Por Ted Grant
Setembro/outubro de
1950
Traduzido para o português pelo
Reagrupamento Revolucionário em janeiro de 2013, a partir da versão disponível
em http://www.tedgrant.org/archive/grant/1950/bsfi.htm.
Nota do Reagrupamento Revolucionário: Esta carta foi
escrita imediatamente depois de Ted Grant ter sido expulso do “Clube”, a seção
britânica da Quarta Internacional. Ela aponta corretamente o desenvolvimento de
revisionismo tanto na seção britânica quanto na Internacional como um todo, em
uma época de grande confusão interna. Devido à sua expulsão burocrática por
Gerry Healy, o grupo de Grant foi excluído da participação no racha de 1953 contra
os apoiadores de Pablo. Tragicamente, o isolamento de Grant levou-o a se aliar
com Pablo, em um processo que selou o seu destino como revolucionário. Em seu
comentário satírico sobre a esquerda britânica, John Sullivan concluiu: “O histórico encontro de Grant com Pablo pode ser visto como o marco da
morte do trotskismo britânico, certa vez uma das melhores seções da Quarta
Internacional. O encontro criou o pablismo britânico, essa estranha mutação
combinando o vocabulário trotskista com capitulação ao que quer que esteja na
moda.” (“Go Fourth and Multiply”). A política de Grant nessa carta aberta está em completo
contraste com suas formulações em anos posteriores, assim como difere bastante
do apetite político daquelas organizações que reivindicam o seu legado, a
Tendência Marxista Internacional (TMI) de Allan Woods e o Comitê por uma
Internacional dos Trabalhadores (CIT) de Peter Taaffe.
* * *
O
trotskismo britânico atingiu um impasse no caminho que tem sido seguido pela
organização trotskista oficial; à frente dele não existe caminho rumo ao
desenvolvimento de uma tendência revolucionária saudável enraizada nas massas.
Por
três razões, enquanto tendência revolucionária, a Quarta Internacional na
Grã-Bretanha foi destruída:
(1) Capitulação ao Tito-stalinismo internacionalmente;
(2) Política e programa na Grã-Bretanha;
(3) Falta de democracia interna.
Titoísmo
Como
resultado dos desenvolvimentos que se seguiram à Segunda Guerra Mundial, uma
relação de forças inesperada se desenvolveu em escala mundial entre stalinismo,
reformismo e capitalismo. O prognóstico da Quarta Internacional de antes da
guerra, de que o problema do stalinismo seria resolvido ou durante a guerra ou
imediatamente após o seu fim, foi provado falso pelos eventos.
Devido
ao sucesso da propriedade estatizada, da decadência assustadora e do colapso do
capitalismo e do imperialismo, da onda revolucionária que se seguiu à Segunda
Guerra Mundial e da fraqueza da tendência revolucionária internacionalista, o
stalinismo foi capaz de tirar vantagem de todos esses fatores e emergiu com a
URSS como segunda potência mundial, enormemente fortalecida ao redor do mundo.
O stalinismo se tornou a tendência de massas na Europa e na Ásia.
O
colapso do capitalismo na Europa Oriental permitiu ao stalinismo, enquanto uma
tendência bonapartista, manipular os trabalhadores e manobrar entre as classes
– estabelecendo Estados operários deformados de um caráter bonapartista com
maior ou menor apoio. O stalinismo, na peculiar relação de forças atual,
baseando-se em última instância no proletariado – no sentido de colocar-se em
defesa de uma nova forma econômica de sociedade – é um bonapartismo de um novo
tipo, manobrando entre as classes com o objetivo de estabelecer um regime
seguindo o modelo de Moscou.
Na
China e na Iugoslávia, os partidos stalinistas chegaram ao poder na base de
apoio avassalador de massas e estabeleceram regimes relativamente independentes
da burocracia de Moscou.
O fato
de que a revolução na China e na Iugoslávia pôde ser desenvolvida de uma forma
distorcida e degradada deve-se aos fatores mundiais de:
(a) Crise do capitalismo mundial;
(b) A existência de um poderoso Estado operário
deformado adjacente a esses países e que poderosamente influenciava o movimento
dos trabalhadores;
(c) A fraqueza da corrente marxista da Quarta
Internacional.
Esses
fatores resultaram em um desenvolvimento sem paralelos, que não poderiam ter
sido previstos por nenhum dos mestres marxistas: a extensão do stalinismo como
um fenômeno social através de metade da Europa, pelo subcontinente chinês e com
a possibilidade de se espalhar pela Ásia.
Isso
coloca novos problemas teóricos a serem resolvidos pelo movimento marxista. Sob
condições de isolamento e escassez de forças, novos fatores históricos não
poderiam deixar de resultar em uma crise teórica do movimento, levantando a
questão a sua própria existência e sobrevivência.
Depois
de um período de extrema vacilação e confusão pela Internacional, incluindo
todas as tendências, três posições distintas emergiram:
(a) Um movimento de desespero e revisionismo,
conhecido como Capitalismo de Estado; o menchevismo organizativo de Haston e a
desintegração ideológica de Morrow, Goldman, Craipeau, etc.;
(b) Uma tendência que vai na direção do neoestalinismo
(o SI [Secretariado Internacional] e a seção britânica);
(c) A corrente marxista lutando para levar adiante as
melhores tradições do trotskismo.
Diante
de problemas formidáveis, o SI e a liderança britânica revelaram-se em uma
bancarrota teórica. Sem qualquer explicação teórica adequada ou análise
consensual da sua posição anterior, eles giraram 180 graus do dia para a noite,
em um estilo típico de um Zinoviev: desde a sustentação de que a Europa
Oriental e a China eram regimes capitalistas, até a concepção de que a
Iugoslávia – desde o rompimento com Stalin – misteriosamente transformou-se em
um Estado operário saudável.
Na
Grã-Bretanha, fazendo eco com o SI e sem nem mesmo tentar uma compreensão
teórica, a liderança de Healy dá a isso uma aplicação crua. O seu método de
raciocínio vai ao longo destas linhas: (a) a Quarta Internacional previu que o
stalinismo não poderia fazer uma revolução; (b) o stalinismo fez a revolução e,
portanto (c) ele não é mais stalinismo! A segunda linha de argumentação da qual
são culpados ambos Healy e o SI, é de que só pode haver um Stalin! Por quê?
Pode haver mais de um ditador fascista porque eles tem uma base de classe nos
capitalistas, mas Stalin, aparentemente, não teria base de classe alguma.
Idealizando
e encobrindo a liderança de Tito em razão do seu rompimento com Moscou, a
liderança britânica suprimiu todas as críticas fundamentais a essa tendência, e
considera a Iugoslávia sob essa luz como uma ditadura do proletariado “normal”,
ou seja, um Estado operário saudável com tal ou qual probleminha menor e sem
importância real. Tomando como plataforma o fato de que, desde o seu rompimento
com Moscou, a liderança de Tito foi compelida a pegar emprestados muitos dos
argumentos do arsenal do marxismo em sua crítica à oligarquia de Moscou, eles
não veem o conflito como um reflexo da luta nacional contra a opressão e a
exploração exercida pelos burocratas de Moscou, e como um conflito que se
refletiu ao redor da Europa Oriental e mesmo dentro das fronteiras da União Soviética
– a Ucrânia, os Tártaros da Crimeia, a República Alemã do Volga, etc. A única
diferença importante é a possibilidade de uma resistência bem sucedida em razão
do caráter relativamente independente do aparato de Estado na Iugoslávia.
Apesar
de ziguezagues para a esquerda, em parte demagógicos e em parte sinceros, a
base fundamental do regime na Iugoslávia permanece como antes: socialismo em um
só país (e dessa vez a Iugoslávia), manobrando entre o imperialismo mundial e o
bloco russo (graças ao qual a Iugoslávia pode se manter). O regime permanece
totalitário – não existe democracia operária.
A
tentativa de desculpar essas ideias como um mero detalhe secundário do
stalinismo é criminosa e falsa. Algumas críticas corretas ao regime de Moscou
não transformam o regime de Tito, assim como algumas autocríticas corretas
feitas pela Cominform não mudam a natureza do regime nos países onde a
Cominform mantém o poder.
Essa
crise no seio do stalinismo torna o problema de construir a Quarta
Internacional mais complexo do que antes. A criação de novos Estados sob
domínio stalinista – independentes ou semi-independentes de Stalin – adicionou
mais confusão às mentes da classe trabalhadora mundial. A Quarta Internacional,
enquanto tira vantagem da disputa dentro do stalinismo para poder expor a
verdadeira natureza dessa doença bonapartista, não deve fazer concessões ao
neoestalinismo. Enquanto dá total apoio à luta pela autodeterminação por parte
da nação iugoslava contra os brutais ataques do chauvinismo grão-russo, a
Quarta Internacional não deve, por conta disso, apoiar a posição política de
Tito.
Enquanto
representa as aspirações nacionais das massas iugoslavas, a liderança de Tito –
em uma escala menor – usa métodos que cumprem um papel similar aos da casta do
Kremlin. Não deve ser esquecido que o racha não partiu do lado iugoslavo, mas
que foi imposto à burocracia iugoslava pela tentativa implacável e sem
ressalvas de dominação por Moscou. Desde o rompimento não houve mudança
significativa nos princípios e métodos dos iugoslavos... Como poderia ser de
outra forma? Socialismo em um só país permanece o eixo ao redor do qual
circulam as ideias dos iugoslavos. Para eles, a degeneração da burocracia russa
é puramente um fenômeno acidental, o qual eles não explicam de um ponto de
vista marxista, a partir do qual o ser determina a consciência. Nem poderia ser
de outra forma – em uma escala menor, as condições da Iugoslávia são similares
àquelas na União Soviética (país atrasado, proletariado pequeno e minoritário,
ambiente hostil, imperialismo e stalinismo). Causas parecidas produzem
resultados parecidos. Na política interna e externa, a posição dos iugoslavos
não é fundamentalmente diferente da do stalinismo em suas fases iniciais. A
longo prazo ela terá as mesmas consequências.
Ao
invés de tomar vantagem do conflito para demonstrar a verdadeira natureza do
stalinismo e os atributos vitais necessários de um Estado operário saudável,
[eles] se converteram em uma réplica dos “Amigos da União Soviética”. A
organização se tornou uma agência turística produtora de álibis para a
Iugoslávia.
Desde o
nascimento da Socialist Fellowship [Associação
Socialista] de Ellis Smith, até a crise da Coreia, a organização passou por um
período de colaboração e acomodação a vários elementos dentro do Partido
Trabalhista. Estes variaram desde os reformistas de esquerda socialdemocratas,
tais como Ellis Smith e Brockway, até companheiros de viagem stalinistas, como
Tom Braddock e Jack Stanley. Na ausência de uma genuína ala esquerda, a
liderança de Healy ajudou a construir uma sombra. Para poder manter essa
sombra, eles foram forçados a se acomodar a ela. Assim, quando a Socialist
Fellowship formulou sua política depois das eleições gerais, a liderança [de
Healy] cumpriu um papel chave em escrever um programa que era falso e
oportunista.
Ao
mesmo tempo, ilusões se disseminaram sobre os assim chamados líderes operários,
Ellis Smith, Braddock, etc.
Na
primeira crise séria, quando surgiu a disputa da Coreia, o racha inevitável
dessa organização aconteceu, com Ellis Smith e companhia se retirando. Com a
saída dos importantes reformistas de esquerda, o grupo desviou-se mais
abertamente para a direção de acomodar-se à ala dos companheiros de viagem
stalinistas. Eles permanecem no que restou da Socialist Fellowship com uma
posição semi-stalinista.
No
fundo, os trotskistas formam o esqueleto dos membros, da organização e da atividade
da Socialist Fellowship.
Os
trotskistas tem gasto as suas energias propagando uma política oportunista ao
invés de construírem um núcleo revolucionário ao redor de si.
“Socialist Outlook”
Durante
o período de desenvolvimento da Socialist Fellowship, o jornal Socialist Outlook [Perspectiva
Socialista] cumpriu a tarefa que tomou para si: “refletir a confusão da ala
esquerda” (Documento da Conferência de 1949). O papel político do Socialist
Outlook era determinado não pelos seus editoriais anêmicos, mas pelos artigos
principais daqueles parlamentares e demais, cujas políticas eram
transparentemente de tentar adoçar a política amarga da ala direita.
Ao
mesmo tempo, os editoriais eram coloridos pela necessidade de “não ofender” os
companheiros de viagem stalinistas do Comitê Editorial.
O
editorial produziu uma linha de “crítica” que é digna dos notórios “Amigos da
União Soviética”: “Nós estamos longe de sugerir que o governo russo em todos os
momentos e sob todas as condições apoie os movimentos progressivos”. “Há uma
característica distinta de política de poder na tentativa de Moscou de
assegurar a paz na Coreia em troca de um assento extra no Conselho de Segurança
[da ONU]”. Esses seriam exemplos de “críticas trotskistas sérias”! Entre tais
declarações – que tem uma característica muito distinta – está o seguinte: “A
política externa russa é determinada pelo que o governo daquele país considera que está nos interesses da União
Soviética, mas isso, como o caso da Índia provou, nem sempre coincide com o
que é do interesse da classe trabalhadora internacional. Ou mesmo, em longo
prazo, no que é do interesse da própria União Soviética”!
Na base
dessa acomodação política, a tendência de Healy se vangloria na Grã-Bretanha e
internacionalmente de seus sucessos numéricos e organizativos em “construir a
ala esquerda” do Partido Trabalhista. Afirmações que foram largamente sem
fundamentação nos fatos.
Mesmo
com os seus esforços mais energéticos, ela permanece uma organização sem
importância e semifictícia. Se eles não a impulsionassem, ela iria desmoronar
imediatamente.
O
Socialist Outlook é um “fórum” sem nenhuma tendência revolucionária refletida
nele. Nem a crítica revolucionária é permitida no jornal. Por exemplo, o ataque
de S.L. [Sam Levy] ao editorial de abril e o ataque de M.L. [Marion Lunt] à
posição da Iugoslávia não foram publicados, enquanto grandes quantidades de
material completamente reformista e stalinista foram publicadas. A esse
respeito ele se compara negativamente mesmo com o [jornal] centrista Socialist Leader. O ponto importante a
manter em mente é que as forças dominantes no Socialist Outlook são de
trotskistas.
Sendo o
Socialist Outlook em realidade o jornal do grupo, ele deveria ser o organizador
do grupo, mas ao invés disso, se tornou uma fonte para influência stalinista no
Partido Trabalhista.
Toda a
linha do jornal e a política desse agrupamento tiveram sua expressão mais
crassa no notório suplemento sobre a Coreia. Não houve qualquer crítica ao
papel da burocracia stalinista. Houve um acobertamento do papel dos iugoslavos
na ONU. Enquanto apoiava corretamente a luta [da Coreia] do Norte, não havia
uma sílaba sobre o estabelecimento stalinista.
Na Liga
da Juventude [ala jovem do Partido Trabalhista], onde há as condições mais
favoráveis para o trabalho, nós não vemos nenhuma proposição trotskista de
disseminar nossas ideias e ganhar para elas apoio, mas o conceito de controle
organizativo da Liga. Em sua luta na Liga da Juventude, enquanto corretamente
luta por demandas democráticas e organizativas, isso é feito a custa da posição
política. Toda a relação com o Partido Trabalhista é stalinista, de controlar
aparatos, a Socialist Fellowship, o Socialist Outlook, toda a Liga da Juventude,
a custo das ideias políticas e do programa. Entretanto, ele não tem nem mesmo a
vantagem de que, lado a lado com apêndices organizativos, os stalinistas
simultaneamente organizam um poderoso partido e uma imprensa própria de forma
independente.
A
política liquidacionista torna-se a mistura de bandeiras, política e programa.
Falta de democracia interna
Sem um
senso de proporção e ampliando perigos, a conferência [da organização] foi
realizada sob as condições mais desvantajosas. Com exceção de alguns
favorecidos, apenas delegados tiveram o direito de comparecer. Membros
individuais, sob o argumento de motivo de segurança, tiveram negado seu direito
de comparecer ou mesmo de saber onde se realizaria a conferência.
O
documento dos partidários do Capitalismo de Estado teve sua publicação recusada
depois de o Secretariado Geral ter aceitado tal pedido, sob a justificativa de
que o seu autor havia sido expulso (ex-poste
facto). Isso constituiu uma provocação que, é claro, ajudou os defensores
do Capitalismo de Estado. Eles foram uma tendência representada na conferência
e deveriam ter tido o direito de publicar um documento que expressasse suas
ideias, mesmo que o autor estivesse fora da organização.
O
documento da filial de Liverpool não foi publicado sob a justificativa de que
ele foi apresentado tarde demais, embora algumas das suas ideias tenham sido
incorporadas no documento de última hora, sem divulgação.
O
principal documento “com emendas” era, na verdade, um documento inteiramente
novo. Ao adicionar novas ideias em um amálgama com o velho, só poderia resultar
em desorientação e confusão dos membros. A liderança apresentou um documento
inteiramente novo enquanto ao mesmo tempo afirmava que só tinha feito emendas
no antigo. Isso é um truque típico de um Zinoviev.
Na
conferência, a discussão política e os votos aconteceram sob uma atmosfera de
ameaças disciplinares. Na resolução sobre reformismo os delegados foram
informados de que qualquer um que votasse contra a sua implementação seria
expulso, apesar do fato de que alguns delegados discordavam do documento. Em
todas as organizações bolcheviques, os membros tem o direito de votar contra
documentos, embora a decisão da maioria determine automaticamente a política. A
resolução sobre a implementação foi proposta para forçar a minoria a votar por
uma resolução à qual eles se opunham, sob a ameaça de expulsão. Essa atitude
ultimatista tem mais em comum com o monolitismo stalinista do que com o
bolchevismo.
Eles
não aproveitaram a oportunidade para permitir a ventilação das ideias dos
partidários do Capitalismo de Estado, tendo uma ampla discussão na conferência,
apesar do fato de que um número crescente de membros estava se tornando simpáticos
à teoria do Capitalismo de Estado em reação à linha semi-stalinista da direção.
Arbitrariamente
e burocraticamente, a direção dissolveu e misturou as filiais, sem levar em
conta as necessidades do partido, mas apenas as necessidades da panelinha. Por
exemplo, o Secretário Geral foi para a filial de Kilburn e decretou que a
filial estava dissolvida para poder “separá-la de influências ‘malignas’”. Isso
não foi ratificado pelo Comitê Executivo (E.C.) até uma semana depois.
Em
Liverpool, houve uma tentativa deliberada de rachar a filial em dois, por
propósitos de dividir a “família Deane” do resto dos camaradas de Liverpool.
Filiais
foram deliberadamente isoladas umas das outras como forma de facilitar o
controle desde o centro. Não houve reconhecimento do que estava sendo feito na
organização como um todo, a correspondência entre as filiais foi restringida e
as declarações que vieram através do C.E. tinham o propósito específico de aprovar
as ações do C.E. Filiais e indivíduos que discordavam eram ameaçados de
expulsão ou atacados violentamente como camaradas antipartido.
Como
consequência desse regime, o descontentamento político foi obrigado a
refletir-se tanto na infração da disciplina como na saída de membros.
A única
resposta à infração de disciplina foi a expulsão imediata (Percy Downey em
Birmingham). A decisão de expulsar foi levada às filiais para ratificação.
Aqueles que votaram contra a decisão do C.E., sob o argumento de que toda uma
discussão era necessária e que essas violações eram um resultado da falta de
discussão política e da falta de democracia dentro da organização, foram também
imediatamente expulsos (Birmingham, West London). Assim, eles insistiram no
princípio monolítico da unanimidade.
Camaradas
que lideravam a oposição, como J.D. [Jimmy Deane] e S.L. [Sam Levy] e que eram
membros do Comitê Nacional foram expulsos sob pretextos sem solidez ou por
infrações técnicas de disciplina.
Ao
restringir os direitos dos membros, ao usar argumentos técnicos, pela atitude
ditatorial da direção e pela intimidação geral dos membros, o grupo encolheu.
Devido ao número de membros que saíram ou às expulsões, ele se reduziu a um
matadouro. Nas províncias, ele se tornou um mero esqueleto. Em Londres, os
membros estão perdendo a confiança em tal liderança. Essas foram grandes
perdas.
Apenas
os camaradas mais jovens e inexperientes e os elementos rígidos da direção
permanecem. O fato de que um número crescente de membros está deixando o grupo,
somado ao fato da expulsão de camaradas de liderança, um deles membro do Comitê
Nacional e o único representante da oposição nesse importante órgão, mostra que
é ao mesmo tempo impossível e deixa de ter algum sentido lutar por uma
liderança alternativa em tal caricatura de uma organização bolchevique.
Um apelo
Camaradas,
essas questões que nós levantamos não são leves. Elas são questões
fundamentais, que afetam o destino do trotskismo, nacionalmente e
internacionalmente. Nós não chegamos facilmente à decisão de romper com essa
tendência que se desintegra ideológica e organizativamente. Se a preciosa
herança das ideias deixadas por Leon Trotsky deve ser preservada, expandida e
desenvolvida, é necessário romper com aqueles que seguem os passos do
stalinismo. Hoje, grupos da Quarta Internacional, devido a vários fatores
históricos, são pequenos e fracos. É ainda mais necessário, então, que os
princípios fundamentais do trotskismo devam ser mantidos intactos. Hoje, a
principal tarefa é uma de preparação ideológica para o desenvolvimento de uma
organização de massa em uma etapa futura. Com um programa de neoestalinismo,
apenas desastre pode ser preparado. Apenas o treinamento de quadros
revolucionários desenvolvidos pode preparar o caminho para o futuro.
Com a
situação mundial e as condições existentes como estão, é impossível prever um
desenvolvimento de um movimento trotskista de massas na Grã-Bretanha muito
rapidamente. Isso vai exigir anos de trabalho paciente.
Nessa
etapa, a principal atividade do grupo terá de ser dentro do movimento
trabalhista e nas organizações de massa da classe trabalhadora, como um grupo
entrista. Uma ala esquerda irá sem dúvida se desenvolver no Partido Trabalhista
nos próximos anos. Mas o esforço tolo de criar uma ala esquerda saída do nada e
declarar que a ala esquerda já existe só demonstrou a impotências dos
seguidores de Healy, a não ser na própria imaginação deles. Para poder preparar
a ala esquerda é necessário agora fazer críticas sérias e equilibradas de todas
as tendências no Partido Trabalhista, a serem veiculadas na imprensa e dentro
do Partido Trabalhista. Ao mesmo tempo, uma exposição implacável do stalinismo,
assim como do imperialismo, devem ser levadas adiante consistentemente, para
impedir a possibilidade de que seções do Partido Trabalhista em desespero sejam
ganhas para o stalinismo.
Para a
condução do trabalho, democracia escrupulosa e total liberdade de discussão
dentro da organização devem ser mantidas. Sem isso não será possível para um
agrupamento revolucionário ser criado e sobreviver no difícil período que
existe pela frente.
Por
todas essas razões nós fazemos um apelo para todos os camaradas sinceros no
movimento para juntarem-se a nós nessa tarefa. Somente dessa forma pode ser
criado um movimento com vida e de luta. Trabalho cotidiano paciente dentro do
Partido Trabalhista vai atingir resultados se for conduzido em uma base
correta. Os anos que estão pela frente podem ser muito frutíferos. As tarefas
são difíceis, mas as oportunidades para uma perspectiva de longo prazo são sem
limites. Em frente pela construção da tendência revolucionária na Grã-Bretanha!