8.4.13

A LBI capitula ao chavismo nas eleições venezuelanas

O último prego no caixão
A LBI capitula ao chavismo nas eleições venezuelanas

Rodolfo Kaleb
8 de abril de 2013

Aqueles que acompanham as publicações da Liga Bolchevique Internacionalista (LBI) podem ter sido surpreendidos pelo recente anúncio de que ela está dando apoio eleitoral para Nicolas Maduro. Maduro é o sucessor de Hugo Chávez e candidato a presidente pelo partido nacionalista-burguês PSUV (Partido Socialista Unido da Venezuela) nas próximas eleições:

No dia 14 de abril, data das eleições presidenciais venezuelanas, a vanguarda do proletariado deve adotar uma política de ‘estimular’ as tendências de radicalização do setor popular e camponês do nacionalismo burguês, estabelecendo uma unidade tática eleitoral com o chavismo contra a candidatura de Capriles [da oposição de direita burguesa] e sua ‘oposição unificada’ dos ‘esquálidos’, arquitetada e dirigida desde a Casa Branca, unidade tática que deverá ser materializada no apoio crítico à candidatura de Maduro, sem capitular politicamente ao ‘chavismo’ e seu programa.”

Editorial do Jornal Luta Operária # 253, 19 de março de 2013. Disponível em:

Em outros trechos do artigo a LBI fala de uma “frente única eleitoral” com os chavistas. Trata-se de uma tentativa de enganar os incautos. Frente única é o nome que os revolucionários dão à unidade de ação entre duas ou mais forças políticas para lutar por um objetivo pontual comum que seja vantajoso para a classe trabalhadora, tal qual uma campanha de greve, um protesto de massas por uma questão específica, ou uma luta contra determinada medida reacionária do Estado burguês, por exemplo. É claro que mesmo em frente única os revolucionários não deixam de se diferenciar das organizações oportunistas de todo tipo e das outras forças políticas envolvidas.

Mas qual seria o nobre propósito da “frente única eleitoral” da LBI com o chavismo? A eleição do sucessor de Chávez daria garantia de alguma conquista significativa para a classe trabalhadora? Enfraqueceria decisivamente os reacionários de direita que os chavistas toleram? Golpearia seriamente a exploração estrangeira que os chavistas (apesar de seus conflitos ocasionais com os imperialistas) permitem que aconteça? Não.

Mais importante: a “tática eleitoral” da direção da LBI não traria a classe trabalhadora para mais perto da independência política de classe, que é o pré-requisito básico para uma luta pelo poder, mas muito pelo contrário. A experiência do proletariado chileno com Allende indica que esse tipo de “tática” não é muito útil para defender o proletariado contra as investidas de uma direita golpista.

O único resultado certo de tal “frente única eleitoral” (caso a LBI tivesse peso real para influenciar um setor da população venezuelana) seria fortalecer o aparato chavista à frente do Estado burguês e a classe que ele protege. A direção da LBI diz que vota em Nicolas Maduro “sem capitular politicamente ao chavismo e seu programa”. Mas ao votar no candidato do chavismo, está dizendo para a classe trabalhadora que ela faz bem em depositar seu voto em uma plataforma burguesa que mantém o país dependente do imperialismo e ameaçado por um golpe da direita. E certamente uma plataforma que garante a manutenção da sua exploração. A LBI continua:

“Os marxistas devem se apoiar na tendência de giro à esquerda do movimento operário, utilizando os próprios instrumentos concretos construídos pela luta de classes, ainda que não sejam absolutamente ‘puros’, do ponto de vista de uma estratégia classista. A nova conjuntura iniciada com a brutal ofensiva imperialista de ‘ajuste’ contra suas semicolônias e o covarde assassinato do maior símbolo contemporâneo da resistência nacionalista a esta ofensiva imperial, obriga os marxistas a estabelecer cada vez mais a tática da frente única, que neste caso venezuelano aplica-se no terreno eleitoral.”

Idem.

A LBI insinua que votar no candidato chavista serviria para proteger a Venezuela contra um fortalecimento da direita golpista, que com a ajuda do imperialismo realizou uma investida em 2002. É claro que no caso de uma tentativa de golpe “preventivo” contrarrevolucionário da direita apoiada pelo imperialismo, os revolucionários tomariam o lado militar contrário no confronto, usando métodos de luta da classe trabalhadora, que iriam desenvolver a consciência e a auto-organização das massas. Mas isso não é o mesmo que apoiar eleitoralmente o governo que está, ele próprio, preparando o terreno para a direita. Esta última ação só cria ilusões na classe trabalhadora e secundariza a sua ação direta diante da expectativa eleitoral no chavismo. A oposição intransigente dos revolucionários à candidatura e ao governo burguês do PSUV é um elemento essencial para preparar a classe trabalhadora venezuelana contra a direita. O que desarma os trabalhadores venezuelanos não é a falta de votos dos chavistas, mas precisamente as ilusões dos proletários de que os “líderes bolivarianos” vão defendê-los, enquanto na verdade estes deixam o terreno livre para o imperialismo e a reação. Há menos de um ano atrás, a própria LBI afirmou isso.

“É necessário preparar o terreno para a construção de um genuíno partido revolucionário capaz de enfrentar a onda de reação ‘democrática’ ou mesmo a direita fascista no caso de um novo golpe ‘cívico-militar’, fazendo um combate programático completamente oposto à cantilena pregada por toda sorte de revisionistas de que está em curso uma ‘revolução’ na Venezuela, cabendo agora mais do que nunca segundo estes senhores, com a doença do ‘comandante’, cerrar fileiras em apoio eleitoral ao governo burguês centro-esquerdista de Chávez. Como marxistas revolucionários, alertamos que este é o caminho da derrota sangrenta nas mãos da direita reacionária. Longe dessa senda suicida, cabe aos trabalhadores defenderem pela via da ação direta suas conquistas e forjar um programa comunista proletário para a conquista do poder político sobre os escombros do Estado capitalista.”

Os que defenderam a frente única com Kadaffi para derrotar os ‘rebeldes’ da OTAN na Líbia devem ‘votar em Chávez contra o imperialismo’ na Venezuela?, 9 de agosto de 2012. Disponível em:

Como será que votar no candidato chavista, o que a LBI há menos de um ano considerou ser o “caminho da derrota sangrenta nas mãos da direita reacionária”, se transformou repentinamente em uma forma de evitar o crescimento da reação burguesa ou de elevar a consciência de classe dos trabalhadores venezuelanos?

Existe ainda outro giro dramático por trás dessa nova posição da LBI. Ela ganhou notoriedade por defender fórmulas absolutamente delirantes de “boicote” generalizado às eleições burguesas em momentos nos quais não havia a menor conjuntura para aplicação dessa tática (como nas eleições brasileiras do ano passado). Ela também defendeu por bastante tempo que as eleições não passam de um grande teatro, onde a burguesia encena uma possibilidade de escolha, mas na verdade manipula os resultados nos bastidores, fraudando a eleição do começo ao fim:

“A burguesia nacional é apenas a ‘operadora’ de um processo eleitoral fraudulento desde a origem (mídia, pesquisas, debates, etc.) até a contabilização do último sufrágio.”
A farsa eleitoral entre o judice da máfia dos tribunais e a fraude da urna eletrônica, agosto de 2010. Disponível em:

“Esta esquerda comprometida com as ‘reformas possíveis’ está muito longe de estabelecer a denúncia da democracia dos ricos e dos próprios mecanismos eletrônicos fraudulentos do atual processo institucional, que determina que os ‘vencedores’ sejam ‘eleitos’ por um seleto grupo de empreiteiras.”
Começa o circo eleitoral da ‘democracia’ dos ricos, julho de 2012. Disponível em:

E não apenas no Brasil:

“O milionário mórmon Mitt Romney disputa pela segunda vez a indicação republicana à Casa Branca. Desta vez ganha em ‘casa’ e perde ‘lá fora’, faz parte do script previamente acordado entre os diversos trustes e os rentistas de Wall Street.
Burguesia ianque já ‘elegeu’ Mitt Romney para ser derrotado por Obama, ex-‘banana’!, janeiro de 2012. Disponível em:

Compartilhamos a visão de que as eleições são um “jogo de cartas marcadas” apenas no sentido de que não decidem nenhuma questão central para a luta de classes, não mudam qual classe detém o poder político, e dessa forma iludem a população de que esta teria algum “poder de escolha”.

Porém, a não ser em ocasiões específicas [1], não acreditamos que as eleições sejam completas fraudes (incluindo uma total manipulação na contagem dos votos) realizadas pela burguesia, de forma que fosse decidido de antemão qual dos seus candidatos ganha e qual perde. Se fosse assim, porque tantos empresários fariam investimentos de campanha não apenas em um, mas em vários candidatos que concorrem ao mesmo cargo? Segundo a teoria da conspiração que a LBI usa como substituto para uma análise marxista da realidade, tanto desperdício de dinheiro em doações de campanha seria apenas para dar “veracidade” a toda essa fraude eleitoral. [2]

Mas parece que todo o esquema mirabolante da direção da LBI não seria verdade na Venezuela, onde as eleições cumpririam o papel de ser um “instrumento concreto construído pela luta de classes”, supostamente capaz de ajudar o proletariado contra a direita golpista. Como as eleições podem ser uma completa fraude no Brasil e nos Estados Unidos, mas na Venezuela um instrumento útil para a classe trabalhadora se defender contra a reação burguesa?

A partir de tamanha incongruência ficamos com a forte impressão de que a afirmação da LBI de que as eleições burguesas não passam de fraudes, parte da noção (ou talvez os tenha levado à conclusão, não podemos ter certeza de qual veio antes) de que, sob o capitalismo, eleições não-fraudulentas apresentam um risco muito maior às classes dominantes do que poderíamos pensar. Daí sua atual posição acerca das eleições venezuelanas, que eles arbitrariamente decidiram que não é uma fraude.

Como Lenin constantemente afirmava, as eleições burguesas em particular e a democracia burguesa em geral são ótimas formas de esconder a verdadeira natureza das relações de classe e, na maior parte dos casos, são a maneira mais eficiente de dominação da burguesia. Por detrás (ou talvez enquanto fruto) das constantes teorias da conspiração da LBI sobre todas as eleições serem fraudadas de antemão, parece residir certo grau de ilusão socialdemocrata acerca da natureza e das possibilidades de eleições não-fraudadas.

A direção da LBI também tentou “justificar” a sua capitulação ao chavismo tagarelando sobre inúmeras posições ao longo da história do movimento trotskista (desde o entrismo realizado na socialdemocracia, até a defesa de nacionalizações realizadas pelo governo Cárdenas nos anos 1930). A única coisa que tais posições tem em comum é que nenhuma delas tem a ver com a atual capitulação da LBI. Não se trata aqui de adentrar como tendência aberta em um partido operário-reformista com influência de massas para disputar suas bases para um programa revolucionário, nem de defender nacionalizações que limitam (ainda que muito parcialmente) a penetração do capital imperialista em uma nação oprimida. Nós também defendemos as nacionalizações de Chávez contra o imperialismo, mas não damos nenhum apoio eleitoral ao projeto do PSUV, que é manter uma Venezuela capitalista e dependente.

Em várias ocasiões anteriores, a LBI não poupou acusações (muitas vezes merecidas) a organizações que votaram em coalizões burguesas enquanto faziam um discurso de esquerda. É bastante irônico que ela esteja agora saindo abertamente em defesa de votar no herdeiro político do regime que mais gera ilusões na esquerda latino-americana. Também no ano passado, a LBI apontou que:

“Para os revisionistas mais esquecidos, lembremos que o governo Chávez tem sido abertamente conivente com o assassinato de sindicalistas, principalmente aqueles que fazem oposição a seu governo, como foi o caso de três dirigentes operários da central venezuelana União Nacional dos Trabalhadores (UNT) que tiveram suas vidas ceifadas em 2008, ou os companheiros da Mitsubishi em 2009. A guarda nacional chavista reprime as greves e age em apoio aos grupos armados contratados pelos patrões para atacar os trabalhadores, principalmente nas greves que paralisam a produção de empresas transnacionais como Pepsi-Cola, Mitsubishi Motors Corporation... Se o critério ‘teórico’ para definir o caráter do regime político como proimperialista for os contratos com as transnacionais do petróleo, então o governo Chávez seria por esta tese um dos mais fiéis aliados de Obama no continente!”

Os que defenderam a frente única com Kadaffi para derrotar os ‘rebeldes’ da OTAN na Líbia devem ‘votar em Chávez contra o imperialismo’ na Venezuela?, 9 de agosto de 2012. Disponível em:

Hoje ouvimos da direção da LBI que Chávez, que antes podia ser considerado “um dos mais fiéis aliados de Obama no continente” (o que, diga-se de passagem, foi um exagero quantitativo) passou a nada mais nada menos que “o maior símbolo contemporâneo da resistência nacionalista a esta ofensiva imperial”. Também a LBI pode ser incluída entre os “revisionistas mais esquecidos”. Além de esquecer as lições da teoria da Revolução Permanente, esqueceu o que ela própria escreveu há poucos meses. Esse é o resultado quando se opta por substituir o marxismo por sandices.

A Frente Brasil Popular de 1989

Enquanto nós esperamos que a maior parte da esquerda não vá se manifestar sobre a mais recente capitulação da LBI, acreditamos que ao menos vão querer se pronunciar os seus ex-companheiros da Liga Comunista (LC), atualmente associada à Tendência Militant Bolchevique (TMB) argentina e ao Socialist Fight britânico de Gerry Downing. A LC rompeu com a LBI em 2010, acusando a direção da LBI de se tornar “cética” sobre as capacidades de um pequeno grupo revolucionário se desenvolver e por ter uma atividade de cunho inteiramente virtual-literário. Até agora, a LC não abordou a capitulação da LBI ao chavismo. Se o fizer, talvez ela busque apresentar essa posição como um grande giro que transforma abertamente a LBI em uma organização oportunista pouco diferente das demais.

Mas esta não foi a primeira vez que a LBI adotou uma posição de apoiar eleitoralmente uma candidatura burguesa, ao mesmo tempo em que nutria profundas ilusões sobre seu potencial para ir contra o imperialismo. Na verdade, uma posição que a LBI reivindica, e que até o momento a LC não declarou publicamente se mantém ou não, foi o apoio à frente popular encabeçada pelo Partido dos Trabalhadores em 1989. No editorial em que declara apoio a Nicolas Maduro, enquanto tentava justificar sua atual capitulação, a LBI citou essa posição como um precedente político:

“Mais recentemente, o apoio crítico dado pelos revolucionários [sic] à candidatura Lula em 1989, diga-se de passagem, reivindicado por absolutamente todas as correntes políticas que se reivindicam trotskistas em nosso país [sic], também pode explicar como é possível apoiar criticamente no terreno das eleições um candidato reformista ou nacionalista burguês, se em determinado momento as massas usam esta candidatura para expressar, ainda que deformadamente, sua luta contra o imperialismo. Não porque se tratava de se depositar confiança ou ilusões em Lula, ao contrário, compreendia-se perfeitamente seus limites programáticos e de classe. Porém, era no momento o que representava concretamente o apoio da parcela mais consciente da vanguarda no país, expressava a radicalidade (contida) e o ascenso das massas exploradas como produto da falência do antigo regime militar-civil de Sarney.” (ênfase nossa)

A aliança de Lula com Bisol (latifundiário e senador eleito pelo PMDB, que depois foi para o PSDB e finalmente para o PSB, todos partidos burgueses) revelava o caráter de classe inequivocamente burguês da frente popular de 1989. A pergunta é como essa frente poderia ter servido para que as massas supostamente expressassem sua luta contra o imperialismo? Em um debate dos candidatos a presidente (assista ao vídeo), respondendo uma provocação de Mario Covas (PSDB), Lula define como “imbecil” qualquer pessoa “tentar evitar a participação do capital estrangeiro na economia de um país” e prossegue defendendo que é necessário apenas “regular a remessa de lucros tal como se dá hoje”. Isso é, no máximo, um programa que reivindica uma migalha a mais para a burguesia brasileira enquanto mantém a subordinação do país ao capital imperialista, nem de perto um programa de “luta contra o imperialismo”. Por sinal, nessa mesma ocasião Lula aproveitou para lembrar que esteve em muitas discussões para convencer os membros da FIESP (Federação das Indústrias do Estado de São Paulo) de suas propostas e Mario Covas declarou seu acordo geral com a política econômica de Lula.

Completamente contraditória ao falar da candidatura petista de 1989, a LBI apontou, em um artigo publicado em 2007, que tal coalizão era “progressiva” e que “canalizava de maneira torpe as tendências à independência de classe do proletariado” (Há 5 anos da ruptura com Causa Operária: um breve balanço político). Isso só é possível, evidentemente, se a direção da LBI considera que setores da burguesia brasileira pudessem ser “progressivos” e que a aliança direta com a classe dominante tivesse representado (ainda que de forma “torpe”) a “independência de classe do proletariado”. Essa contradição fica explícita em outro trecho do mesmo documento:

“A constituição da Frente Brasil Popular, em 89, teve a função de sufocar e sepultar os traços políticos timidamente classistas do PT, disciplinando a candidatura Lula no marco da estabilidade e salvaguarda do regime burguês. Neste sentido, em 89, apoiamos criticamente a candidatura presidencial de Lula, porque, além de agrupar a vanguarda mais combativa e consciente do movimento operário e popular, representava uma referência política de luta e de classe para a população trabalhadora.”

Há 5 anos da ruptura com Causa Operária: um breve balanço político, junho de 2000. Publicado no Jornal Luta Operária nº 149, junho de 2007. Disponível em:

Isso demonstra a confusão completa da LBI sobre essa questão. Se a candidatura de Lula era uma “referência de luta” para a população trabalhadora em 1989, era papel dos revolucionários combater o que se tratava de uma ilusão, ao invés de “apoiar criticamente” essa traição. Se não fosse uma ilusão a identificação dos trabalhadores com Lula, como poderia a sua candidatura ter tido “a função de sufocar e sepultar os traços políticos timidamente classistas do PT, disciplinando a candidatura Lula no marco da estabilidade e salvaguarda do regime burguês”? Numa situação como essa, os revolucionários não devem dar nenhum apoio (nem mesmo “crítico”) à frente popular e sim reivindicar o rompimento de todos os setores da classe trabalhadora com a burguesia. O apoio eleitoral crítico ao PT só poderia ser condicional ao seu rompimento com os setores burgueses da Frente Brasil Popular.

A LBI também deixa clara a sua inconsistência ao criticar recentemente outros grupos na esquerda precisamente por darem “apoio crítico” a frentes populares.

“Uma política classista para as eleições burguesas nada tem a ver com a defesa do ‘apoio crítico’ a projetos de mini frente popular, como fazem os Morenistas entusiastas apologistas da intervenção da OTAN nas guerras civis da Líbia e Síria.”

Afundando a todo vapor, Haddad e outros companheiros petistas esperam por ‘boletins médicos’ para se manterem vivos na corrida eleitoral às principais prefeituras do país, 8 de agosto de 2012. Disponível em:

Mas se devemos combater os revisionistas que dão apoio crítico a “projetos de mini frente popular”, o que dizer daqueles que deram apoio crítico a uma frente popular grande e forte, como foi a candidatura petista de 1989? Podemos acrescentar que ao menos alguns dos grupos oportunistas contra os quais a LBI constantemente esbraveja suas “polêmicas” não chegarão a capitular tão abertamente ao chavismo quanto ela própria está fazendo nas atuais eleições venezuelanas.

Também é sintomático que uma organização como a LBI, que tem sempre feito questão de esclarecer suas diferenças com as demais organizações na esquerda, esteja tentando justificar o seu apoio à Frente Brasil Popular de 1989 se escondendo atrás da afirmação de que tal apoio foi supostamente “reivindicado por absolutamente todas as correntes políticas que se reivindicam trotskistas em nosso país”. Além do mais, tal afirmação é mentirosa. Essa é uma posição consensual apenas entre os revisionistas, dentre os quais se inclui a LBI. Os trotskistas consistentes não reivindicam o “apoio crítico” a nenhuma frente popular. Nós do Reagrupamento Revolucionário reivindicamos que em 1989 os revolucionários deveriam ter se oposto à Frente Brasil Popular. Qualquer apoio eleitoral crítico deveria ser condicional a um rompimento prévio do PT com os seus aliados burgueses. Uma organização predecessora do Reagrupamento Revolucionário, que desde então se degenerou burocraticamente [3], defendeu certa vez que:

“O frentepopulismo (ou seja, um bloco programático, normalmente pelo poder governamental, entre organizações de trabalhadores e representantes da burguesia) é traição de classe. Os revolucionários não podem dar nenhum apoio, nem mesmo ‘crítico’, a participantes de frentes populares.”

Pelo Trotskismo!, programa adotado pela Tendência Bolchevique Internacional (TBI) em novembro de 1986. Disponível em:

Além disso, nós temos conhecimento de outras organizações que reivindicam o trotskismo que, embora não revolucionárias, também não defendem a posição de apoio eleitoral à frente popular de 1989 e que não merecem ser difamadas pela falsa afirmação dos líderes da LBI de que “absolutamente todas as correntes políticas que se reivindicam trotskistas em nosso país” compartilharam da sua capitulação.

Embelezando Kadafi na guerra imperialista contra a Líbia

Outro precedente significativo para a atual posição da LBI foi em 2011, durante a guerra imperialista conduzida pela OTAN e seus assessores nativos contra a nação oprimida da Líbia. Apesar de reivindicar corretamente a defesa militar da Líbia contra o bloco Rebeldes/OTAN, a LBI fez questão de tentar blindar Kadafi, ao defender contra a realidade que este não era nenhum tipo de “ditador” ou “tirano”, como nós comentamos em uma breve polêmica de novembro de 2011 [4]. Nessa época, a LBI também fez elogios pouco merecidos a Kadafi, como a afirmação de que ele “lutou bravamente” contra as tropas imperialistas:

“Kadaffi morreu lutando bravamente contra forças infinitamente superiores, do ponto de vista bélico. Dirigiu a resistência militar à ocupação de seu país até o limite de sua própria vida, ao contrário dos que afirmaram que Kadaffi fugiria como um rato, como fazem os ‘ditadores’ ou ‘democratas’ covardes no enfrentamento direto com o imperialismo.”

OTAN assassina Kadaffi que comandava bravamente os combates contra ocupação de Sirte pelos mercenários do imperialismo, 20 de outubro de 2011. Disponível em:

Ao mesmo tempo em que os revolucionários combatiam as mentiras da OTAN (de que supostamente intervia na Líbia para “proteger” a população contra o ditador), era também necessário que a classe trabalhadora internacional tivesse clareza de quem era Kadafi e do porque os revolucionários tomavam o seu lado militar no conflito (sem lhe dar nenhum apoio político) apesar do seu regime ditatorial burguês. 

A LBI não apoiou apenas militarmente o regime de Kadafi nessa guerra (o que significaria denunciar completamente seu caráter político ditatorial burguês e de colaboração com o imperialismo). Apesar de que Kadafi combatia as tropas imperialistas contra sua vontade inicial e pelos seus próprios interesses burgueses, era do interesse do proletariado internacional a derrota militar da OTAN e a defesa da Líbia. Ainda que uma vitória bélica de Kadafi não significasse uma conquista direta para a classe trabalhadora, ela teria sido uma derrota monumental para os imperialistas. Mas com a vitória da OTAN, ainda mais correntes passaram a sufocar o proletariado líbio. 


A LBI aproveitou essa ocasião para tentar livrar a cara de Kadafi pelos seus 40 anos de opressão ditatorial contra o proletariado líbio, que garantiram que a classe trabalhadora não pudesse se organizar em partidos de esquerda, em sindicatos e nem ter outras liberdades democráticas. Para a LBI, falar a verdade de que Kadafi era um ditador de alguma forma atrapalhava a resistência contra o imperialismo. Talvez para os interesses de Kadafi, mas não para os interesses do proletariado.

A posição da LBI em 2011 tem muitas semelhanças com a sua atual capitulação ao chavismo. Mais uma vez, ela não se ateve aos interesses do proletariado, que exigem tomar um lado militar em investidas imperialistas (como em 2002) ou defender as parciais nacionalizações que Chávez realizou. Ela também está dando um apoio político ao nacionalismo-burguês, gerando assim ilusões na capacidade e na vontade dos dirigentes “bolivarianos” de defender efetivamente os trabalhadores. Os revolucionários genuínos dizem aos trabalhadores para se organizarem de forma independente e com seu próprio programa, sem confiar ou votar nos chavistas.

Não devemos nos esquecer, também, que o próprio Chávez apoiou Kadafi politicamente, semeando ilusões de que regime sanguinário não seria uma ditadura. Ao menos nesse ponto vem à tona alguma coerência (ainda que oportunista) nas sandices da LBI.

Conclusão

Nas eleições venezuelanas de 14 de abril, os revolucionários devem aproveitar para intervir com as ideias essenciais do marxismo revolucionário de nossa época, o trotskismo. Isso inclui explicar que as eleições não alteram significativamente a balança das forças de classe do país, que se trata de uma enganação da burguesia para tentar legitimar o seu regime de exploração e opressão. Que o verdadeiro combate à burguesia, à direita golpista e ao imperialismo se dá nas fábricas, nos campos e nas ruas. Que é só por meio da luta direta que um genuíno governo proletário pode ser estabelecido. Por esse motivo é preciso fazer campanha contra as candidaturas burguesas, não apenas a da odiosa direita golpista, mas também a do chavismo.

Se houver candidatura de alguma organização da classe trabalhadora (mesmo reformista ou centrista) que se oponha abertamente às coalizões com a burguesia e se recuse a aceitar qualquer tipo de apoio (político e financeiro) capitalista, os revolucionários podem dar apoio crítico a tal candidatura como forma de defender um voto de classe contra os patrões. Mas ao mesmo tempo em que explicam a importância da independência de classe, tal voto crítico implica fazer todas as críticas necessárias a tal candidatura, com o objetivo de também ganhar para o programa revolucionário os apoiadores que tenham ilusões nos líderes reformistas ou centristas. Se não existir nenhuma candidatura com essas características, os revolucionários não devem apoiar nenhum candidato e demarcar a posição política do proletariado em oposição a todas as frações burguesas.

A LBI está claramente procurando substitutos nacionalistas burgueses para proteger os trabalhadores contra o imperialismo, como classicamente fazem os revisionistas. Este tipo de giro político repentino (como a própria LBI reconheceu ser) geralmente é uma causa de rachas em organizações com uma vida interna democrática. Enquanto nós não descartamos completamente essa possibilidade, nós achamos improvável que ocorra na LBI um racha com base numa luta fracional organizada.

Os dramáticos giros políticos da LBI são uma prova considerável de que sua direção não é composta de marxistas sérios, mas sim de gente que não merece a menor confiança política do proletariado ou de sua vanguarda. A quantidade de mudanças, sandices e de outros traços duvidosos demonstram que essa organização não passa de uma seita, cuja direção substituiu o marxismo por teorias da conspiração, falsificações grosseiras e coisas do tipo [5]. Dessa forma, a direção da LBI já há muitos anos pavimentou o caminho para esse último giro recente, que provavelmente não vai gerar fortes reações em seus membros de base e que definitivamente sepultou a falsa imagem de ortodoxia que a LBI criou para si.

Ainda assim, seria extremamente positivo se ao menos alguns militantes que, ao contrário da liderança da LBI, ainda sejam politicamente saudáveis, deixassem o grupo em repulsa a tal giro e a tudo que ele representa. Convidamos aqueles que estejam procurando sinceramente por uma linha revolucionária que considerem as críticas e as posições do Reagrupamento Revolucionário e deixem imediatamente o barco já quase naufragado que é a LBI.

NOTAS

[1] A título de exemplo, podemos citar o escândalo do Proconsult, uma fraude ocorrida na contagem de votos nas eleições para governador do Rio de Janeiro em 1982 e que tinha a intenção de dar a vitória para o candidato herdeiro da Arena, Moreira Franco, ao invés de Leonel Brizola (PDT). Apesar do uso atual de urnas eletrônicas, não temos motivos para nos sentirmos mais seguros, pois diversos estudos já apontaram para a possibilidade delas serem violadas. Mas para isso são necessários indícios ou evidências de fraude, que não podem existir apenas nas cabeças de dirigentes políticos que não fazem a menor questão de justificar suas afirmações.

[2] Inclusive, seguindo a mesma linha de abobrinhas conspiratórias, a LBI alega que Chávez teria sido “covardemente assassinado”:

“Por isto, diante do ascenso multitudinal das massas venezuelanas após a morte provocada de Chávez (desde a Guerra Fria a CIA vem trabalhando com afinco para desenvolver substâncias que podem matar líderes ‘inconvenientes’ de países não-alinhados sem deixar qualquer vestígio ou provas de envenenamento), as ameaças declaradas do monstro imperialista e da ‘oposição’ golpista a soldo da Casa Branca e uma possível ‘mobilização democrática’ organizada pela CIA, nada mais correto do que os genuínos revolucionários lançarem a palavra de ordem de acompanhar o apoio a Maduro sem capitular ao chavismo.” 


― Editorial do Jornal Luta Operária # 253, 19 de março de 2013. Disponível em:
http://lbi-qi.blogspot.com.br/2013/03/leia-o-editorial-do-jornal-lutaoperaria_19.html

Ou a direção desse grupo tem acesso a informações privilegiadas que nenhum outro grupo na esquerda possui, ou ela definitivamente vive no seu próprio mundo de fantasias.

[3] Para uma avaliação desse processo de degeneração, conferir A Tendência Bolchevique Internacional “Explica” sua Falência, de março de 2012. Disponível em:

[4] Conferir Um Tirano sem Aspas, de novembro de 2011. Disponível em:

[5] Ao longo do artigo já citamos algumas das bizarrices que tal grupo produziu recentemente: alegar que toda eleição é fraudada desde o seu início, que Chávez foi assassinado por ser “o maior símbolo contemporâneo da resistência nacionalista” ao imperialismo, e que o regime de Kadafi não era uma ditadura. Porém, a lista é grande e podemos incluir mais alguns fatos que marcam bem as características de seita deslocada da realidade que a LBI carrega: em 2001 justificaram seu apoio ao atentado ao World Trade Center em 11 de setembro alegando que não havia trabalhadores no prédio, apenas agentes da CIA e “yuppies”; em 2008 adulteraram uma foto de um ato de Primeiro de Maio ocorrido em Fortaleza, adicionando digitalmente montes de bandeiras da LBI (inclusive na mão de militantes de outras organizações!) e publicando com a legenda “Coluna da LBI no ato da Conlutas em Fortaleza”; em 2011 acusaram o Instituto Latino Americano de Estudos Socioeconômicos (ILAESE) de servir de ponte entre o PSTU e um suposto financiamento do Departamento de Estado dos EUA, sem apresentar nenhuma prova para tal afirmação (!). Sem dúvidas aqueles com paciência (e estômago) para procurarem mais fatos do tipo encontrarão farto material no site da LBI.