As capitulações do PCO ao governismo
Rodolfo
Kaleb, julho de 2014
O Partido da Causa Operária (PCO)
busca para si uma identidade de defensor de uma política revolucionária. Embora
algumas vezes esse grupo faça críticas corretas a tendências oportunistas, essa
autoimagem não passa de uma farsa, conforme demonstramos em uma polêmica
escrita no ano passado, na qual expusemos sua capitulação de longa data às candidaturas
eleitorais do PT, assim como seu paralelo nas formulações do Partido Obrero
argentino, com o qual o PCO manteve relações por muitos anos. [1]
Tanto no Brasil, em relação às candidaturas formadas pelo PT a partir do fim da década de 1980, quanto internacionalmente (como, por exemplo, em relação à campanha de Evo Morales na Bolívia em 2005), o PCO possui um histórico nada “ortodoxo” de apoio velado a candidaturas burguesas. Dessa forma, ele se distancia drasticamente da posição revolucionária diante de um dos elementos essenciais do marxismo revolucionário de nossa época (e que Trotsky considerou a “questão das questões”), que é a necessidade de uma oposição intransigente ao papel da colaboração de classes em desarmar politicamente o proletariado para um enfrentamento com a classe dominante.
Tanto no Brasil, em relação às candidaturas formadas pelo PT a partir do fim da década de 1980, quanto internacionalmente (como, por exemplo, em relação à campanha de Evo Morales na Bolívia em 2005), o PCO possui um histórico nada “ortodoxo” de apoio velado a candidaturas burguesas. Dessa forma, ele se distancia drasticamente da posição revolucionária diante de um dos elementos essenciais do marxismo revolucionário de nossa época (e que Trotsky considerou a “questão das questões”), que é a necessidade de uma oposição intransigente ao papel da colaboração de classes em desarmar politicamente o proletariado para um enfrentamento com a classe dominante.
Recentemente, o PCO tem cometido capitulações
e feito caracterizações oportunistas (e nada sutis) sobre o PT e o papel desse
partido na luta de classes, do gênero:
“Aqueles que atacam o governo fazendo coro com a
direita está [sic] apenas contribuindo com a própria direita, semeando a
confusão e desorientando as fileiras proletárias. A colaboração com a direita,
nosso inimigo de classe, é o pior erro que um partido de esquerda pode cometer.
É preciso compreender que o PT não é o inimigo, mas um obstáculo a ser
superado pela classe operária na luta contra seus verdadeiros inimigos,
os grandes capitalistas, os banqueiros e o imperialismo.”
―
O inimigo é a direita, o problema é o PT, 27 de agosto de 2013. Ênfase
nossa. Disponível em:
O PCO está correto em denunciar aqueles
que não diferenciam as denúncias pela esquerda dos discursos reacionários
contra o PT (do tipo “contra a corrupção”) e aplaudem as investidas direitistas
contra o governo como se representassem alguma vantagem para os trabalhadores.
Mas ao mesmo tempo, comete uma
gritante capitulação ao dizer que o PT “não é o inimigo” e que apenas atrapalha
a luta contra a oposição de direita – que seria (esta sim) “nosso inimigo de
classe”. Isso cumpriria um nefasto papel de desorientar e confundir as fileiras
proletárias se o PCO tivesse alguma influência relevante no cenário atual.
Se o inimigo do proletariado é a
classe burguesa, “os grandes capitalistas, os banqueiros e o imperialismo”,
então o governo do PT certamente é também um inimigo, pois congrega
todos estes em seu seio, atuando como o escolhido da vez para melhor gerir e
viabilizar seus interesses. Outro artigo do PCO afirma que o PT é de “esquerda”
e “nacionalista”:
“Alguns
chegam a contestar o caráter de esquerda do próprio PT, se ele não estaria
completamente integrado ao sistema e seria já um partido da grande burguesia e
do imperialismo. Que isso não é assim pode ser visto no fato de que o PT não
apenas participa do bloco de países nacionalistas latino-americanos, como
lidera o mesmo, a exemplo do Foro de São Paulo.”
―
Editorial O PT e a direita, 24 de julho de 2013. Disponível em:
É verdade que o governo do PT e a
oposição de direita são duas forças burguesas diferentes, que possuem conflitos
entre si e não devem ser confundidas. Mas isso não quer dizer que ambos não
incluam o que há de mais podre da burguesia e sejam absolutamente submissos aos
imperialismos. O PCO pinta o PT com matizes que não tem nenhuma correspondência
com a realidade – e ainda aproveita para estender tais cores aos pares
latino-americanos.
O suposto caráter “nacionalista”
do PT e a ideia de que ele “não estaria completamente integrado ao sistema”
nada tem a ver com o governo que reúne Collor e José Sarney – um governo liderado por um partido que está há
mais de uma década no poder como ponta de lança das investidas contra a classe
trabalhadora, mantendo o país submisso ao capital internacional.
Em relação ao governo do PT,
sequer pode ser invocado o “nacionalismo” dotado de certo teor de contradições
com o imperialismo, ainda que extremamente parciais, pois esse é um dos
governos mais entreguistas que o país já teve. O PT não só não expropriou
nenhuma empresa internacional, como alguns caudilhos latino-americanos fizeram
no passado para criar uma imagem de “anti-imperialistas”, como, ao contrário,
tem entregado de bandeja ao imperialismo as valiosas reservas naturais do país
(como o pré-sal), rivalizando de perto com seus predecessores tucanos! [2]
É óbvio para qualquer militante
sério que tanto a oposição de direita quanto o governo do PT são inimigos.
Ambos reprimem o movimento dos trabalhadores, realizam ataques sociais contra a
população e mantém o país submisso ao imperialismo, como o PCO sabe muito bem.
Táticas diferentes podem e devem ser utilizadas no combate a essas duas forças,
devido ao fato de que o governo, por exemplo, possui um controle burocrático
sobre muitas organizações sindicais e populares. Ou seja, as formas de
desmascará-los podem ser até diferentes, mas ambos buscam realizar exatamente
os mesmos ataques contra a classe trabalhadora e devem ser considerados
inimigos mortais do proletariado.
Nem por um minuto devemos perder
de vista que o PT não é apenas um “obstáculo” burocrático, mas sim núcleo
de um governo burguês, que tem feito os maiores ataques contra os
movimentos sociais e a esquerda na última década. Ao dizer que o PT “não é o
inimigo” e que retém um caráter “de esquerda” e que não está “completamente
integrado ao sistema”, o PCO está minimizando o papel daquele como principal
agente da burguesia brasileira (e indiretamente do imperialismo) nos últimos 12
anos.
O
PCO e o alarmismo sobre um golpe da direita
As caracterizações embelezadas do PCO sobre o governo
petista têm sido acompanhadas de uma análise nada sóbria do atual momento
político nacional, e revelam toda uma histeria impressionista (e oportunista)
dos líderes do grupo. Em meio às jornadas de lutas de 2013, vários grupos
expressaram uma posição assustada de que havia um risco de golpe armado pela
direita burguesa e outros setores reacionários. Na análise que publicamos na época
acerca do ascenso de junho, nós
já explicamos nossa posição sobre essa questão [3].
Era central naquele momento não ceder ao alarmismo e sim
intervir com uma política classista em oposição tanto aos elementos da direita
que se infiltraram nos protestos como também aos governistas. Entretanto, na
contramão do bom senso, o PCO foi a
corrente que mais insistiu na perspectiva de que a situação apontava para um
golpe. Segundo tal partido:
“A ação de grupos de extrema-direita contra partidos
de esquerda nas manifestações após a repressão do dia 13 de junho, a investida
da direita contra o governo do PT e as tentativas de golpes ou golpes efetivos
na América Latina e agora no Egito levantaram a discussão sobre a possibilidade
de um golpe de Estado no Brasil. O PCO afirmou claramente que a situação aponta
nesse sentido, enquanto as organizações da esquerda pequeno-burguesa insistem
em que não há essa possibilidade.”
― Sobre o golpe de estado no Brasil, 28 de
julho de 2013. Disponível em:
Os revolucionários não aceitam o conto da carochinha
de que vivemos em uma época inteiramente distinta do recente passado
ditatorial, como apregoam os diferentes setores que apoiaram a transição
controlada ao regime democrático-burguês – desde aqueles que contribuíram
ativamente com a ditadura durante o período anterior à “distensão”, quanto os
dirigentes do PT, que de combatentes contra a ditadura passaram hoje a gestores
do Estado burguês brasileiro.
Muitos dos aparatos de repressão da ditadura continuam
operando sob outra fachada. Os torturadores e generais ficaram impunes e seus
herdeiros seguem em postos de comando. A ditadura de classe da burguesia se
manteve sob uma forma “democrática”, fortalecida com os enormes ganhos de
certas frações burguesas beneficiadas pelo golpe. Os ataques aos mais básicos
direitos são constantes nas favelas e a repressão ilegal contra os direitos
democráticos de manifestação, recorrentes. Além disso, desde uma perspectiva
histórica, nada garante que as classes dominantes rejeitarão um novo golpe caso
encarem necessário – afinal, já o fizeram mais de uma vez no século passado.
Mas a definição da ação política dos revolucionários
deve se basear em análises concretas, não em meras suposições ou cenários
hipotéticos, desligados de cuidadosa observação e intervenção que os sustentem.
Uma tentativa de golpe contra o governo do PT só ocorreria caso esse governo
não fosse mais capaz de manter domesticada a enorme força do proletariado
brasileiro e uma situação de radicalidade da classe trabalhadora se
avizinhasse, gerando grande instabilidade política e econômica para a
burguesia. Nesse caso, alas estratégicas da burguesia romperiam com o governo
do PT e importantes dirigentes das forças armadas se colocariam abertamente em
uma postura de desafio ou insubordinação a este.
Não há dúvidas de que há elementos da burguesia que
desejam uma ditadura, mas esse é um tipo de regime extremamente custoso (em
muitos aspectos) para o conjunto dos capitalistas, ao qual eles só recorrem
quando a democracia burguesa não é lhes parece ser mais capaz de assegurar a
ordem. O que determina se ocorrerão tentativas de estabelecer um regime
ditatorial é quão sentida é essa necessidade pela burguesia e quão apoio ela
possui das classes médias.
Tanto movimentações em direção a uma saída golpista
quanto uma postura significativamente insubordinada por parte de cúpulas
militares estiveram ausentes no último período. Os setores
reacionários que apregoam abertamente a necessidade de uma “intervenção
militar” permanecem pateticamente isolados. Efetivamente, o governo do PT
segue tendo apoio da maior parte da classe dominante e também das potências
imperialistas. Por exemplo, no encontro realizado por Dilma com
prefeitos das capitais e governadores em 24 de junho, no auge das manifestações
de 2013, a presidente recebeu apoio de todos os presentes, inclusive os
representantes da oposição de direita [4].
Esse foi um importante “voto de confiança” da maior
parte da burguesia no governo do PT. Ao mesmo tempo, não houve até o momento
nenhuma manifestação por parte de chefes das Forças Armadas de insatisfação ou
rompimento com o governo. Um golpe não surge da vontade subjetiva de alguns
reacionários: é um processo de polarização de forças de classe com interesses
claros. Até o momento, esse movimento simplesmente não existiu. O grosso da
classe dominante segue confiando ao governo do PT a tarefa de manter a ordem
capitalista.
Levantar frequentemente o risco de um golpe quando
isso não corresponde a uma realidade concreta desorienta a classe trabalhadora
e desvia sua atenção das questões que estão de fato colocadas na ordem do dia.
Um golpe de Estado não deve ser compreendido como algum tipo de processo sempre
prestes a acontecer, mas sim como uma conjuntura na qual a classe trabalhadora
deve adotar táticas de preparação para ações de resistência diante do primeiro
sinal de ação dos golpistas. [5]
Agitar cotidianamente esse
fantasma sem que haja justificação é, no mínimo, mostrar despreocupação sobre
as tarefas imediatas do proletariado. Embora tenha crescido em função da onda
de protestos de 2013, a ladainha dos líderes do PCO data de antes. Desde fins
de 2012, o grupo já avaliava que o julgamento do mensalão era o prelúdio de um
golpe contra o PT.
“Ao conjugar o julgamento do ‘mensalão’, as denúncias
de corrupção que procuram insistentemente envolver Lula e a própria presidenta
Dilma Rousseff em um novo julgamento político, e a movimentação no Supremo para
forçar a mão e tomar para si o poder de decidir sobre o Legislativo eleito pelo
voto popular, somos levados à pergunta: o quê, na atual situação, nos
separa de um golpe de Estado?”
―
A ditadura do judiciário e a posição dos trabalhadores, 15 de dezembro
de 2012. Ênfase nossa. Disponível em:
Não pode haver dúvida sobre a
intenção da oposição de direita no julgamento do mensalão de enfraquecer a
gestão do PT e preparar terreno para seu retorno ao governo, aproveitando-se de
um escândalo de corrupção muito semelhante ao que ela própria sempre realizou
por trás dos panos. Mas seu interesse naquele momento era principalmente eleitoral,
não golpista. Queria ganhar vantagem sobre seu principal concorrente eleitoral e
por esse motivo armou todo o teatro. Confundir essa disputa sórdida com uma investida golpista exige um tanto de miopia política.
De novembro de 2012 para cá, não
houve nenhum movimento significativo de polarização de setores da burguesia em
prol da derrubada armada do governo petista. A forma com a qual os líderes do
PCO falam sobre golpe de Estado lembra um pouco a história infantil Pedrinho
e o Lobo. O partido levanta tão indefinidamente esse risco que já perdeu a
noção sobre o significado de tal afirmação. Essa sempre foi uma mania difundida
pelos petistas ou advogados do petismo (dos quais cada vez mais o PCO se
aproxima): de que um golpe estaria sempre na ordem do dia, porque o PT
jamais seria aceito pela classe dominante.
O
PCO e os movimentos contra as injustiças da Copa
Recentemente, a capitulação do
PCO ao governismo tem ganhado outras cores. Enquanto nas favelas do Rio de
Janeiro moradores revoltados com a brutal repressão cotidiana dos aliados
locais de Dilma e do PT se revoltavam aos gritos de “Não vai ter Copa”, o PCO
se perguntava “o que os trabalhadores têm a ganhar” com uma campanha contra os
ataques deste governo às vésperas do início do evento. O PCO se colocou contra
protestos realizados nas maiores capitais do Brasil contra as agressões dos
governos envolvendo a preparação da Copa do Mundo de futebol porque,
supostamente, eles estariam auxiliando uma “campanha golpista da direita”:
“O movimento operário e estudantil deve lutar por
objetivos reais e não passar um semestre inteiro, até o início da Copa, atrás
desta campanha vazia que não contém reivindicação nenhuma, além de ataques
direitistas ao governo do PT. Enquanto o PCO denuncia essa campanha como
golpista,
a esquerda pequeno-burguesa diz que se trata de uma ‘teoria da conspiração’...”.
―
Campanha contra a Copa: o que os trabalhadores têm a ganhar?, 4 de
fevereiro de 2014. Ênfase nossa. Disponível em:
Para aqueles interessados em
enxergar a realidade sem o intermédio das lentes do oportunismo, é um tanto
quanto óbvio que, ao levantar esse grito, muitos trabalhadores e jovens estavam
desabafando sua indignação com sua situação material – que lhes impossibilita
acesso a moradia, saúde, transporte e educação de qualidade, ao passo em que o
governo brasileiro estava mais interessado em financiar empresários da
construção civil, do turismo e especuladores.
Os comunistas não tem nenhum
interesse em se colocar contra o esporte futebol, nem tampouco contra os
eventos esportivos. É evidente para qualquer um que as campanhas, denúncias e
palavras de ordem contra “a Copa” são uma expressão da insatisfação dos
trabalhadores e oprimidos sobre a desigualdade social brutalmente revelada
diante das remoções, ataques e repressão para que um punhado de ricos lucrasse
com esse evento. Além de acusar as manifestações de “golpistas”, o PCO tentou
passar a impressão de que os protestos não tinham objetivo político, pois
seriam “contra um evento esportivo”.
Certamente há limitação em tal
“desabafo” e a necessidade dos revolucionários disputarem tal indignação,
visando canalizá-la para um programa revolucionário de enfrentamento ao
capitalismo e seus governos. Mas isso não impedia que os comunistas participassem
de movimentos e protestos que levantassem tais demandas num claro
questionamento aos ataques da FIFA e do PT contra a população. Para o PCO,
entretanto, fazer isso seria cerrar fileiras com a direita golpista,
facilitando sua suposta empreitada em curso. Curiosamente, é o PCO que repete
muitos argumentos do governismo. Um deles é dizer que não seria justo reclamar
das injustiças envolvendo a Copa do Mundo depois
de que muitas das remoções, ataques, precarizações do trabalho já tivessem
sido realizadas:
“Esta esquerda tomou os argumentos dados pela direita,
cínica, de que a Copa do Mundo não deveria ser prioridade de um país atrasado e
com tantos problemas, que o evento custa muito aos cofres públicos e aumentou a
exploração dos trabalhadores envolvidos nas obras e diretamente no evento. Esta
campanha, no entanto, foi levantada depois que a maior parte dos gastos já
havia sido feita e as obras concluídas, de forma a ser uma reivindicação na
prática inócua e que politicamente servia apenas para a campanha
eleitoral, da direita.”
―
Não é só
contra a Copa, é contra o Brasil, 7
de julho de 2014. Disponível em:
Mesmo o título do artigo citado
acima já mostra até que ponto o PCO comprou o discurso governista, tanto no
futebol quanto na política [6]. Isso
é um exemplo de como a linha do PCO funciona como uma delirante (e frágil)
retórica para justificar sua capitulação ao governo do PT. Se os trabalhadores
quiserem travar novas grandes lutas em 2014 e colocar o governo contra a
parede, é bom estarem cientes que não poderão contar com o PCO. Este poderá muito
bem estar do outro lado da barricada afirmando que não se deve enfrentar este
governo dos patrões sob o risco de “fortalecer a direita”. O PCO parece querer
enfrentar os efeitos do capitalismo no Brasil sem colocar em perigo a estabilidade
do PT.
Conclusão
Tanto no seu alarmismo sobre a suposta
iminência de um golpe da direita quanto na sua hostilidade injustificada aos
protestos contra os ataques da burguesia antes e durante a Copa do Mundo, o PCO
revelou que receia um enfrentamento dos oprimidos que ponha em cheque o Partido
dos Trabalhadores, e que pudesse enfraquecê-lo eleitoralmente e possivelmente
causar sua derrota no próximo pleito. Os trabalhadores não tem nada a perder ao
denunciar amplamente a responsabilidade direta do PT nas prisões arbitrárias,
na repressão de greves e protestos às vésperas e durante a Copa, assim como nas
condições de trabalho precárias que levaram à morte de quase uma dezena de
operários na construção dos estádios.
É preciso mencionar que a
histeria do PCO acerca de um hipotético golpe reacionário em muito se assemelha
à clássica posição stalinista frente a governos de colaboração de classes.
Diante de grandes mobilizações de massas contra governos burgueses supostamente
“progressivos” apoiados pelos stalinistas, estes logo sacavam de sua cartola uma
retórica alarmista. Se os trabalhadores fizessem greves e saíssem às ruas,
iriam desestabilizar o governo “progressivo” e abririam espaço para a reação de
direita. Os trabalhadores, portanto, não deveriam buscar um enfrentamento
destemido com o governo de turno, sob o risco de “fortalecer a reação”.
O PCO já anunciou suas
candidaturas para as eleições de 2014, mas o que fará o partido no caso de um
segundo turno, o qual geralmente evoca em muitos o pânico de que o PT seja
derrotado e faz com votem “contra a direita” (ou seja, na coalizão governista)?
Repetirá as ocasiões no passado em que apoiou eleitoralmente as candidaturas
burguesas do PT, ou será constrangido a não fazê-lo para manter as suas
aparências? Não é possível adivinhar o que passará na cabeça dos dirigentes do
PCO, que certamente acreditam que podem tomar posições esdrúxulas sem qualquer
resistência dos membros de seu grupo.
O embelezamento do PT como um
partido “de esquerda”, a afirmação de que “não é o inimigo” da classe
trabalhadora e o pânico de que este seja derrubado a qualquer momento porque
não estaria “integrado ao sistema”, assim como as acusações de que aqueles que
participam num movimento contra os ataques sociais do governo durante a Copa
estão “colaborando com a direita”, tudo isso conduz logicamente ao passo
seguinte dessa capitulação vergonhosa. De uma forma ou de outra, todo o
discurso recente do PCO aponta para a gradual transformação desse grupo em uma
pata de apoio “de extrema esquerda” do petismo. Para aqueles que se dedicam à
tarefa fundamental da construção de um partido revolucionário no Brasil, o PCO
nada tem a oferecer.
NOTAS
[1] Para nossa polêmica com o PCO, conferir
PCO, Altamirismo (Partido Obrero) e as frentes populares, de fevereiro
de 2013. Disponível em:
http://reagrupamento-rr.blogspot.com.br/2013/02/pco-altamirismo-e-as-frentes-populares_21.html
http://reagrupamento-rr.blogspot.com.br/2013/02/pco-altamirismo-e-as-frentes-populares_21.html
[2] É bom ressaltar que mesmo que o
governo do PT fosse “nacionalista”, seria um absurdo usar essa classificação na
forma de elogio velado ou eufemismo, como faz o PCO. Ao longo da história da
luta de classes, partidos nacionalistas tem desviado a classe trabalhadora da
luta para chegar ao poder e sempre defendem os interesses capitalistas, ainda
que sob alguma coloração radical. Uma vez no poder, eles sempre mantem a classe
trabalhadora política e organizativamente paralisada diante de golpes
direitistas motivados pela sua retórica (retórica essa que não é usada pelo PT)
ou pequenas reformas. O objetivo do nacionalismo nos países atrasados não é
derrubar as relações capitalistas, mas sim limitar o poder do imperialismo
(enquanto colabora com este no quadro geral) em favor de setores da burguesia
nacional em tais relações.
[3] Revolta de Massas no Brasil, de 23 de junho
de 2013, disponível em:
[4] Governadores e prefeitos
apoiam proposta de 5 pactos de Dilma, de 24 de junho de 2013. Disponível
em:
[5] Essa análise do PCO é tão
deslocada da realidade que o próprio partido não a leva tão a serio. No último
período, não fez nenhum tipo de agitação sistemática para que os sindicatos e universidades
onde possui inserção preparassem formas de resistência preventivas contra o
suposto golpe. De certa forma, esse é o reconhecimento implícito de que o
próprio grupo não acredita fielmente que se aproxime uma investida golpista.
[6] Quando a versão final deste
artigo já se encontrava pronta, nós fomos brindados pelo chilique oportunista
do dirigente do PCO, Rui Costa Pimenta, diante da derrota da equipe brasileira
de futebol na Copa do Mundo. O fato de que o time brasileiro foi derrotado por
uma grande diferença de gols fez com que o PCO lançasse sobre a “esquerda
pequeno-burguesa” que protestou contra as injustiças da Copa do Mundo (são
citados PSOL, PSTU e “grupos menores do mesmo quilate”) a culpa em ajudar a
direita para conseguir a derrota do Brasil na partida. O PCO não fornece
nenhuma explicação de como isso teria acontecido, mas este e outros artigos
publicados em sequência ao jogo estão cheios de remorso pela derrota:
“O
povo brasileiro que torceu pela seleção brasileira com todo o coração está
sofrendo desta mesma humilhação. Há os
chacais, como a direita, que querem agora tirar proveito desta humilhação e
desmoralização. Há os pequeno-burgueses de esquerda e de direita que vão
festejar a tristeza do povo e a sua humilhação. É o seu ofício, por isso,
merecem o justo desprezo do povo. O ódio é reservado à burguesia.”
― ‘Eles’ conseguiram... e agora?, 8 de
julho de 2014. Disponível em:
Entretanto,
enquanto o PCO estava preocupado com a “humilhação” envolvendo a derrota do
time brasileiro num campeonato de futebol e os possíveis efeitos eleitorais
disso, o PT tem imposto verdadeiras humilhações aos trabalhadores e oprimidos em
todo o último período relacionado à Copa do Mundo. O PCO tratou com desprezo os
protestos que buscaram combater tais ataques sob o suposto risco de “fortalecer
a direita”. Os revolucionários afirmam que humilhação de verdade são as prisões
realizadas pelos aliados de Dilma, as mortes dos trabalhadores negros nas
favelas que os seus “companheiros” Paes e Pezão tem feito quase cotidianamente no
Rio de Janeiro, escondidos sob os holofotes do “espetáculo”, e tudo o mais que
este governo assassino prepara para os trabalhadores (quase sempre em plena
sintonia com seus consortes da direita).