31.12.08

Leon Trotsky sobre Otimismo e Pessimismo

Leon Trotsky sobre
Otimismo e Pessimismo, 
Sobre o século XX e muitas outras coisas 

O pequeno trecho a seguir, escrito em 1901 por um jovem Leon Trotsky, foi reimpresso como introdução à primeira edição da revista Revolutionary Regroupment (EUA, segundo trimestre de 2010). Ele é simbólico da determinação da revista de ser bem sucedida em seu esforço e na sua confiança fundamental na capacidade da classe trabalhadora de quebrar as correntes de opressão e inaugurar um novo capítulo na história da humanidade. Sua tradução para o português foi realizada por Rodolfo Kaleb e Leandro Torres em 2011. Ele também foi reimpresso na primeira edição de Reagrupamento Revolucionário (Brasil, terceiro trimestre de 2011).

Dum spiro spero! [Enquanto há vida, há esperança!] ... Se eu fosse um dos corpos celestiais, eu olharia com completo desapego para esta bola miserável de sujeira e poeira ... Eu brilharia indiferente entre o bem e o mal ... Mas eu sou um homem. A história do mundo que para você, desapaixonado cálice de ciência, para você, guarda-livros da eternidade, parece apenas um momento insignificante no equilíbrio temporal, para mim é tudo! Enquanto eu respirar, eu lutarei pelo futuro, este radiante futuro no qual o homem, poderoso e belo, se tornará mestre do fluxo incerto da História e irá direcioná-lo para um horizonte sem fim de beleza, alegria e felicidade!

O século dezenove de muitas formas satisfez e de ainda mais formas enganou as esperanças do otimista ... Ele o compeliu a transferir a maioria das suas esperanças para o século vinte. Sempre que o otimista se confrontava com um fato de atrocidade, ele exclamava: Como pode isso acontecer no limiar do século vinte! Quando ele imaginasse maravilhosamente desenhado um futuro harmonioso, ele o colocava no século vinte.

E agora este século chegou! O que trouxe com ele em sua inauguração?

Na França – o escarcéu venenoso do ódio racial [1]; na Áustria – disputa nacionalista...; na África do Sul – a agonia de um povo pequeno, que está sendo assassinado por um colosso [2]; na própria “ilha da liberdade” – o canto triunfante da vitoriosa avareza de agiotas chauvinistas; dramáticas “complicações” no leste; rebeliões de massas populares famintas na Itália, Bulgária, Romênia ... ódio e morte, fome e sangue ...

Parece até que o novo século, este gigante recém-chegado, está determinado mesmo no momento do seu surgimento a levar o otimista ao absoluto pessimismo e a um nirvana cívico.
           
– Morte à Utopia! Morte à fé! Morte ao amor! Morte à esperança! Esbraveja o século vinte em salvas de fogo e ao retumbar das armas.
           
– Renda-se seu patético sonhador. Aqui estou eu, o seu tão esperado século vinte, o seu “futuro”.
           
– Não, responde o inabalado otimista: Você, você é apenas o presente.

Notas do tradutor

[1] O “Caso Dreyfus”
[2] A Guerra dos Boers