Carta
da TBI para o IG e a LQB
[Esta
é uma tradução para o português das partes
políticas mais importantes de uma carta escrita pela Tendência
Bolchevique Internacional (TBI) para o Grupo Internacionalista dos
Estados Unidos (IG) e para a Liga Quarta-Internacionalista do Brasil
(LQB) em 15 de Dezembro de 1996. O IG e a LQB haviam acabado de
romper com a Liga Comunista Internacional (LCI), organização
liderada pela Liga Espartaquista (SL), da qual também se
originou a TBI. A primeira versão português foi
encomendada pela TBI a um tradutor profissional. Ela foi
posteriormente editada pelo Coletivo Lenin em 2007. A presente versão
foi revisada pelo Reagrupamento Revolucionário. Como
introdução, traduzimos as acusações
levantadas contra a TBI pelo IG no seu primeiro documento público
após romper com a LCI. Esta versão foi copiada, com
correções baseadas no texto original e notas
explicativas entre colchetes, daquela disponível
em http://bolshevik.org/portugues/PortlettertoIG.html].
Nota
do Grupo Internacionalista sobre a TBI
[A
declaração a seguir foi incluída na primeira
publicação do IG, “De um Giro Rumo ao Abstencionismo
até a Deserção da Luta de Classes” sob o
título de “Uma Nota sobre a Tendência
'Bolchevique'”].
Esperando
tirar algum lucro das recentes expulsões na LCI, a “Tendência
Bolchevique” publicou um panfleto regozijante que mais parece uma
mistura de revista de fofoca com investigação barata.
Enquanto se reveste de uma bajuladora “análise”
personalista, deve ficar claro para todos que as “críticas”
da TB vem da direita.
As
questões imediatas envolvendo a recente campanha de expulsões
tem a ver com o Brasil, onde paralelamente às nossas
expulsões, a liderança da LCI deslealmente rompeu
relações com a Luta Metalúrgica/Liga
Quarta-Internacionalista do Brasil. Isso acompanhou uma retirada
covarde e imprudente da luta que tinha o objetivo de separar a
polícia do sindicato dos trabalhadores municipais de Volta
Redonda. Mas ficará evidente para aqueles que conhecem os
membros da TB que luta de classes em um lugar majoritariamente negro
e turbulento como o Brasil não é a praia deles. O que a
SL sempre disse sobre a TB é verdade. Eles são
mentirosos de direita e caluniadores que fugiram das pressões
e perigos de ser um comunista nos anos Reagan.
Eu
pessoalmente testemunhei as mentiras, comportamento provocativo e
vergonhosa orientação da TB para a aristocracia
operária branca desde o começo. Por exemplo, eu estava
a menos de três metros de distância de Bob Mandel no
piquete de Greyhound, em São Francisco, quando ele foi
supostamente vítima de um ataque por membros da SL – um
ataque que nunca aconteceu! Essa invenção
caluniosa foi forjada precisamente quando a SL estava sendo
perseguida pelo Estado. Eu vi como eles acusaram a SL de ter uma
orientação para o “gueto” enquanto nos culpavam por
demissões durante a greve dos telefônicos de 1983; como
eles tentaram invadir o palanque em uma manifestação
para Gerônimo Pratt [um ex-membro dos Panteras Negras
perseguido pelo Estado] em Oakland; e muitos outros incidentes que
provaram de fato as caracterizações da SL. Desde então
a TB continuou a deixar clara a sua natureza. Eles chamaram por
guardas de defesa dos trabalhadores (sic) para acabar com a
“violência” como na revolta [da população
negra] em Los Angeles, e uniram-se ao “Cop-watch”, um grupo com o
objetivo professado de fazer a polícia “prestar contas”
(então não foi nenhuma surpresa quando um dos seus
ex-membros mais antigos, Gerald, hoje no “CWG” [Communist Workes
Group], afirmou que “Nós não somos antipolícia”).
Eles rejeitaram [a palavra de ordem da SL] “Viva o Exército
Vermelho no Afeganistão!” com argumentos stalinofóbicos.
Eles se enfiaram em coalizões frente-populistas sem princípios
durante a Guerra do Golfo. Agora eles publicaram um livreto inteiro
em defesa de atravessar piquetes de greve! Qualquer
revolucionário genuíno só pode ter desprezo pela
TB.
A
sua aparente postura de defensismo soviético ao apoiar o golpe
de agosto de 1991 do “Bando dos Oito” na União Soviética
não deve enganar ninguém: eles deram apoio “militar”
depois do ocorrido para os antigos stalinistas que não
levantaram um dedo militarmente contra Yeltsin (nem mesmo para cortar
sua linha telefônica com Washington) e garantiram aos
capitalistas apoio às “reformas de mercado”. Ao mesmo
tempo, a TB se apressou em declarar o Estado operário
degenerado soviético morto e enterrado. Descartando toda
perspectiva de luta na então União Soviética,
eles buscaram tirar a questão russa das costas enquanto
vestiam uma fantasia “defensista”. Por isso, não é
acidente que a linha deles fosse igual à de virulentas
formações nacional-centristas na América Latina,
como o PBCI [Partido Bolchevique pela Quarta Internacional] e seus
companheiros na LBI [Liga Bolchevique Internacionalista] brasileira,
conselheiros abertos da fração pró-polícia
no sindicato dos trabalhadores municipais de Volta Redonda.
Os
detetives da TB vivem de anticomunismo. Os membros da LCI que pensam
devem encarar essa dura realidade: fugir de uma batalha de classe no
Brasil tem mais a ver com o pseudotrotskismo tingido de Segunda
Internacional da TB do que com o programa e as tradições
sobre os quais foi construída a tendência Espartaquista.
— Negrete,
25 de julho de 1996
Carta
da Tendência Bolchevique Internacional para o Grupo
Internacionalista e a Liga Quarta-Internacionalista do Brasil
7
de Fevereiro de 1997
Caros
camaradas da LQB,
Apresentamos
a seguir uma tradução em português das partes
políticas mais importantes de uma carta que estamos enviando
para vocês e o IG. Tivemos algumas dificuldades para traduzir
para o português e então, para simplificar a tarefa,
encurtamos o texto. Nós também incluímos uma
cópia do texto na língua inglesa, mas não
sabemos se vocês podem ler. Aguardamos a sua resposta e
esperamos dialogar com vocês.
Saudações bolcheviques,
Saudações bolcheviques,
Tom
Riley
Pela
Tendência Bolchevique Internacional
15
de Dezembro de 1996
Para:
Grupo Internacionalista e Liga Quarta-Internacionalista do Brasil
Caros
companheiros,
Estudamos
com interesse os materiais referentes à sua recente separação
da LCI. Encontramos neles um padrão familiar: um expurgo
cínico dos quadros, cuja infração principal
parece ter sido uma relutância em engolir tudo o que foi
apresentado pelos que estão em posição de
autoridade. No passado, muitos companheiros foram expurgados da Liga
Comunista Internacional/Tendência Espartaquista Internacional
[LCI/iSt] por razões semelhantes.
Nós
sempre dissemos que a ausência de uma vida interna democrática
dentro da iSt/LCI somente poderia criar uma organização
burocrática e, em grande parte, despolitizada. A recente
experiência de vocês parece confirmar esta previsão.
Ao longo dos anos, a direção da SL realizou
uma série de desvios das posições
programáticas trotskistas que ela uma vez defendeu.
Atualmente, a LCI é uma formação que, apesar das
pretensões trotskistas ortodoxas, é um obstáculo para
a refundação da Quarta Internacional. Tanto o IG quanto
a LQB chegaram a conclusões semelhantes ― embora pareça
que tenhamos fortes diferenças com o IG sobre a história
da degeneração da LCI.
Algumas
Perguntas para o Grupo Internacionalista
O
quadro da LCI de aproximadamente 1996, como apresentado pelos colegas
do IG, é de uma organização que durante décadas
funcionou como um modelo da democracia leninista e foi então
transformada, do dia para a noite, numa seita burocratizada, cínica.
Isto colide tanto com a lógica elementar como com os fatos.
Se
a SL era, até muito recentemente, caracterizada por um
respeito escrupuloso à verdade em seu tratamento com oponentes
internos (bem como externos) então por que iriam querer
repetir tão avidamente as mentiras e as acusações
falsas feitas contra vocês? Por que eles estariam dispostos a
condenar os companheiros sem estudar os documentos? Como poderia uma
comissão de controle, composta de membros antigos da SL, estar
disposta a agir tão brutalmente contra os réus? Por que
todas as seções da LCI (com a única exceção
da LM [precursora da LQB], não-assimilada) apoiariam
imediatamente as acusações falsas, sem fazer qualquer
pergunta? E por que os membros de um grupo trotskista saudável,
com quadros experimentados, aceitariam, com apenas um murmúrio
de discórdia, a ruptura das relações com a LQB
sobre tal pretexto absurdo e cínico?
Ninguém
com qualquer experiência política pode levar a sério
a ideia de que estruturas revolucionárias, forjadas durante
décadas numa atmosfera onde o pensamento crítico foi
encorajado, onde as diferenças foram abertamente debatidas e
opiniões minoritárias respeitadas, repentinamente
poderiam ser transformadas num bloco sólido de caluniadores,
mentirosos e políticos covardes.
A única explicação
é que muito da fibra revolucionária dos quadros da LCI
foi destruído bem antes do lançamento da campanha
contra Norden-Stamberg-Negrete-Socorro [os dirigentes da LCI
expulsos].
“Fuzileiros
navais vivos”: o Grande Desvio da SL
O
LQB caracterizou como um “ato de covardia” o rompimento pela
direção da LCI das relações fraternais no
momento em que a sua luta contra a presença da polícia
no sindicato [dos trabalhadores municipais de Volta Redonda] se
intensificou.
Embora
haja claramente um elemento de covardia envolvido, nós
acreditamos que a motivação primária para o
comportamento da direção da LCI era o objetivo
fracional de manter seu controle organizativo absoluto. Se a direção
da LQB não pudesse ser induzida a denunciar Norden e Negrete,
os dois quadros da LCI com quem que eles tinham trabalhado mais
próximos, então a LQB poderia emergir dentro da LCI
como o núcleo de uma oposição futura. O fato de
que a LQB gozaria do prestígio de ser a única seção
da LCI com qualquer tipo de base proletária aumentaria o
perigo. Tais cálculos burocráticos explicam as manobras
informadas pela LQB:
“Em sua carta anterior [da LCI], datada de 11 de junho, [a dirigente da LCI] Parks escreveu que Norden e Abrão [Negrete] queriam destruir as relações fraternais da LQB com a LCI. Então, em 17 de junho, seis dias mais tarde, vocês escreveram para romper as relações fraternais!”“De um Impulso em Direção ao Abstencionismo até Deserção da Luta de Classes,” página 84
Parece
claro que os argumentos de Parks sobre os perigos de enfrentamentos
[com a polícia] eram simplesmente uma manobra para exigir que
a LQB provasse a sua “lealdade” à direção da
LCI dissolvendo o seu trabalho sindical, e se afastando das lutas que
tinham começado.
Mas,
se a covardia não era o fator principal neste caso, a direção
da iSt/LCI certamente foi culpada de agir
covardemente no passado. O mais chocante desses casos foi o chamado a
salvar as vidas dos Fuzileiros Navais norte-americanos no Líbano.
A explosão da base dos fuzileiros, ocorrida em Beirute em
outubro de 1983, matou 240 marinheiros ― o maior e único
revés para o militarismo dos EUA desde a ofensiva dos
Vietcongues de 1968. Em nossa declaração inicial,
caracterizamos o chamado da SL a poupar os fuzileiros navais que
sobreviveram como um “perfil de covardia”. Na introdução
para uma coleção das polêmicas entre nós
e Workers Vanguard [jornal da Liga Espartaquista]
sobre esta questão, nós analisamos as suas origens:
“O interesse repentino pelo bem-estar dos Fuzileiros Navais, que só um ano antes Workers Vanguard tinha descrito como ‘os açougueiros imperialistas mais notórios do mundo’, marcou uma guinada radical da postura formal da SL como continuadora do trotskismo ortodoxo. Isso iluminou totalmente a dimensão programática da evolução da SL do trotskismo para o banditismo político ― uma forma peculiar e eclética de centrismo, principalmente caracterizada por uma capacidade para guinadas programáticas excêntricas e selvagens. A degeneração da SL foi consolidada, em última análise, pela perda de confiança na possibilidade de ganhar a classe trabalhadora para o programa revolucionário, entretanto foi revestida com um elemento substancial de culto à direção (...)”.“Mercenários políticos estão sempre dispostos a subordinar questões de linha política formal às exigências de seus requisitos organizacionais concebidos em curto prazo. O reflexo covarde exibido pela liderança da SL sobre os fuzileiros navais no Líbano foi claramente motivado pelo temor de desagradar a ‘própria’ classe dominante.”Prefácio a Boletim Trotskista No. 2, “Marxismo vs. Social-Patriotismo”, dezembro de 1984.
Alguns
anos mais tarde, outra capitulação covarde feita pela
liderança da SL ocorreu quando a nave espacial Challenger,
carregada com tecnologia de espionagem antissoviética e
oficiais militares norte-americanos, incendiou-se espontaneamente em
janeiro de 1986. Naquela ocasião, Workers Vanguard (14
de fevereiro de 1986) escreveu:
“O que nós sentimos em relação aos astronautas [isto é, os especialistas militares, cuja missão era instalar um satélite-espião avançado] não é mais ou menos do que para com qualquer pessoa que morresse em circunstâncias trágicas, tal como os nove pobres salvadorenhos que foram mortos num incêndio em um porão de apartamento em Washington, DC, dois dias antes.”
Em 1917 [revista
teórica da TBI] No. 2, comentamos que nós pensávamos
que deveria haver algo seriamente errado com “comunistas
revolucionários” que sentiam “nem mais nem menos”
compaixão pelos refugiados empobrecidos do terror da direita
que por um punhado de guerreiros do imperialismo norte-americano.
Corrupção
na SL/LCI?
Da
mesma forma, o IG negou qualquer elemento de corrupção
no regime de Robertson [dirigente central da SL], e ainda sugeriu que
tais acusações são características de
“anticomunistas estúpidos”. Em 1917 No.
4, falamos sobre o uso dos fundos da SL para comprar e reformar uma
casa espaçosa na Área da Baía de São
Francisco para o companheiro Robertson. Relembramos como, em
1971, Workers Vanguard criticou fortemente Huey P.
Newton, do Partido Panteras Negras, por assegurar acomodação
luxuosa para si à custa dos seus militantes.
Pelo
nosso conhecimento, somente Robertson e alguns dos seus associados
próximos gozam de quaisquer privilégios materiais
significativos. De fato, o restante dos militantes profissionais vive
muito modestamente. Mas há também corrupção
de um tipo político/moral, em que companheiros são
forçados a situações em que devem ou comprometer
sua integridade ou romper com o movimento ao qual dedicaram uma boa
parte de suas vidas. A exigência de que os camaradas da LQB
apoiassem a expulsão de Norden/Stamberg sem que tivessem lido
os documentos ou ouvido os argumentos é um exemplo deste tipo
de “corrupção”. O companheiro Negrete refere-se a
uma camada de “mentirosos e inventores autoconscientes” na LCI. A
existência de tais elementos por si só é uma
evidência da corrupção e também sugere que
os problemas na LCI não são de origem recente. Em “A
Estrada para Jimstown” de 1985, nós apontamos que a LCI:
“realiza seus congressos quase tão frequentemente quanto a Comintern [Internacional Comunista] de Stalin. Não há disciplina para a liderança privilegiada da seção norte-americana (que tem peso duplo como liderança internacional), enquanto completa obediência é exigida de todos os outros, até mesmo nos mais triviais detalhes organizativos.”
A
LCI e a TBI
A
LCI tem se interessado (e se mostrado sensível) imoderadamente
por nossas críticas políticas nos últimos anos,
e foi com prazer que aceitamos a distinção de ser o
alvo de questões mais polêmicas que qualquer outra
organização política nas páginas de WV.
Na sua edição de 27 de setembro de 1991, por
exemplo, WV publicou dois artigos em resposta às
posições da esquerda internacional em relação
à vitória de Yeltsin [na crise política que
destruiu a União Soviética]: um tratava da nossa
posição e o outro do restante da esquerda! A maior
parte da série “Odeie o Trotskismo, Odeie a Liga
Espartaquista”, emitida nos últimos 15 anos tratou da
TBI (embora o IG e a LQB agora também sejam honrosamente
incluídos).
Nós
retribuímos a grande atenção da direção
da LCI e escrevemos numerosas polêmicas contra eles. Vemos
também os desafiando repetidamente para um debate, uma oferta
que eles têm recusado insistentemente (com a exceção
de um debate improvisado em Wellington em 1994, pelo qual a liderança
australiana, que aprovou o debate, foi devidamente sancionada por
Nova Iorque). Há, naturalmente, uma boa razão para que
nós recebamos tanta atenção polêmica na
imprensa da LCI, ao mesmo tempo em que a direção se
recusa completamente a que nos reunamos para um embate político:
as nossas críticas os atingem de uma maneira que os vários
pseudotrotskistas não conseguem.
As
Lições da RDA: 1989-90
A
intervenção na crise terminal no Estado Operário
Deformado Alemão [RDA – Alemanha Oriental] em 1989-90 foi a
maior iniciativa jamais empreendida pela iSt/LCI. O papel-chave do
camarada Norden na campanha da RDA foi, evidentemente, um elemento
importante nas disputas dentro da LCI antes de sua retirada e da de
Stamberg. Como indicamos em nossa declaração de
primeiro de julho, é um absurdo para a direção
da LCI tentar descarregar toda a responsabilidade sobre Norden pelos
seus erros políticos em sua intervenção na RDA.
Depois
que quatro décadas de domínio do stalinismo, os
trabalhadores da RDA foram, em grande medida, despolitizados, e o
sentimento pró-socialista ficou muito pouco enraizado. O
colapso da RDA foi condicionado pelo fato de que nenhuma organização
socialista se enraizou suficientemente no proletariado para iniciar
uma luta que pudesse mudar essa consciência. As proclamações
equivocadas da LCI de que os atos de protesto das massas,
politicamente ingênuos e amorfos, que se seguiram à
saída de Honecker [o antigo dirigente stalinista] constituíram
uma “revolução política dos trabalhadores”,
provaram ser o ponto de partida para a sua desorientação
subsequente.
A
virada inesperada na véspera de Ano Novo, quando Gunther M.
(naquela época um contato [do grupo Espartaquista na RDA])
conseguiu ser recebido pela direção do SED [Partido da
Unidade Socialista, o partido stalinista dirigente na Alemanha
Oriental] para endossar a proposta do protesto de Treptow, levou
Robertson a imaginar que tinha achado um meio de estabelecer contato
direto com as figuras mais velhas no aparato do stalinismo. Gunther
foi instruído para tentar organizar reuniões de
Robertson com o líder do partido, Gregor Gysi, o general
soviético Snetkov, e o espião mestre da RDA, Markus
Wolf. O fato de que Robertson tentou planejar uma coligação
com uma ala do SED sem dúvida explica a ausência da
rispidez trotskista no discurso escrito do companheiro Renate [do
grupo Espartaquista] para a base do SED na manifestação
de Treptow. A crítica mais aguda à direção
do SED levantada foi a observação de que:
“Nossa economia está sofrendo com o desperdício e a obsolescência. A ditadura de partido do SED mostrou a sua incompetência para lutar contra isto. A Alemanha Oriental necessita urgentemente... de uma modernização seletiva da indústria existente.”WV, 12 de janeiro de 1990
O
fato é que os burocratas do SED eram muito mais que gerentes
econômicos incompetentes. Depois que atomizaram politicamente a
classe trabalhadora com 40 anos de mentiras stalinistas, repressão
policial e um programa massivo de informantes, a casta dirigente do
SED já estava preparando a capitulação ao
imperialismo. A tarefa dos trotskistas nesta situação
era procurar expor os “reformadores” do PDS/SED e provocar a
ruptura entre eles e os setores pró-socialistas dos
trabalhadores. Mas Robertson procurou, ao contrário, formar
uma aliança com uma seção do partido stalinista
em decadência, na esperança de ganhar influência
sobre a sua base de massas.
A
pergunta sobre quem na LCI foi o responsável
pela palavra de ordem “Unidade com o SED” não é
particularmente importante em qualquer caso, porque ela mesma era
parte de toda uma perspectiva errada, que começava com o
equívoco de que uma revolução política
proletária estava acontecendo. Era evidente para nós
que, naquela época, embora a revolução política
fosse uma possibilidade, havia também
muitas outras possibilidades. A avaliação
da situação em nosso suplemento especial de janeiro de
1990, 1917 em língua alemã, provou
ser consideravelmente mais precisa que a projeção da
LCI:
“No momento, o que existe é um vácuo político na RDA. A menos que conselhos de trabalhadores sejam organizados, e estabeleçam seus próprios órgãos de administração, este vácuo será certamente preenchido em detrimento da classe trabalhadora, através de um representante eleito ou designado pelo Volkskammer [parlamento da RDA].”
Nossa
declaração de março de 1990, sobre as eleições
na RDA, observava que:
“a afirmação do SpAD/LCI de que a RDA hoje está no meio de uma revolução política proletária é simplesmente falsa.... Nós urgentemente esperamos que os trabalhadores da RDA tomem o caminho da revolução política proletária – mas é bom não tomar nossos desejos subjetivos pela realidade.”Traduzido em 1917 No. 8
Em
muitas discussões calorosas com os camaradas da LCI sobre este
assunto, fomos ridicularizados por nossa recusa “pessimista” em
reconhecer uma revolução política quando estaria
na nossa cara. Desde então, vários membros antigos da
LCI se lembraram dessas discussões e admitiram que as nossas
estimativas estavam corretas.
Observamos
que o camarada Norden está sendo atualmente atacado pela sua
negação semelhantemente “pessimista” de que o SpAD
[o grupo Espartaquista na RDA] constituiu uma “direção
revolucionária” concorrendo pelo poder na RDA. A ideia de
que um grupo minúsculo de propaganda, sem influência no
proletariado e incapaz de, a qualquer momento, ter mais de 100
pessoas sob a própria bandeira seja de alguma maneira um
perigo para o poder estatal é uma noção digna de
um Posadas ou um Healy. Para o crédito de Norden, ele “recuou”
de tal absurdo. Mas houve um preço a pagar. A sua relutância
em rejeitar suas próprias posições e afirmar a
linha oficial claramente teve um papel importante na decisão
final para expulsá-lo.
‘Stalinofobia’
da TBI na RDA
A
resposta de Norden/Stamberg à direção da LCI
tenta “inverter as acusações” de afinidade com a
TBI:
“Seymour [um dos dirigentes da SL] também argumenta que atualmente é impossível para uma seção da burocracia vir até os trabalhadores numa revolução política.”“Você procurará em vão nos materiais da LCI na Alemanha em 1989-90, ou no documento da conferência de 1992 da LCI, a afirmação de que o SED ‘conduziu a contrarrevolução’. Você irá, entretanto, achá-la nas publicações da stalinofóbica TB [Tendência Bolchevique] que, em 1989-90, estava gritando nas reuniões dos Espartaquistas que o primeiro ministro da RDA e dirigente do SED, Modrow, era o inimigo principal.”
Nós
de fato criticamos o SpAD por não conseguir alertar os
trabalhadores da RDA sobre o caminho traiçoeiro em que os
elementos principais do SED os estavam embarcando. Nós devemos
lembrar que em “Stalin Depois da Experiência Finlandesa,”
de 13 de março de 1940, Trotsky comentou:
“Considero a fonte principal de perigo para a URSS, no presente período internacional, ser Stalin e a oligarquia encabeçada por ele. Uma luta aberta contra eles, às vistas da opinião pública mundial, para mim está inseparavelmente ligada à defesa da URSS.”
Parece
a nós que esta avaliação era tão
aplicável quanto no período em que os “reformadores”
como Modrow estavam prosseguindo com seus planos para ceder a RDA ao
imperialismo alemão.
A
acusação de que nós dirigimos a maioria de
nossas críticas contra o SED/PDS, ao invés de
dirigi-las contra o abertamente restauracionista SPD [Partido
Socialdemocrata Alemão] e os partidos burgueses lembra as
reclamações dos centristas contra Trotsky por ele
concentrar os seus ataques políticos na Frente Popular e,
particularmente, no componente da “extrema-esquerda”, o POUM,
durante a Guerra Civil espanhola. Afinal de contas, Franco não
era o “inimigo principal”? As mesmas críticas foram feitas
a Lenin em 1917, quando os bolcheviques dirigiram a maioria de suas
polêmicas à falsa esquerda, ao invés de aos
czaristas, às Centúrias Negras e outros
contrarrevolucionários. Isto é, naturalmente, um ABC
para os trotskistas, mas a conversa de “inimigo principal” na RDA
talvez exija reiterá-lo.
Se
vocês olharem para o que nossos camaradas escreveram na
época, acharão uma descrição
notavelmente clara do papel dos burocratas stalinistas:
“Um novo regime de Modrow com a oposição burguesa exercendo a influência dominante, um regime pró-capitalista, teria a tarefa de assegurar a segurança da contrarrevolução social pela política de Anschluss [reunificação] com a RFA [Alemanha Ocidental]. Empurrada contra a parede pela pressão imperialista, e ameaçada pela dissolução de seu aparato, a fração de direita da burocracia stalinista procura um passaporte capitalista para a salvação de seus privilégios, tornando-se um agente direto da burguesia (...). O fraco bonapartista Modrow distancia-se do SED-PDS e mostra a sua capitulação definitiva com a remoção dos últimos obstáculos para o capital da Alemanha Ocidental.”Boletim No. 1, janeiro de 1990
A
LCI não podia proporcionar, em comparação, uma
análise trotskista clara, por causa da orientação
política fundamentalmente inútil da sua direção.
O folheto publicado por nossos camaradas alemães sobre a
intervenção da LCI no colapso da RDA (em 1917 No.
10) proporciona uma visão geral útil do curso de
acontecimentos:
“Com sua perspectiva de uma ‘comunidade’ entre a RDA e a RFA, o Primeiro-Ministro Modrow já tinha sinalizado a sua prontidão para capitular ao imperialismo da Alemanha Ocidental, quando o novo governo foi formado em 17 de novembro de 1989. Os privilégios que ele ofereceu não deram à burocracia, entretanto, o seu espaço para respirar, mas somente mais ímpeto para os contrarrevolucionários. A direita ganhou terreno, enquanto a confusão prevaleceu entre os trabalhadores mais politicamente conscientes, que confiaram em um stalinismo ‘honesto e reformado’. É por isso que o regime de Modrow era especialmente perigoso, e por isso era imperativo advertir os trabalhadores contra ele.”“Os fios mais delgados que tinham ligado o regime bonapartista às bases econômicas proletárias da RDA (controle estatal sobre os meios de produção) finalmente foram cortados. Com a formação de uma ‘grande coalizão’, no final de janeiro de 1990, Modrow foi transformado inicialmente de um dirigente vendido do Estado operário deformado da RDA, em um comprador para os capitalistas da Alemanha Ocidental, e por isto em seu representante direto (...).”1917 No. 10, op. cit.
Norden/Stamberg
estão certos sobre que a burocracia stalinista não é
capaz de dirigir a contrarrevolução “sem se
fragmentar”. Mas a fragmentação do regime stalinista
estava datada pelo menos desde o colapso do regime de Honecker. O
regime stalinista “reformado” de Modrow, com seu programa
socialdemocrata e restauracionista, representou os elementos da
burocracia que procuraram assegurar o próprio futuro ao abrir
a porta para a burguesia da Alemanha Ocidental. Não há
nenhuma dúvida de que uma seção do SED teria
vindo para o lado do proletariado se houvesse uma revolta
revolucionária. Mas os anúncios repetidos da LCI de
que uma revolução política dos trabalhadores
estava “em andamento” não poderia ser um substituto para a
revolução política real.
De
Yuri Andropov a Gregor Gysi
A
adaptação ao SED na RDA foi preparada politicamente por
uma série de erros programáticos anteriores em relação
à questão do stalinismo. O mais extraordinário
deles foi a designação de uma coluna da SL na
mobilização antifascista em Washington em 1982 como
“Brigada Yuri Andropov”, o nome do chefe burocrata do Kremlin. Em
uma carta não-pública de 13 de dezembro de 1982 à
SL, onde é feita uma crítica desta posição
(naquele tempo nós éramos ainda a “Tendência
Externa da iSt”), lembramos à SL o seguinte: “No nível
mais geral, Andropov e os burocratas que ele representa são
tudo contra o que Trotsky lutou”. Nós também
lembramos que:
“Um dos fundamentos do trotskismo é que a defesa efetiva da União Soviética é inextricavelmente ligada à necessidade da revolução política proletária contra Andropov e sua casta (...)”.
O
camarada Robertson respondeu em agosto de 1983 com uma leve sugestão
de que nós talvez estivéssemos nos movendo na direção
ao Terceiro Campo [aqueles que não diferenciam os regimes
stalinistas dos regimes burgueses]. Em nossa resposta, nós
lembramos o comentário de Trotsky de que o stalinismo era:
“Um aparelho de privilegiados, um freio sobre o progresso histórico, um agente do imperialismo mundial. Stalinismo e Bolchevismo são inimigos mortais.”
Comentamos
na carta que:
“Chamarem a si mesmos de ‘Brigada de Yuri Andropov’ foi um erro. Toda sua experiência política muito considerável, assim como os talentos dos marxistas capazes e dedicados que produzem WV não podem mudar isso. Se tivéssemos que oferecer algum conselho, seria o seguinte: não tentem defender o indefensável, isto só pode produzir maus resultados.”
Como
chefe da KGB, Andropov foi responsável por esmagar a vida
política na URSS. Workers Vanguard, em 13
de fevereiro de 1976, publicou um artigo intitulado “Parar a
Tortura ‘Psiquiátrica’ Stalinista na URSS!”, denunciando
“as atrocidades repulsivas da burocracia russa.” Na sua escalada
para o poder, Andropov cumpriu um papel-chave na repressão aos
trabalhadores húngaros após a [derrota da] revolução
política de 1956, como indicamos em nossa carta de 22 de abril
de 1984. De acordo com [o historiador] Bill Lomax:
“Nos primeiros meses de supressão militar direta da revolução, Andropov era efetivamente o chefe supremo soviético da Hungria... Foi neste período que os últimos remanescentes da resistência armada foram eliminados, as organizações dos trabalhadores e dos intelectuais foram esmagadas e milhares de húngaros foram detidos e internados (...)”.
Ao
defender a identificação da direção da SL
com Andropov, Workers Vanguard sugeriu que a nossa
crítica revelava uma prova de stalinofobia [uma tendência
a igualar o regime stalinista com um governo burguês], fraqueza
socialdemocrata, etc. Hoje, uma dúzia de anos mais tarde, a
Brigada Andropov só pode ser uma vergonha para aqueles que são
leais do regime da LCI. Esta é uma questão que vocês,
camaradas, podem desejar revisar proximamente, considerando-a um dos
momentos na história da degeneração política
da SL.
A
Revolução e a Verdade
No
documento do IG, Norden/Stamberg afirmam o seguinte:
“Um aspecto notável das lutas recentes e da virada acentuada para a direita da LCI tem sido o seu uso sistemático de deformações e mentiras descaradas, em contradição flagrante com a tradição orgulhosa da tendência Espartaquista.”
Infelizmente,
não há nada “recente” sobre a aparição
de “mentiras descaradas” na imprensa da SL. Durante
anos, WV esteve disposta a tomar liberdades
consideráveis com a verdade para propósitos fracionais.
Um
exemplo recente desta técnica da LCI (e que está
plenamente documentada) ocorreu quando, no meio de uma polêmica
contra nós em Quebec, em 3 de novembro de 1995 WV declarou:
“Há três anos, a TB se recusou a votar Não à manobra Charlottetown de Mulroney [o referendo de 1992 no Canadá a respeito da reforma na Constituição]. Sua declaração não defendeu os direitos do Quebec à independência.”
É
verdade que nós não tomamos partido na disputa burguesa
sobre a reforma da constituição do Canadá. Mas a
nossa declaração de outubro de 1992 (que nós
reimprimimos em 1917 No. 12) incluiu a seguinte
defesa explícita dos direitos nacionais dos Québécois:
“A designação do Quebec como uma ‘sociedade distinta’ dentro do Canadá obscurece o fato de que ele é uma nação, e como tal, tem um direito inalienável e incondicional à autodeterminação. Se os Québécois decidirem se separar e formar seu próprio Estado (algo que nós não reivindicamos atualmente), apoiaremos o seu direito de fazê-lo. Se a burguesia canadense tentar manter o Quebec à força, será dever dos trabalhadores com consciência de classe no Canadá inglês defender os Québécois com todos os meios à sua disposição, incluindo protestos, greves e auxílio militar.”
Mais
uma vez, ainda que depois de indicarmos que a declaração
de WV era plenamente falsa, não houve nenhuma
retratação ou correção. Poderíamos
citar outros exemplos, mas pensamos que estes são suficientes
para demonstrar que a “distorção sistemática e
as mentiras descaradas” empregadas contra o IG e a LQB tem
precedentes. Naturalmente, tais técnicas aparecem mais
claramente quando se está no lado receptor.
IG:
Entre a LCI e a TBI
Embora
talvez seja natural que os camaradas do IG preferissem evitar ter que
revisar criticamente o passado da LCI, não existe saída
honesta da necessidade de confrontar os erros do passado. A direção
da SL está ridicularizando os camaradas do IG por sugerirem
que tudo estava bem na LCI até antes deles serem expulsos.
Robertson faz uma abordagem oposta na sua resposta recente a um
defensor do IG (WV, 27 de setembro), onde ele retroage os
problemas com Norden a uma diferença de 1973 sobre os
acontecimentos no Vietnã! Isto é supostamente um
exemplo de como, de acordo com Robertson, Norden “enfraqueceu sua
autoconfiança política revolucionária e também
piorou sua imagem aos olhos de outros camaradas”, o que, por sua
vez, limitou a sua capacidade de assumir um papel dirigente na Liga
Espartaquista. Mas o fato é que na SL a ninguém (exceto
naturalmente ao próprio camarada Robertson) foi permitido o
luxo da “autoconfiança política revolucionária”.
A
maioria dos expurgos ao passar dos anos foram feitos para eliminar,
ou pelo menos humilhar, os quadros inclinados demais a pensar por si
próprios. A pressão interna crescente sobre Norden e
Stamberg foi projetada para “piorar sua imagem aos olhos dos outros
camaradas” e sem dúvida contribuiu para a sua “falta de
apoio pela militância” de que Robertson se vangloria em WV.
O seu sarcasmo sobre sua “falta de apetite para luta política
desde o começo” e “sua oposição
‘não-fracional’ e da boca para fora” tem certa
ressonância, mas só porque a linha do IG sobre a
evolução da LCI é implausível. Se a
LCI tinha sido um modelo de democracia leninista até o começo
de 1996 (como sugere a literatura do IG), então a recusa por
Norden/Stamberg em lançar uma luta fracional organizada iria
de fato demonstrar uma aversão à luta política
desde o começo.
A
tentativa de Norden/Stamberg de manter uma posição
tática “não-fracional” levou-os a votar pela
expulsão de Socorro [ocorrida antes das demais]. Observamos
que Workers Vanguard (27 de setembro), recentemente
proclamou que Socorro “cruzou a linha de classe” (!!!) por
comparar desfavoravelmente os procedimentos de julgamento da SL com
os das cortes burguesas! Robertson consideraria “cruzar a linha de
classe” sugerir que um réu comum nas cortes dos EUA nos anos
1930 receberia mais justiça do que os Oposicionistas de
Esquerda receberam no Estado Operário soviético sob
Stalin? No fórum da SL em Nova Iorque, em 1º de agosto,
Richard G., um membro da SL, sugeriu publicamente que qualquer um que
afirmasse, como Socorro o fez, que havia mais justiça nas
cortes burguesas do que nas mãos da SL, poderia facilmente
receber pagamento do Estado capitalista. Esta insinuação
de corrupção é escandalosa, e os camaradas do IG
estavam muito certos em se opor a ela. Mas a condenação
de Socorro pelo próprio IG tende a limitar o seu protesto.
Norden
e Stamberg cometeram um erro ao votar pela expulsão de
Socorro. Ela não era culpada de nada mais do que contar a
verdade. Sugerimos que um bom lugar para o IG começar sua
reavaliação da iSt/LCI é francamente repudiar a
sua expulsão.
Um
próximo passo poderia ser discutir francamente por que os
camaradas mais antigos, como Norden, Stamberg e Negrete sentiram-se
compelidos a optar por uma posição internamente
“não-fracional”, apesar do padrão de infrações
brutas da prática ao leninismo que eles relataram. Eles não
exerceram seu “direito” de declarar uma fração
porque sabiam que não era mais possível conduzir
uma luta política séria dentro da LCI, tanto quanto
havia sido para Robertson travá-la no Comitê
Internacional de Gerry Healy em 1966.
A
Liquidação do Trabalho Sindical da SL
A
declaração de Negrete, na sua “Nota sobre a TB”, de
25 de julho, de que temos aversão contra a “luta de classes
num lugar com grande maioria de negros, turbulento, como o Brasil”,
repercute uma calúnia que data do começo dos anos 80,
quando a direção da SL tentou encobrir a sua liquidação
das frações sindicais nos sindicatos estratégicos
dos Estados Unidos, chamando de racista qualquer um que criticasse
isto. A direção da SL decidiu renunciar a seu trabalho
sindical porque este exigiu um investimento político
considerável e o retorno nos anos 70 tinha sido relativamente
pequeno. Além do mais, enquanto a pressão sobre a SL
aumentava, a direção de Robertson ficou com medo de que
os sindicalistas da SL adquirissem uma visão independente da
realidade social, e uma autoridade real na classe trabalhadora
poderia ajudar a criar um polo de oposição política
interna. Particularmente no sindicato dos telefônicos, mas
também entre os estivadores da costa oeste e os trabalhadores
automotivos de Detroit, as colaterais políticas impulsionadas
pela SL tinham alguma autoridade entre a força de trabalho, e
foram vistos como uma formidável oposição
potencial pelos burocratas sindicais.
Lembramos
que o camarada Negrete estava nas atividades dos telefônicos
quando a SL abandonou a sua orientação sindical. Em
nosso folheto de junho 1983, intitulado “Parar a Liquidação
do Trabalho Sindical! Interromper a má liderança de
Robertson-Foster-Nelson!”, reimprimimos um panfleto, de 16 de
maio de 1983, distribuído [pela SL] aos telefonistas em Los
Angeles, na conclusão de uma campanha bem sucedida que
derrotou as tentativas dos burocratas de remover os defensores da SL
dos cargos de diretores. O panfleto começava com “A
Colateral de Ação Militante gostaria de agradecer a
todas as irmãs e irmãos desta regional, que saíram
para apoiar-nos na luta pela nossa reintegração como
diretores da regional”, e adiante anunciava que “todos os
diretores do bloco submeterão a seguinte carta de renúncia
ao sindicato.” Em nosso documento, escrevemos:
“A autoridade que os quadros da SL em LI, T1, T2, II e BI [vários setores industriais] acumularam com anos de suor, sangue e perseguição está sendo deixada para trás da noite para o dia; a direção da SL sabe que os efeitos desta liquidação são quase irreversíveis (...) a completa desistência dos diretores da CAM [Colateral de Ação Militante] já está criando a reputação de desertores (...)”.“Não se leva as pessoas para a luta e então as deserta. Mas é justamente isso que a CAM está fazendo. Tendo lutado e vencido na regional 11502 para manter-se na direção, a CAM agradeceu aos muitos diretores e membros que a defenderam... e se retirou. Também, na regional 9410, onde justo há seis meses 1000 membros manifestaram-se para a defesa de Kathy, exigindo um fim do seu julgamento e do golpe dos burocratas, a CAM está se retirando. Stan, membro da Colateral Militante, apoiado pela SL [nos estivadores], corretamente defendeu uma moção, em uma reunião dos membros, pela realização de uma paralização dos trabalhadores do sindicato para protestar contra as atividades nazistas em Oroville. A moção foi aprovada. Então ele foi orientado a voltar atrás e a se autocriticar de forma desprezível, para não ir para Oroville, e atacasse os estivadores que foram e carregaram cartazes exigindo autodefesas de trabalhadores e negros para esmagar os fascistas. Esse abstencionismo alimentou um ressentimento que tornou mais fácil para a direção desacreditá-lo.”
Se
a SL era culpada pelo abstencionismo em relação a
eventos como a manifestação de Oroville em 1983, a sua
retirada dos sindicatos foi abstencionista em grande escala. Nós
também podemos ver nisso precedentes da exigência de que
a LQB liquidasse seu trabalho em Volta Redonda. Em ambos os casos,
aqueles que resistiram ao ultimato da direção da SL
foram acusados de “oportunismo sindical”.
Howard
Keylor, um dos dois maiores apoiadores da SL nos portuários,
continuou a sua atividade de sindicalista como um simpatizante da
ET/TB. Em 1984, ele iniciou e foi um dos líderes do boicote de
11 dias dos estivadores contra o regime de Apartheid da África
do Sul, no cais 80 em São Francisco (ver Boletim da
ET No. 4). Neste caso, a SL fez pior do que abster-se –
ela denunciou a ação, colocou um “piquete” para
abortá-la, caracterizou os trabalhadores que conduziram a
greve como “fura-greves” e, finalmente, em desafio aberto à
política do sindicato, fez com que os seus apoiadores
fornecessem uma evidência documental (na forma de um panfleto)
de que o boicote era uma ação sancionada pelo
sindicato. Isto era o que os empregadores necessitavam para assegurar
uma injunção federal para quebrar o boicote. Quando a
esquerda juntou uma meia dúzia de estivadores para armar um
piquete de grevistas em desafio à injunção, os
Espartaquistas no local recusaram-se a unir-se! E então,
depois que a ação acabou, WV retroativamente
elogiou-a. A motivação para as ações da
SL era a mesma que na exigência de que a LQB abandonasse sua
atividade sindical – um mesquinho sectarismo organizativo.
Norden/Stamberg
afirmaram que nós “zombamos das mobilizações
de trabalhadores/negros, feitas pela Liga Espartaquista para barrar a
KKK, como ‘trabalho de gueto’”. Isto não é
verdade. Nós nunca zombamos das mobilizações
anti-Klan da SL e, aliás, nos unimos a elas quando pudemos,
assim como nos unimos às iniciadas por outros esquerdistas.
Nós nunca nos referimos às mobilizações
das LLNOs [Ligas de Luta Negra e Operária, que a SL lançou
em substituição ao seu trabalho nos sindicatos], nem
tampouco às mobilizações anti-Klan como
“trabalho de gueto.” O único lugar em que se pode achar
este termo é nas páginas do WV, onde era
repetidamente atribuído a nós.
Nós
sempre sustentamos que a chave para a libertação negra
nos Estados Unidos é através da união das lutas
das massas negras ao poder social do movimento organizado dos
trabalhadores. Isto requer uma luta por uma nova direção,
revolucionária, nos sindicatos.
Libertação
Negra e ‘Guardas de Defesa dos Trabalhadores’
Esperamos
que, depois de uma investigação cuidadosa, o camarada
Negrete retire sua acusação de que alguma vez nós
chamamos “por ‘guardas de defesa dos trabalhadores’ (sic) para
parar a ‘violência’ como na revolta de Los Angeles”. Se
ele não estiver preparado para fazê-lo, o convidamos a
especificar os fundamentos desta alegação. Nossa
declaração sobre a revolta [dos subúrbios
negros] de Los Angeles em 1992 teve um impulso inteiramente diferente
em relação à explosão de “violência”
que se seguiu à absolvição dos policiais
racistas que brutalmente tinham agredido [o trabalhador negro] Rodney
King:
“Os marxistas não podem ter mais que desprezo em relação às condenações hipócritas da ‘violência’ e das ‘ações ilegais’ que chovem agora nos noticiários, púlpitos e nas declarações dos capitalistas que concorrem à presidência. Mesmo assim, os militantes sérios também reconhecem que o racismo, a pobreza e a violência do Estado capitalista não terminarão através de explosões desorganizadas de ódio dos negros e minorias, ainda que justificadas. Porque faltam às massas negras um programa e uma direção para lutar por uma verdadeira revolução social, a sua raiva espontânea frequentemente termina em ataques aos alvos errados, deixando seus verdadeiros exploradores e opressores intocados.”“Os negros e as minorias formam uma grande porcentagem da classe proletária industrial nos EUA. Eles também estão concentrados nos sindicatos das grandes cidades da nação. Esses trabalhadores operam os ônibus e trens, coletam o lixo, varrem as ruas e são também os trabalhadores dos hospitais. Podem proporcionar o elo necessário entre o gueto e a classe trabalhadora organizada. Uma única greve geral contra a brutalidade da polícia poderia levar cidades como Los Angeles a parar, e provaria ser uma arma infinitamente mais potente do que cem revoltas do gueto. Tais greves poderiam abrir o caminho para uma poderosa contraofensiva de classe dos trabalhadores contra o racismo e a austeridade capitalista. Mas isto requer uma direção classista orientada a quebrar a força opressora dos burocratas sindicais e do Partido Democrata. A Tendência Bolchevique dedica-se a forjar tal direção, na luta por uma sociedade socialista, que é a única que pode fazer justiça a Rodney King e outras vítimas incontáveis da ‘nova ordem mundial’”.“Los Angeles: Dias de Cólera”, suplemento de 1917, maio de 1992
Em
outubro de 1992, publicamos uma edição de 1917
West intitulada “Policiais, Crime e Capitalismo”, para
desafiar as noções anarquistas/liberais predominantes
entre a juventude. Este artigo, que absurdamente foi caricaturado
numa polêmica que apareceu em Workers Vanguard (12
de fevereiro de 1993), deixou a nossa atitude em relação
ao braço armado da burguesia muito clara:
“A união entre o temor do crime e a questão racial cria uma barreira enorme à unidade da classe trabalhadora. O status quo econômico e político estarão seguros enquanto a classe trabalhadora, e outras vítimas do sistema, estiverem divididas entre si. O capitalismo necessita do racismo e o reproduz – porque ele mantém a classe trabalhadora dividida.”“A polícia não faz parte da classe trabalhadora, e seus ‘sindicatos’ não fazem parte do movimento dos trabalhadores. Eles devem ser expulsos de todas as federações sindicais e outras organizações da classe trabalhadora. A polícia serve como a linha de frente de defesa da propriedade capitalista, e resguarda a ditadura da classe capitalista sobre a sociedade. Como um braço do Estado, a polícia não é neutra em nenhuma disputa entre trabalhadores e patrões, inquilinos e proprietários ou opressores e oprimidos. Os policiais reforçam a lei e a ordem capitalista, que coloca a defesa da propriedade, da riqueza e dos privilégios sociais acima de tudo.”
No
texto de 1917 West, nós chamamos por “guardas
da defesa dos trabalhadores”, mas de uma maneira diametralmente
oposta à afirmação de Negrete:
“É de vital importância unir as atividades das organizações que monitoram a polícia e defendem as suas vítimas às organizações da classe trabalhadora. Os mesmos policiais que atormentam as pessoas desabrigadas e a juventude negra também escoltam os fura-greves através das filas de grevistas, e batem nos grevistas para quebrar as greves (...)”.“Somente o proletariado tem o poder social e o interesse objetivo de eliminar as causas do crime. Um movimento forte dos trabalhadores que estabeleça guardas de defesa dos trabalhadores integradas poderia dar um grande passo pela defesa dos trabalhadores e dos oprimidos contra a brutalidade e os crimes da polícia (...)”.“Para serem efetivas, as guardas de defesa dos trabalhadores devem se integrar à luta contra o racismo, que divide a classe trabalhadora. Elas geralmente seriam iniciadas como uma resposta contra ataques contra os piquetes dos trabalhadores pelo Estado capitalista, seus aliados fascistas ou os capangas particulares dos empregadores. Uma vez empenhados na luta de classes, os trabalhadores rapidamente verão a utilidade das guardas de defesa para proteger os trabalhadores e os oprimidos em outras áreas de suas vidas, incluindo a luta para se livrar do crime e das agressões da polícia”.“Policiais, Crime e Capitalismo,” 1917 West número 2, outubro 1992
Gostaríamos
que o camarada Negrete explicasse exatamente o que ele pensa que está
errado com esta forma de se posicionar pelas guardas de defesa dos
trabalhadores.
Finalmente,
notamos que enquanto Negrete está aparentemente feliz
reciclando a difamação da SL sobre a nossa suposta
indiferença pela opressão negra, ele se esqueceu de
mencionar que Gerald Smith, o ex-membro da TBI que é citado
[na nota do IG] como “não sendo antipolícia” é
também um antigo membro do Partido Pantera Negra, bem como da
Liga Espartaquista. Ele também não menciona que, em
1983, a SL convidou Smith para que ele encabeçasse as suas
LLNOs! Smith estava relutante em aparecer como ponta de lança
de uma organização fantasma. Mesmo assim, permaneceu na
órbita da SL, e no próximo ano concordou em participar
do “piquete” da SL contra o boicote dos portuários de 1984
aos carregamentos destinados para a África do Sul, no cais 80
em São Francisco. Ele se assustou tanto com o sectarismo
destrutivo que testemunhou naquela noite, que rompeu com a SL de uma
vez por todas. Ele depois se uniu à TB e foi um membro
proeminente de nosso núcleo na Área da Baía de
São Francisco por muitos anos. No início da década
de 90, ele começou a girar à direita, e finalmente
deixou a TBI em 1993.
A
LCI e a Greve Geral: ‘Uma Caricatura do Trotskismo’
Concordamos
que a nova oposição da LCI a levantar qualquer chamada
propagandística pelas greves gerais na ausência de um
partido operário revolucionário hegemônico é
de fato “uma caricatura do trotskismo,” como o IG sugere. “E a
campanha dos trotskistas franceses por uma greve geral na metade dos
anos 30?”, ele [o IG] pergunta. Uma boa pergunta, mas nenhuma que a
LCI esteja ansiosa em responder.
Parece
a nós que a questão da greve geral está colocada
para o trotskismo francês na metade dos anos 90 também.
Como explicamos em nosso artigo de 1917, No. 18, a
situação em dezembro de 1995 parecia ser para nós
uma circunstância em que os revolucionários deveriam ter
focalizado a sua agitação no chamado por uma greve
geral para derrubar [o presidente francês Alain] Juppé,
concretizada com o chamado por comitês de greve eleitos em cada
local de trabalho, nos níveis local, regional e nacional. Isto
poderia ter chamado a atenção dos membros mais
militantes dos sindicatos, que estavam tentando empurrar os
burocratas nesta direção, e proporcionaria uma abertura
para os militantes revolucionários estenderem a sua influência
política. Mas, mesmo chamando a estender as greves ao setor
privado, a Liga Trotskista da França [seção da
LCI] ponderadamente absteve-se de convocar uma greve geral,
afirmando, ao contrário, que “a questão do poder está
posta.” Seu lema central era o chamado a construir uma “nova
direção revolucionária,” (isto é, a
LTF). Embora muitas das observações e propostas
específicas na propaganda da LTF estivessem corretas, a sua
reivindicação de que “a tarefa urgente da hora”
seria preparar a tomada do poder estatal pareceu para nós
qualificar-se como outra “caricatura do trotskismo”.
Norden
e Stamberg não criticam a posição da LCI/LTF em
Paris [em 1995, quando se recusaram a chamar por uma greve geral] e
ainda parecem endossar implicitamente a luta de Parks contra a
“passividade” da LTF. Isto parece a nós ser outro caso em
que os camaradas do IG até agora não conseguiram
generalizar suficientemente a partir de uma crítica
fundamentalmente correta.
No
Canadá, a LCI/TL está atualmente se recusando a
convocar uma greve geral em Ontário, apesar do fato de que a
burocracia sindical organizou uma série de “greves gerais”
em uma única cidade, com duração de um dia (que
até agora envolveram centenas de milhares de trabalhadores).
Os burocratas querem permitir que a base expresse sua ira mas, ao
mesmo tempo, esperam evitar um confronto sério com o governo,
enquanto ganham um pouco de vantagem, mostrando aos patrões
que poderia haver problemas se os Conservadores
levassem as coisas muito adiante. Esta é uma situação
em que os revolucionários devem procurar explorar a
contradição entre o desejo das massas de lutar e os
passos covardes dados pela direção, através da
agitação das medidas práticas necessárias
em direção à mobilização do poder
e da raiva da base contra os ataques do governo. Concretamente,
advogamos uma greve geral que seja “organizada e controlada por
comitês de greve eleitos democraticamente em todos os locais de
trabalho, coordenados através de assembleias provinciais e
regionais por delegação.” Por sua vez, a TL está
fazendo a sua agitação principal exigindo “construir
um partido revolucionário” – isto é, eles mesmos.
Socialistas,
Apoio a Greves e ‘Fura-Greves’
Os
camaradas do IG reivindicam que nós “furamos a greve” dos
limpadores de construção de Nova Iorque no último
inverno. Esta é uma questão séria, que nós
discutimos na nossa correspondência com WV (recentemente
publicada por nossa regional de Nova Iorque na forma de um folheto).
Como indicamos, há frequentemente situações em
que os grevistas de uma empresa ficam na frente de uma entrada
compartilhada com trabalhadores de empresas inteiramente diferentes
que não estão em greve (por exemplo, praças
públicas, parques industriais, edifícios de
escritório). A melhor resposta em tais casos é que os
trabalhadores das outras companhias se unam aos seus irmãos e
irmãs, pressionando por greves de solidariedade. Mas se isto
não for possível, não é dever dos
militantes isolados executaram uma “greve de solidariedade
individual” quando, se o fizerem, puderem ser demitidos.
A
campanha de WV sobre isso foi uma tentativa motivada
por interesses fracionais de difamar Jim C., um militante da TBI que
pode ter feito mais para ajudar os grevistas do que todos os membros
da SL de Nova Iorque juntos. Jim C. tomou a iniciativa de receber os
membros do sindicato no seu local de trabalho para fazer com que
estes doassem um total de $3000 aos seis trabalhadores grevistas que
normalmente limpavam seu edifício. Os dirigentes também
se asseguraram de que nenhum fura-greve seria permitido dentro do
prédio durante a greve, e que a empresa de limpeza não
receberia nenhum dinheiro do seu empregador até o final desta.
Nenhum militante sindical consideraria isto “furar greve”.
Uma
nota interessante em toda esta disputa foi proporcionado pela
camarada Marie Hayes (uma antiga militante que foi por 23 anos da
iSt/LCI), num fórum público no festival anual do Lutte
Ouvriere deste ano. Ela respondeu às denúncias da LCI a
nós como “fura-greves”, relembrando como, quando era da SL
de Nova Iorque, ela foi confrontada por uma situação
análoga, quando alguns piqueteiros de uma empresa diferente
apareceram do lado de fora do edifício da [companhia aérea]
Pan Am, onde ela trabalhava. Ela ligou para a sede da SL para pedir
instruções, e disseram que, como os piqueteiros não
tinham relação com os trabalhadores da empresa dela,
não havia nenhuma razão para não ir trabalhar!
LCI
vs. TBI e a Questão Russa
Em
sua ladainha de uma página, o camarada Negrete queixa-se de
que rejeitamos a palavra de ordem da LCI, “Viva o Exército
Vermelho no Afeganistão” com “argumentos stalinofóbicos”.
Na verdade, rejeitamos “Viva o Exército Vermelho” em favor
de “Vitória Militar para o Exército Vermelho no
Afeganistão”. Nós o fizemos porque a “saudação”
da intervenção militar de Brezhnev no Afeganistão
tendia a apagar a distinção crítica entre o
apoio político e o militar. Os
trotskistas apoiaram as forças armadas soviéticas no
Afeganistão militarmente, assim como a SL apoiou militarmente
o Vietcongue contra o EUA no Vietnã. Foram os pablistas que
“saudaram” os exércitos de Ho Chi Minh e desfilaram a
bandeira do Vietcongue. Nós não vimos nenhuma razão
para aplicar critérios diferentes no Afeganistão (ver
nosso artigo em 1917 No. 5).
O
lado reverso das divagações algumas vezes
stalinofílicas [que tende a identificar os interesses dos
trabalhadores com os do aparato stalinista] da LCI apareceu quando
eles se recusaram a tomar militarmente o lado da “linha-dura” do
Kremlin contra Iéltsin, em agosto de 1991 [no confronto que
terminou com a destruição da União Soviética].
A zombaria de Negrete sobre a indecisão e a incompetência
do golpe dos conspiradores repercute os pseudotrotskistas que
reivindicam que [os líderes da “linha dura”] Yanaiev, Pugo
e companhia eram tão pró-capitalistas quanto Iéltsin.
Negrete acusa-nos de termos sido ansiosos em abandonar a defensa da
União Soviética porque nós reconhecemos, naquela
época, que a vitória de Iéltsin representou
o “Triunfo da Contrarrevolução”.
O
golpe de agosto foi decisivo precisamente porque ele colocou os
restauracionistas contra os remanescentes da burocracia que queriam
manter o status quo. É por isso que os defensores da União
Soviética tinham um lado nesse confronto. A afirmação
da LCI, de que os conspiradores não estavam tentando defender,
ainda que de forma vacilante, o Estado Operário, mas somente
um império capitalista, somente pode significar que as forças
restauracionistas teriam triunfado antes do golpe de
agosto.
A
recusa da LCI em tomar partido no confronto final levou
inevitavelmente ao próximo erro; eles se recusaram
teimosamente, por mais de um ano, a reconhecer que o Estado Operário
Degenerado soviético tinha sido de fato destruído. Até
hoje, a LCI não pode dizer quando o Estado Operário
soviético deixou de existir. Esperamos que no curso do reexame
da história da iSt/LCI, isto esteja entre as questões
que vocês desejarão retomar.
A
tentativa de Negrete [em sua nota] de identificar-nos com o [grupo
argentino] PBCI porque sustentamos posições semelhantes
sobre o golpe de agosto de 1991 não é um argumento, e
sim um amálgama. Nós poderíamos igualmente
salientar com facilidade que o PBCI, assim como a LCI (e o IG?),
reivindicam que o Estado Operário sobreviveu sob Iéltsin.
O que isso provaria?
O
Expurgo do IG: “Deja Vu Tudo de Novo”
A
noção dos quadros do IG de que eles são as
primeiras vítimas de abusos na LCI não é
incomum, como nós anteriormente relatamos.
Mas,
se o tratamento do IG de fato nunca foi visto na história da
iSt/LCI, por que as descrições do IG sobre o que
aconteceu a eles seriam tão parecidas com as que publicamos há
dez anos? Por exemplo, Norden e Stamberg descrevem como Negrete foi
acusado de “machismo” no GEM [Grupo Espartaquista do México]:
“O método de vomitar uma pilha de acusações falsas sem considerar os fatos foi repetidamente usado na disputa sobre a Alemanha (...) e novamente no ataque relâmpago para remover a direção da seção mexicana, afirmando que Negrete era um ‘opressor machista’, contornando a LQB e isolando a seção da discussão internacional.”“De uma Tendência...” página 29
Negrete
confirma este relato:
“Tendo passado pela ‘disputa Brasil/México’, posso declarar categoricamente que a campanha atual envolve uma coleção de invenções intencionais. A luta explodiu quando Camila e eu perguntamos sobre as declarações significativamente incorretas sobre o Brasil numa correspondência do SI [Secretariado Internacional da LCI]. Ao mesmo tempo em que algumas daquelas declarações foram explicitamente corrigidas, foi inventado um relato de que eu teria me comportado como um ‘opressor machista’ com Camila (o que a própria Camila negou ser verdade) e que eu a tinha ameaçado para fazer as perguntas que ela escreveu. Quando as testemunhas disseram e escreveram que isto não foi o que aconteceu, não só isso foi ignorado, como eles foram acusados de fazer panelinha, de serem personalistas e anti-internacionalistas. Ao mesmo tempo em que os pedidos de Socorro e meus por uma investigação interna formal foram rejeitados imediatamente, a mentira não somente foi repetida, como também foi aumentada como um suposto padrão de comportamento”.Ibid. páginas 74-75
Compare
o que está descrito acima com o relato em “A Escola de
Robertson de Construção de Partido” (1917 No.
1, inverno 1986) onde descrevemos como uma acusação de
“manipulação sexual” foi usada na iSt:
“Quando o acusado questionou como essa acusação poderia ser feita quando ele a negava, e todas as suas supostas vítimas a negavam, ele foi informado de que esse era o pior tipo de manipulação – ela tinha sido tão bem feita, que mesmo sob considerável pressão do partido, as próprias vítimas não conseguiam ver o que havia acontecido! Essa é a característica de ‘Alice no País das Maravilhas’ da vida interna ‘democraticamente rica’ da tendência Espartaquista. Manipulação sexual, como todo o resto na SL, significa exatamente aquilo que a liderança quiser que signifique.”
Outro
exemplo é a descrição de Norden/Stamberg sobre
como os alvos do expurgo estão sujeitos a uma pilha de
acusações não substanciadas:
“Quando nos opusemos às várias inexatidões e declarações ultrajantes sem sustentação, Parks entrou rapidamente em cólera, e prosseguiu expulsando primeiramente Negrete e Socorro, do México, e então Norden do SI. Em ambos os casos, acusações inventadas foram lançadas a esmo, e quando uma não colava, era simplesmente substituída por uma nova. Jogar lama no ventilador é uma técnica de ‘caça às bruxas’ muito familiar, baseada na suposição de que eventualmente alguma coisa irá colar ou os alvos se cansarão de retirar a lama.”Op. Cit. página 29
Negrete
aponta o mesmo:
“Mais uma vez, o retrato grosseiramente deturpado foi repetido por uma série de declarações comprovadamente falsas. Cada declaração, quando era desmentida, abria caminho para uma nova. Era falso que o memorando do CEI não tinha sido traduzido, que não tinha sido distribuído, que não tinha sido discutido, ou que fora discutido somente uma vez. Era falso que a disputa na Alemanha tinha sido encoberta, que tinha sido discutida somente uma vez, que foi discutida muito brevemente, etc. Era falso que a luta na França, a luta na Itália, a ‘greve geral por tempo indeterminado’, a luta contra Y. Rad, a luta em relação ao Quebec etc., não tinha sido discutida, que as conversas não aconteceram nas reuniões, que os materiais não foram traduzidos (dúzias foram) etc.”.
“O que está descrito acima é só uma amostra das declarações falsas empilhadas umas sobre as outras naquela disputa. Entretanto, um grande número de camaradas bem-intencionados reclamava que todos estes ‘detalhes’ fossem ignorados em favor do ‘quadro geral’. Mas, antes de tudo, as regras da Quarta Internacional nos dizem para ‘sermos verdadeiros nas coisas pequenas, assim como nas grandes’. E, em segundo lugar, neste caso, o ‘quadro geral’ é composto de ‘pequenas’ mentiras e invenções, que continuam a aumentar”.Ibid. Páginas 75-76
Mais
uma vez, compare os relatos dos camaradas do IG à nossa
descrição de 1985 de uma “disputa” típica na
SL:
“Eis como as coisas funcionam na SL. É convocada uma reunião em que o camarada designado é chamado a explicar os erros que ele supostamente cometeu. Cada item dos pormenores é grosseiramente exagerado e extrapolado; motivações traiçoeiras (políticas ou pessoais) são atribuídas. Críticas pessoais acidentais do estilo de vida ou comportamento do indivíduo são usadas como boas comparações. Aqueles que comandam o ataque gritam tipicamente, de forma teatral, e fazem poses para criar a atmosfera adequada, carregada emocionalmente. Espera-se que a militância proporcione o coro: repetindo e embelezando as acusações. Não há nenhuma interrupção. Se você puder provar que algumas das acusações são falsas, novas acusações são rapidamente inventadas. Ou você é acusado de ‘usar argumentos de advogado’ ou de tentar obscurecer a visão geral com picuinhas sobre os ‘detalhes’ (...)”.“A Estrada para Jimstown”
A
semelhança entre os nossos relatos e os do IG só podem
ser explicadas de duas maneiras: ou a direção da SL
estudou cuidadosamente as nossas descrições
supostamente inventadas de suas técnicas de expurgo e decidiu
empregá-las pela primeira vez contra Norden, Stamberg, Socorro
e Negrete, ou o tratamento dos camaradas do
IG seguiu o padrão dos expurgos anteriores.
O
Caso de Bill Logan
Negrete
recicla a acusação da SL de que o camarada Bill Logan
da TBI é um “psicopata malicioso.” Robertson investiu
muito do seu capital político para “provar” que Logan, o
líder mais proeminente da iSt fora da seção
norte-americana, era não um pervertido comum, mas sim um
“sociopata” que sempre foi inadequado para a vida do movimento
operário. O caso de Logan foi, aliás, um marco na
degeneração da iSt/LCI. O camarada Norden, que era um
membro dirigente da SL/EUA naquela época, pode relembrar a
comissão que se reuniu na sede central da SL em Nova Iorque,
no período de agosto-setembro de 1974, para considerar as
queixas de John Ebel, um membro descontente da SL/ANZ (Austrália-Nova
Zelândia). As queixas de Ebel tocaram em todas as
alegações (incluindo a feita por uma camarada
supostamente pressionada a realizar um aborto) que, cinco anos mais
tarde, a direção da SL fingiu que tinha acabado de
ouvir. Entretanto, a comissão de Ebel em 1974, depois de
considerar as evidências, não achou que havia qualquer
impropriedade na SL/ANZ. Como os camaradas do IG explicam isso?
Nós
nunca negamos que os camaradas da SL/ANZ de fato sofriam abusos
organizativos sob o regime de Logan, nós meramente afirmamos
que a vida na SL/ANZ não era qualitativamente diferente que na
SL/EUA. Isto é provado pelo fato de que nenhum dos dirigentes
girados pela SL/EUA ter notado qualquer coisa fundamentalmente
diferente na vida da SL/ANZ, e que eles eram todos assimilados dentro
do regime, sem dificuldades imprevistas. Lidamos completamente com o
caso de Logan em nosso Boletim Trotskista No. 5
(“LCI vs. TBI”).
O
Expurgo do IG/LQB: Ataques Preventivos
A
explicação política para o expurgo pela LCI dos
camaradas do IG e para o rompimento das relações
fraternais com a LM/LQB oferecidas por Norden/Stamberg (pág.
68) está fundamentalmente correta:
“Ao aumentar a pressão e perseguir os ‘oponentes internos’ percebidos, e tentar forçar a declaração de uma fração, o SI claramente procurou fazer um ataque preventivo. O resultado foi a criação de uma atmosfera venenosa no partido.”
É
também aparente que a ruptura com a LQB foi uma manobra
profundamente cínica. Mas isso mostra mais uma vez a
contradição fundamental nas explicações
do IG: como poderiam os dirigentes de uma organização
revolucionária trotskista se tornar, de pronto, expurgadores,
provocadores, perseguidores e levantadores de mãos? De onde
veio essa camada de “mentirosos e inventores autoconscientes” que
“vangloriam-se” de seus crimes? E por que Norden e Stamberg
estavam tão seguros de que não havia nenhuma razão
para aparecer no seu “julgamento” programado? Numa organização
saudável, se esperaria uma reação violenta da
parte dos membros de base diante das impropriedades evidentes no
procedimento de julgamento do caso de Socorro. Por que não na
SL? E por que Norden e Stamberg não esperaram que a base da SL
estivesse horrorizada pelas mentiras e calúnias
partidariamente motivadas? Por que uma visita de surpresa, à
meia-noite, por uma “tropa de elite” exigindo submissão
instantânea não seria um choque para pessoas com décadas
de experiência na LCI? A razão é que este tipo de
coisa vem acontecendo há muito tempo. Essa é a razão
pela qual as nossas descrições das técnicas
empregadas são tão próximas das do IG.
Está
claro, pela declaração de relações
fraternais entre a LM e a LCI (a qual nós presumimos que a LQB
e o IG ainda sustentam) que nós não só
reivindicamos uma herança política comum, como também
compartilhamos posições comuns em algumas questões
programáticas centrais. Estas incluem a oposição
dura à frente popular; a necessidade do partido leninista em
agir como o tribuno dos oprimidos; o elo inextricável entre a
liberação dos negros e a revolução
socialista tanto nos EUA como no Brasil; e mais geralmente, um
reconhecimento de que a revolução permanente é o
único caminho para a liberação das massas no
mundo semicolonial.
Estamos
interessados em iniciar discussões sérias entre nós
e sua organização, com o propósito de diminuir
nossas diferenças, ou pelo menos esclarecer nossas posições
em relação um ao outro. Claramente, tais conversas
também permitiriam a identificação e a correção
dos erros em fatos ou interpretação dos dois lados.
Lamentavelmente, há muitas dificuldades objetivas substanciais
para mantermos discussões entre nós e a LQB. Em
primeiro lugar, há o problema de que não sabemos falar
a língua portuguesa, e não sabemos se a LQB sabe inglês
ou alemão. Há também o problema da nossa
separação geográfica. Acreditamos que nenhum
destes problemas seja insuperável. Mas eles serão
obstáculos substanciais para um intercâmbio político
sério.
As
conversas com o IG não são impedidas por qualquer uma
das considerações acima, e como supomos que haja uma
colaboração política próxima entre os
dirigentes do IG e da LQB, talvez faça sentido que as
primeiras conversas devam ocorrer entre nós e o IG. Esperamos
que vocês considerem cuidadosamente os pontos que nós
levantamos e aguardamos a sua resposta o mais breve possível.
Tom
Riley
Pela
Tendência Bolchevique Internacional