ambos os casos, construir um partido
revolucionário de massa e atingir um objetivo socialista são
colocados fora da agenda já que eles anulam, até onde
vão as suas pretensões proletárias, tanto a
ultra-direita e a ultra-esquerda, confortavelmente abrigadas nos seus
pequenos nichos dentro da sociedade capitalista. De fato, o
reformismo e o sectarismo são dois lados da mesma moeda já
que o interesse de ambos está ligado com a preservação
da ordem burguesa.
Tendo
perdido todo contato com a realidade, o sectário deve ou negar
a realidade toda de uma vez ou “mudar” a realidade para que caiba
no seu “programa” (o código de honra favorito do
espartaquismo). Fazer o contrário é entrar em
“liquidacionismo programático”; em outras palavras,
questionar a compreensão da seita sobre o mundo e a sua
relação com ele. Pior que tudo é levantar a
questão se a luta de classes pode avançar (e a classe
trabalhadora triunfar) sem a intervenção divina da
seita no processo.
Assim, toda
o conjunto das “organizações do CI (Comitê
Internacional)” que foram pegas despreparadas pelas mudanças
no mundo pós-Segunda Guerra Mundial e não puderam
cooperar com as vitórias da revolução proletária
na Iugoslávia, China, Vietnã e Cuba, buscaram ou
ignorar a realidade (Gerry Healy) ou distorcê-la (James
Robertson) em razão do seu medo dela torna-los historicamente
irrelevantes. A “ortodoxia” estéril que Neil Henderson e
seus amigos recém-encontrados na TB manifestam são
meios de permanecer parados de forma não-dialética em
face de uma realidade mundial em constante mudança. Isso pode
cair bem para os seguidores “ortodoxos” de uma fé mosaica,
mas certamente não é o caso para os marxistas
revolucionários que buscam entender a sociedade para mudá-la.
Esse “programa” merece ser enterrado já que ele não
provê nenhuma resposta para crise alguma, muito menos aquela de
liderança do proletariado.
Levada à
sua “conclusão lógica”, essa linha de pensamento
leva ao culto ao líder, um fenômeno bem personificado
por ambos Gerry Healy e James Robertson. Além do mais, se
dentro do movimento de massas de muitos milhões, apenas um
punhado de altos sacerdotes “ortodoxos” são capazes de
interpretar as sagradas escrituras, deve-se concluir que dentro deste
sacerdócio apenas o deus-rei infalível (ou secretário
nacional) tem uma linha direta com os próprios deuses. Tal
perspectiva leva a seita, assim como apontou Marx, a contrapor
o seu movimento ao movimento de massas, e no caso da SL, a se opor
ao movimento se ele falha em estar de acordo com os padrões
rígidos da pureza programática estabelecidos por James
Robertson. Neil Henderson e a TB podem responder que eles não
juram mais lealdade a Robertson (depois de ter feito isso por anos),
mas todo os seus pontos de honra sectários, ou “testes
ácidos” no jargão da TB, são exatamente os
mesmos que aqueles do espartaquismo. Um espartaquista com outro nome
ainda é um espartaquista!
Tendo
contraposto o seu próprio movimento àquele das massas,
o sectário tem pouca dificuldade em dispensar as massas e seus
movimentos, com desprezo e condescendência, como nada além
de fantoches de líderes em particular. Essa visão da
classe trabalhadora pode de fato refletir a vida interna da SL e a
relação entre Robertson e seu minguado bando da
apoiadores, mas ela tem pouca semelhança com a estratégia
e as táticas que revolucionários de Marx a Lenin a
Trotsky empregaram para ganhar hegemonia comunista entre as colunas
da classe trabalhadora. Quantas vezes Lenin escreveu sobre a
necessidade de “pacientemente explicar as coisas para os
trabalhadores”. Certamente não é o suficiente para os
espartaquistas, como qualquer um que teve a desafortunada experiência
de encontrar um deles bem sabe.
É só
através das experiências comuns em lutas comuns que as
massas de trabalhadores serão ganhas para o marxismo
revolucionário e romperão com a influência dos
reformistas; é necessário para o primeiro demonstrar a
superioridade do seu programa na prática, não no
papel. Os sectários tem denunciado por anos o reformismo e
ainda não exorcizaram esse demônio das colunas do
proletariado. Nem eles nunca irão e as chances são de
que eles não tenham o menor desejo de fazer isso, já
que a existência dos primeiros provê uma desculpa para a
existência do outro. Para o sectário, é claro,
qualquer ação comum com qualquer um a não ser
aqueles que estão em completo acordo com seus determinados
pontos de honra constitui...”liquidacionismo programático”.
Trotsky, entretanto, tinha isto a dizer sobre aqueles que preferem
não agir de forma alguma ao invés de arriscar expor a
suas pretensões vazias e colocar em questão o seu papel
auto-proclamado de “vanguarda dos trabalhadores”:
“É possível
ver nessa política [a frente única] uma reaproximação
com os reformistas apenas do ponto de vista de um jornalista que
acredita que ele se livra do reformismo criticando-o ritualmente sem
nunca deixar o seu escritório editorial, mas que tem medo de
se enfrentar com os reformistas diante dos olhos das massas
trabalhadoras e dar às últimas uma oportunidade para
apreciar o comunista e o reformista num plano de igualdade da luta de
massas. Atrás desse medo aparentemente revolucionário
de 'reaproximação' está na verdade uma
passividade política que busca perpetuar uma ordem de coisas
onde os comunistas e os reformistas retém cada um a sua esfera
de influência rigidamente demarcada, suas próprias
audiências nas reuniões, sua própria imprensa, e
tudo isso junto cria uma ilusão de luta política
séria.”
Leon
Trotsky, “Sobre a Frente Única”, 1922.
Tais são
as “consequências organizativas” a que o fetichismo
programático dos sectários leva. E tal programa,
baseado no isolamento e na irrelevância, não vale o
papel no qual é impresso, mesmo se esse papel for o WV
[Workers Vanguard, jornal da Liga Espartaquista]!
Levantado o
véu, nós podemos ver que a obsessão da seita com
o seu código de honra particular é o que está
por trás da sua análise dos eventos importantes na luta
de classes internacionalmente. Ao invés de se preocuparem
analisar objetivamente eventos dados em cada país e usar essa
análise como um guia para ação para ser capaz de
melhor intervir neles, a seita busca acima de tudo colocar a si
própria e frequentemente contra o movimento das massas. Para
poder justificar isso é necessário recorrer à
calúnia e acusações de “traição”.
Assim, Henderson, talvez para mostrar aos seus amigos na TB o quão
bem ele progrediu na escola espartaquista de sectarismo,
audaciosamente declara que “o SU (Secretariado Unificado da Quarta
Internacional) repetidamente demonstrou a sua tendência a estar
do lado errado da luta de classes internacional”. Bastante forte!
Alguém poderia pensar que “estar do lado errado” significa
apoiar a classe capitalista contra a classe trabalhadora, aquilo que
é o trabalho dos reformistas. No entanto, Henderson e
companhia teriam muita dificuldade em apontar uma situação
em que a QI [SU] de fato “esteve” do lado da burguesia. Ou seja,
a não ser pelo termo “luta de classes internacional”,
Henderson tem na verdade em mente a “guerra de classes global” de
Sam Marcy [1], com cujas políticas stalinofílicas
a SL-TB vieram a se parecer. Marcy rompeu com o trotskismo para
emblocar com a burocracia stalinista na revolução
húngara de 1956 e desde então teve uma linha
praticamente indistinguível daquela do PC. Para a SL-TB, a
questão chave no mundo hoje é a “questão
russa” e o seu “teste ácido para trotskistas” é o
apoio ao general Jaruzelski. Mais do que serem traidores nas colunas
da classe trabalhadora, a QI [SU] ousou ir contra o código de
honra sectário do espartaquismo segundo o qual a “defesa da
URSS” começa em todo lugar desde Belize a Benin, de Burma a
Burbank [2]. Hoje, enquanto Gorbachev e Reagan barganham sobre
como melhor impedir a revolução ao redor do mundo, os
sectários terão ainda maior dificuldade em fazer com
que trabalhadores de consciência revolucionária aceitem
o seu “teste ácido”, tanto quanto os patrões terão
dificuldade em manter sobre eles a exigência de testes de
urina.
O catálogo
de Henderson dos crimes alegadamente cometidos pela QI [SU] ao redor
do mundo por si próprio merece pouco mais do que chacota.
Fazer o contrário é dignificar o que não é
nada além do que a caracterização espartaquista
das posições realmente tomadas pela QI [SU] nos países
em questão. Para os espartaquistas, obscurecer a posição
dos oponentes é muito mais fácil do que confrontá-la
(como a própria TB acabou descobrindo). Entretanto, eles
tipificam a metodologia dos sectários quando confrontados pela
presença de uma situação revolucionária e
a bancarrota completa da sua “ortodoxia” programática como
um tipo de guia para a ação para a classe trabalhadora.
Assim, no
Irã eles nos dizem que a QI [SU] “seguiu Khomeini
criminosamente” e foi “incapaz ou não quis entender que a
burguesia, muito menos os reacionários feudais, não
tinham nenhum papel progressivo a cumprir”. No entanto, se nós
examinarmos “Perspectivas e Problemas da Revolução
Iraniana”, parte de “A Situação Política
Mundial e as Tarefas da QI”, resolução adotada no
Congresso Mundial de 1979, nós lemos que “não pode
haver 'etapa' de desenvolvimento capitalista no Irã
independente do imperialismo [e que] nem pode a burguesia iraniana
levar adiante as tarefas democráticas...”. No parágrafo
seguinte nos diz que “a hierarquia xiita liderada por Khomeini... é
a carta chave que a classe dominante do Irã está
jogando em sua tentativa de restaurar um aparato de Estado estável
e uma nova liderança política burguesa para poder
esmagar o processo revolucionário e relançar um
processo de desenvolvimento capitalista 'racionalizado'.” Soa mesmo
como se realmente “seguíssemos criminosamente”.
Henderson
se entrega quando ele cita Ernest Mandel para o efeito de que “era
correto apoiar o levante contra o Xá apesar de ele ser
liderado pelo clero” (minha ênfase). O que ele não
cita é a frase seguinte onde Mandel declara que “em todos os
conflitos entre o novo regime e... as massas... nós estamos
100% do lado das massas contra o regime.” Ou o fim da seção
sobre o Irã em Marxismo Revolucionário Hoje,
onde Mandel declara que “identificar a revolução com
o obscurantismo religioso é um ato de traição
ideológica... que denigre a causa dos iranianos e do
socialismo mundial.” Além do mais, o que os marxistas
revolucionários supostamente deveriam fazer? Chamar por um
“bloco militar” com o Xá contra os “reacionários
feudais”? Como o sectário só pode ver os líderes
e não as massas de trabalhadores e camponeses que de fato
estavam fazendo a revolução, ele pode sem preocupação
descartar todo o caso com um gesto de mão, o que obviamente
não oferece nenhum caminho possível ou prático
para ganhar as massas para a política comunista e de fato
romper com líderes reacionários da laia de Khomeini.
O mesmo é
válido para a Polônia, o código de honra sectário
por excelência para a SL-TB. Os trotskistas não vão
ganhar muitos trabalhadores poloneses para a sua política
formando um “bloco militar” com a burocracia stalinista. Por
sorte, não havia espartaquistas na Polônia para causar
descrédito ao trotskismo lá da mesma maneira como eles
fizeram em todo lugar e em toda ocasião em que eles fizeram
sentir sua presença. Henderson aparentemente atribui “a
força crescente do sinistro anti-semita KPN ou ao
plano para desmontar a economia planificada” ao proletariado
polonês quando foram, e continuam sendo, os seus parceiros de
bloco na burocracia stalinista que promoveram e fortaleceram tais
tendências. Não é acidente que Jaruzelski está
entre os maiores reforços das reformas econômicas
anti-proletárias de Gorbachev hoje.
Não
há dúvida de que os sectários irão
responder em uníssono que o poder da burocracia e os seus
privilégios são baseados sobre “formas de propriedade
proletárias”, o que significa que eles tem interesse
material em preservar a ditadura do proletariado, ou então
eles são condenados como “estúpidos” demais para
perceber onde os seus verdadeiros interesses estão baseados,
ao contrário de Robertson e seus amigos e parentes na
burocracia, com os quais ele se relaciona tão bem. Assim, a SL
tomou a lógica elitista inerente ao seu sectarismo à
sua conclusão extrema ao tomar para si a causa comum da
burocracia contra a classe trabalhadora. Falem sobre “abandono do
trotskismo”, sombras de “pablismo”!
Quanto a
“desmascarar” as “pretensões ao trotskismo” da QI [SU]
na Nicarágua, o que mais alguém precisa dizer sobre uma
tendência (a linhagem SL-TB) que de fato reivindica que não
há Estado nenhum na Nicarágua após quase
dez anos e domínio da FSLN. É um achado que Henderson
esteja perdido para dar uma caracterização de classe
(seja proletária ou burguesa) para o “bonapartismo” dos
sandinistas. Ou seja, a não ser que alguém leve a sério
o papagaiado clichê “ortodoxo”, que para tudo serve, de
rotular de todo e qualquer grupo fora das próprias colunas
como “pequeno-burguês”. De fato, as pretensões da
SL-TB ao trotskismo, e ao materialismo histórico em geral, são
reveladas pela posição “única” de Robertson
de que todas as revoluções socialistas após a
Segunda Guerra foram realizadas por partidos “pequeno-burgueses”
ao invés de partidos da classe trabalhadora burocratizados. De
acordo com a SL-TB, a pequeno-burguesia, uma classe proprietária,
se é que houve alguma, pode ser “pressionada” pelo
imperialismo a romper com os seus próprios interesses
materiais e levar adiante o processo da revolução
permanente à sua conclusão, a criação de
um Estado operário. É melhor conceder tal alto papel a
outra classe do que a outra tendência dentro do movimento dos
trabalhadores, não importa o que isso signifique para a teoria
marxista, ignorando a realidade na qual ela se baseia! Tal linha tem
mais em comum com aquela de Tony Cliff do que com a de Leon Trotsky,
com a única diferença de o primeiro teve honestidade o
suficiente para admitir onde ele deixa a companhia do primeiro,
enquanto Robertson ainda considera a si próprio como o último
trotskista “ortodoxo” no mundo.
Poderia
parecer que aqueles que reivindicam mais admirar Trotsky (Henderson
consegue invocar o nome de Trotsky onze vezes em quatro páginas),
na verdade o enterram, ou melhor, ao conjunto de políticas
revolucionárias associadas ao seu nome, sob um túmulo
de dogmatismo e sectarismo. Por isso, se houve qualquer “abandono”
dos postulados básicos do marxismo revolucionário, em
geral ou em particular, foi por parte dos cultuadores sectários
de “Jimstown” (a SL, como apropriadamente rotulada pela TB),
ambos no passado e no presente. A essência do espartaquismo é
a total separação entre a teoria e a prática,
pensamento e ação, partido (ou melhor, seita) e classe,
junto com toda a perda de base da teoria para legitimar todos os
anteriores.
Esta é
a base real por trás da crença de Robertson de que
“programa gera teoria”!
Para os
marxistas revolucionários, o “programa” consiste de uma
totalidade dialeticamente inter-relacionada e constantemente
interativa do que uma organização faz bem como o que
ela diz. Teoria marxista genuína, sendo ambos uma ciência
viva e um instrumento para mudar a sociedade, só pode cumprir
o seu papel apropriado como um guia para ação, não
como uma desculpa para a inação, se ela é usada
para analisar uma realidade em permanente mudança em nível
objetivo. De outra forma, ela fica estagnada em um dogma estéril,
totalmente divorciado de toda a realidade exceto, talvez, àquela
da seita...vista através da sua cegueira sectária.
Tendo usado
a maior parte da sua vida política ativa dentro do reino do
espartaquismo, os membros da TB se encontram como prisioneiros
psicológicos dos seus passados, incapazes ou sem vontade de
virarem suas costas para sua alma mater. Obcecados em se
provarem como mais robertsonistas do que o próprio Robertson,
todo e qualquer ato da TB é definido pelos parâmetros do
espartaquismo. Neil Henderson pode ter sido atraído pela
retórica de aparência revolucionária associada
com tudo isso, mas no fim, ele irá ser, assim como o resto da
TB, sufocado pelo cordão umbilical espartaquista, cortado de
qualquer contato com a classe trabalhadora e condenado ao isolamento
e à irrelevância ainda mais do que os verdadeiros
espartaquistas.
Sem dúvida
o alto nível de integridade política e pessoal,
honestidade, e dedicação à causa da classe
trabalhadora caracterizam a vasta maioria dos membros da TB irá
evitar que eles caiam vítimas do cultismo que hoje é o
principal semblante do espartaquismo. No entanto, não há
escapatória da evolução geral de todas as seitas
enquanto se prendem tenazmente à sua base de apoio. Não
há espaço na esquerda para o espartaquismo com uma face
humana. Ninguém está procurando por alguns poucos bons
robertsonistas. Porque a TB está tão amarrada à
metodologia do espartaquismo com o seu fetichismo programático,
ela falha em ver o que é de fato a aura do espartaquismo. Ao
invés disso, ou melhor, precisamente em razão de todo o
seu passado político que consistiu em servir o seu tempo ao
Reino Espartaquista, eles são incapazes de ver o que realmente
essa estória de espartaquismo significa.
Psicose,
neurose e um severo estado de sentimento de culpa que clama por uma
figura de autoridade à qual se subordinar; isso é o que
atrai indivíduos para o “culto de obediência” de
Robertson, não o seu programa r-r-r-revolucionário.
Aqueles hoje na TB eram e são exceção a essa
regra que de fato se prova regra.
Então
se Neil Henderson prefere o movimento da seita ao invés do
movimento das massas, que seja. Com o tempo, ele próprio
certamente vai experimentar em sua própria pele. Quanto a mim,
eu prefiro o segundo ao primeiro e prefiro me engajar em construir
esse movimento com a QI [SU], mesmo se isso significar cometer erros
(os quais a maioria dos seres humanos que não sejam James
Robertson estão aptos a fazer) e sujar as mãos no
processo. Melhor estar na margem esquerda dos “mandelistas” e
“pablistas” do que na margem lunática com os
espartaquistas!
Pelo
marxismo revolucionário; contra o espartaquismo/sectarismo.
Roy [R.]
Resposta
da Tendência Bolchevique
Apesar do
tom bombástico e da falta de clareza intelectual da denúncia
de Roy R. de um “sectarismo” leninista, a sua crítica
da nossa política claramente põe todas as questões
importantes de programa vs. “processo” como o eixo central da
política socialista. Roy começa depreciando a nossa
aderência aos códigos de honra herdados da Liga
Espartaquista que, afirma ele, nos leva a negar ou distorcer a
realidade para podermos justificar nossa própria existência
sectária. É claro, ele não se chateia para
escrever o que precisamente esses “pontos de distinção”
são. É abundantemente claro a partir de um balanço
da sua carta, entretanto, exatamente quais “códigos de
honra” estão sob ataque.
Código
de Honra número 1: A única classe na sociedade
moderna com o interesse material e o poder social para realizar uma
revolução socialista é o proletariado.
Código
de Honra número 2: Para o proletariado cumprir sua
missão revolucionária, ele deve ser liderado por um
partido de vanguarda que agrupe os seus elementos mais avançados
e a sua mais alta consciência.
Código
de Honra número 3: Os Estados operários
degenerados que se baseiam sobre fundações sociais
criadas pela Revolução de Outubro, assim como os
Estados operários deformados que exibem uma estrutura social
essencialmente idêntica, devem ser defendidos contra ambos a
agressão imperialista e todas as tentativas nativas de
restaurar o capitalismo.
O primeiro
destes “códigos de honra” é o princípio
essencial da teoria revolucionária de Karl Marx. O segundo
incorpora a maior contribuição à essa teoria
feita por Lenin, que guiou o Partido Bolchevique ao levar à
frente a primeira e até agora a única revolução
de proletários bem sucedida no mundo. O terceiro condensa a
posição de Trotsky sobre a questão russa, e a
sua extensão aos Estados operários deformados criados
desde a Segunda Guerra Mundial. Estes três “códigos de
honra”, tomados juntos, constituem a essência do programa
pelo qual Trotsky lutou até que foi assassinado por um agente
stalinista em 1940, e permaneceram a base política da
organização que ele fundou – a Quarta Internacional.
Stalinismo
Pós-Guerra e o Racha na Quarta Internacional
Roy está
correto ao dizer que as transformações sociais
anti-capitalistas seguidas à Segunda Guerra Mundial pegaram a
Quarta Internacional despreparada. Mais significativamente, elas
levaram a um racha nas suas colunas. Se, como Roy assume, estas
transformações foram simplesmente revoluções
proletárias com algumas poucas imperfeições, ele
terá dificuldade em explicar porque a Quarta Internacional se
ocupou tanto delas. Ao invés disso, o dilema diante dos
seguidores de Trotsky consistiu precisamente no fato de que estas
revoluções foram realizadas por stalinistas, a
quem Trotsky julgava incapazes de qualquer liderança
revolucionária, e a quem ele tinha de fato caracterizado como
contra-revolucionários em seu papel internacional.
Nesses
países onde eles consolidaram o poder, os novos regimes
stalinistas pós-guerra não apenas falharam em mobilizar
o proletariado, mas permaneceram implacavelmente hostis a qualquer
tentativa pela classe trabalhadora de organizar a si própria
de forma independente. A burocracia soviética criou uma
constelação de economias nacionalizadas ao longo da
maior parte da Europa Oriental. Na Iugoslávia, China e Vietnã,
partidos stalinistas, na liderança de exércitos de
guerrilha de base camponesa, tomaram o poder. Em nenhum desses casos
a expropriação dos capitalistas e a nacionalização
dos meios de produção foi acompanhada pelo
estabelecimento do poder político da classe
trabalhadora. Ao invés disso, essas sociedades foram
presididas do topo por burocracias estatais materialmente
privilegiadas e nacionalmente arraigadas, politicamente idênticas
à casta que se formou ao redor de Stalin depois da morte de
Lenin.
Em resposta
a esses desenvolvimentos inesperados, emergiram dentro da Quarta
Internacional duas correntes fundamentalmente divergentes. Por um
lado havia aqueles – no Comitê Internacional (CI) – que
resistiram a qualquer tentativa de revisar a apreciação
básica do trotskismo sobre o stalinismo ou o programa da
Quarta Internacional para a revolução mundial. Eles, de
maneira geral, reconheceram que os partidos stalinistas, sob a
pressão da guerra e da ocupação estrangeira,
haviam sido compelidos a ir muito além na via anti-capitalista
do que Trotsky havia previsto; eles concordaram que as novas
economias coletivizadas representavam, um ganho parcial para a classe
trabalhadora e deveriam, portanto, como a economia coletivizada na
própria União Soviética, ser defendidas de todas
as tentativas para restabelecer o capitalismo.
Mas eles
também insistiram que os recém-criados regimes
stalinistas – enlameados em atraso material e fortemente
controlados por burocracias que sufocavam as massas – eram
politicamente deformados desde o início. Eles apontaram que na
crise revolucionária que havia convulsionado o mundo desde os
anos 1920, o stalinismo havia traído a classe trabalhadora
muito mais consistentemente do que prejudicado o imperialismo, e
portanto permanecia fundamentalmente um obstáculo para o poder
proletário e não um instrumento para a sua realização.
Assim, apesar dos eventos no pós-guerra que eles entendiam de
forma imperfeita, a corrente “ortodoxa” do CI, liderada pelo
Partido dos Trabalhadores Socialistas norte-americano (SWP),
reafirmou a necessidade histórica por partidos trotskistas,
enraizados na classe trabalhadora, para completar o trabalho iniciado
por Lenin e os Bolcheviques em 1917. É esse legado que a
Tendência Bolchevique defende.
Já
no polo oposto na controvérsia do pós-guerra estavam os
seguidores de Michel Pablo, cabeça do Secretariado
Internacional (SI) na época do racha. A ala de Pablo defendia
que os sucessos pós-guerra dos stalinistas aconteceram em uma
“nova realidade mundial” que tornou o “velho trotskismo”
obsoleto. Em termos da sua perspectiva de longo prazo, isso
significava que o proletariado mundial não podia mais aspirar
pelo socialismo, mas ao invés disso por “séculos de
Estados operários deformados”. Os pablistas concediam aos
stalinistas não apenas o presente, mas também o futuro.
De acordo com Pablo, os partidos stalinistas haviam provado pelas
suas vitórias na Europa Oriental e na Ásia que eles
eram instrumentos essencialmente adequados (ainda que “desafinados”)
para a revolução socialista. Ele, portanto, clamava uma
tática de “entrismo profundo” através da qual as
seções nacionais da Quarta Internacional iriam se
dissolver em partidos stalinistas. Lá, eles iriam agir como
grupos de uma ala esquerda pressionando as várias lideranças
do PC, ajudando a afinar os “instrumentos desafinados”. É
com essa tradição, representada hoje pelo Secretariado
Unificado (SU) liderado pelo antigo braço direito de Pablo,
Ernest Mandel, que Roy R. escolheu jogar a sua sorte.
Desde o
racha na Quarta Internacional, os pablistas provaram que a sua
característica definidora não é um compromisso
de trabalhar dentro dos partidos stalinistas, mas ao invés
disso uma inclinação a se acomodarem a qualquer
corrente ideológica que esteja em voga na esquerda. Isso, na
linguagem de V. I. Lenin e outros “sectários”, se chama
oportunismo. Os mesmos instintos oportunistas que originalmente
levaram Pablo na direção do stalinismo, hoje dirigem
Mandel e seus seguidores rumo à socialdemocracia e até
mesmo ao anti-comunismo declarado do Solidariedade polonês.
Não
é possível no espaço disponível recontar
toda a história das manobras acomodacionistas do SU; mas nem
mesmo é necessário. A carta de Roy R. representa o
pensamento de seus mentores de forma bastante precisa, ainda que de
forma mais bruta. Ela oferece um catálogo suficientemente
extensivo de trapaças oportunistas e distorções
para ilustrar nosso ponto.
Stalinismo
Insurrecional de Base Camponesa
Roy afirma,
sem oferecer qualquer argumento de apoio, que as revoluções
na Iugoslávia, China, Cuba e Vietnã foram proletárias
no seu caráter. Mas os países deixados de fora da sua
lista são talvez tão significativos quanto aqueles
incluídos. O que dizer sobre Polônia, Hungria, Bulgária,
Romênia, Albânia, Tchecoslováquia e Alemanha
Oriental? Eram esses Estados, depois de 1949, diferentes em sua
estrutura social ou política daqueles mencionados no primeiro
grupo? Se não há diferença qualitativa nos
resultados finais, por exemplo, entre o Vietnã e a Bulgária,
então a diferença deve estar no processo de formação.
A diferença
está certamente não no papel desempenhado pelo
proletariado. Foi Ho Chi Minh, que aniquilou os trabalhadores
liderados por trotskistas que ocupavam fábricas em Hanói
em 1945, um milímetro menos hostil ao proletariado do que
Georgi Dimitrov na Bulgária? A principal diferença
entre os países da Europa Oriental e aqueles nomeados por Roy
foi que os primeiros se tornaram Estados operários como
resultado da conquista militar da União Soviética,
enquanto os últimos foram transformados após a ascensão
ao poder de movimentos de massa nativos. Mas qual precisamente o
caráter de classe desses movimentos? Para responder a
esta questão deve-se perguntar sobre o caráter de
classe do campesinato, já que foi liderando exércitos
camponeses que os stalinistas – em cada um dos países que
Roy lista – marcharam para o poder. Em toda a sua carta, Roy
ridiculariza a noção de que a pequeno-burguesia (“uma
classe proprietária se é que houve alguma”) possa
criar Estados operários. Mas Roy não pode negar que
toda a tradição marxista, de Marx até Trotsky,
caracterizou o campesinato como uma camada pequeno-burguesa. Por qual
alquimia misteriosa o campesinato se transmutou para o proletariado?
O mentor de
Roy, Ernest Mandel, “resolve” esse problema teórico
espinhoso afirmando que apenas partidos proletários poderiam
ter destruído a propriedade burguesa. Em uma polêmica de
dezembro de 1982 com Doug Jeness do Partido dos Trabalhadores
Socialistas (SWP), que usou o fato dos movimentos camponeses
liderados por stalinistas terem em diversas ocasiões derrubado
a propriedade capitalista como um argumento para reviver a teoria de
duas etapas dos Mencheviques, Mandel declarou:
“o Exército de
Libertação Popular chinês, para não
mencionar o Partido Comunista Chinês, que foram instrumentos
históricos da destruição das propriedades
capitalista e camponesa, só podem ser considerados um exército
ou partido 'camponês' esvaziando a análise de classe
marxista de toda a sua substância.”
O argumento
de Mandel para o caráter “proletário” do ELP é
pura tautologia. Ele afirma que o campesinato como classe só
pode ser:
“centralizado ou por
uma liderança burguesa – caso no qual a revolução
é levada à certa derrota – ou sob liderança
proletária (ainda que seja extremamente burocratizada, como na
China) e nesse caso, apenas nesse caso, a vitória da revolução
é possível.”
Na verdade,
o resultado da revolução chinesa, e as outras
insurreições de base camponesa que derrubaram a
propriedade capitalista desde a Segunda Guerra Mundial demonstram
que, em certas situações históricas específicas,
a propriedade privada dos meios de produção pode ser
encerrada por movimentos sociais não-proletários.
Cuba
e a Teoria Marxista
Nós estamos
felizes que Roy tenha escolhido incluir Cuba na sua lista de
revoluções proletárias. Porque nas outras
instâncias (China, Iugoslávia, Vietnã), a
natureza dessas revoluções é parcialmente
obscurecida pelo fato de que os partidos que as lideraram terem
mantido o título de “comunistas” e terem tido certa vez
uma composição de proletários.
Cuba, por outro lado, fornece um caso clarificador precisamente porque o Movimento 26 de Julho (M26) que levou Fidel Castro ao poder em 1959 não teve conexão histórica com a Internacional Comunista ou o movimento dos trabalhadores. Não apenas os seus quadros foram retirados quase exclusivamente da intelectualidade pequeno-burguesa; a sua base consistia de talvez mil camponeses recrutados na Serra Maestra. A sua propaganda não continha nada da retórica familiar do stalinismo. Mais importante, o seu programa – longe de ter como objetivo o socialismo – nem mesmo chamava por uma reforma agrária extensiva ou a nacionalização da indústria, mas era limitado à demanda pela restauração da constituição “democrática” pré-Batista de 1940. E ainda, apenas vinte e um meses depois de ter marchado sobre Havana, Castro se viu a frente de uma economia nacionalizada e um membro do “bloco soviético”. Os episódios particulares desse drama são bem conhecidos. Como uma simples questão de autopreservação, Castro, ao assumir o poder, desmontou o aparato repressivo (exército e polícia) do regime Batista pró-EUA que ele havia acabado de derrubar. Isso não soou bem em Washington, que suspeitou que Castro fosse um proto-comunista todo o tempo. A aumentada hostilidade do imperialismo dos EUA deixou Castro sem ninguém para quem se voltar a não ser para os trabalhadores e as massas camponesas cubanas, cujas esperanças por justiça social haviam sido levantadas pelo expurgo da odiada ditadura de Batista. Para consolidar sua base de poder, Castro realizou uma série extensiva de reformas agrárias e decretos de limitação da renda. Essas medidas causaram um racha dentro do governo que o Movimento 26 de Julho tinha inicialmente instalado. Quando Castro expulsou os elementos burgueses que resistiram às suas reformas agrárias, as relações com Washington se tornaram tensas e ficaram no fio da navalha, e Castro começou a se voltar para a União Soviética, com a qual ele assinou uma série e acordos militares e comerciais. O clímax veio no outono [do hemisfério norte] de 1960, quando Castro, em resposta ao bloqueio econômico total imposto pela administração Eisenhower, anunciou a nacionalização de extensivas posses dos EUA que, até aquele ponto, tinham dominado a economia Cubana.
Cuba, por outro lado, fornece um caso clarificador precisamente porque o Movimento 26 de Julho (M26) que levou Fidel Castro ao poder em 1959 não teve conexão histórica com a Internacional Comunista ou o movimento dos trabalhadores. Não apenas os seus quadros foram retirados quase exclusivamente da intelectualidade pequeno-burguesa; a sua base consistia de talvez mil camponeses recrutados na Serra Maestra. A sua propaganda não continha nada da retórica familiar do stalinismo. Mais importante, o seu programa – longe de ter como objetivo o socialismo – nem mesmo chamava por uma reforma agrária extensiva ou a nacionalização da indústria, mas era limitado à demanda pela restauração da constituição “democrática” pré-Batista de 1940. E ainda, apenas vinte e um meses depois de ter marchado sobre Havana, Castro se viu a frente de uma economia nacionalizada e um membro do “bloco soviético”. Os episódios particulares desse drama são bem conhecidos. Como uma simples questão de autopreservação, Castro, ao assumir o poder, desmontou o aparato repressivo (exército e polícia) do regime Batista pró-EUA que ele havia acabado de derrubar. Isso não soou bem em Washington, que suspeitou que Castro fosse um proto-comunista todo o tempo. A aumentada hostilidade do imperialismo dos EUA deixou Castro sem ninguém para quem se voltar a não ser para os trabalhadores e as massas camponesas cubanas, cujas esperanças por justiça social haviam sido levantadas pelo expurgo da odiada ditadura de Batista. Para consolidar sua base de poder, Castro realizou uma série extensiva de reformas agrárias e decretos de limitação da renda. Essas medidas causaram um racha dentro do governo que o Movimento 26 de Julho tinha inicialmente instalado. Quando Castro expulsou os elementos burgueses que resistiram às suas reformas agrárias, as relações com Washington se tornaram tensas e ficaram no fio da navalha, e Castro começou a se voltar para a União Soviética, com a qual ele assinou uma série e acordos militares e comerciais. O clímax veio no outono [do hemisfério norte] de 1960, quando Castro, em resposta ao bloqueio econômico total imposto pela administração Eisenhower, anunciou a nacionalização de extensivas posses dos EUA que, até aquele ponto, tinham dominado a economia Cubana.
Então
um bando de democratas pequeno-burgueses foi impelido pela dupla
pressão do imperialismo e da sua própria base popular,
ao longo de um caminho que terminou em uma sociedade qualitativamente
a mesma que aquela da Europa Oriental e da China, ou seja, um Estado
operário deformado.
A
precursora da Liga Espartaquista (a Tendência Revolucionária
[TR]), se cristalizou como uma fração dentro do Partido
dos Trabalhadores Socialistas norte-americano em oposição
ao giro crescentemente reformista desse partido e a sua adulação
sem limites a Castro. De acordo com a TR, a revolução
cubana possuiu o significado teórico ao menos tão
grande quanto o seu impacto político: ela ofereceu a chave
para compreender as revoluções no pós-guerra que
haviam causado tanta perplexidade aos seguidores de Trotsky. A TR
argumentou que, apesar das suas origens e retórica
proletárias, os partidos stalinistas que tomaram o poder no
Vietnã, Iugoslávia e China estavam muito mais perto do
M26 de Castro do que do Partido Bolchevique de 1917.
Tim
Wohlforth, na época um porta-voz e líder da TR,
explicou sua posição tão claramente que ele pode
ser citado longamente:
“A força
motivadora da transformação dos países da Europa
Oriental (excluindo a Iugoslávia) em Estados operários
deformados foi o exército soviético. A classe
trabalhadora desempenhou um papel essencialmente disperso, passivo,
nesses eventos. A força motivadora por trás da
Revolução Chinesa que colocou Mao e companhia no poder
foi primariamente o campesinato... A transformação da
China em um Estado operário deformado foi instituída,
não pela classe trabalhadora da China, nem primariamente por
causa da grande pressão da classe trabalhadora – ela foi
levada adiante pela iniciativa de cima da própria burocracia
maoísta como um ato defensivo contra o imperialismo.”
(...)
“Cuba torna esse
processo totalmente claro precisamente em razão da
característica central única da Revolução
Cubana – que a transformação em um Estado operário
deformado ocorreu sob a liderança de um partido que não
era sequer subjetivamente 'proletário', por uma formação
pequeno-burguesa não-stalinista.”
“Assim, a experiência
cubana não apenas ilustra o pequeno papel que a classe
proletária desempenhou nessas transformações;
ela também sugere que a assim chamada natureza 'proletária'
dos partidos stalinistas em muitos desses países coloniais
recebeu também ênfase demais. O fato de que o Movimento
26 de Julho de Castro foi capaz de levar a frente uma transformação
social em uma maneira quase idêntica à do PC Chinês
de Mao reflete... a identidade essencial da natureza do PC Chinês
com a do M26. Ambos partidos eram essencialmente formações
pequeno-burguesas – pequeno-burguesas na natureza de classe da sua
liderança, nos seus membros, na sua base de
massas, e na sua ideologia.
“Enquanto a ideologia
dos stalinistas contém certos elementos socialistas dentro
dela e nesse aspecto é diferente daquela do M26, é
questionável se esses elementos mudaram essencialmente a
natureza do movimento. Isso é especialmente duvidoso quando se
percebe que a perversão stalinista da ideologia socialista é
precisamente na direção do nacionalismo
pequeno-burguês. Assim, esses partidos devem ser vistos... como
essencialmente os instrumentos das classes pequeno-burguesas na
sociedade – não como instrumentos ainda que distorcidos da
classe trabalhadora.”
“Cuba e os Estados
operários deformados”, 20 de julho de 1961.
Se os
trabalhadores têm tão pouco em comandar essas sociedades
quanto eles tiveram em criá-las (que é de fato o caso),
com que direito histórico ou teórico os trotskistas
persistem em chamá-los de Estados operário, deformados
ou de qualquer tipo? Wohlforth respondeu como se segue:
“Em razão da
extrema crise do capitalismo somada à crise de liderança
da classe trabalhadora, essas classes socialmente intermediárias
foram capazes de desempenhar um papel extremamente radical que o
movimento marxista não havia previsto anteriormente – elas
foram capazes de romper com o próprio capitalismo. Entretanto,
as suas ações muito radicais provaram a fraqueza
essencial desse extrato social – enquanto eles foram capazes de
negar ao esmagar o sistema capitalista, elas foram incapazes de
superar positivamente, substituindo o poder dos capitalistas pelo seu
próprio. Ao invés disso, elas são forçadas
a lançar as bases econômicas para o poder de outra
classe – a classe proletária – uma classe da qual na
verdade eles desconfiam e desprezam. Enquanto por um lado a sua
própria fraqueza histórica como uma força social
intermediária a obriga a criar a propriedade para outra
classe, a crise de liderança da classe trabalhadora lhe
permite consolidar um poder político inimigo da classe
proletária. Daí o desenvolvimento de uma casta
burocrática e a necessidade da revolução
política.”
Implícito
em todo o argumento de Wohlforth está a noção de
que a propriedade coletivizada, embora ela possa ser criada por
forças pequeno-burguesas ao invés do proletariado, não
pode atingir todo o seu potencial e amplitude sem a democracia
proletária e o posterior desenlace da revolução
internacional. Porque a propriedade coletivizada exige o poder dos
trabalhadores para garantir o seu futuro nesse planeta, é uma
forma de propriedade para com a qual a classe trabalhadora retém
o seu título histórico. Mas onde as formas de
propriedade foram criadas por forças não-proletárias
hostis ao poder proletário e à revolução
mundial, essas forças pequeno-burguesas, uma vez no poder, são
inevitavelmente compelidas a replicar a função da casta
dominante stalinista na União Soviética e levantam
obstáculos burocráticos para o desenvolvimento
posterior da revolução.
Os Estados
que hoje representam as formas de propriedade proletárias
(exceto pela URSS, que nasceu de uma genuína revolução
proletária, mas que se degenerou) podem então ser
chamados de deformados, ou seja, aleijados desde o nascimento. Para
abrir o caminho do socialismo, eles requerem uma revolução
política, na qual os trabalhadores varram para longe suas
respectivas burocracias e coloquem no lugar os genuínos
instrumentos do comando democrático da classe trabalhadora.
Dessa forma, a Tendência Revolucionária desatou o nó
de dificuldades teóricas que haviam envolvido as
transformações sociais do pós-guerra.
Roy afirma
que a teorização acima representa uma distorção
da realidade para poder justificar a existência sectária
da Liga Espartaquista (e por decorrência a da TB). Mas a SL nem
existia na época em que essa análise foi formulada. As
conclusões da TR dos eventos em Cuba foram não apenas
baseados empiricamente, mas também representaram a única
teorização da experiência revolucionária
do pós-guerra que defendeu o programa da Revolução
Permanente.
Solidariedade:
um movimento de Massa pela Restauração Capitalista
Por muitos
anos, Ernest Mandel, a liderança inspiradora do SU, tem se
especializado em inventar razões teóricas “marxistas”
sofisticadas para seguir qualquer tendência política que
esteja favorecida na “ampla esquerda”. Roy, que absorveu o
espírito do oportunismo de Mandel, é menos capaz na
arte do embelezamento teórico. Com uma ousadia que poderia
envergonhar seu mentor, ele proclama o seu desejo de estar ao lado o
“movimento de massa de muitos milhões” sem nenhuma
preocupação aparente sobre quem está liderando
esse movimento ou quais são os seus objetivos. Roy pode
questionar o nosso critério específico para decidir
quais “movimentos de massa” apoiar e a quais se opor. Mas pode
ele argumentar seriamente que não existe tal critério
para os marxistas e que qualquer um que diga o contrário é
um sectário por definição?
De todas as
posições que a Tendência Bolchevique manteve da
Liga Espartaquista, nossa oposição ao Solidariedade da
Polônia é de longe a mais difícil de ser engolida
pelos centristas. Isso se deve não apenas enorme popularidade
do Solidariedade no Ocidente, mas também ao fato de que esse
movimento foi organizado e liderado principalmente por trabalhadores
e recebeu o apoio da esmagadora maioria da classe trabalhadora
polonesa. A classe trabalhadora, de acordo com a teoria marxista, se
supõe que seja um agente do progresso histórico. Que a
liderança do Solidariedade era de fato reacionária,
tinha como objetivo a restauração do capitalismo e
estava realmente fazendo uma luta pelo poder de Estado em 1981 foi
extensivamente documentado em um livreto separado da TB
(Solidariedade: Teste Ácido para os Trotskistas). Mas
pode-se conceber, reclamam os centristas em uníssono, que dez
milhões de trabalhadores poloneses possam ter sido iludidos a
respeito dos seus próprios interesses, e é em algum
momento permitido emblocar com os stalinistas contra os
trabalhadores? Nós respondemos ambas essas questões
afirmativamente, e podemos talvez tornar nossa posição
mais clara por meio de uma analogia.
Trotsky
comparou a URSS stalinista a um sindicato burocratizado: uma
organização de trabalhadores dominada por uma
oficialidade privilegiada que se identifica mais com a burguesia do
que com o proletariado. Vamos agora levar essa comparação
um passo a frente. Suponha que os trabalhadores de uma determinada
planta foram traídos tantas vezes pela liderança
nacional do sindicato que começa a crescer entre eles o
sentimento de destruir o sindicato de uma vez, ou seja, fechar o
sindicato. Nessa planta uma pequena minoria de trabalhadores com
consciência de classe tentam, como diz Roy, “pacientemente
explicar aos trabalhadores” que, ainda que o aparato do sindicato
esteja apodrecido, o sindicato é a última linha de
defesa dos trabalhadores contra os patrões e que fechá-lo
seria um erro. Mas também há um grupo sindical de
direita que está divulgando o sentimento anti-sindicato. Esses
elementos propõem concorrer com uma chapa de candidatos na
próxima eleição local comprometidos a organizar
o imediato fechamento. Como um conforto para aqueles trabalhadores
que não gostam de pagar taxas em dinheiro para um bando de
picaretas corruptos no escritório nacional, mas que ainda
pensam que algum tipo de organização coletiva é
necessária, os direitistas prometem estabelecer uma associação
de empregados depois que o fechamento do sindicato ocorra. A
patronal cumprimenta esse acontecimento com entusiasmo e cede fundos
e locais de reunião para os dissidentes. Quando os votos são
contados, o grupo de direita ganha esmagadoramente, dando assim um
passo para o fechamento do sindicato. Nesse momento, o escritório
nacional do sindicato se movimenta para desviar o fechamento
suspendendo a liderança eleita da planta e indicando uma chapa
interina mais ao seu estilo.
Essa
situação, ainda que hipotética, não é
completamente inconcebível. Poderia haver alguma dúvida
de que em tais circunstâncias os trotskistas considerariam a
remoção pelos burocratas dos líderes locais
democraticamente eleitos como um mal menor? Enquanto de forma alguma
absolvendo a burocracia de suas incontáveis traições
que fizeram com que os trabalhadores se voltassem contra o sindicato,
os militantes iriam ser forçados a reconhecer que nessa
situação particular as ações da
burocracia temporariamente impediram a total extinção
do sindicato. Enquanto não atingisse a raiz do problema, ela
ao menos ganhou algum tempo para os elementos com consciência
de classe virarem a hostilidade legítima dos trabalhadores
para longe do sindicato enquanto instituição e em
direção à corrupta liderança.
A
existência dos corruptos e burocraticamente dominados
sindicatos da AFL-CIO representam um ganho histórico para a
classe trabalhadora; as economias coletivizadas dos Estados operários
degenerados e deformados são um ganho ainda maior, e são
preferíveis do ponto de vista dos interesses a longo praz dos
trabalhadores do que uma economia de “livre mercado”. E quando os
trabalhadores que vivem sob uma economia coletivizada são
jogados pelas décadas de arrogância e inaptidão
stalinista nos braços de uma liderança que iguala
administração burocrática com a propriedade
coletivizada enquanto tal, e que diz a eles que eles estariam
melhores sob o capitalismo, então é a tarefa dos
trotskistas prevenir tais falsos líderes de tomar o poder de
Estado.
Roy tem
alguma dúvida de que Walesa e companhia pretendiam restaurar o
capitalismo? Nenhuma outra conclusão pode ser tirada sobre uma
organização que comemorou a eleição de
Ronald Reagan, buscou o mais reacionário Papa eleito em
décadas como seu líder espiritual, convidou um
conhecido operativo da CIA no movimento sindical para o seu
congresso, deletou todas as menções ao socialismo no
seu programa, invocou a memória do líder do Exército
Branco Josef Pilsudski, e adotou um programa econômico chamando
pelo desmantelamento da economia de propriedade estatal. É
obsceno que Roy compare este movimento abertamente restauracionista
com o heróico levante pró-socialista dos trabalhadores
húngaros em 1956. Recentemente se tornou público que o
Solidariedade aceitou prontamente mais de 5 milhões em
dinheiro e recursos do Congresso dos EUA e do Departamento de Estado
nos últimos três anos. Se esses fatos são
insuficientes para convencer Roy das intenções
contrarrevolucionárias do Solidariedade, nós devemos
concluir que nada além da real restauração
capitalista na Polônia faria com que ele mudasse de ideia.
Irã:
SU Capitula à Reação Islâmica
A polêmica
de Roy ao menos tem a virtude da consistência. Ele não
fica para trás ao adotar a herança do SU, mesmo nas
suas mais grosseiras traições. Lembramos que a Liga
Espartaquista respondeu ao levante iraniano de 1979 com o slogan
“Abaixo o Xá! Abaixo os Mulás!”. O restante da
esquerda, incluindo o SU, seguiu Khomeini. Roy ridiculariza a
acusação de Neil Henderson de seguir Khomeini como uma
grotesca caricatura espartaquista da posição do SU, e
para provar seu ponto cita Mandel para o efeito de que os marxistas
deveriam ter apoiado as massas iraniana contra o Xá e apesar
do fato de que eram lideradas pelos reacionários islâmicos.
Mas as massas iranianas estavam naquele momento apoiando a luta pelo
poder de Khomeini. Qual é, portanto, o significado operacional
da distinção entre a liderança e as “massas”
nesse caso? A distinção faz sentido apenas se for
assumido que o funcionamento automático do “processo
revolucionário” pode transcender a liderança
reacionária.
Apoiar um
movimento de massas ou um “processo revolucionário” apesar
da hegemonia de líderes que são admitidamente
considerados reacionários, presume que as massas engajadas
nessa mobilização política vão
espontaneamente se mover para alguma direção diferente
daquela reivindicada por seus líderes e produzir algum
resultado que não a ascensão desses mesmos líderes
ao poder. Eram as massas iranianas, sem uma liderança
alternativa, capazes de descartar Khomeini e guiar a insurreição
de 1979 rumo a algum resultado mais progressivo? Foi o triunfo de
Khomeini um mero prelúdio a algum desabrochar posterior de um
“processo revolucionário” que iria no fim instalar os
trabalhadores no poder? A diferença entre a SL e o SU sobre o
Irã volta-se para a resposta a essas questões.
Roy parece
se esquecer que as respostas não exigem mais a capacidade
de prever, mas podem ser obtidas com a vantagem de quase uma
década olhando para o passado. Foram Khomeini e seus
capangas postos de lado por um surto à esquerda do movimento
de massas? De acordo com nossa mais recente informação,
o Aiatolá provavelmente vai morrer no cargo, e o seus
sucessores designados estão agora se mexendo para reatar os
laços com o imperialismo dos EUA. A “revolução
iraniana” resultou em algum ganho significativo para as massas?
Pergunte às milhões de mulheres iranianas que não
podem se aventurar porta afora sem vestir a burca. Ao menos a
revolução criou uma abertura democrática para o
movimento dos trabalhadores e a esquerda, como a revolução
de fevereiro que derrubou o Czar em 1917? Pergunte aos quinze
militantes do Partido Tudeh (PC Iraniano) e os Fedayin Populares
postos na ilegalidade e que atualmente enfrentam a execução
nas mãos da república islâmica. Melhor ainda, Roy
pode consultar os camaradas sobreviventes do HKE e do HKS (os dois
afiliados iranianos do SU), que foram ou aprisionados ou jogados para
o exílio. O fato de que muitos desses militantes até
hoje defendem o seu apoio a Khomeini em 1979 simplesmente atesta a
sua recusa em aprender as lições da história,
mesmo quando essas lições são escritas com seu
próprio sangue.
Mas,
retorce Roy, vocês sectários nem mesmo serão
capazes de falar com os trabalhadores se vocês insistem em
contrapor os seus próprios dogmas ao poder deles, o movimento
de muitos milhões! Ora, nós seríamos os últimos
a argumentar contra falar aos trabalhadores. A questão,
entretanto é: o que você diz uma vez que você tem
a atenção deles? Se você acredita que a única
forma de fazê-los ouvir é repetindo (talvez com umas
poucas ressalvas “marxistas” e qualificações) o que
eles já pensam, ou melhor, o que os seus falsos líderes
os encorajaram a pensar, eles irão corretamente concluir que
você tem pouco de novo a oferecer, e continuarão no
mesmo curso de antes. Os mais astutos entre eles podem até
mesmo observar que você não está tentando
persuadir, mas agraciar a você próprio e concluiriam que
o marxismo de que você fala não deve valer muito a pena.
Qualquer um tentando propor uma forma de pensar nova ou não-familiar
deve ao menos temporariamente reter um certo grau de impopularidade.
Aqueles que se abstém de contrapor o seu programa à
atual consciência política das massas não estão
interessados em liderar, mas seguir.
Sobre
a Frente Única
Uma tática
empregada pelos trotskistas para ganhar pessoas para o seu programa é
a frente única. A frente única é definida na
tradição leninista como uma cooperação
entre o partido revolucionário e outras organizações
que não compartilham o seu programa, em busca de objetivos
apoiáveis, limitados e claramente definidos. Como uma condição
para a sua participação, os leninistas insistem apenas
que eles tenham direito a total liberdade de dizer e fazer qualquer
coisa que não contradiga as demandas imediatas da frente única
– incluindo a liberdade de expor as suas diferenças com os
colaboradores não-revolucionários sobre questões
políticas mais amplas.
Roy acusa
os “sectários” de se recusarem a participar em ações
de frente única por medo de comprometer a sua pureza
doutrinária. E é inegável que a Liga
Espartaquista nos anos recentes evitou mesmo a cooperação
mais principista com outros grupos por causa do seu pavor de que o
contato com qualquer um que ela não controle possa minar a fé
dos seus membros na sabedoria absoluta da sua liderança. Mas,
porquê o leque de Roy também aponta para a Tendência
Bolchevique, nós só podemos presumir que ele também
está nos acusando de tal covardia sectária. Para essa
acusação, como para as outras, nenhuma evidência
é oferecida. A mais convincente refutação dessa
acusação é a nossa própria história
política.
Em 1984,
apoiadores da Tendência Externa da iSt (a precursora imediata
da TB) iniciaram um boicote operário de um carregamento
sul-africano a bordo do navio de frete Nedlloyd Kimberley –
ao nosso conhecimento a única greve operária contra o
apartheid na história dos EUA. Estamos lisonjeados pela
inferência de Roy de que nós, por nós próprios,
fomos capazes de parar esse carregamento por onze dias em São
Francisco. Na verdade, o boicote foi bem sucedido porque os oficiais
da regional 10 do Sindicato Internacional dos Estivadores e
Armazenadores (ILWU) foram forçados pela pressão da
base a continuar com ela, e porque os estivadores – incluindo
nacionalistas negros, apoiadores do Partido Comunista, e membros sem
afiliação política do sindicato – estavam
determinados em realizá-la. Nós não hesitamos em
cooperar com todos os grupos e indivíduos nesse boicote – ou
em expor os burocratas e o PC quando eles cederam a uma liminar
contra ele. Nós também podemos apontar o trabalho
contínuo do nosso núcleo na Área da Baía
de São Francisco no Comitê pela Liberdade de Moses
Mayekiso – um militante sindical condenado à pena de morte
na África do Sul. Mais significativo de todo o nosso atual
propósito polêmico é o nosso recente trabalho com
os colaboradores canadenses de Roy no Socialist Challenge
[Desafio Socialista] (conhecido antes de maio como a Alliance for
Socialist Action [Aliança pela Ação
Socialista] e referido daqui em diante como ASA/SC) na Coalizão
Anti-intervenção de Toronto (TAIC). Aqui nós
podemos diretamente contrastar nossas ações com a dos
colaboradores de Mandel em Toronto para ver quem foi mais consistente
em defender os princípios da frente única.
A TAIC foi
formada como um bloco de propaganda reformista dedicado a se opor à
intervenção dos EUA na América Central. Em
novembro passado, irrompeu uma luta na coalizão quando o
Partido Comunista e os seguidores canadenses de Jack Barnes [líder
do SWP reformista] exigiram um apoio formal aos acordos Esquipulas
II, também conhecidos como Plano Arias. Os acordos, que os
sandinistas haviam acabado de assinar, os levava, dentre outras
coisas, a legalizar a oposição apoiada pela CIA na
Nicarágua e a libertar da prisão milhares dos
sanguinários Guardas Nacionais de Somoza. Elementos da ASA/SC
na época tinham uma posição consideravelmente à
esquerda da liderança internacional do SU, que comemorou a
aceitação de Ortega do Plano Arias como uma vitória.
Na convenção da TAIC, a ASA/SC votou contra endossar
Esquipulas II. Nesse momento os reformistas saíram da TAIC.
Muitos
meses mais tarde, depois que a TAIC havia sido reconstituída
como uma frente única principista e a TB havia entrado, foi
decidido chamar um protesto contra o fundo dos EUA construído
para apoiar os mercenários Contras. O protesto foi organizado
como uma frente única, e cada organização que
participou teve garantido o direito de falar. No início de
fevereiro, uma multidão de mais de trezentas pessoas no
protesto escutou o porta-voz da TB denunciar os Plano Arias, enquanto
firmemente se opunha à intervenção dos EUA (e do
Canadá) na América Central. O porta-voz da ASA/SC
também criticou o retrocesso dos sandinistas, embora de forma
mais confusa. Um representante da Ação Canadense pela
Nicarágua reafirmou seu apoio ao plano Arias do palanque.
Enquanto a mobilização foi bem sucedida em termos de
números, ela também gerou um pequeno furor político
em Toronto. Os círculos radicais liberais de “solidariedade”
à América Central ficaram escandalizados pelo fato de
que qualquer um ousasse criticar os sandinistas em uma marcha
anti-intervenção.
Em resposta
a essa pressão reformista, a ASA/SC executou uma abrupta
reviravolta. Na reunião subsequente da TAIC, o líder da
ASA/SC procedeu para forçar uma série de moções
que explodiram a frente única. Ele argumentou que para
permitir que grupos como a TB falassem em futuros protestos iria
“afastar” os amigos liberais da TAIC. Quando as suas moções
foram aprovadas, a TB se retirou da TAIC. A ASA/SC posteriormente
proclamou os Esquipulas II como uma “vitória” e
“um perigo” para a revolução nicaraguense (leia o
Boletim Trotskista número 4). Estes eventos desempenharam um
papel direto na decisão final de Neil Henderson de deixar a
ASA/SC e entrar na TB.
Os
ziguezagues políticos da ASA/SC oferecem uma ilustração
nítida do modus operandi dos falsos militantes de
esquerda. Em Minha Vida, sua autobiografia, Trotsky descreveu
o mesmo fenômeno no movimento dos trabalhadores russos.
“O líder dos
mencheviques, Martov, deve ser contado como uma das figuras mais
trágicas do movimento revolucionário. Um escritor
talentoso, um hábil político, um pensador penetrante,
Martov estava muito acima do movimento intelectual do qual ele se
tornou o líder. Mas o seu pensamento carecia de coragem, suas
percepções eram desprovidas de vontade... a reação
inicial de Martov aos eventos sempre apresentava uma tendência
revolucionária de pensamento. Imediatamente, no entanto, o seu
pensamento, ao qual faltava apoio de uma força de vontade
viva, desaparecia.”
Se os
nossos mencheviques contemporâneos carecem dos dons e do
pensamento de Martov, eles ao menos compartilham os piores elementos
da sua psicologia. Em raras ocasiões os seus impulsos iniciais
podem incliná-los a tomar uma posição
principista. Quando confrontados, entretanto, com as consequências
de defender tal posição consistentemente, quando
sujeitados à menor pressão dos círculos
reformistas no qual eles se desenvolvem, eles irão
invariavelmente engolir os seus princípios e emblocar com os
reformistas contra a esquerda revolucionária.
Em nosso
trabalho com a TAIC, a Tendência Bolchevique aplicou a tática
de frente única no espírito leninista. Nós
aderimos a ela enquanto nos foi garantido a plena liberdade de
propaganda, e nos permitia a oportunidade de ganhar militantes
girando à esquerda para o nosso programa quando nossos
colaboradores vacilassem. Nas coalizões “de ampla unidade”
iniciadas ou conformadas pelo SU, espera-se dos participantes que
enterrem diferenças fundamentais no interesse de uma unidade
mais ampla. Qualquer expressão não compatível
com os sentimentos dos componentes mais à direita da coalizão
é condenada como “desagregadora”, e a ala esquerda deve,
portanto, confinar a si própria a repetir inteiramente as
demandas e os slogans mantidos em uma visão de mundo liberal.
Ao concordar com tais condições os pretensos marxistas
permitem que a “frente única” se torne um veículo
para os reformistas, enquanto aqueles são relegados a fazer
cartazes e preencher envelopes.
Por
que a SL se degenerou?
Exceto em
períodos de agudas crises sociais e políticas, os
revolucionários em qualquer sociedade são raramente
mais que uma minoria. Mas mesmo no padrão dos “tempos de
calma”, o terreno político dos Estados Unidos durante os
anos Reagan foi extraordinariamente ermo. Das dezenas de milhares de
membros da Nova Esquerda, estudantes radicais e militantes negros que
vinte anos atrás abraçaram uma gama de políticas
subjetivamente revolucionárias (ainda que parcialmente ou de
forma confusa), poucos hoje acreditam que a revolução é
possível, ou mesmo desejável. O punhado de manteve um
comprometimento político em sua maior parte adotaram a
socialdemocracia como a única alternativa “realista”.
Hoje, aqueles que se consideram marxistas revolucionários são
uma minoria da minoria de esquerda da sociedade norte-americana,
menor do que em qualquer outra época desde o período do
macarthismo nos anos 1950.
Não
pode haver dúvida de que o isolamento político foi uma
das causas da degeneração da Liga Espartaquista,
virtualmente a única organização que tentou
manter um curso genuinamente trotskista em meio ao giro à
direita do fim dos anos 1970. Essa intransigência não
foi sem consequências organizativas. Conforme a base estudantil
radical da qual a SL havia recrutado ao longo da década
anterior se esgotou, e a prevista radicalização da
classe trabalhadora não se materializou, uma crise de
esperanças desfeitas criadas entre os membros; novos recrutas
começaram a ficar difíceis de encontrar, e quadros
começaram a sair em grandes números.
Essas
pressões objetivas, entretanto, não explicam por si
próprias a destruição da SL como uma organização
revolucionária mais do que, em uma escala muito maior, o
isolamento da revolução russa por si só explica
o Termidor stalinista. Ao peso de difíceis circunstâncias
deve-se somar a resposta consciente de indivíduos particulares
na liderança. James Robertson, o Secretário Nacional da
SL, respondeu ao impasse do fim dos anos 1970 devorando a organização
que ele, mais do que qualquer outro indivíduo, havia
trabalhado para criar. Conforme as colunas diminuíram,
Robertson sem dúvida se preocupou com o fato que a convicção
marxista dos membros estava fraca e vacilante demais para sustentar a
SL através de um período reacionário. Ele também
temeu que no fim, o crescente sentimento de isolamento e irrelevância
social dos membros iria resultar em uma explosão fracional que
iria abalar o núcleo de quadros da SL.
Robertson
concluiu que apenas aceitação inquestionável da
sua autoridade pessoal poderia garantir a sobrevivência da
organização. Isso levou a uma série de expurgos
desmoralizantes, não apenas daqueles que se aventuravam a
discordar do líder em questões secundárias, mas
também daqueles que eram julgados capazes de oposição
no futuro. A lição desses expurgos não deixou de
ser aprendida pelos quadros que restaram na SL, que se tornaram
intimidados demais para tomar iniciativas e fazerem ouvir as suas
próprias opiniões. O resultado final foi o culto de
obediência sem vida, bizarro e asqueroso que a Liga
Espartaquista virou hoje.
Na visão
de Roy, entretanto, a degeneração da SL é uma
consequência inevitável da sua política e
programa. Com esta afirmativa avassaladora, Roy evita a
responsabilidade de analisar o processo concreto da sua
evolução. Era a SL uma “seita” ou um culto ao líder
desde o seu nascimento? Se não, então quando e como ela
se tornou uma? Roy nem mesmo coloca estas questões porque
fazer isso iria exigir uma apreciação do papel
desempenhado pela liderança política nesse processo. E
é a negação da importância da liderança,
com ambas consequências positivas e negativas, na qual se
baseia toda a metodologia objetivista do SU. A mesma lógica
que permite a Roy minimizar o significado da intervenção
marxista no “processo revolucionário” também o leva
a considerar a degeneração da SL como um resultado
automático do seu programa, absolvendo assim Robertson da
responsabilidade pelos seus crimes específicos.
Quais
então, de acordo com Roy, são as posições
políticas que levaram ao isolamento da Liga Espartaquista e a
sua consequente metamorfose em uma seita? Quando toda a ladainha e
generalização vazia de Roy sobre “sectarismo” são
postas de lado, nós encontramos uma proposição
de que a SL está agora falida porque (1) ela não
considerou as tomadas de poder stalinistas de base camponesa no
período pós-guerra como revoluções
proletárias; (2) que ela não quis seguir Walesa e o
Solidariedade no caminho da restauração capitalista na
Polônia ou a maioria da esquerda iraniana no reino de massacres
da República Islâmica; e (3) que ela se recusa a
participar em coalizões de “unidade ampla” nos termos
estabelecidos pelos reformistas. Se uma oposição
principista ao stalinismo, à reação religiosa e
ao reformismo são os pecados capitais do espartaquismo, então
nós só podemos concluir que Roy encontra a causa da
degeneração da SL no próprio trotskismo
revolucionário. De fato, Roy e os seus camaradas do SU tem
muito mais em comum com Karl Kautsky e a socialdemocracia alemã,
cujo medo de isolamento os impediu de se opor a outro “movimento de
massas” – a debandada das classes trabalhadoras para apoiar as
cores das suas respectivas classes dominantes no começo da
Primeira Guerra Mundial. Mas aqueles que carecem da coragem de nadar
contra a corrente da opinião popular também são
débeis demais para reconhecer as suas próprias
afinidades históricas.
A
Necessidade da Liderança Revolucionária
Em nossa
opinião, a Liga Espartaquista durante os primeiros quinze anos
da sua existência representou a única corrente
autenticamente trotskista em toda a esquerda internacional. Nós
consideramos a sua degeneração subsequente como uma
infelicidade genuína para o movimento dos trabalhadores. Agora
é necessário para nós lutar pelo programa
trotskista que ela um dia defendeu sob a bandeira da Tendência
Bolchevique.
A
degeneração da Liga Espartaquista não deveria
ser vista de forma isolada. Os últimos dez anos têm sido
marcados por uma massiva ofensiva de direita, ambos nos Estados
Unidos e internacionalmente. Derrotas sindicais, continuadas
atrocidades racistas, um acúmulo gigantesco de armas contra a
União Soviética – esse é o legado dos anos
Reagan. O crescimento do reformismo no presente período é
evidência da desmoralização de muitos militantes
que se consideram de esquerda em face aos ataques de Reagan.
Mas a
investida não vai continuar sem oposição. É
apenas uma questão de tempo antes que os ressentimentos
latejantes acumulados sob o regime Reagan explodam. Uma renovada onda
de luta de classes irá abrir oportunidades reais para o
crescimento de uma organização comunista séria
que não se reduza a dizer a amarga verdade para as massas. E
quando essa erupção ocorrer, não pode haver
dúvida de que aqueles que carregam consigo suas armas estarão
em melhor posição para se aproveitar dela do que
aqueles que levantaram uma cortina de fumaça de fraseologia
“marxista” para cobrir as suas vergonhosas traições.
***
Trotsky
sobre “sectarismo”:
“Nós estamos
passando por um período de reação colossal que
se segue aos anos revolucionários (1917-1923). Em uma nova e
mais alta etapa histórica, nós, marxistas
revolucionários, nos encontramos jogados numa posição
de uma minoria pequena e perseguida, quase como foi no início
da guerra imperialista. Como toda a história demonstra
começando com, digamos, a Primeira Internacional, tais
regressões são inevitáveis. Nossa vantagem sobre
nossos predecessores está no fato de que a situação
hoje é mais madura e que nós próprios somos mais
‘maduros’ por estarmos sobre os ombros de Marx, Lenin e muitos
outros. Nós iremos tirar proveito disso apenas se nós
formos capazes de demonstrar a maior intransigência ideológica,
mais forte do que a de Lenin no estourar da guerra [de 1914-18].
Impressionistas sem caráter, como Radek, vão se afastar
de nós. Eles vão invariavelmente falar do nosso
‘sectarismo’. Nós não devemos temer palavras (...).
A maior honra para um genuíno revolucionário hoje é
permanecer um ‘sectário’ do marxismo revolucionário
aos olhos dos filisteus, dos lamuriadores e dos pensadores
superficiais.”
12 de
julho de 1929 (ênfase adicionada)
Apêndice
Os
apontamentos a seguir foram feitos por Samuel Trachtenberg na sessão
da conferência intitulada “O que aconteceu com o SWP?”.
Após um período em que, apesar de erros e vacilações,
o SWP norte-americano combateu o revisionismo de Michel Pablo e
Ernest Mandel (1953-61), ele passou a convergir com estes num
processo que culminaria na “reunificação” sob a
base do pablismo em 1963, que fundou o Secretariado Unificado. Foi
contra o giro do SWP para o pablismo que surgiu a Tendência
Revolucionária do SWP (TR), precursora da Liga Espartaquista.
Posteriormente, disputas entre as diversas alas do SU fariam com que
surgissem várias seções nacionais dessa corrente
no mesmo país. Muitos dos participantes desta conferência,
realizada em Nova Iorque em 2008, assim como o palestrante ao qual
essa intervenção foi uma resposta, eram antigos membros
da “Tendência Quarta Internacional” (FIT) em nome da qual
Roy R. escreveu a polêmica acima. A FIT há muito se
dissolveu no núcleo Solidarity [Solidariedade].
Eu concordo
com Paul LeBlanc [um dos palestrantes no painel] que a degeneração
do SWP não era inevitável. Mas olhando para essa
degeneração, muitos daqueles expulsos do SWP no início
dos anos 1980 são extremamente relutantes em associar a aberta
renúncia do trotskismo por Jack Barnes [3] com a
anterior aceitação acrítica da revolução
cubana, que levou à reunificação com os
pablistas. Isto é apenas não querer enxergar.
Hoje nós
podemos dizer que para ver as consequências lógicas de
apoiar Castro como um “trotskista inconsciente” exigiu alguma
capacidade de previsão na época, no começo dos
anos 60 (e a TBI descende daqueles que tiveram essa capacidade de
prever). Afinal de contas, enquanto agiam como apoiadores das
lideranças cubana e argelina e outras forças
não-trotskistas e não-proletárias, eles [os
líderes revisionistas do SWP] ainda, ao menos formalmente,
reivindicavam continuar aderindo ao trotskismo.
Similarmente,
enquanto Stalin bem primeiramente proclamou a teoria do “socialismo
em um só país”, ele nunca renunciou formalmente à
necessidade da revolução mundial, e poucos fora do
movimento trotskista naquela época reconheceram a lógica
de que aquela teoria necessariamente significava a traição
da revolução mundial.
Mas décadas
depois, entender ambas as posições não exige
mais capacidade de prever, mas capacidade de fazer um balanço,
e um desejo de aprender as lições da história de
olhos abertos. Então para aqueles dentre vocês nessa
sala que ainda não fizeram isso, eu peço para que abram
seus olhos.
Notas
da Tradução
[1]
Sam Marcy foi um membro do SWP norte-americano até 1959, que
rompeu para formar o Workers World Party (Partido Mundial dos
Trabalhadores), tendo como motivo principal o seu apoio à
supressão da revolução política dos
trabalhadores húngaros pelo exército soviético
em 1956. O grupo de Marcy apoiou sucessivamente vários regimes
stalinistas e cometeu inúmeras capitulações a
líderes stalinistas ao longo da sua história.
[2]
Para uma crítica a essa posição da Liga
Espartaquista na década de 1980, leia IG/LQB:Ainda Cambaleando em Torno de uma “Explicação Séria”,
de agosto de 2010.
[3]
Jack Barnes foi um líder do Partido dos Trabalhadores
Socialistas norte-americano (SWP) que emergiu na liderança do
partido no início da década 1980 e foi responsável
pela renúncia aberta do trotskismo por parte dessa organização
no fim dessa década e o giro para um apoio acrítico ao
nacionalismo burguês.