Reagrupamento Revolucionário
Introdução à série Polêmica Marxista
Escrito por Samuel Trachtenberg no mesmo ano de sua ruptura com a Tendência Bolchevique Internacional (TBI) e da fundação do projeto Reagrupamento Revolucionário, o seguinte artigo é a introdução para uma série de polêmicas já publicadas e também planejadas. Entretanto, o reproduzimos enquanto uma introdução aos documentos aqui disponibilizados com o objetivo de apresentar a nossa organização de um ponto de vista histórico. A tradução para o português foi realizada em 2011 por Leandro Torres e Rodolfo Kaleb.
Escrito por Samuel Trachtenberg no mesmo ano de sua ruptura com a Tendência Bolchevique Internacional (TBI) e da fundação do projeto Reagrupamento Revolucionário, o seguinte artigo é a introdução para uma série de polêmicas já publicadas e também planejadas. Entretanto, o reproduzimos enquanto uma introdução aos documentos aqui disponibilizados com o objetivo de apresentar a nossa organização de um ponto de vista histórico. A tradução para o português foi realizada em 2011 por Leandro Torres e Rodolfo Kaleb.
Em 1938, na conferência de fundação do Partido dos Trabalhadores Socialistas (SWP) norte-americano, após ter ganhado para o trotskismo revolucionário de maneira bem sucedida uma larga fração de membros do reformista Partido Socialista (SP), inclusive uma maioria de sua juventude, James P. Cannon explicou que:
“TODA A EXPERIÊNCIA da luta de classes numa escala mundial, e especialmente a experiência dos últimos vinte anos, ensinam uma lição acima de todas as outras, uma lição resumida numa única posição: o mais importante problema da classe trabalhadora é o problema do partido. O sucesso ou o fracasso nesse domínio é a diferença entre a vitória ou a derrota todas às vezes. A luta pelo partido, o esforço incessante para construir uma nova organização política de vanguarda sobre as ruínas da velha, concentra em si mesma os mais vitais e progressivos elementos da luta de classes como um todo...”
“A reconstrução do movimento operário revolucionário na forma de um partido político não é um processo simples. No meio de dificuldades sem precedentes, complicações e contradições, o trabalho continua, como em todos os movimentos sociais, numa linha em ziguezague. O movimento novo toma forma através de uma série de rachas e fusões que devem parecer com um quebra-cabeças chinês ao observador superficial. Mas como poderia ser de outra forma? A assustadora desintegração dos movimentos antigos, num cenário de levante mundial, desorientou e separou os militantes revolucionários em todas as direções. Eles não podem achar o seu caminho sozinhos, nem chegar às mesmas conclusões básicas, do dia para a noite.”
Um Novo Partido é Criado (1938)
No mesmo discurso, Cannon, um líder histórico do trotskismo nos Estados Unidos, também comentou sobre os sectários “antissectários” dos seus dias. Como hoje, o pequeno movimento trotskista era zombado por seu foco em lutar por clareza ideológica e programática dentro da extrema esquerda do movimento operário. Contraposta a isso era uma falsa e aventureira “orientação para as massas”. Os “antissectários” que denunciavam os trotskistas como “primariamente um círculo de teóricos isolados e detalhistas” Cannon caracterizava como “centristas que manobram todo o tempo com inexistentes ‘movimentos de massa’ no vácuo...”. Enquanto revolucionários confiam numa classe trabalhadora politicamente consciente, aliada com todas as massas exploradas e oprimidas, como a única capaz de destruir o capitalismo numa escala mundial, e não pode buscar agir como um substituto a ela, Cannon explicou que “A estrada para as massas é através da vanguarda e não por cima da sua cabeça.” (A História do Trotskismo Americano).
Ao contrário, os verdadeiros sectários (e em geral, também oportunistas) são aquelas tendências que tentam enganar seu público ao se recusarem rigorosamente a sequer mencionar ou reconhecer a existência de todos os outros grupos em suas publicações, ou ao pôr pressão em seus membros e simpatizantes para impedir que entrem em contato livre com militantes de outras correntes ou que leiam seus textos. Mas a vitória das políticas corretas sobre as incorretas só pode triunfar sob circunstâncias de debate livre e honesto entre todos. As organizações que se abstém ou tentam pôr pressão em seus membros e simpatizantes para não participarem nesses debates estão proclamando a falta de confiança em sua política, assim como em seus membros e simpatizantes. Assim, essas organizações não merecem confiança, nem dos seus membros e simpatizantes, nem da classe trabalhadora como um todo.
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A série Polêmica Marxista é produzida pelo Reagrupamento Revolucionário e cada número será dedicado a um tema político específico. Nosso público alvo para esta série são os grupos e militantes subjetivamente revolucionários ao redor do mundo que “devido à desintegração dos movimentos antigos” estão nesse momento “desorientados e divididos”.
Também esperamos que esses documentos sejam bem sucedidos em esclarecer e introduzir questões centrais para aqueles que há pouco se interessaram pela política revolucionária. Uma investigação séria das organizações atualmente existentes é crucial para decidir qual grupo deve-se ajudar a construir, ou então nele permanecer. Como tem sido frequentemente demonstrado por muitos, pode-se perder muitos anos de vida se isso não for feito.
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Ao criticar diferentes tendências políticas, não nos limitaremos àquelas maiores entre as existentes atualmente. Muitos grupos internacionais ainda pequenos são mais jovens e, assim, menos burocratizados, e apegam-se menos às tradições e ortodoxias revisionistas que os grupos dos quais racharam. Tendências socialistas menores frequentemente possuem hoje membros mais compromissados e mais desenvolvidos teoricamente (e em algumas circunstâncias, dependendo de suas histórias, a sua liderança também) do que organizações maiores. Desse modo, eles irão provavelmente desempenhar um papel altamente importante nos estágios iniciais de construção de um partido revolucionário.
Em resposta aos que argumentavam que os trotskistas alemães prestavam atenção insuficiente ao Partido Comunista, que possuía uma quantidade maciça de membros em relação a outros grupos, Leon Trotsky respondeu:
“Talvez pareça estranho que nós devamos devotar comparativamente trabalho tão grande a uma organização tão pequena. Mas a essência da questão está no fato de que a importância do SAP é muito maior do que o próprio SAP. Envolvido aqui está, em última instância, a questão de uma política correta em direção às tendências centristas que agora aparecem em todas as cores do arco-íris no movimento operário. O aparato centrista conservador herdado do passado deve ser abortado do desenvolvimento revolucionário da vanguarda proletária, essa é a tarefa!”
Alquimia centrista ou marxismo (1935).
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Os pablistas e outros oportunistas objetivistas geralmente confiam no desenvolvimento orgânico do processo histórico para resolver o problema do reagrupamento revolucionário (e por esse propósito a crise de liderança revolucionária também). Para eles, a simples existência de um movimento de massas popular, quaisquer que sejam sua liderança e sua política, expressa por si só a solução para esse problema. Todos aqueles que não se comportam como ovelhas seguindo um pastor e tentam expor os falsos líderes, são denunciados por serem ultraesquerdistas e “sectários sem solução”.
Apesar de frequentemente se queixarem da divisão nas forças revolucionárias, o problema que está na raiz da confusão e da desorientação política não lhes interessa. Eles esperam que as lideranças não-revolucionárias do movimento de massas do momento sejam forçadas pela força dos fatos a se tornarem um “instrumento desafinado” para o socialismo, quaisquer que sejam suas intenções verdadeiras ou iniciais, muito menos consideram qualquer confusão ou desorientação política da parte de outros. A história das derrotas da classe operária (que incluem muitas situações potencialmente revolucionárias) que inevitavelmente aconteceram sob a liderança desses líderes traiçoeiros, da Espanha ao Chile e ao bloco soviético, é geralmente aceita formalmente, mas suas lições são repetidamente ignoradas para as lutas dos dias de hoje. Isso arma o terreno para a repetição dessas derrotas.
Hoje essa atitude é mais bem expressa pelas profundas ilusões de muitos que afirmam serem marxistas na capacidade de Hugo Chávez de liderar a Venezuela em direção a uma revolução socialista. Tal posição não está apenas em conflito com o entendimento do marxismo sobre a necessidade do programa e da liderança revolucionária, mas também no entendimento sobre a impossibilidade de reformar o Estado capitalista, e a oposição à colaboração de classes. Ela também pressupõe, explicita ou implicitamente, uma estratégia similarmente reformista a nível internacional.
Outras tendências, ou explicitamente não tem interesse no reagrupamento revolucionário, ou inconscientemente sabotam todas as oportunidades que tem para tal. O recrutamento numericamente significativo de camaradas experientes com força de vontade põe um desafio em potencial para a habilidade dos líderes autoritários de controlarem suas seitas. A sua atitude sectária não é um reflexo de qualquer tipo de sinceridade juvenil ou ultraesquerdismo rígido, mas sim medo burocrático. A existência de suas organizações é transformada em um fim em si próprio e para eles próprios, ao invés de um veículo para construir uma liderança revolucionária das massas. As lideranças de tais grupos geralmente deixaram há muito de acreditar nas políticas e objetivos formais que eles professam, prestando essencialmente o mesmo papel que o “socialismo dos dias de festa” da Segunda Internacional, mascarando a realidade dos seus objetivos e posições verdadeiros. Eles preferem que seus grupos permaneçam pequenos, tornando-os mais fáceis de controlar. Em contraste, a atitude de Trotsky não era nem objetivista nem sectária.
“A crise de liderança proletária não pode, é claro, ser superada através de uma fórmula abstrata. É questão de um processo extremamente monótono. Mas não de um processo puramente 'histórico', ou seja, das premissas objetivas de atividade consciente, mas de uma cadeia ininterrupta de medidas ideológicas, políticas e organizativas com o propósito de reunir os melhores, mais conscientes elementos do proletariado mundial debaixo de uma bandeira sem mácula, elementos cujo número e autoconfiança devem ser constantemente reforçados, cujas conexões com seções mais largas do proletariado devem ser constantemente desenvolvidas e aprofundadas – em uma palavra: devolver ao proletariado, sob novas e altamente difíceis e onerosas condições, sua liderança histórica.”
Rosa Luxemburgo e a Quarta Internacional (1935).
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A resolução de 1961 da Socialist Labour League (SLL) britânica, que estava liderando o Comitê Internacional na época, argumentava que:
“A Quarta Internacional, como organização mundial fundada por Leon Trotsky em 1938, não existe mais. Ela foi destruída pelo pablismo.”
A Perspectiva Mundial para o Socialismo, Labour Review (inverno de 1961), página 127.
Enquanto o CI subsequentemente mudou e desonestamente apagou essa posição no curso de sua degeneração política, o documento da SLL prestou um importante papel na formação da Tendência Revolucionária dentro do Partido dos Trabalhadores Socialistas (SWP). Num documento fracional fundamental contra o giro do SWP para o pablismo, a TR afirmou:
“Nos últimos quinze anos o movimento fundado por Leon Trotsky sofreu uma profunda crise teórica, política e organizativa. A manifestação superficial dessa crise foi o desaparecimento da Quarta Internacional como uma estrutura significativa. O movimento consequentemente foi reduzido a um grande número de pequenos grupos, formalmente filiados a três tendências: o ‘Comitê Internacional’, o ‘Secretariado Internacional de Pablo’ e o ‘Secretariado Internacional de Posadas’. Políticos superficiais esperam superar a crise por uma fórmula organizativa – ‘unidade’ de todos pequenos grupos que queiram se unir em torno de um programa de denominador comum. Essa proposta obscurece, e na verdade agrava, as causas políticas e teóricas fundamentais dessa crise.”
Rumo ao Renascimento da Quarta Internacional (1963).
Se a “desintegração dos movimentos antigos... que desorientou e dividiu os militantes revolucionários em todas as direções” tornou as tarefas dos trotskistas complexas em 1938, a desintegração da Quarta Internacional em três tendências internacionais, numa situação de continuação da separação e confusão pré-existentes tornou-as substancialmente mais difíceis e complexas em 1963. Hoje existem não apenas 3 organizações reivindicando o trotskismo, mas muitas. Dessa forma, as conclusões organizativas propostas pela TR retém a sua validade ainda hoje.
“A tarefa do movimento marxista revolucionário internacional hoje é restabelecer sua própria existência real. Falar da ‘conquista das massas’ como uma guia geral internacional é um exagero qualitativo. As tarefas diante da maioria das seções trotskistas e grupos atuais parte da necessidade de clarificação política na luta contra o revisionismo, no contexto de um nível de trabalho de uma natureza geral preparatória e propagandista.”
Para muitos militantes, a atividade mais estreita imposta pela situação, compreensivelmente, não parece atraente. Entretanto, esse crucial trabalho preparatório é hoje uma precondição para liderar lutas de massas de maneira bem sucedida amanhã. Em tais períodos, Trotsky argumentou:
“Uma tendência revolucionária não pode contar com vitórias relâmpagos em um tempo em que o proletariado como um todo está sofrendo as maiores derrotas. Mas isso não é justificativa para ficar de braços cruzados. Precisamente nos períodos de refluxo revolucionário é que se formam e desenvolvem os quadros que mais tarde serão chamados a liderar as massas numa nova investida.”
É necessário Construir Partidos Comunistas e uma Nova Internacional (1933).
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O Reagrupamento Revolucionário está determinado a não se curvar diante da dificuldade da situação, e nem fazer desta uma virtude permanente como outros antes fizeram. Como previamente declarado, nós seguimos
“convencidos da necessidade e da possibilidade de derrubar a sociedade capitalista, mas essa possibilidade só pode se atingida através do reagrupamento dos subjetivamente revolucionários pelo mundo numa base programaticamente sadia pela reconstrução da Quarta Internacional.”
Carta de Rompimento de Sam T. com a Tendência Bolchevique Internacional (2008).
Dezembro de 2008