O último prego no caixão
A LBI capitula ao chavismo
nas eleições venezuelanas
Rodolfo
Kaleb
8
de abril de 2013
Aqueles
que acompanham as publicações da Liga Bolchevique Internacionalista (LBI) podem
ter sido surpreendidos pelo recente anúncio de que ela está dando apoio
eleitoral para Nicolas Maduro. Maduro é o sucessor de Hugo Chávez e candidato a
presidente pelo partido nacionalista-burguês PSUV (Partido Socialista Unido da
Venezuela) nas próximas eleições:
“No dia 14 de abril, data
das eleições presidenciais venezuelanas, a vanguarda do proletariado deve
adotar uma política de ‘estimular’ as tendências de radicalização do setor
popular e camponês do nacionalismo burguês, estabelecendo uma unidade tática
eleitoral com o chavismo contra a candidatura de Capriles [da oposição de
direita burguesa] e sua ‘oposição unificada’ dos ‘esquálidos’, arquitetada e
dirigida desde a Casa Branca, unidade tática que deverá ser materializada no
apoio crítico à candidatura de Maduro, sem capitular politicamente ao ‘chavismo’
e seu programa.”
― Editorial do Jornal Luta Operária # 253, 19 de março de
2013. Disponível em:
Em outros trechos do artigo a LBI fala de uma “frente única
eleitoral” com os chavistas. Trata-se de uma tentativa de enganar os incautos.
Frente única é o nome que os revolucionários dão à unidade de ação entre duas
ou mais forças políticas para lutar por um objetivo pontual comum que seja
vantajoso para a classe trabalhadora, tal qual uma campanha de greve, um
protesto de massas por uma questão específica, ou uma luta contra determinada
medida reacionária do Estado burguês, por exemplo. É claro que mesmo em frente
única os revolucionários não deixam de se diferenciar das organizações
oportunistas de todo tipo e das outras forças políticas envolvidas.
Mas qual seria o nobre propósito da “frente única eleitoral” da
LBI com o chavismo? A eleição do sucessor de Chávez daria garantia de alguma
conquista significativa para a classe trabalhadora? Enfraqueceria decisivamente
os reacionários de direita que os chavistas toleram? Golpearia seriamente a
exploração estrangeira que os chavistas (apesar de seus conflitos ocasionais
com os imperialistas) permitem que aconteça? Não.
Mais importante: a “tática eleitoral” da direção da LBI não
traria a classe trabalhadora para mais perto da independência política de
classe, que é o pré-requisito básico para uma luta pelo poder, mas muito pelo
contrário. A experiência do proletariado chileno com Allende indica que esse
tipo de “tática” não é muito útil para defender o proletariado contra as
investidas de uma direita golpista.
O único resultado certo de tal “frente única eleitoral” (caso a
LBI tivesse peso real para influenciar um setor da população venezuelana) seria
fortalecer o aparato chavista à frente do Estado burguês e a classe que ele
protege. A direção da LBI diz que vota em Nicolas Maduro “sem capitular
politicamente ao chavismo e seu programa”. Mas ao votar no candidato do
chavismo, está dizendo para a classe trabalhadora que ela faz bem em depositar
seu voto em uma plataforma burguesa que mantém o país dependente do
imperialismo e ameaçado por um golpe da direita. E certamente uma plataforma
que garante a manutenção da sua exploração. A LBI continua:
“Os marxistas devem se apoiar na
tendência de giro à esquerda do movimento operário, utilizando os próprios
instrumentos concretos construídos pela luta de classes, ainda que não sejam
absolutamente ‘puros’, do ponto de vista de uma estratégia classista. A nova
conjuntura iniciada com a brutal ofensiva imperialista de ‘ajuste’ contra suas
semicolônias e o covarde assassinato do maior símbolo contemporâneo da
resistência nacionalista a esta ofensiva imperial, obriga os marxistas a
estabelecer cada vez mais a tática da frente única, que neste caso venezuelano
aplica-se no terreno eleitoral.”
― Idem.
A
LBI insinua que votar no candidato chavista serviria para proteger a Venezuela
contra um fortalecimento da direita golpista, que com a ajuda do imperialismo
realizou uma investida em 2002. É claro que no caso de uma tentativa de golpe
“preventivo” contrarrevolucionário da direita apoiada pelo imperialismo, os
revolucionários tomariam o lado militar contrário no confronto, usando métodos
de luta da classe trabalhadora, que iriam desenvolver a consciência e a
auto-organização das massas. Mas isso não é o mesmo que apoiar eleitoralmente o
governo que está, ele próprio, preparando o terreno para a direita. Esta última
ação só cria ilusões na classe trabalhadora e secundariza a sua ação direta
diante da expectativa eleitoral no chavismo. A oposição intransigente dos
revolucionários à candidatura e ao governo burguês do PSUV é um elemento
essencial para preparar a classe trabalhadora venezuelana contra a direita. O
que desarma os trabalhadores venezuelanos não é a falta de votos dos chavistas,
mas precisamente as ilusões dos proletários de que os “líderes bolivarianos”
vão defendê-los, enquanto na verdade estes deixam o terreno livre para o
imperialismo e a reação. Há menos de um ano atrás, a própria LBI afirmou isso.
“É necessário preparar o terreno para a
construção de um genuíno partido revolucionário capaz de enfrentar a onda de
reação ‘democrática’ ou mesmo a direita fascista no caso de um novo golpe
‘cívico-militar’, fazendo um combate programático completamente oposto à
cantilena pregada por toda sorte de revisionistas de que está em curso uma
‘revolução’ na Venezuela, cabendo agora mais do que nunca segundo estes
senhores, com a doença do ‘comandante’, cerrar fileiras em apoio eleitoral ao
governo burguês centro-esquerdista de Chávez. Como marxistas revolucionários,
alertamos que este é o caminho da derrota sangrenta nas mãos da direita
reacionária. Longe dessa senda suicida, cabe aos trabalhadores defenderem pela
via da ação direta suas conquistas e forjar um programa comunista proletário
para a conquista do poder político sobre os escombros do Estado capitalista.”
― Os que
defenderam a frente única com Kadaffi para derrotar os ‘rebeldes’ da OTAN na
Líbia devem ‘votar em Chávez contra o imperialismo’ na Venezuela?, 9 de agosto de 2012. Disponível em:
Como será que votar no candidato chavista, o que a LBI há menos de
um ano considerou ser o “caminho da derrota sangrenta nas mãos da direita
reacionária”, se transformou repentinamente em uma forma de evitar o
crescimento da reação burguesa ou de elevar a consciência de classe dos
trabalhadores venezuelanos?
Existe
ainda outro giro dramático por trás dessa nova posição da LBI. Ela ganhou
notoriedade por defender fórmulas absolutamente delirantes de “boicote”
generalizado às eleições burguesas em momentos nos quais não havia a menor
conjuntura para aplicação dessa tática (como nas eleições brasileiras do ano
passado). Ela também defendeu por bastante tempo que as eleições não passam de
um grande teatro, onde a burguesia encena uma possibilidade de escolha, mas na
verdade manipula os resultados nos bastidores, fraudando a eleição do começo ao
fim:
“A burguesia nacional é apenas a
‘operadora’ de um processo eleitoral fraudulento desde a origem (mídia,
pesquisas, debates, etc.) até a contabilização do último sufrágio.”
― A
farsa eleitoral entre o judice da máfia dos tribunais e a fraude da urna
eletrônica, agosto de 2010.
Disponível em:
“Esta
esquerda comprometida com as ‘reformas possíveis’ está muito longe de
estabelecer a denúncia da democracia dos ricos e dos próprios mecanismos
eletrônicos fraudulentos do atual processo institucional, que determina que os
‘vencedores’ sejam ‘eleitos’ por um seleto grupo de empreiteiras.”
― Começa o circo eleitoral da ‘democracia’
dos ricos, julho de 2012.
Disponível em:
E
não apenas no Brasil:
“O milionário mórmon Mitt Romney disputa
pela segunda vez a indicação republicana à Casa Branca. Desta vez ganha em ‘casa’
e perde ‘lá fora’, faz parte do script previamente acordado entre os diversos
trustes e os rentistas de Wall Street.”
― Burguesia ianque já ‘elegeu’ Mitt Romney
para ser derrotado por Obama, ex-‘banana’!, janeiro de 2012. Disponível em:
Compartilhamos
a visão de que as eleições são um “jogo de cartas marcadas” apenas no sentido
de que não decidem nenhuma questão central para a luta de classes, não mudam
qual classe detém o poder político, e dessa forma iludem a população de que
esta teria algum “poder de escolha”.
Porém,
a não ser em ocasiões específicas [1],
não acreditamos que as eleições sejam completas fraudes (incluindo uma total
manipulação na contagem dos votos) realizadas
pela burguesia, de forma que fosse decidido de antemão qual dos seus candidatos
ganha e qual perde. Se fosse assim, porque tantos empresários fariam
investimentos de campanha não apenas em um, mas em vários candidatos que
concorrem ao mesmo cargo? Segundo a teoria da conspiração que a LBI usa como
substituto para uma análise marxista da realidade, tanto desperdício de dinheiro
em doações de campanha seria apenas para dar “veracidade” a toda essa fraude
eleitoral. [2]
Mas
parece que todo o esquema mirabolante da direção da LBI não seria verdade na
Venezuela, onde as eleições cumpririam o papel de ser um “instrumento concreto
construído pela luta de classes”, supostamente capaz de ajudar o proletariado
contra a direita golpista. Como as eleições podem ser uma completa fraude no
Brasil e nos Estados Unidos, mas na Venezuela um instrumento útil para a classe
trabalhadora se defender contra a reação burguesa?
A
partir de tamanha incongruência ficamos com a forte impressão de que a afirmação
da LBI de que as eleições burguesas não passam de fraudes, parte da noção (ou
talvez os tenha levado à conclusão, não podemos ter certeza de qual veio antes)
de que, sob o capitalismo, eleições não-fraudulentas apresentam um risco muito
maior às classes dominantes do que poderíamos pensar. Daí sua atual posição
acerca das eleições venezuelanas, que eles arbitrariamente decidiram que não é
uma fraude.
Como
Lenin constantemente afirmava, as eleições burguesas em particular e a
democracia burguesa em geral são ótimas formas de esconder a verdadeira
natureza das relações de classe e, na maior parte dos casos, são a maneira mais
eficiente de dominação da burguesia. Por detrás (ou talvez enquanto fruto) das
constantes teorias da conspiração da LBI sobre todas as eleições serem
fraudadas de antemão, parece residir certo grau de ilusão socialdemocrata
acerca da natureza e das possibilidades de eleições não-fraudadas.
A direção da LBI também tentou “justificar” a sua capitulação ao
chavismo tagarelando sobre inúmeras posições ao longo da história do movimento
trotskista (desde o entrismo realizado na socialdemocracia, até a defesa de
nacionalizações realizadas pelo governo Cárdenas nos anos 1930). A única coisa
que tais posições tem em comum é que nenhuma delas tem a ver com a atual
capitulação da LBI. Não se trata aqui de adentrar como tendência aberta em um
partido operário-reformista com influência de massas para disputar suas bases
para um programa revolucionário, nem de defender nacionalizações que limitam
(ainda que muito parcialmente) a penetração do capital imperialista em uma
nação oprimida. Nós também defendemos as nacionalizações de Chávez contra o
imperialismo, mas não damos nenhum apoio eleitoral ao projeto do PSUV, que é
manter uma Venezuela capitalista e dependente.
Em várias ocasiões anteriores, a LBI não poupou acusações (muitas
vezes merecidas) a organizações que votaram em coalizões burguesas enquanto
faziam um discurso de esquerda. É bastante irônico que ela esteja agora saindo
abertamente em defesa de votar no herdeiro político do regime que mais gera
ilusões na esquerda latino-americana. Também no ano passado, a LBI apontou que:
“Para os revisionistas mais esquecidos,
lembremos que o governo Chávez tem sido abertamente conivente com o assassinato
de sindicalistas, principalmente aqueles que fazem oposição a seu governo, como
foi o caso de três dirigentes operários da central venezuelana União Nacional
dos Trabalhadores (UNT) que tiveram suas vidas ceifadas em 2008, ou os
companheiros da Mitsubishi em 2009. A guarda nacional chavista reprime as
greves e age em apoio aos grupos armados contratados pelos patrões para atacar
os trabalhadores, principalmente nas greves que paralisam a produção de
empresas transnacionais como Pepsi-Cola, Mitsubishi Motors Corporation... Se o
critério ‘teórico’ para definir o caráter do regime político como
proimperialista for os contratos com as transnacionais do petróleo, então o governo
Chávez seria por esta tese um dos mais fiéis aliados de Obama no continente!”
― Os que
defenderam a frente única com Kadaffi para derrotar os ‘rebeldes’ da OTAN na
Líbia devem ‘votar em Chávez contra o imperialismo’ na Venezuela?, 9 de agosto de 2012. Disponível em:
Hoje
ouvimos da direção da LBI que Chávez, que antes podia ser considerado “um dos
mais fiéis aliados de Obama no continente” (o que, diga-se de passagem, foi um
exagero quantitativo) passou a nada mais nada menos que “o maior símbolo
contemporâneo da resistência nacionalista a esta ofensiva imperial”. Também a
LBI pode ser incluída entre os “revisionistas mais esquecidos”. Além de
esquecer as lições da teoria da Revolução Permanente, esqueceu o que ela
própria escreveu há poucos meses. Esse é o resultado quando se opta por
substituir o marxismo por sandices.
A Frente Brasil Popular de 1989
Enquanto nós esperamos que a maior
parte da esquerda não vá se manifestar sobre a mais recente capitulação da LBI,
acreditamos que ao menos vão querer se pronunciar os seus ex-companheiros da
Liga Comunista (LC), atualmente associada à Tendência Militant Bolchevique
(TMB) argentina e ao Socialist Fight britânico de Gerry Downing. A LC rompeu
com a LBI em 2010, acusando a direção da LBI de se tornar “cética” sobre as
capacidades de um pequeno grupo revolucionário se desenvolver e por ter uma
atividade de cunho inteiramente virtual-literário. Até agora, a LC não abordou
a capitulação da LBI ao chavismo. Se o fizer, talvez ela busque apresentar essa
posição como um grande giro que transforma abertamente a LBI em uma organização
oportunista pouco diferente das demais.
Mas esta não foi a primeira vez que a
LBI adotou uma posição de apoiar eleitoralmente uma candidatura burguesa, ao
mesmo tempo em que nutria profundas ilusões sobre seu potencial para ir contra
o imperialismo. Na verdade, uma posição que a LBI reivindica, e que até o
momento a LC não declarou publicamente se mantém ou não, foi o apoio à frente
popular encabeçada pelo Partido dos Trabalhadores em 1989. No editorial em que
declara apoio a Nicolas Maduro, enquanto tentava justificar sua atual
capitulação, a LBI citou essa posição como um precedente político:
“Mais recentemente, o apoio crítico dado pelos
revolucionários [sic] à candidatura Lula em 1989, diga-se de passagem,
reivindicado por absolutamente todas as correntes políticas que se reivindicam
trotskistas em nosso país [sic],
também pode explicar como é possível apoiar criticamente no terreno das
eleições um candidato reformista ou nacionalista burguês, se em determinado
momento as massas usam esta candidatura para expressar, ainda que
deformadamente, sua luta contra o imperialismo. Não porque se tratava de se
depositar confiança ou ilusões em Lula, ao contrário, compreendia-se perfeitamente
seus limites programáticos e de classe. Porém, era no momento o que
representava concretamente o apoio da parcela mais consciente da vanguarda no
país, expressava a radicalidade (contida) e o ascenso das massas exploradas
como produto da falência do antigo regime militar-civil de Sarney.” (ênfase
nossa)
A aliança de Lula com Bisol
(latifundiário e senador eleito pelo PMDB, que depois foi para o PSDB e
finalmente para o PSB, todos partidos burgueses) revelava o caráter de classe
inequivocamente burguês da frente popular de 1989. A pergunta é como essa
frente poderia ter servido para que as massas supostamente expressassem sua
luta contra o imperialismo? Em um debate dos candidatos a presidente (assista ao vídeo),
respondendo uma provocação de Mario Covas (PSDB), Lula define como “imbecil”
qualquer pessoa “tentar evitar a participação do capital estrangeiro na
economia de um país” e prossegue defendendo que é necessário apenas “regular a
remessa de lucros tal como se dá hoje”. Isso é, no máximo, um programa que
reivindica uma migalha a mais para a burguesia brasileira enquanto mantém a
subordinação do país ao capital imperialista, nem de perto um programa de “luta
contra o imperialismo”. Por sinal, nessa mesma ocasião Lula aproveitou para
lembrar que esteve em muitas discussões para convencer os membros da FIESP
(Federação das Indústrias do Estado de São Paulo) de suas propostas e Mario
Covas declarou seu acordo geral com a política econômica de Lula.
Completamente contraditória
ao falar da candidatura petista de 1989, a LBI apontou, em um artigo publicado
em 2007, que tal coalizão era “progressiva” e que “canalizava de maneira torpe
as tendências à independência de classe do proletariado” (Há 5 anos da ruptura com Causa Operária: um breve balanço político).
Isso só é possível, evidentemente, se a direção da LBI considera que setores da
burguesia brasileira pudessem ser “progressivos” e que a aliança direta com a
classe dominante tivesse representado (ainda que de forma “torpe”) a
“independência de classe do proletariado”. Essa contradição fica explícita em
outro trecho do mesmo documento:
“A constituição da Frente Brasil Popular, em 89, teve
a função de sufocar e sepultar os traços políticos timidamente classistas do
PT, disciplinando a candidatura Lula no marco da estabilidade e salvaguarda do
regime burguês. Neste sentido, em 89, apoiamos criticamente a candidatura
presidencial de Lula, porque, além de agrupar a vanguarda mais combativa e consciente
do movimento operário e popular, representava uma referência política de luta e
de classe para a população trabalhadora.”
― Há 5 anos da
ruptura com Causa Operária: um breve balanço político, junho
de 2000. Publicado no Jornal Luta Operária nº 149, junho de 2007. Disponível
em:
Isso demonstra a confusão completa da
LBI sobre essa questão. Se a candidatura de Lula era uma “referência de luta”
para a população trabalhadora em 1989, era papel dos revolucionários combater o
que se tratava de uma ilusão, ao
invés de “apoiar criticamente” essa traição. Se não fosse uma ilusão a
identificação dos trabalhadores com Lula, como poderia a sua candidatura ter
tido “a função de sufocar e sepultar os traços políticos timidamente classistas
do PT, disciplinando a candidatura Lula no marco da estabilidade e salvaguarda
do regime burguês”? Numa situação como essa, os revolucionários não devem dar
nenhum apoio (nem mesmo “crítico”) à frente popular e sim reivindicar o
rompimento de todos os setores da classe trabalhadora com a burguesia. O apoio
eleitoral crítico ao PT só poderia ser condicional ao seu rompimento com os
setores burgueses da Frente Brasil Popular.
A LBI também deixa clara a sua
inconsistência ao criticar recentemente outros grupos na esquerda precisamente
por darem “apoio crítico” a frentes populares.
“Uma política classista para as eleições
burguesas nada tem a ver com a defesa do ‘apoio crítico’ a projetos de mini
frente popular, como fazem os Morenistas entusiastas apologistas da intervenção
da OTAN nas guerras civis da Líbia e Síria.”
― Afundando a
todo vapor, Haddad e outros companheiros petistas esperam por ‘boletins
médicos’ para se manterem vivos na corrida eleitoral às principais prefeituras
do país, 8 de agosto de 2012. Disponível em:
Mas
se devemos combater os revisionistas que dão apoio crítico a “projetos de mini
frente popular”, o que dizer daqueles que deram apoio crítico a uma frente
popular grande e forte, como foi a candidatura petista de 1989? Podemos
acrescentar que ao menos alguns dos grupos oportunistas contra os quais a LBI
constantemente esbraveja suas “polêmicas” não chegarão a capitular tão abertamente
ao chavismo quanto ela própria está fazendo nas atuais eleições venezuelanas.
Também é sintomático que uma
organização como a LBI, que tem sempre feito questão de esclarecer suas
diferenças com as demais organizações na esquerda, esteja tentando justificar o
seu apoio à Frente Brasil Popular de 1989 se escondendo atrás da afirmação de
que tal apoio foi supostamente “reivindicado por absolutamente todas as
correntes políticas que se reivindicam trotskistas em nosso país”. Além do
mais, tal afirmação é mentirosa. Essa é uma posição consensual apenas entre os
revisionistas, dentre os quais se inclui a LBI. Os trotskistas consistentes não
reivindicam o “apoio crítico” a nenhuma frente popular. Nós do Reagrupamento
Revolucionário reivindicamos que em 1989 os revolucionários deveriam ter se
oposto à Frente Brasil Popular. Qualquer apoio eleitoral crítico deveria ser
condicional a um rompimento prévio do PT com os seus aliados burgueses. Uma
organização predecessora do Reagrupamento Revolucionário, que desde então se degenerou burocraticamente [3], defendeu certa vez que:
“O frentepopulismo (ou seja, um bloco
programático, normalmente pelo poder governamental, entre organizações de
trabalhadores e representantes da burguesia) é traição de classe. Os revolucionários
não podem dar nenhum apoio, nem mesmo ‘crítico’, a participantes de frentes
populares.”
― Pelo Trotskismo!, programa adotado pela Tendência
Bolchevique Internacional (TBI) em
novembro de 1986. Disponível em:
Além
disso, nós temos conhecimento de outras organizações que reivindicam o
trotskismo que, embora não revolucionárias, também não defendem a posição de
apoio eleitoral à frente popular de 1989 e que não merecem ser difamadas pela
falsa afirmação dos líderes da LBI de que “absolutamente todas as correntes
políticas que se reivindicam trotskistas em nosso país” compartilharam da sua
capitulação.
Embelezando Kadafi na guerra
imperialista contra a Líbia
Outro
precedente significativo para a atual posição da LBI foi em 2011, durante a
guerra imperialista conduzida pela OTAN e seus assessores nativos contra a
nação oprimida da Líbia. Apesar de reivindicar corretamente a defesa militar da
Líbia contra o bloco Rebeldes/OTAN, a LBI fez questão de tentar blindar Kadafi,
ao defender contra a realidade que este não era nenhum tipo de “ditador” ou
“tirano”, como nós comentamos em uma breve polêmica de novembro de 2011 [4].
Nessa época, a LBI também fez elogios pouco merecidos a Kadafi, como a
afirmação de que ele “lutou bravamente” contra as tropas imperialistas:
“Kadaffi
morreu lutando bravamente contra forças infinitamente superiores, do ponto de
vista bélico. Dirigiu a resistência militar à ocupação de seu país até o limite
de sua própria vida, ao contrário dos que afirmaram que Kadaffi fugiria como um
rato, como fazem os ‘ditadores’ ou ‘democratas’ covardes no enfrentamento
direto com o imperialismo.”
― OTAN assassina Kadaffi que comandava bravamente
os combates contra ocupação de Sirte pelos mercenários do imperialismo, 20 de
outubro de 2011. Disponível em:
Ao
mesmo tempo em que os revolucionários combatiam as mentiras da OTAN (de que
supostamente intervia na Líbia para “proteger” a população contra o ditador),
era também necessário que a classe trabalhadora internacional tivesse clareza
de quem era Kadafi e do porque os revolucionários tomavam o seu lado militar no
conflito (sem lhe dar nenhum apoio político) apesar do seu regime ditatorial
burguês.
A LBI não apoiou apenas militarmente o regime de Kadafi nessa guerra (o que significaria denunciar completamente seu caráter político ditatorial burguês e de colaboração com o imperialismo). Apesar de que Kadafi combatia as tropas imperialistas contra sua vontade inicial e pelos seus próprios interesses burgueses, era do interesse do proletariado internacional a derrota militar da OTAN e a defesa da Líbia. Ainda que uma vitória bélica de Kadafi não significasse uma conquista direta para a classe trabalhadora, ela teria sido uma derrota monumental para os imperialistas. Mas com a vitória da OTAN, ainda mais correntes passaram a sufocar o proletariado líbio.
A LBI aproveitou essa ocasião para tentar livrar a cara de Kadafi pelos seus 40 anos de opressão ditatorial contra o proletariado líbio, que garantiram que a classe trabalhadora não pudesse se organizar em partidos de esquerda, em sindicatos e nem ter outras liberdades democráticas. Para a LBI, falar a verdade de que Kadafi era um ditador de alguma forma atrapalhava a resistência contra o imperialismo. Talvez para os interesses de Kadafi, mas não para os interesses do proletariado.
A LBI não apoiou apenas militarmente o regime de Kadafi nessa guerra (o que significaria denunciar completamente seu caráter político ditatorial burguês e de colaboração com o imperialismo). Apesar de que Kadafi combatia as tropas imperialistas contra sua vontade inicial e pelos seus próprios interesses burgueses, era do interesse do proletariado internacional a derrota militar da OTAN e a defesa da Líbia. Ainda que uma vitória bélica de Kadafi não significasse uma conquista direta para a classe trabalhadora, ela teria sido uma derrota monumental para os imperialistas. Mas com a vitória da OTAN, ainda mais correntes passaram a sufocar o proletariado líbio.
A LBI aproveitou essa ocasião para tentar livrar a cara de Kadafi pelos seus 40 anos de opressão ditatorial contra o proletariado líbio, que garantiram que a classe trabalhadora não pudesse se organizar em partidos de esquerda, em sindicatos e nem ter outras liberdades democráticas. Para a LBI, falar a verdade de que Kadafi era um ditador de alguma forma atrapalhava a resistência contra o imperialismo. Talvez para os interesses de Kadafi, mas não para os interesses do proletariado.
A
posição da LBI em 2011 tem muitas semelhanças com a sua atual capitulação ao
chavismo. Mais uma vez, ela não se ateve aos interesses do proletariado, que
exigem tomar um lado militar em investidas imperialistas (como em 2002) ou
defender as parciais nacionalizações que Chávez realizou. Ela também está dando
um apoio político ao nacionalismo-burguês, gerando assim ilusões na capacidade
e na vontade dos dirigentes “bolivarianos” de defender efetivamente os
trabalhadores. Os revolucionários genuínos dizem aos trabalhadores para se
organizarem de forma independente e com seu próprio programa, sem confiar ou
votar nos chavistas.
Não
devemos nos esquecer, também, que o próprio Chávez apoiou Kadafi politicamente,
semeando ilusões de que regime sanguinário não seria uma ditadura. Ao menos
nesse ponto vem à tona alguma coerência (ainda que oportunista) nas sandices da
LBI.
Conclusão
Nas
eleições venezuelanas de 14 de abril, os revolucionários devem aproveitar para
intervir com as ideias essenciais do marxismo revolucionário de nossa época, o
trotskismo. Isso inclui explicar que as eleições não alteram significativamente
a balança das forças de classe do país, que se trata de uma enganação da
burguesia para tentar legitimar o seu regime de exploração e opressão. Que o
verdadeiro combate à burguesia, à direita golpista e ao imperialismo se dá nas
fábricas, nos campos e nas ruas. Que é só por meio da luta direta que um
genuíno governo proletário pode ser estabelecido. Por esse motivo é preciso
fazer campanha contra as candidaturas burguesas, não apenas a da odiosa direita
golpista, mas também a do chavismo.
Se
houver candidatura de alguma organização da classe trabalhadora (mesmo
reformista ou centrista) que se oponha abertamente às coalizões com a burguesia
e se recuse a aceitar qualquer tipo de apoio (político e financeiro)
capitalista, os revolucionários podem dar apoio crítico a tal candidatura como
forma de defender um voto de classe contra os patrões. Mas ao mesmo tempo em
que explicam a importância da independência de classe, tal voto crítico implica
fazer todas as críticas necessárias a tal candidatura, com o objetivo de também
ganhar para o programa revolucionário os apoiadores que tenham ilusões nos
líderes reformistas ou centristas. Se não existir nenhuma candidatura com essas
características, os revolucionários não devem apoiar nenhum candidato e
demarcar a posição política do proletariado em oposição a todas as frações
burguesas.
A
LBI está claramente procurando substitutos nacionalistas burgueses para
proteger os trabalhadores contra o imperialismo, como classicamente fazem os
revisionistas. Este tipo de giro político repentino (como a própria LBI
reconheceu ser) geralmente é uma causa de rachas em organizações com uma vida
interna democrática. Enquanto nós não descartamos completamente essa
possibilidade, nós achamos improvável que ocorra na LBI um racha com base numa
luta fracional organizada.
Os
dramáticos giros políticos da LBI são uma prova considerável de que sua direção
não é composta de marxistas sérios, mas sim de gente que não merece a menor
confiança política do proletariado ou de sua vanguarda. A quantidade de
mudanças, sandices e de outros traços duvidosos demonstram que essa organização
não passa de uma seita, cuja direção substituiu o marxismo por teorias da
conspiração, falsificações grosseiras e coisas do tipo [5]. Dessa forma, a direção da LBI já há muitos anos pavimentou o
caminho para esse último giro recente, que provavelmente não vai gerar fortes
reações em seus membros de base e que definitivamente sepultou a falsa imagem
de ortodoxia que a LBI criou para si.
Ainda
assim, seria extremamente positivo se ao menos alguns militantes que, ao
contrário da liderança da LBI, ainda sejam politicamente saudáveis, deixassem o
grupo em repulsa a tal giro e a tudo que ele representa. Convidamos aqueles que
estejam procurando sinceramente por uma linha revolucionária que considerem as
críticas e as posições do Reagrupamento Revolucionário e deixem imediatamente o
barco já quase naufragado que é a LBI.
NOTAS
[1] A título de exemplo, podemos citar o escândalo do Proconsult, uma
fraude ocorrida na contagem de votos nas eleições para governador do Rio de Janeiro
em 1982 e que tinha a intenção de dar a vitória para o candidato herdeiro da
Arena, Moreira Franco, ao invés de Leonel Brizola (PDT). Apesar do uso atual de
urnas eletrônicas, não temos motivos para nos sentirmos mais seguros, pois
diversos estudos já apontaram para a possibilidade delas serem violadas. Mas
para isso são necessários indícios ou evidências de fraude, que não podem
existir apenas nas cabeças de dirigentes políticos que não fazem a menor
questão de justificar suas afirmações.
[2] Inclusive, seguindo a mesma linha de abobrinhas conspiratórias, a LBI
alega que Chávez teria sido “covardemente assassinado”:
“Por isto, diante do ascenso multitudinal das massas venezuelanas após a morte provocada de Chávez (desde a Guerra Fria a CIA vem trabalhando com afinco para desenvolver substâncias que podem matar líderes ‘inconvenientes’ de países não-alinhados sem deixar qualquer vestígio ou provas de envenenamento), as ameaças declaradas do monstro imperialista e da ‘oposição’ golpista a soldo da Casa Branca e uma possível ‘mobilização democrática’ organizada pela CIA, nada mais correto do que os genuínos revolucionários lançarem a palavra de ordem de acompanhar o apoio a Maduro sem capitular ao chavismo.”
― Editorial do Jornal Luta Operária # 253, 19 de março de 2013. Disponível em:
http://lbi-qi.blogspot.com.br/2013/03/leia-o-editorial-do-jornal-lutaoperaria_19.html
[3] Para uma avaliação desse processo de
degeneração, conferir A Tendência Bolchevique Internacional “Explica” sua
Falência, de março de 2012. Disponível em:
[4] Conferir
Um Tirano sem Aspas, de novembro de
2011. Disponível em:
[5] Ao longo do artigo já citamos algumas das bizarrices que tal grupo
produziu recentemente: alegar que toda eleição é fraudada desde o seu início,
que Chávez foi assassinado por ser “o maior símbolo contemporâneo da
resistência nacionalista” ao imperialismo, e que o regime de Kadafi não era uma
ditadura. Porém, a lista é grande e podemos incluir mais alguns fatos que
marcam bem as características de seita deslocada da realidade que a LBI
carrega: em 2001 justificaram seu apoio ao atentado ao World Trade Center em 11
de setembro alegando que não havia trabalhadores no prédio, apenas agentes da
CIA e “yuppies”; em 2008 adulteraram uma foto de um ato de Primeiro de Maio
ocorrido em Fortaleza, adicionando digitalmente montes de bandeiras da LBI (inclusive
na mão de militantes de outras organizações!) e publicando com a legenda “Coluna
da LBI no ato da Conlutas em Fortaleza”; em 2011 acusaram o Instituto Latino
Americano de Estudos Socioeconômicos (ILAESE) de servir de ponte entre o PSTU e um
suposto financiamento do Departamento de Estado dos EUA, sem apresentar nenhuma
prova para tal afirmação (!). Sem dúvidas aqueles com paciência (e estômago)
para procurarem mais fatos do tipo encontrarão farto material no site da LBI.