PSTU,
Fração Trotskista e a Defesa da Líbia Contra o
Imperialismo
De
que Lado da Trincheira?
Por
Rodolfo Kaleb
Novembro
de 2011
Nenhuma
corrente da esquerda brasileira tem influência política
ou seção na Líbia. No entanto, a análise
do processo de guerra civil e depois de intervenção
imperialista que se abateu sobre o país é muito mais do
que um exercício de teoria. As posições práticas
das diversas organizações da esquerda indicam o quanto
elas estão próximas ou distantes de uma aplicação
revolucionária do marxismo, ou seja, quão estão
preparadas para lutar pela revolução nos países
onde estão presentes. Assim, mesmo com a guerra tendo chegado
ao fim com uma vitória das forças apoiadas pelos
imperialismos sobre os exércitos do ditador Kadafi, um dos
eventos mais dramáticos da luta de classes deste ano exige um
estudo profundo e um balanço da esquerda que se posicionou
sobre esses eventos [1].
O maior partido que
reivindica o trotskismo no Brasil, o Partido Socialista dos
Trabalhadores Unificado (PSTU), teve uma posição de
apoio aos rebeldes que tomaram Bengasi como sua capital e depois
receberam apoio militar OTAN em sua luta contra Kadafi. Em todo o
momento, o partido fez questão de classificar os rebeldes como
um movimento “revolucionário” e não se abateram nem
mesmo quando a “revolução” passou a se coordenar
com os imperialismos francês, norte-americano e britânico
para derrubar o regime decrépito de 42 anos do ditador líbio.
Já
a Fração Trotskista, representada no Brasil pela
Liga Estratégia Revolucionária – Quarta Internacional
(LER-QI) não apoiou a vitória dos rebeldes aliados com
a OTAN no fim da guerra, mas nutriu muitas ilusões com esse
movimento nos seus períodos iniciais e mesmo após o
início da sua colaboração com a OTAN. Isso a
levou a não tomar a posição política
consistente de defesa da Líbia, ou seja, o mesmo lado militar
das forças leais a Muammar Kadafi mantendo contra ele o
combate político. Essa posição estranha à
tradição trotskista, que orientou os trabalhadores a
uma aparente necessidade de combater com armas os dois lados do
conflito, acaba igualando um regime autoritário numa nação
oprimida com a opressão incomparavelmente maior das potências
capitalistas, interessadas na exploração do trabalho e
das riquezas naturais de uma semicolônia moderna.
“Primavera
Árabe”
Os
movimentos que emergiram em alguns países no norte da África
e no Oriente Médio, tendo como maiores exemplos até o
momento a Tunísia e o Egito, tiveram características
gerais similares. Eles são movimentos de revolta popular, que
realizam protestos, atos de rua e outras ações
radicalizadas contra a exploração e a repressão
política de ditaduras burguesas de longa data. Tais revoltas
também são sintomas da crise capitalista sobre as
nações desta região pobre do globo, onde os
governos vinham realizando “ajustes econômicos” (ataques à
classe trabalhadora) como forma de sustentar as dívidas
estatais e capitalistas. A base social desses movimentos é
policlassista, com um componente destacado de juventude, contando com
alguns setores proletários que não tiveram um papel de
liderança até o momento. Em geral, os movimentos como o
da Praça da Libertação (Tahrir) no Egito, não
se utilizaram dos métodos históricos de luta dos
trabalhadores. Quando o componente de apoio proletário se fez
minimamente presente, ficou evidente, inclusive, o peso social da
classe trabalhadora [2].
Entretanto,
os movimentos sociais não se definem somente pela composição
da sua base. Também é necessário analisar quem
dirige politicamente essa base, qual é o seu programa político
e qual é a dinâmica entre a base e a liderança
para determinar a intervenção prática dos
marxistas. Nesses países, devido à ausência de um
partido revolucionário capaz de disputar as bases desses
movimentos, a liderança que se colocou à frente das
massas foi burguesa, personificada em antigos opositores
democráticos. Essas lideranças burguesas, que prometiam
“democracia”, buscaram evitar que qualquer liderança da
classe trabalhadora pudesse tomar o seu lugar. Afinal, tinham o
objetivo de garantir uma transição pacífica e
tranquila para uma democracia onde só seriam concedidos os
direitos democráticos que coubessem na ordem capitalista que
lhes interessa, uma democracia da burguesia.
Ficou
claro que essas lideranças oposicionistas tinham uma diferença
de nuance com as ditaduras e podiam conviver muito bem com elas. Já
a base do movimento tinha objetivos variados de liberdades
democráticas e melhorias sociais. Mas enquanto essa base
confiar que o caminho para seus objetivos (eles próprios
postos de maneira vaga) se dará através do projeto da
oposição burguesa, eles tendem a fracassar. Não
foi à toa que todos os líderes oposicionistas no Egito
e na Tunísia adotaram um discurso de “retorno aos lares e ao
trabalho” assim que se viram ameaçados pela radicalização
crescente do movimento.
É
importante notar que isso aconteceu mesmo onde o máximo
conseguido foi o afastamento pessoal do ditador e a manutenção
de todo o aparato de governo (e de repressão) com a promessa
de eleições futuras. Em outras palavras, não
apenas a covarde liderança burguesa tem objetivos extremamente
limitados, como não tem convicção suficiente nem
nos próprios objetivos – teve mais medo do próprio
movimento de massas que liderava do que das ditaduras, e preferiram
chegar a acordos com estas do que arriscar abrir espaço para
“radicais” advindos da massa. Esse foi o caso, por exemplo, do
movimento de El-Baradei no Egito.
Nesse
cenário de um movimento de luta por direitos democráticos
(uma luta absolutamente justa e do interesse dos proletários)
os comunistas devem intervir para desmascarar as lideranças
burguesas e mostrar que os marxistas são os mais competentes
para arrancar conquistas democráticas. Além disso,
devem elevar a consciência de classe dos trabalhadores,
mostrando que o seu objetivo não deve ser um “capitalismo
mais humano” ou a democracia da burguesia, e sim o poder direto dos
trabalhadores. Estes não devem dar o menor apoio a líderes
do movimento que eventualmente componham um governo burguês.
É
essencial o papel de vanguarda da classe proletária (sobretudo
o seu componente industrial) dentre as massas. Rechaçamos
qualquer ilusão sobre a necessidade (ou possibilidade) de uma
etapa burguesa “democrática” na luta pelo socialismo.
Qualquer suposta etapa democrática “necessária” se
trata de um engodo para manter os proletários sob domínio
burguês por tempo indeterminado. Da mesma forma, combatemos
aqueles que, mesmo dizendo formalmente que lutam pelo socialismo,
apostam ou tem uma postura ambígua diante das oposições
burguesas, ou dão prioridade às demandas
democrático-burguesas comuns entre todos os setores do
movimento e não àquelas que preparam a moral e a
consciência dos trabalhadores para a sua tarefa principal.
O
método do marxismo na Líbia
O caso
líbio foi, na maioria dos aspectos, muito diferente dos demais
países da região. É inegável que houve um
princípio de ações de protesto no leste do país,
em janeiro e nos primeiros dias de fevereiro, com alguns setores
populares lutando por direitos democráticos. Os trabalhadores
petroleiros, inclusive, estavam presentes nesses primeiros protestos.
Muitos apologistas de Kadafi tentam fazer crer que todos que contra
ele lutam são “agentes do imperialismo”. Mas não
havia nenhuma disputa econômica específica entre os
imperialismos e o regime kadafista naquele momento (nem mesmo as
querelas passadas envolvendo as nacionalizações da
década de 1970) que justificasse a predisposição
dos imperialistas para tal.
A
diferença inicial no processo líbio se deu pelo fato de
que a liderança das primeiras movimentações no
país possuía um programa e uma estratégia
diferente daquele dos outros movimentos da região. A liderança
da oposição líbia, que veio depois a ser o
núcleo formador do CNT, não adotou a estratégia
de uma transição segura, em colaboração
com o governo. O leste do país era o centro de várias
tribos donas de propriedades que mantinham uma convivência
pouco diplomática com o regime kadafista (que derrubou a
monarquia líbia em 1969).
Esses
líderes tribais pensavam na monarquia pré-Kadafi com
nostalgia e perceberam na onda de protestos que aconteciam nos países
vizinhos uma oportunidade para se alçar ao poder e acabar com
a desgastada “república do Livro Verde”. Assim como as
lideranças burguesas no Egito e na Tunísia, as tribos
representavam interesses econômicos de certas alas da
burguesia, ao buscar retirar do poder regimes que não
mantinham mais a ordem econômica e social do seu interesse.
Entretanto, pela sua história e desenvolvimento, a oposição
líbia estava muito mais organizada e disposta a ações
insurrecionais.
Os
acontecimentos de 17 de fevereiro em Bengasi não são
claros devido à ausência de informações.
No entanto, é bastante improvável que os setores
populares tenham espontaneamente obtido armas e organizado milícias
que derrubaram o governo da cidade. Sem dúvida é muito
mais crível que setores submetidos aos líderes tribais
tenham organizado os destacamentos que tiraram Bengasi (assim como
outras cidades menores) do controle do aparato kadafista. De qualquer
forma, a tomada de Bengasi se colocou em menos de dois dias sob o
comando do embrião do CNT, que logo receberia apoio de
ministros do alto escalão do governo de Kadafi, incluindo o
proeminente ex-ministro da justiça Mustafá Abdul Jalil
(que se tornaria presidente do Conselho). Com a tomada de Bengasi, já
não havia mais na Líbia um movimento popular, e sim um
governo burguês instalado nas cidades a leste, que passou a
disputar com Kadafi o comando do país. Também ocorre
nesse momento um racha no exército líbio e se conformam
todas as características de uma guerra civil encabeçada
por duas frações da burguesia.
Não
é impossível que tenha havido destacamentos rebeldes
relativamente independentes da liderança reacionária
durante um período curto. No entanto é evidente que
todas as forças rebeldes foram rapidamente unificadas sob o
comando do CNT. Não havia “povo armado” de forma
independente, e sim combatentes (profissionais e não-profissionais)
comandados pelo CNT. Por isso, para nós não havia no
exército do CNT nenhuma investida “revolucionária”,
como formularam correntes oportunistas. Dizer que é
“revolucionário” um processo sem o protagonismo da classe
trabalhadora e onde as massas são lideradas e tem amplas
ilusões com um setor reacionário da burguesia é
subestimar o fator essencial de consciência necessário
para uma revolução. Não existe movimento
“objetivamente revolucionário” que acontece mesmo que os
seus agentes estejam presos à consciência burguesa, como
discutiremos melhor mais à frente.
Nesse
primeiro momento de guerra civil, não havia nenhum interesse
objetivo para o proletariado em tomar qualquer uma das duas
trincheiras. Tanto a ditadura kadafista quanto um regime das tribos
buscariam oprimir e explorar a classe trabalhadora em colaboração
com o imperialismo. A defesa da classe trabalhadora não estava
associada a nenhum dos campos militares (como ficou evidente com a
repressão desencadeada pelos rebeldes contra os trabalhadores
negros). Tratava-se, pelo contrário, de uma disputa de
interesses entre a burguesia líbia onde os trabalhadores só
poderiam ter seus interesses objetivos realizados com a derrota de
ambos os lados. Nesse momento, a tarefa dos revolucionários
era lutar pela independência do proletariado nesse conflito, a
luta de classes contra ambos os lados e a sua preparação
revolucionária para o futuro.
Parece
evidente agora que desde aquele momento os líderes tribais do
CNT buscavam formar alianças, através da oferta de
garantias econômicas, com as nações
imperialistas. A possibilidade de uma intervenção
imperialista foi amplamente anunciada, apesar de durante algum tempo
líderes do CNT negarem que estivessem buscando por isso.
Diante da boa vontade e de relativos sucessos do CNT no combate
contra Kadafi, os imperialismos foram bastante rápidos em lhe
dar apoio diplomático e reconhecimento. A diplomacia
imperialista somente leva em conta os seus interesses econômicos
e políticos. Obviamente não havia em nenhum dos líderes
imperialistas qualquer interesse “humanitário” em derrubar
Kadafi. Até porque os “amantes da paz” da Casa Branca e de
Bengasi teriam muito que explicar sobre suas ações
pouco “humanitárias” na própria Líbia e em
outros países do Oriente Médio. Isso indicou a
possibilidade (ainda não concreta nesse momento) de uma
mudança no contexto da guerra.
Há
relatos de que Kadafi bombardeou protestos de rua da oposição
rebelde, matando civis desarmados [3]. Se não havia
lado para os trabalhadores no conflito armado entre o CNT e o
ditador, isso não significa que não havia interesses
democráticos básicos a serem defendidos. Nós nos
oporíamos com todos os meios disponíveis a atentados
armados contra protestos de rua. Tais ataques, inclusive, impediriam
a tarefa de intervenção dos comunistas nos setores de
trabalhadores que pudessem romper com os líderes tribais. Mas
isso não significaria nenhum apoio militar à luta do
CNT pelo poder de Estado. A posição dos comunistas
diante do governo de Bengasi era de oposição
irreconciliável, um princípio que foi absolutamente
traído pela maioria dos que se reivindicam trotskistas.
Ao mesmo
tempo, desde o início da guerra civil, a oposição
rebelde teve uma postura racista com relação aos
emigrados negros de países do sul da África, que
compõem uma parcela significativa da classe trabalhadora da
Líbia. Milhares de negros, acusados de emigrar para compor
exércitos de mercenários para Kadafi, foram revistados,
presos e mesmo mortos sem nenhuma prova de que fossem “mercenários
contratados” [4]. Os revolucionários deveriam se opor
a tais ações pelo mesmo princípio. Nem
precisamos dizer que os carniceiros imperialistas como Obama, que são
responsáveis pelas mortes de milhares de trabalhadores e
oprimidos todos os anos nas suas guerras no Iraque e Afeganistão,
não têm a menor autoridade para justificar mais um
atentado sob a desculpa de buscar a “paz e a liberdade” do povo
líbio sob o cano do fuzil e a explosão das bombas.
Nesse
momento, em plena guerra civil, o PSTU já classificava como
“revolução” o que acontecia na Líbia.
Ignorava que faltava à classe trabalhadora a mínima
independência de classe, a orientação de um
partido marxista revolucionário, órgãos (ou ao
menos embriões) de duplo poder. Em outras palavras, faltavam
os meios práticos e subjetivos para lutar pelo poder como
classe. Mas os morenistas (apelido em razão de a corrente do
PSTU ter sido fundada por Nahuel Moreno), já consideram há
muito que pode haver uma etapa de “revolução
socialista” sob comando da burguesia ou pequeno-burguesia enquanto
ante-sala da luta revolucionária [5]. Foi com essa
perspectiva que proclamaram:
“Neste processo,
acontece uma unidade de ação muito ampla contra a
ditadura, da qual participam trabalhadores, setores populares e,
inclusive, com a adesão de setores burgueses, mais oficiais e
tropas desertoras das forças armadas, e agora se agregam,
também, altos funcionários do regime. Está claro
que é necessária a mais ampla unidade de ação
com todos os setores, inclusive os burgueses descolados do regime,
para acabar com esta ditadura genocida e entrincheirada.”
Líbia
a sangue e fogo,
24 de fevereiro de 2011.
“Acabar com uma
ditadura genocida e entrincheirada” aliando-se à empreitada
militar de líderes tribais reacionários e ex-membros do
alto escalão de Kadafi que desejam tomar para si o poder só
pode ter o efeito de criar outra ditadura da burguesia. A estratégia
revolucionária de Lenin e Trotsky era o oposto dessa posição
criminosa da liderança do PSTU. Colocavam a todo o tempo a
necessidade de lutar pela independência da classe trabalhadora
diante da burguesia. Essa foi a postura dos bolcheviques na revolução
de Outubro desde que prevaleceu a posição das Teses de
Abril, em que o grupo ao redor de Lenin corrigiu a linha vacilante do
partido. Também foi a metodologia adotada pela Quarta
Internacional em oposição aos blocos políticos
do stalinismo e da socialdemocracia com a burguesia.
“A acusação
capital que a IV Internacional lança contra as organizações
tradicionais do proletariado é a de que elas não querem
separar-se do semicadáver da burguesia.”
“De todos os
partidos e organizações que se apóiam nos
operários e nos camponeses falando em seu nome, nós
exigimos que rompam politicamente com a burguesia e entrem no caminho
da luta pelo governo operário e camponês.”
Programa
de Transição, setembro de 1938.
Com sua posição,
o PSTU preparou a capitulação vergonhosa quando a
“revolução com a burguesia” recebeu também
apoio dos imperialismos através da OTAN. Como discutiremos
mais à frente, a OTAN foi essencial para garantir a vitória
militar dos rebeldes, que consistiu em uma derrota para os povos
oprimidos de todo o mundo.
A
OTAN e os “revolucionários” de Bengasi
A intervenção
da OTAN, iniciada em 20 de março, marcou uma mudança
qualitativa na tendência do imperialismo de preferir o Conselho
Nacional de Transição ao impopular e decadente regime
kadafista. Ela significou que havia interesses econômicos tão
sérios em jogo para o imperialismo, que valia a pena subsidiar
mais uma incursão quando os gastos econômicos de muitos
dos países envolvidos com duas guerras (Iraque e Afeganistão)
já são imensos. Esses interesses econômicos,
sobretudo o petróleo líbio, ficam evidentes agora
quando, mal terminado o conflito, já começa a divisão
dos direitos de exploração do país pelas
burguesias imperialistas, havendo uma redistribuição em
favor das nações que participaram dos bombardeios [6].
Dias antes de a OTAN
iniciar os ataques, a guerra civil parecia estar pendendo para
Kadafi. Foi fundamental que se iniciassem os bombardeios contra alvos
do governo e do exército leais a Trípoli e o
treinamento com armas pesadas que o recém-reunido exército
do CNT recebeu das nações imperialistas. Diante desses
eventos, a posição dos
revolucionários mudou. Não se tratava mais de uma
guerra entre dois setores da burguesia líbia e sim o confronto
entre um setor da burguesia líbia contra um bloco de outro
setor dessa mesma burguesia com várias nações
imperialistas. Nessa guerra, a classe trabalhadora definitivamente
tinha um lado.
A vitória do
bloco CNT/OTAN significa a imposição de mais exploração
e opressão sobre a população, mais barreiras ao
desenvolvimento de uma nação independente, mais laços
com o imperialismo. Obviamente Kadafi havia construído muitos
desses laços. Sua colaboração com o imperialismo
e seu regime ditatorial foram o que manteve a classe trabalhadora
desmobilizada, sem partidos, sem sindicatos. Sem dúvida o
tirano é o maior responsável pela prostração
do país perante o imperialismo. Mas existe uma diferença
qualitativa entre dois blocos da burguesia quando um deles é
apoiado pelo maior inimigo dos povos. Nenhuma revolução
autêntica (em oposição ao que são os
rebeldes) pode triunfar enquanto não for derrotado o
imperialismo, que é um opressor muito maior que Kadafi e cuja
derrota é mais importante.
“A pressão do
imperialismo sobre os paises atrasados não muda, na verdade,
seu caráter social fundamental, já que o sujeito e o
objeto da pressão não representam mais do que níveis
diferentes do desenvolvimento de uma só e mesma sociedade
burguesa. No entanto, a diferença entre Inglaterra e Índia,
o Japão e a China, os EUA e o México, é tão
grande, que estabelecemos uma rigorosa distinção entre
os países burgueses opressores e oprimidos e consideramos
nosso dever defender os segundos contra os primeiros. A burguesia dos
países coloniais e semi-coloniais representa uma classe
semi-dirigente e semi-oprimida.”
Um
Estado não-operário e não-burguês
Leon
Trotsky, novembro de 1937.
Nessa guerra, a classe
trabalhadora deveria defender incondicionalmente a nação
oprimida da Líbia. Isso não significa
apoiar as ações do regime Kadafi que fossem contra a
classe trabalhadora, mas sim que a sua vitória militar contra
um inimigo maior seria uma vitória para o povo líbio e
vantajosa para o proletariado. Obviamente uma independência
real da semicolônia somente será conseguida quando a
classe trabalhadora tomar o poder e romper com o imperialismo. Mas
ainda que limitada, uma vitória do ditador líbio contra
o imperialismo seria um passo adiante nesse caminho, pois ao menos
derrotaria um enorme obstáculo para a emancipação
da classe trabalhadora. Como nós discutiremos melhor
posteriormente, a tarefa dos revolucionários era defender o
combate armado contra o Conselho Nacional de Transição
e seus aliados imperialistas sem deixar de denunciar Kadafi, usando
os métodos da classe operária e buscando a sua
organização independente.
O que nos
disseram as lideranças do PSTU? Obviamente a intervenção
imperialista pegou esses senhores sem as calças. O que
poderiam dizer aos seus próprios militantes e aos
trabalhadores quando a sua “revolução” começou
a receber apoio dos imperialismos através da OTAN, com
bombardeios coordenados e treinamento militar? É demais
sustentar que uma “revolução”, além de ser
liderada pela burguesia, está sendo também apoiada pelo
imperialismo. Em razão disso, foi necessário falsificar
inteiramente a realidade.
Os
líderes do PSTU aceitam formalmente que o apoio imperialista é
uma contradição, mas não desenvolvem uma
política coerente, não reconhecem que a intervenção
imperialista mudou o caráter (que eles já enxergavam de
maneira incorreta) dos rebeldes. Completamente confuso, o PSTU
escreveu:
“A contradição
é que, no terreno militar, existiu uma unidade de ação
entre o imperialismo e as massas para derrubar Kadafi, mas com
objetivos totalmente opostos: as massas querem libertar o país
da opressão, mas o imperialismo quer deter a revolução
para prosseguir o saque das riquezas líbias e do Oriente
Médio.”
Grande
vitória do povo líbio e da revolução
árabe,
24 de agosto.
“Aqueles [nós]
que dizemos ‘Otan não, fora Kadafi’, longe de neutralismo,
deixamos clara nossa posição: estamos contra a
intervenção imperialista e a favor de que a insurreição
derrote Kadafi. Deixamos claro que estamos contra a intervenção
imperialista, mas não somos neutros na guerra civil aberta,
queremos que os rebeldes líbios não deixem nem rastro
do regime pró-imperialista e tirano de Kadafi.”
Opinião
Socialista 421, abril de 2011.
Não
se pode simplesmente enumerar os combatentes e dizer “somos contra
a OTAN, mas apoiamos os rebeldes” ignorando a relação
que existe entre eles. Os marxistas não tomam posições
diante de uma análise superficial da realidade. A OTAN não
estava agindo de maneira concorrente, nem mesmo separada das tropas
de CNT. Não havia uma disputa para ver quem derrubava Kadafi
primeiro. Houve uma completa coordenação. Da mesma
forma a guerra civil não seguiu em paralelo, como se a
intervenção da OTAN fosse independente dos lados em
luta. Ficou claro que a OTAN estava em profundo arranjo com o CNT.
“A mira da OTAN
ficou mais precisa, disse um diplomata sênior, conforme os
Estados Unidos estabeleceram uma vigilância a toda hora sobre
as áreas decrescentes que as forças militares líbias
ainda controlavam, usando drones [aviões não
tripulados] Predator para detectar, rastrear e ocasionalmente
atirar nessas forças. Ao mesmo tempo, a Grã-Bretanha,
França e outras nações implantaram forças
especiais no solo dentro da Líbia para ajudar a treinar e
armar os rebeldes, o diplomata e outro oficial disseram.”
Surveillance
and Coordination With NATO Aided Rebels
The
New York Times, 21 de agosto de 2011.
Os
bombardeios da OTAN ocorreram para preparar o terreno das investidas
terrestres do CNT. A OTAN apoiou e se coordenou com o Conselho para
levá-lo à vitória sobre Trípoli e o
restante do país. Através da sua direção
pró-imperialista, os rebeldes passaram a ser nada mais do que
a força armada na Líbia sob comando dos imperialismos.
Dizer que está contra os bombardeios da OTAN dando apoio às
suas tropas na superfície é uma contradição
incrível. Se estivesse na Líbia, o PSTU seria uma ala
esquerda do exército do CNT, que se oporia formalmente à
OTAN, mas cumpriria um papel submetido aos interesses dos países
imperialistas na prática.
A forma
desenvolvida pela liderança do PSTU para justificar essa
posição foi aprofundar as suas concepções
sobre movimentos “objetivamente revolucionários” com
lideranças reacionárias. Em um de seus artigos, o PSTU
comparou a situação na Líbia às revoltas
populares no Egito e na Tunísia para afirmar que “Definir a
natureza de um movimento por sua direção é tão
comum entre alguns setores da esquerda como alheio ao marxismo”
[7]. Em outras palavras, que é “anti-marxista”
levar em conta o fator da direção política de um
movimento.
Para nós
não se trata de negar que há setores populares (e mesmo
alguns proletários) na base dos rebeldes. Nem mesmo de
reconhecer que há pouco em comum entre a base dos rebeldes e
os líderes do CNT. Mas sim que, no caso do Egito e da Tunísia,
as lideranças burguesas manobraram as massas (com algum
sucesso) em protestos de rua e ocupações de praça.
Já na Líbia, a liderança se usou da base para
tomar em suas mãos o poder no país junto com o apoio
militar das nações imperialistas. Sem dúvida
julgar um movimento apenas pela sua direção é
anti-marxista, sem considerar quem são os indivíduos
que compõem a base, quais são seus anseios e objetivos,
ideologias, etc. Fazer isso impediria uma intervenção
prática dos marxistas em qualquer processo. Mas da mesma forma
é anti-marxista julgar um movimento apenas pelos anseios da
base, sem considerar que existe no movimento uma ligação
orgânica entre os membros e a liderança, nesse caso
burguesa, que tomou o rumo dos acontecimentos e usou as bases para
chegar ao poder.
Há
uma diferença marcante entre intervir num movimento popular
por demandas democráticas e melhorias sociais que tem ilusões
numa liderança burguesa e “apoiar as massas” quando elas
estão organizadas numa força armada lutando para
colocar uma liderança burguesa no poder. Os trotskistas
deveriam alertar aos trabalhadores para não lutarem sob
comando de um Conselho que invariavelmente trairia as suas
aspirações, que iria desarmar e assassinar a todos que
forem contra os seus interesses. Colocar o CNT e a OTAN no poder era
o único resultado possível de dar apoio a uma força
armada que luta sob o comando deles.
Se amanhã
a liderança egípcia de El-Baradei reunisse uma milícia,
um racha do exército, e tomasse o poder da junta militar com
apoio suficiente das massas, o PSTU iria enfaticamente apoiar esse
movimento. Nós também nutrimos ódio à
junta militar egípcia, mas achamos que ela deve ser
substituída pela democracia proletária, não por
outro governo burguês. Buscaríamos romper os
trabalhadores de qualquer ilusão com El-Baradei e por isso não
apoiaríamos esse movimento que o colocasse no poder, nem
nenhum governo burguês que daí emergisse.
Não
existe tomada do poder independente de (ou sem) liderança. Ao
entrar em uma guerra civil, os lados em luta refletem sempre
interesses de classe, ou posições diferentes dentro da
mesma classe. Os rebeldes líbios não são um
contingente de vanguarda proletária e nem a sua liderança
burguesa pode levá-los a realizar uma revolução
socialista. No caso líbio, a base não tem uma
independência “revolucionária” contra a sua própria
liderança burguesa reacionária. Os laços que
unem a base à sua direção são moldados
pela ideologia, e não uma mera formalidade.
Ao
estarem iludidos pelo CNT, os setores populares dos rebeldes (sem
esquecer que os rebeldes também incluem combatentes
profissionais) agem segundo os interesses dessa liderança.
Somente poderia ser diferente se houvesse uma transformação
de consciência nesses setores, o que exige a presença
(inexistente nesse caso) de um movimento operário forte
liderado por um partido revolucionário. Por isso, é
fundamental um chamado que se faz ausente nas publicações
do PSTU: pela construção de um partido
revolucionário de trabalhadores líbios!
Diferente
do PSTU, um partido revolucionário na Líbia não
confiaria numa suposta “objetividade revolucionária” de
setores populares liderados pelo imperialismo e sim lutaria por
consciência comunista no seio da classe trabalhadora. A
necessidade de uma liderança revolucionária é o
centro da afirmação trotskista de que a “crise de
liderança proletária é a principal causa da
miséria da humanidade”. Mas essa é uma lição
que o morenismo e PSTU nunca aprenderam.
Ao “apoiar a base
apesar da sua direção”, o PSTU está inventando
uma manobra para justificar o seu método, que leva diretamente
a apoiar uma liderança reacionária bancada pelo
imperialismo. Uma coisa é intervir num movimento para
tentar quebrar as ilusões dos setores proletários e
populares, mas isso não significa apoiar as demandas
incorretas das massas, inclusive quando elas apóiam um governo
burguês. O PSTU tentou através de inúmeras
insinuações dar a entender que o governo apoiado pelos
rebeldes é um governo “popular”, que a sua força
armada é “o povo em armas”. Isso obscurece o fato de que o
governo sediado em Bengasi é um governo burguês apoiado
pelo imperialismo. Não existe “povo em armas” num sentido
de duplo poder operário. O “povo” nesse caso está
sob controle de uma força burguesa. O PSTU ignora isso para
surfar na onda de popularidade dos rebeldes.
Os
movimentos não devem ser analisados pelas ilusões
(ainda que sejam aspirações justas) da sua base. Se
grande parte da população líbia, iludida pelo
CNT, acha que o caminho está em apoiar esse Conselho, é
tarefa dos marxistas quebrar as suas ilusões com tal liderança
reacionária e mostrar a necessidade de um partido
revolucionário e da luta independente da classe trabalhadora.
Ignorando que a base armada é nesse caso uma ferramenta nas
mãos da burguesia reacionária aliada aos imperialistas,
os líderes do PSTU puseram na cabeça que se trata de
uma “revolução” e nada pode convencê-los do
contrário. Assim, são levados a apoiar o lado errado da
guerra. O PSTU chegou a proclamar a vitória da OTAN com o CNT
em Trípoli como uma “grande vitória do povo líbio”.
Assim, as
lideranças do PSTU abandonam completamente o método
marxista de análise das forças de classe em luta, sua
trajetória e sua transformação dialética,
suas lideranças, etc. em troca de um apoio incondicional à
“revolução”... apoiada pela OTAN. Ao fazerem isso,
demonstram com clareza que preferem seguir cegamente um fenômeno
reacionário que tem popularidade, ao invés de buscarem
se posicionar corretamente para atrair os trabalhadores para uma
perspectiva socialista. Fazendo isso, afastam a vanguarda trotskista
de uma compreensão correta da sua tarefa. Ao invés de
defenderem a nação oprimida e combaterem a investida do
CNT/OTAN, os dirigentes oportunistas do PSTU levam os membros do seu
partido a se considerarem parte da investida dos rebeldes, pintada
como uma “revolução” inexistente nesse momento. Já
as insinuações segundo as quais a intervenção
imperialista foi para “desmobilizar os rebeldes”, não
passam de cinismo barato, em completo desacordo com a realidade.
Como
defender a Líbia sem capitular a Kadafi
A Fração
Trotskista/LER-QI reconheceu muitas das contradições na
posição do PSTU quando ocorreu a vitória do
CNT/OTAN no fim de setembro. Em inúmeras polêmicas
recentes, ela explicitou que o cerne da questão – a saber, o
fato de que liderados pelo CNT, os rebeldes eram uma força
armada que cumpriu objetivos reacionários junto ao
imperialismo – era ignorado pelo PSTU. Da mesma forma ela apontou
que os rebeldes haviam, pela dinâmica dos eventos, se tornado,
na prática, a força terrestre da OTAN:
“Entretanto, em fins
de fevereiro se constitui em Bengasi o Conselho Nacional de
Transição, que reúne quarenta integrantes,
dentre os quais muitos ex-membros do próprio governo de Kadafi
(...) Isso marca um ponto de inflexão crucial para o
desenvolvimento e a mudança do caráter do processo
líbio. A partir de então, a direção
burguesa do CNT passaria paulatinamente a tornar os rebeldes reféns
de sua política, reprimindo a formação de
brigadas independentes, levando a mobilização ao beco
sem saída do chamado à OTAN para intervir no país.”
“Novamente aqui
vemos a operação lógica que a LIT [organização
internacional liderada pelo PSTU] está acostumada a fazer: o
reconhecimento meramente formal das contradições
existentes, e a ruptura da dialética como fundamento de uma
apreciação marxista. A dialética existente na
Líbia é que apesar de haver caído uma ditadura
sangrenta, isso não se transformou em uma vitória para
as massas, posto que está sendo capitalizado pelos
imperialismo e pelo CNT. Esta conclusão é a derivação
do fato de que não se pode separar a queda da ditadura da
maneira como ela se deu. E não aconteceu a partir da ação
independente das massas, mas sob o apoio da OTAN. A derrubada de uma
ditadura não pode ser considerada em si um ‘tremendo triunfo
para as massas’, se quem se beneficia são os imperialismos.”
Até
quando a LIT-PSTU seguirão insistindo em seus erros?,
outubro de 2011
“A preponderância
da ação imperialista não foi um ‘detalhe’,
como quer fazer parecer a LIT: ela negou a possibilidade de uma
atuação independente das massas, fazendo com que os
‘rebeldes’ atuassem enquanto ‘tropa terrestre’ da intervenção
aérea das potências, seguindo seus planos (...)”
A
LIT acha progressista a “unidade de ação entre as
massas e o imperialismo” na Líbia?,
setembro de 2011
Mas apesar disso, a
posição da Fração Trotskista no conflito,
que passou a ter um caráter imperialista com a intervenção
militar da OTAN em 20 de março (um mês após o
início da guerra civil), foi combater militarmente os dois
lados. A FT não priorizou o combate ao bloco do CNT com a OTAN
e está ausente das suas declarações e artigos
qualquer perspectiva de estar do mesmo lado militar que Kadafi. A
primeira declaração da FT após o início
da intervenção imperialista afirmou:
“Os marxistas
revolucionários (sic) colocamos claramente que o imperialismo
não intervém para que triunfe o levantamento popular
contra Kadafi, senão para tratar de impor um governo títere
a serviço dos seus interesses, como fez trás a invasão
no Afeganistão e no Iraque. Tão pouco a saída é,
como colocou Chávez e outros ‘progressistas’, se
subordinar a Kadafi, que não só se transformou em um
ditador pró-imperialista, senão que está em uma
guerra contrarrevolucionária para esmagar o levantamento
popular que colocou em questão seu domínio, como
parte dos levantamentos da região. A única saída
progressista para o povo líbio é lutar energicamente
tanto contra a intervenção imperialista como para
derrotar a reacionária ditadura de Kadafi.”
23 de
março de 2011
Ao fim,
essa declaração resume a sua perspectiva com a consigna
“Abaixo a intervenção militar imperialista na
Líbia! Abaixo Kadafi!”. Na hora de determinar o lado
correto no conflito, parece que a Fração Trotskista
resolveu adotar a tese segundo a qual os rebeldes são um
“levantamento popular” e parte dos “outros processos da
região”. A crítica a Chávez só faria
sentido se fosse direcionada ao fato de o Bonaparte venezuelano sair
por aí aos namoricos com Kadafi dizendo que “para a Líbia,
Kadafi é o que Bolívar é para nós”. Mas
isso não significa que os trotskistas não tenham um
lado a tomar no conflito. Num confronto, como a LER-QI reconheceu se
tratar, entre nações imperialistas e um país
oprimido (onde os rebeldes são a “tropa terrestre” do
imperialismo), a posição da Quarta Internacional não
era nem de se subordinar à burguesia nacional e nem igualar os
dois lados em luta:
“Ao
mesmo tempo em que sustenta um país colonial ou a URSS na
guerra, o proletariado não deve solidarizar-se no que quer que
seja com o governo burguês do país colonial nem com a
burocracia Termidoriana da URSS. Ao contrário, deve manter sua
completa independência política em relação
a ambos. Ajudando uma guerra justa e progressiva, o proletariado
revolucionário conquista as simpatias dos trabalhadores das
colônias e da URSS e, deste modo, torna mais firme a autoridade
e a influência da IV Internacional, podendo colaborar melhor na
derrubada do governo burguês do país colonial, da
burocracia reacionária da URSS.”
Programa
de Transição, setembro de 1938.
De forma alguma os
revolucionários poderiam colocar no mesmo patamar combater
Kadafi e os imperialismos. Se, como Trotsky colocou (e a LER-QI cita
frequentemente) a guerra é a continuação da
política por outros meios, então isso levaria a crer
que, para a LER-QI, o imperialismo e a burguesia da Líbia são
inimigos do mesmo calibre. Isso é alheio ao trotskismo. Como a
LER-QI reconhece, a intervenção da OTAN atenta contra
uma nação subjugada. Portanto, diferente da posição
da Fração Trotskista, essa nação deve ser
defendida pelos revolucionários apesar do seu regime
ditatorial brutal, pois é interesse dos trabalhadores livrarem
a Líbia do CNT/OTAN. Numa situação assim, os
revolucionários devem se colocar do mesmo lado da barricada
que o regime do ditador líbio (que pelos seus próprios
interesses burgueses se vê combatendo o imperialismo) sem lhe
dar a menor confiança, e lutar através dos métodos
históricos da classe proletária: greves, ocupações
de fábrica, destacamentos proletários independentes.
“Mas isso não
significa capitular a Kadafi?” podem questionar. Capitular a Kadafi
seria assumir compromissos com o seu regime decrépito. Seria
se abster das formas proletárias de luta e se unir ao seu
exército burguês, seria elogiar o seu papel, sua
política ou deixar de denunciá-lo como o maior culpado
pela intervenção da OTAN e pelo seu regime ditatorial
burguês. Não é isso que estamos colocando. Os
revolucionários fariam todo o possível para polarizar a
classe trabalhadora, com o objetivo de levá-la a conclusões
revolucionárias, levantando demandas transitórias e
democráticas contra seu governo. Os métodos de agitação
e propaganda buscariam mostrar a necessidade não apenas de
vencer o CNT/OTAN, mas de forjar uma democracia proletária
contra Kadafi. No entanto, no campo militar, o combate se daria lado
a lado com as tropas kadafistas, buscando vencer o inimigo principal
imperialista. Uma forma de resumir essa perspectiva é
“Defender a Líbia! Derrotar o CNT/OTAN! Nenhuma confiança
no ditador Kadafi!” Uma vitória contra a OTAN seria um
grande impulso para os povos oprimidos do mundo. De imediato,
levantaria rebeliões nos países imperialistas que
realizam a intervenção na Líbia. Os
trabalhadores franceses, por exemplo, que desde 2010 vem travando
lutas encarniçadas contra os ataques de Sarkozy, veriam na
humilhação militar das tropas francesas a oportunidade
perfeita de avançar contra este governo que ataca os
trabalhadores dentro e fora das suas fronteiras.
No
momento da intervenção, a única força
social combatendo o imperialismo na Líbia era o governo de
Kadafi. Numa situação como essa, não era
possível realizar uma frente única no sentido clássico
de “bater juntos” contra o imperialismo e “marchar separados”
para objetivos diferentes. Os revolucionários devem formar uma
frente única (mesmo com setores burgueses) sempre que for do
interesse da classe trabalhadora, como era esse caso. Mas a ausência
de uma organização proletária de peso, por culpa
das décadas de repressão ao movimento operário
pelo próprio Kadafi, impediu essa possibilidade. De qualquer
forma, ainda somos pela vitória militar das forças de
Kadafi contra o CNT/OTAN, mas dizemos em alto e bom som que a
principal tarefa para o proletariado líbio na guerra contra o
CNT/OTAN era armar-se em destacamentos politicamente independentes de
Kadafi e lutar pela expropriação das empresas
estrangeiras e nacionais sob controle dos trabalhadores, sem
indenização. Poderia ocorrer até mesmo
uma colaboração tática com os exércitos
do ditador, mas sem nenhuma subordinação política,
buscando sempre os interesses dos trabalhadores, jamais os da
burguesia líbia. Ao mesmo tempo levantaríamos contra
Kadafi demandas pelas liberdades democráticas suprimidas pelo
ditador, como a liberdade de imprensa, organização
política e uma assembleia constituinte eleita por sufrágio
universal.
Não
importa o quão assassino e corrupto é um governo
burguês numa nação oprimida, os revolucionários
estão do mesmo lado militar que eles se estes se confrontam
com o imperialismo, sem lhes dar um milímetro de confiança
ou de respaldo político. Para nós não se trata
de discutir qual governo é mais tirano, se o governo de Kadafi
ou Obama, Cameron e Sarkozy e sim que a vitória da Líbia
é do interesse dos trabalhadores e nações
oprimidas do mundo, já que o papel dos Estados imperialistas é
infinitamente mais perverso (e um obstáculo muito maior ao
socialismo). Nós tomamos o lado militar de todos os setores
(mesmo os mais reacionários da burguesia) que estejam lutando
contra o imperialismo, não importa o quão sejam tiranos
ou impopulares. Certa vez em uma entrevista, Trotsky disse:
“Existe atualmente
no Brasil um regime semi-fascista que qualquer revolucionário
só pode encarar com ódio. Suponhamos, entretanto que,
amanhã, a Inglaterra entre em conflito militar com o Brasil.
Eu pergunto a você de que do conflito estará a classe
operária? Eu responderia: nesse caso eu estaria do lado do
Brasil ‘fascista’ contra a Inglaterra ‘democrática’.
Por que? Porque o conflito entre os dois países não
será uma questão de democracia ou fascismo. Se a
Inglaterra triunfasse ela colocaria um outro fascista no Rio de
Janeiro e fortaleceria o controle sobre o Brasil. No caso contrário,
se o Brasil triunfasse, isso daria um poderoso impulso à
consciência nacional e democrática do país e
levaria à derrubada da ditadura de Vargas. A derrota da
Inglaterra, ao mesmo tempo, representaria um duro golpe para o
imperialismo britânico e daria um grande impulso ao movimento
revolucionário do proletariado inglês.”
Entrevista
de Leon Trotsky a Mateo Fossa, setembro de 1938.
Obviamente
a intervenção imperialista se somou a uma situação
de guerra civil precedente. A desculpa colocada pela Fração
Trotskista é que Kadafi estava agindo de maneira
contra-revolucionária, suprimindo um “levante popular”. Em
primeiro lugar, isso é uma influência da política
incorreta do PSTU e de outros na esquerda, como o influente Partido
Obrero argentino (o maior partido reivindicando o trotskismo nesse
país, onde está localizada a principal seção
da FT) com relação aos rebeldes. Ela revela o quão
a política da FT andava gravitando em torno de concepções
oportunistas. A corrente tomou o lado dos levantes contra Kadafi
desde a tomada de Bengasi, embora reconhecendo hoje que com o domínio
do CNT, os rebeldes mudaram de natureza, embora não haja
clareza sob quando essa transformação tenha se dado
qualitativamente.
Num
artigo publicado em 28 de março, uma semana após o
início da intervenção da OTAN, a FT mostra que
ainda não tinha clareza se os rebeldes eram um movimento
popular independente da burguesia ou a força armada do
CNT/OTAN e dizem que ambos os caminhos eram possíveis,
elogiando o papel inicial dos rebeldes.
“Se
for pela via da OTAN e da direção burguesa do CNT, a
heróica ofensiva das massas e dos trabalhadores líbios
será usurpada (...). Se for pela atuação
independente da classe trabalhadora e do povo, seria um avanço
importantíssimo para todos os processos parte da primavera
árabe, e para os trabalhadores e povos de todo o mundo.”
“Viemos
desde o início do conflito defendendo que a única saída
de fundo capaz de responder aos anseios das massas e trabalhadores
líbios, que heroicamente se levantaram contra a ditadura de
Gadafi, é confiar em suas próprias forças, e
atuar de maneira independente de quaisquer direções
burguesas da CNT.”
Nem ofensiva criminosa da OTAN, nem apoio à entreguista CNT. Pela queda revolucionária de Gadafi,
28 de março de 2011.
No
entanto, em setembro, a LER-QI parecia não ter dúvidas
de que desde antes da intervenção imperialista os
rebeldes já não eram uma força progressiva, nem
um movimento “em disputa” que pudesse ser preenchido com qualquer
conteúdo, levando em conta inclusive a opressão
exercida pelos rebeldes contra os negros da Líbia.
“Havia uma
possibilidade de que o levante popular iniciado em Bengasi se
estendesse e derrubasse a ditadura de Kadafi por uma ação
independente do movimento de massas, que nos primeiros dias passou a
se armar espontaneamente. Mas essa possibilidade foi abortada.
Rapidamente, o CNT, sob o qual passaram a ter crescente peso setores
burgueses, lideranças das tribos opositoras, ministros e
chefes militares que rompiam com Kadafi, tratou de conter a
espontaneidade dos primeiros dias de levante e centralizar milícias
sob sua completa e rigorosa direção. (...) O caráter
reacionário rapidamente assumido pelo CNT, contraposto pelo
vértice a qualquer ação emancipatória
genuína das massas líbias, se demonstra não só
em sua política de completa subordinação aos
ditames do imperialismo, mas também em sua nefasta política
em relação aos 2 milhões de negros imigrantes
que compunham a classe trabalhadora no país.”
A
LIT acha progressista a “unidade de ação entre as
massas e o imperialismo” na Líbia?,
setembro de 2011
Discordamos
da certeza com que a LER-QI afirma que os primeiros dias os movimento
dos rebeldes foi “espontâneo”, devido à pouca
quantidade de informações disponíveis. Mas de
qualquer forma, isso demonstra que a LER-QI hoje concorda que, no
mínimo “rapidamente” após a tomada de Bengasi, não
havia nenhum movimento independente na Líbia, ao não
ser que possamos falar de um “levante popular” submetido ao CNT e
que desde então perseguia os imigrantes negros.
Sem
decidir se o que ocorria no país era um levante popular (até
mesmo “processo revolucionário” como descreveu em algumas
declarações) ou uma guerra civil dominada por setores
da burguesia, quando se tornou necessário combater o
imperialismo que tomava um dos lados, a FT estava a voltas com um
“levante popular” que era uma força armada do CNT. Assim,
não levou em conta as consequências de um posicionamento
correto com relação a Kadafi e continuou levantando a
“derrubada revolucionária” do tirano. Mas quem faria isso
naquele momento? Os rebeldes?
Somos
contra a palavra de ordem “Abaixo Kadafi” em face da intervenção
imperialista, precisamente porque naquele momento a única
força existente buscando derrotar Kadafi era o CNT/OTAN.
Obviamente a derrubada revolucionária de Kadafi era uma
perspectiva estratégica para a classe trabalhadora, que
deveria ser preparada para essa tarefa mesmo enquanto combatia o
imperialismo. Mas usar essa consigna quando o ditador era atacado
pelos rebeldes dirigidos pela OTAN só pode gerar confusão.
Nesse caso, mostra que a Fração Trotskista ainda não
tinha assimilado com precisão o que eram os rebeldes e, apesar
de não ter apoiado a vitória do CNT/OTAN quando ela se
deu, foi incompetente para defender a Líbia contra o
imperialismo quando se deu a intervenção e não
tomou lado nenhum na barricada.
Se a
Fração Trotskista/LER-QI concorda que os rebeldes eram
um movimento “capitalizado pelo CNT”, “tropa terrestre” das
potências e que quem se “beneficia da sua vitória são
os imperialismos”, então porque não estavam do outro
lado da barricada, ainda que hegemonizada pela ditadura de Kadafi,
defendendo a Líbia ao mesmo tempo em que denunciavam o regime
do tirano? Em razão dessa vacilação, a Fração
Trotskista não defendeu na prática o princípio
bolchevique de defesa dos povos oprimidos contra os países
opressores, temendo assim ir contra um “levante popular”
inexistente.
Os motivos da Fração Trotskista
Nesse
momento, muitos dos dirigentes da FT podem se fazer de desentendidos
sobre qualquer possibilidade de estar do mesmo lado militar que
Kadafi sem capitular a ele. Mas quando os Estados Unidos ocuparam o
Iraque em 2003, a LER-QI foi bastante capaz de explicar essa
perspectiva. A situação na Líbia hoje não
é idêntica ao Iraque de 2003 (quando se tratou de uma
ocupação terrestre), mas estava colocado o mesmo
paradigma: defender a derrota dos EUA sem ter ilusões em
Saddam Hussein e manter o combate político contra ele,
preparando a consciência e a moral da classe para tomar o poder
uma vez que o imperialismo fosse vencido.
“Por isso, o ponto
de partida do programa revolucionário é definir que a
guerra do Iraque é uma clara guerra de agressão
imperialista contra uma nação oprimida. (...) Toda
guerra de defesa e libertação nacional de uma nação
oprimida é, para os revolucionários, uma guerra justa e
legítima, como foi - por exemplo - a luta pela libertação
nacional da Argélia contra os colonialistas franceses ou a
guerra do Vietnã. Neste tipo de guerras, os revolucionários
nos localizamos no campo militar dos países semicoloniais,
independentemente do caráter do regime que os governe porque o
triunfo do país imperialista significará duplas
correntes para o povo da nação semicolonial, e
padecimentos piores ainda do que com sua ditadura doméstica.
No caso do Iraque nos localizávamos pela derrota militar do
imperialismo norte-americano e de sua coalizão, apesar do
caráter reacionário e ditatorial de Saddam Hussein.”
O
movimento anti-guerra e a guerra/ocupação do Iraque,
junho de 2005.
Essa
posição da Fração Trotskista na Líbia,
deliberadamente vaga e incoerente, é o reflexo da aproximação
centrista que a corrente tem com partidos ditos trotskistas
maiores: o PSTU no Brasil e o Partido Obrero na Argentina (locais em
que estão suas duas maiores seções, o PTS e a
LER-QI). O PO e o PSTU foram os campeões em saudar os rebeldes
de Bengasi como “revolucionários” [8]. Obviamente a
busca incessante que a Fração Trotskista realiza para
formar blocos e estar politicamente próxima dos dois partidos
tem efeitos na consciência dos seus membros e liderança.
As posições do PO e do PSTU, ainda que recebam
críticas, tem uma enorme influência na sua formulação,
que nem sempre, como este caso demonstra, passa pelo filtro de uma
visão crítica.
Nas
últimas eleições burguesas argentinas, por
exemplo, o Partido de los Trabajadores por el Socialismo (PTS)
formou um bloco eleitoral com o Partido Obrero e outras organizações
de esquerda (inclusive o PSTU argentino) – a Frente de Esquerda e
dos Trabalhadores (FIT). Essa foi a realização de uma
política que o PTS vinha buscando há muitos anos, mas
que só nas últimas eleições o PO aceitou
[9]. Em um dos artigos de seu jornal, a LER-QI, comentando
sobre o bloco formado pelos seus camaradas argentinos fez a seguinte
caracterização:
“A FIT se coloca
também como uma alternativa de esquerda classista e
revolucionária em nível internacional. Entre as outras
experiências da esquerda, como o NPA francês, o Respect
inglês, a Frente de Esquerda em Portugal, ou mesmo a Frente de
Esquerda (que se formou no Brasil em 2006 e 2008) a FIT argentina é
a única que não mistura os interesses dos trabalhadores
com nenhuma variante burguesa ou reformista. Que coloca seu centro na
organização dos trabalhadores, em aliança com a
juventude e os intelectuais de esquerda, que proclama abertamente sua
posição revolucionária.”
A
Frente de Esquerda e dos Trabalhadores na Argentina e algumas lições
para a esquerda no Brasil,
junho de 2011.
Está claro que
a FIT argentina esteve muito à esquerda de formações
eleitorais de colaboração de classes: ela era composta
somente por partidos da classe trabalhadora. Também se
posicionou melhor que formações dominantemente
reformistas ao não defender políticas econômicas
presas aos limites do capitalismo. Porém, existem posições
localizadas entre o reformismo e uma consistente perspectiva
revolucionária. Como explicar o fato de que o PO, o maior
partido em um bloco “revolucionário” que “não
capitula a nenhuma variante burguesa” tenha apoiado o lado do
imperialismo nas trincheiras líbias, além de outras
posições centristas ao longo de sua história,
como ter apoiado a frente popular burguesa de Evo Morales (posições
essas que a própria FT critica)?
Ainda
mais importante: porque a Fração Trotskista deve seguir
fazendo os seus numerosos esforços de construção
internacional, recrutar militantes, ter publicações
periódicas próprias, etc. se um bloco com o Partido
Obrero é “revolucionário”? Não faria sentido
simplesmente fundir com ele e dar origem a bloco permanente, um
partido “revolucionário” maior?
Da mesma
forma, a LER-QI no Brasil busca blocos eleitorais com o PSTU, faz
chamados para que o partido cumpra um papel classista ou assuma a
liderança em processos de mobilização. Por
exemplo, no texto citado acima, fez um chamado ao PSTU para que
“aprendesse” com seus camaradas argentinos – ou seja, propôs
um bloco eleitoral com o PSTU nas próximas eleições
burguesas no Brasil. Tais ações, que a liderança
da LER-QI rotula como “táticas” estão submetidas
não a uma estratégia revolucionária independente
do centrismo, mas uma estratégia de quem deseja ser um flanco
esquerdo do PSTU e isso acaba levando (ainda que esta não seja
uma intenção premeditada) a uma adaptação
política a esse partido.
Qual
seria, por exemplo, a posição desse bloco da LER-QI com
o PSTU sobre questões chave da luta de classes como as
“greves” policiais, o Estado cubano ou a própria guerra
imperialista sobre a Líbia, onde possuem posições
divergentes? A liderança da Fração Trotskista,
perseguindo uma unidade política com outras organizações
que já rasgaram com muito mais vigor os princípios
bolcheviques, é incapaz de uma perspectiva revolucionária.
Os militantes críticos da Fração Trotskista
(LER-QI) devem analisar de maneira séria a política da
sua organização. As posições traiçoeiras,
se não combatidas, certamente abrirão precedentes.
Nesse caso, a posição do grupo em uma questão
tão básica pode gerar efeitos imprevisíveis no
futuro. Contra essa adaptação, levantamos o princípio
imortal de Lenin e Trotsky de defesa incondicional dos povos
oprimidos contra o imperialismo.
Notas
[1]
Para críticas a outras posições da esquerda
frente aos eventos aqui analisados, conferir Sobre a Vitória do Bloco CNT/OTAN na Líbia e o Centrismo do Coletivo Lenin, de setembro de 2011 (sobre apoiar ou
não o CNT antes da investida imperialista) e Um Tirano Sem Aspas (sobre a capitulação
política a Kadafi), de novembro de 2011.
[2]
Em 8 de fevereiro de 2011, após mais de um mês da
ocupação da Praça da Libertação,
entraram em greve 6 mil trabalhadores do canal de Suez, em diferentes
companhias e várias cidades. Nos dias que se seguiram, outras
centenas de fábricas e plantas por todo o país cruzaram
os braços, totalizando milhares de grevistas por todo o Egito.
Os trabalhadores de praticamente todas as categorias, usando o método
da greve geral, deram o golpe fatal e foram a principal força
social na derrubada do ditador egípcio Hosni Mubarak, em 11 de
fevereiro. Apesar disso, os proletários não assumiram
um papel de liderança política no movimento, o que
levou a manutenção de muitos aparatos da ditadura e
mesmo do capitalismo.
[3]
Um apanhado dos relatos divulgados por diferentes jornais pode ser
encontrado na página Firedoglake
(em inglês).
[4]
Conferir Imigrantes negros enfrentam risco de prisão e morte sob acusação de apoiarem Kadafi – O Globo Online, 30 de agosto de 2011.
[5]
Central na teoria de Nahuel Moreno, uma “revolução de
fevereiro” seria caracterizada enquanto uma “revolução
socialista” onde as massas trabalhadoras não são
lideradas por partidos revolucionários (nesse caso são
lideradas até mesmo pela burguesia) e não possuiriam
consciência marxista. Para os morenistas, a sua principal
tarefa é empurrar os partidos oportunistas para cumprirem tal
função, ao invés de lutarem para desmascarar os
líderes traidores das massas e ganhar os trabalhadores para
uma perspectiva de oposição revolucionária
(conferir MORENO, Nahuel. As Revoluções do Século
XX. 1984). Isso leva os morenistas a uma série de
adaptações às lideranças existentes no
movimento e a enxergarem transformações
“revolucionárias” onde elas não existiram.
Frequentemente a “revolução de fevereiro” é
identificada como uma revolução democrática que
pode ser liderada por partidos burgueses, aos quais os morenistas
estão prontos para apoiar.
[6]
Conferir Líbia: França já assegurou um terço do petróleo futuro – Expresso, de 22 de agosto de 2011.
[7]
Citado de Todo apoio ao povo líbio contra Kadafi, mas não à intervenção da Otan em Opinião
Socialista 421, de abril de 2011.
[8]
O Partido Obrero encerrou um artigo de 23 de março dizendo:
“Nossa consigna é: fora Otan; armas para os
revolucionários líbios; pela extensão e
aprofundamento da revolução árabe. Desejamos que
o Oriente Médio se converta na tumba do imperialismo mundial”.
[9]
Nas duas eleições burguesas anteriores, o PTS havia
conformado uma frente com a Esquerda Socialista (IS), corrente ligada
à CST/PSOL brasileira e vinha fazendo chamados ao PO, que
recusou. Nas eleições de 2010, foi posta em prática
uma legislação eleitoral que proibiu a participação
de chapas com menos que 1,5% de apoio nas primárias na disputa
para a presidência. Isso acabou levando o PO a conformar a FIT
para poder participar do processo eleitoral. Apesar de combatermos
essa legislação reacionária, direcionada
claramente aos partidos de esquerda, ela por si só não
justifica a busca do PTS pela formação do bloco com o
Partido Obrero.