Sobre “Reagrupamento Revolucionário”
A
presente polêmica foi publicada em "1917" No. 30, pela então revolucionária Tendência Bolchevique Internacional, em abril
de 2008. Sua tradução para o português foi realizada pelo Reagrupamento
Revolucionário em janeiro de 2013, a partir da versão disponível em:
http://www.bolshevik.org/1917/no30/no30-Rev_Regroupment.html
http://www.bolshevik.org/1917/no30/no30-Rev_Regroupment.html
Em
3 de novembro de 2007, a Tendência Bolchevique Internacional (TBI) realizou uma
atividade pública em Toronto, Canadá, para comemorar o nonagésimo aniversário
da Revolução de Outubro. O palestrante convidado, Bryan Palmer, biógrafo de
James P. Cannon, falou para um público de 60 pessoas sobre o tema “A Revolução
Russa e a Esquerda Norte-americana”. Entre aqueles que compareceram havia
apoiadores do New Democratic Party
[Novo Partido Democrático], Socialist
Action [Ação Socialista], Socialist
Equality Party [Partido da Igualdade Socialista], Socialist Project [Projeto Socialista], e a Trotskyist League ([Liga Trotskista] TL, mais conhecidos como “espartaquistas”),
assim como um representante de Upping the
Anti, uma publicação semianarquista.
Durante
o período de discussão, diversos porta-vozes dos espartaquistas defenderam a
ideia de que nenhum reagrupamento revolucionário significativo é possível hoje.
Tynan M. declarou que “dos anos 60 até os 90, nós espartaquistas buscamos
reagrupamentos com organizações ao redor do mundo que se reivindicassem o
trotskistas... mas o que nós descobrimos foi que nós éramos a única organização
no mundo que permanecia defendendo o programa e os princípios do trotskismo”.
John Masters, uma figura antiga da TL, adicionou:
“A possibilidade de reagrupar as
forças revolucionárias genuínas no período mais ou menos de 1919 a 1921 foi
decisivamente definida por uma vitória épica gigantesca para o proletariado – a
Revolução Bolchevique de 1917. Houve outros eventos importantes ou épicos que,
enquanto não sendo da mesma escala, colocaram a possibilidade de um grande
reagrupamento de forças revolucionárias genuínas. Por exemplo, o Maio de 68 na
França abalou a esquerda. De uma forma diferente, as revelações de Kruschev e a
Revolução Húngara de 1956 abalaram grandes partes da esquerda. Havia
possibilidades, portas abertas. Mas vamos encarar uma coisa: a destruição da
União Soviética em 1991 foi o que deu forma ao atual período e é uma derrota
desastrosa que produziu desmoralização e desilusão, sobretudo na classe
trabalhadora. E, me desculpem, ‘fragmentada’ não é exatamente o ponto: a vasta
maioria da esquerda, incluindo os autoprofessados marxistas, apoiaram a
contrarrevolução. Não existe base para qualquer reagrupamento revolucionário substancial
aqui. Isso não quer dizer que não existe uma base para ganhar indivíduos ou
mesmo pequenos grupos aqui ou ali. Mas o que nos defronta nesse período, eu
acho, é uma tarefa muito diferente – é fundamentalmente manter os princípios do
marxismo revolucionário, inclusive aprender as lições da história e não tentar
ofuscar as coisas...”
Enquanto
o companheiro Masters está certo em dizer que vitórias épicas são geralmente
necessárias antes que realinhamentos políticos massivos ocorram no movimento
dos trabalhadores, alguns reagrupamentos muito importantes aconteceram em
períodos de movimento geral à direita. O punhado de socialistas da “Esquerda de
Zimmerwald”, que se encontraram em setembro 1915 na Suíça, para erguer a
bandeira do internacionalismo proletário em meio de uma guerra mundial
barbárica, deu um passo muito importante rumo a uma nova internacional
socialista revolucionária. Depois da vitória nazista na Alemanha em 1933 – uma
das mais severas derrotas já sofridas pela classe trabalhadora internacional –
Leon Trotsky buscou ativamente reagrupar os melhores militantes de vários
pequenos rachas da socialdemocracia e da Internacional Comunista dominada pelo
stalinismo. Durante o macarthismo dos anos 1950 nos Estados Unidos, o então
trotskista Partido dos Trabalhadores Socialistas (SWP) realizou um pequeno, mas
significativo reagrupamento quando alguns jovens revolucionários (incluindo
James Robertson, Shane Mage e Tim Wohlforth) romperam com o giro à direita de
Max Shachtman e sua Liga Socialista Independente (ISL).
Existe
evidência abundante de que milhões de pessoas ao redor do mundo estão ansiosas
para lutar contra a opressão capitalista. Algumas delas unem-se a várias
organizações que se reivindicam socialistas. O trabalho dos revolucionários é ganhar
os melhores militantes para o programa do marxismo genuíno, ou seja, o
trotskismo.
O
camarada Samuel Trachtenberg, falando em nome da TBI, respondeu a Masters da
seguinte forma:
“Eu acho que a perspectiva
política defendida hoje pelos camaradas da Liga Trotskista é a mesma que eles
tem defendido em seus jornais por muitos anos. E eu quero argumentar que ela é
uma perspectiva extremamente desmoralizante e pessimista. Ela acaba caindo na
argumentação de que, com o colapso da União Soviética, a assim chamada Era Pós-soviética
da qual eles falam tanto, o que nós vimos não foi apenas uma enorme derrota
para a classe trabalhadora, o que certamente foi, mas uma derrota tão
monumental da classe trabalhadora que nenhum progresso real de qualquer tipo –
seja o chamado por uma greve geral na França no ano passado, seja os levantes
de trabalhadores que nós vimos na Bolívia ou no México, ou a luta pela
construção de um partido revolucionário através do reagrupamento revolucionário
– seria possível. Nada é possível na tal Era Pós-soviética, de acordo com eles,
a não ser manterem a tradição trotskista escondidos no seu próprio bunker. Como
eles falam, eles próprios desenvolveram uma ‘mentalidade de bunker’ em relação
à assim chamada Era Pós-soviética.”
“Então o que você faz? Bom,
parece que o argumento que está sendo defendido aqui hoje é que o reagrupamento
revolucionário era possível em razão da vitória da Revolução Russa. Bom, nós
não temos a Revolução Russa conosco nesse momento, então o que você faz? Você
espera que outra Revolução Russa ocorra. Mas adivinhem? Nós não podemos ter
outra revolução nos Estados Unidos, Canadá ou em nenhum outro lugar sem um
partido revolucionário. E não se pode construir um partido revolucionário
escondido num bunker sustentando abstratamente a tradição em isolamento da luta
de classes e do restante da esquerda.”
“Em
termos de como construir um partido revolucionário e do que os bolcheviques
fizeram por 20 anos antes da revolução, ora, o movimento marxista naquele
momento fez algo semelhante, eu diria, ao que nós estamos fazendo no
momento. [Georgy] Plekhanov, em um período no qual os marxistas eram
extremamente pequenos e frágeis e não tinham a capacidade de organizar as
massas e lutas de massa, organizavam publicações, polêmicas e críticas aos
populistas, aos Narodniks, aos anarquistas e outras tendências da esquerda que
existiam na Rússia naquele momento. (O próprio Trotsky foi recrutado dos
populistas). E eu quero argumentar que isto é algo que nós podemos fazer hoje
em dia. Porque dentro de grupos como os Socialistas Internacionais, dentro de
grupos como o Partido Comunista do Canadá, mesmo dentro de grupo como a Liga
Trotskista, mesmo lá, pode-se encontrar pessoas, camaradas, que são
subjetivamente revolucionários – que realmente estão interessadas em uma
revolução – mas estão engessadas em uma organização ruim com uma política ruim
e um programa ruim”.